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Laranja Mecânica


Anthony Burgess
Tradução: Neloson Dantas
Título do original: A Clockwork Orange
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Introdução
A Laranja Mecânica, é um relato autobiográfico
de Alex, um jovem inteligente, admirador
de Beethoven, sexo, drogas e ultraviolência.
Na luta constante para afirmar sua
individualidade, das piores maneiras possíveis,
(mas o que se pode esperar de um garoto
de quatorze anos?). Contra uma sociedade
hipócrita, que longe de conseguir resolver
suas contradições, se utiliza de métodos
repressivos como se pudesse extirpar o
"mal", ignorando que esse é inerente ao
homem.
"Mais ainda, a ruindade faz parte do ser,
do eu, tanto em mim quanto em vocês no
odinoque, e este eu é feito por Bog, ou Deus,
e é o seu grande orgulho e radoste. Mas o
não-ser não pode aceitar o mal, quer dizer,
os do governo, os juizes e os colégios não podem
permitir o mal porque não podem permitir
a individualidade. E não é a nossa
História moderna, meus irmãos, a história
de bravas individualidades malenques lutando
contra essas máquinas enormes?
Quanto a isto, meus irmãos, eu estou falando
com toda a seriedade. Mas, o que faço, faço
porque gosto."
Mesmo Escrito em 1962, notaram alguma
diferença com a realidade? Pelo seu conteúdo
critico e "profético" da sociedade moderna,
Antonhy Burguess, com certeza está no
mesmo nível de importância para literatura
quanto George Orwell e Aldous Huxley, que
provavelmente foram autores que lhe inspiraram.
Nascido na Inglaterra em 1917, lutou
na 2º Guerra Mundial, o que lhe deu uma
boa idéia da brutalidade e selvageria que o
homem pode chegar e todas as medidas
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repressivas e totalitárias que podem vir
agregadas em utopias de mundos justos e
igualitários.
Sua obra, A laranja Mecânica serviu de
inspiração para peças de teatro e o clássico
do cinema, dirigido por Stanley Kubrick, o
qual ele considera a sua obra-prima.
Não esquecendo de avisar das mais de
200 gírias criadas pelo autor, inspirado em
expressões russas e neologismo da língua
inglesa. O vocabulário está no final do livro.
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Parte Um
Capítulo 1
- Qual vai ser o programa, hein?
Tinha eu, quer dizer, Alex e meus três
drugues, quer dizer, Pete, Georgie e o
Tapado, o Tapado sendo realmente tapado, e
nós estávamos sentados no Leite-bar Korova,
rassudocando o que fazer da noite, num inverno
agitado, preto e gelado, uma merda, se
bem que seco. O Leite-bar Korova era um
méssito de tomar leite-com, e vós, ó meus
irmãos, já podem ter se esquecido como
eram aqueles méssitos, com as coisas
mudando tão escorre hoje em dia e todo
mundo muito rápido pra esquecer, os jornais
também não muito lidos.
Bom, o que vendiam lá era leite com alguma
coisa. Não tinham licença pra vender
bebida, mas também ainda não tinha nenhuma
lei contra prodar algumas das novas
véssiches que eles costumavam botar no moloco,
de modo que a gente podia pitar ele
com velocete, ou sintemesque, ou drencrom,
ou uma ou duas outras véssiches que
deixavam a gente uns bons e tranqüilos
quinze minutos horrorshow admirando Bog
e Todos os Seus Bem Aventurados Anjos e
Santos no sapato esquerdo, e com luzes pipocando
dentro do mosgue. Ou se podia pitar
leite com facas, como a gente costumava
dizer, e isso deixava a gente afiado e pronto
pra uma sujeira de vinte-contra-um, e era
isso que a gente estava pitando naquela noite
com que eu estou começando a hist6ria.
Nossos bolsos estavam cheios de dengue,
portanto, não havia realmente necessidade,
do ponto de vista de crastar mais tutu, de
toltchocar um veque velho qualquer num
beco e videar ele nadando no próprio sangue,
enquanto a gente contava a féria e dividia
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por quatro, nem de fazer ultraviolência com
alguma trêmula ptitsa estarre de cabelo
branco numa loja e aí sair esmecando com o
recheio da caixa. Mas, como diz o outro, o
dinheiro não é tudo.
Nós quatro estávamos vestidos no rigor
da moda que, naquele tempo, eram umas
malhas pretas muito justas, com um acolchoado
preso as virilhas por baixo da malha,
sendo isso pra proteger e também uma espécie
de desenho que ficasse visível, havendo
uma certa luz, de modo que eu tinha um com
formato de aranha, Pete tinha um rúquer
(quer dizer, mão), Georgie tinha uma flor
muito bacaninha e o coitado do Tapado, um
cretino dum litso (rosto, quer dizer) de palhaço,
porque o Tapado não tinha muita
noção das coisas e era, sem sombra da menor
duvida, o mais tapado de nós quatro. Depois,
a gente estava usando jaquetas cintadas
sem lapelas, mas com aqueles enchimentos
enormes nos ombros (a gente dizia pletchos)
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e que eram uma espécie de arremedo de
quem tinha os ombros realmente assim. Depois,
meus irmãos, a gente estava usando
aqueles gravatões largos, feito lenços, esbranquiçados,
que pareciam purê de cartófel,
ou batata, com uma espécie de desenho marcado
em cima do tecido com um garfo. A
gente usava o cabelo não muito longo e
calçava botas pesadas horrorshow pra
chutar.
- Qual vai ser o programa, hein?
Tinha três devótchecas sentadas juntas
no balcão, mas nós, os maltchiques éramos
quatro e geralmente o negócio era um por todos
e todos por um. As tais gurias também
estavam no rigor da moda, de perucas roxas,
verdes e cor-de-laranja nos respectivos gúlivers,
cada peruca não custando menos do que
três ou quatro semanas de trabalho de cada
uma delas, pelos meus cálculos, e usavam
pintura combinando (quer dizer, arco-íris
em volta dos glazes e a rote muito pintada).
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Depois, elas estavam de vestidos longos pretos,
muito lisos e, na altura dos grudes, tinham
plaquetas de prata com diversos nomes
de maltchiques escritos - Joe, Mike e outros
mais. Era pra ter Os nomes dos diversos
maltchiques com quem elas tinham espatado
antes dos catorze anos. Olhavam muito na
nossa direção e eu estava com vontade de
dizer que nós três (isso seria com o canto da
boca, é claro) devíamos dar uma saída pra
fazer um pouco de pol e deixar o coitado do
Tapado pra trás, porque era só questão de
cupetar pra ele um meio litro de branco, mas
dessa vez com uma bombada de sintemesque
dentro, mas isso não ia ser da regra do jogo.
O Tapado era muito feio, que nem o nome
dele, mas numa briga suja ele era muito horrorshow
e muito bom de bota.
- Qual vai ser o programa, hein?
O tcheloveque sentado ao meu lado,
sendo o assento de pelúcia comprido e dando
a volta a três paredes, estava muito noutra,
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com os glazinhos esgazeados e meio engrolando
eslovos como "Aristóteles obra peleosso
no campo ciclame fica forficulada
aguda". Estava mesmo viajando, longe, em
órbita, e eu sabia como era o negócio, que eu
já tinha experimentado como todo mundo,
mas naquela ocasião eu já estava achando
que era uma véssiche muito covarde, ó meus
irmãos. A gente ficava lá depois de beber o
moloco e ai vinha o méssel de que tudo em
volta estava como que no passado. A gente
videava tudo, sim, tudo muito claro - as mesas,
o estéreo, as luzes, as gurias e os
maltchiques - mas era assim uma véssiche
qualquer que tinha estado lá, mas já não estava
mais. E a gente ficava meio hipnotizado
pela bota, ou pelo sapato, ou por uma unha,
e ao mesmo tempo era agarrado por três da
gola e sacudido como se fosse um gato. Sacudido
e sacudido até não ficar nada. Perdia o
nome, o corpo, a personalidade, e nem ligava,
ficava esperando que a bota ou a unha
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ficasse amarela, e cada vez mais amarela. Ai,
as luzes começavam a estourar como se
fossem atônicas e a bota, ou a unha, ou, podia
ser, um sujinho nos fundilhos virava um
méssito grande, grande, grande, maior do
que o mundo todo e a gente ia ser apresentado
ao velho Bog, ou Deus, quando
tudo tivesse acabado. Depois a gente voltava
à terra, aí meio choramingando com a rote
toda se preparando prum buaaaaaaa'. Bem,
tudo isso é muito agradável mas é muito covarde.
A gente foi posto nesse mundo só pra
entrar em contato com Deus. Esse tipo de
coisa é capaz de esgotar toda a força e toda a
bondade de um tcheloveque.
- Qual vai ser o programa, hein?
O estéreo estava ligado e a gente tinha a
impressão do que a golosse do cantor estava
se mexendo de um lado pro outro do bar,
voando pro teto e depois mergulhando de
novo e zunindo de parede a parede. Era Berti
Laski, rouquejando um sucesso já muito
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estarre chamado Você Empola a minha tinta.
Uma das três ptitsas no balcão, a de peruca
verde, estava mexendo com a barriga pra
dentro e pra fora, ao ritmo daquilo que
chamavam de música. Eu sentia as facas do
moloco começar a espetar e já estar pronto
pra um pouco de vinte-contra-um. Por isso,
berrei: "Fora fora fora fora!" e ai rachei o tal
veque que estava sentado ao meu lado e
joguei ele longe, estalando-lhe uma tapona
no uco, ou ouvido, mas ele não sentiu e continuou
com o seu
"Ferragens telefônicas e quando o longicúlulo
ficar ratatatatá". Ele ia sentir
direitinho quando ficasse bom, de volta da
viagem.
- Fora pra onde? - disse Georgie.
- Ah, só pra andar um pouco - disse eu - e
videar o que é que pinta no horizonte, ó
meus irmãozinhos.
Então a gente se mandou pela grande
nótchi de inverno e caminhou descendo o
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Marghanita Boulevard, depois virou na
Boothby Avenue e lá a gente encontrou bem
o que estava procurando, um passatempozinho
malenque pra começar a noitada. Tinha
um veque estarre, tremulo, com pinta de
professor, de óculos, a rote aberta pro ar frio
da nótchi. Tinha livros debaixo do braço e
um guarda-chuva sebento e estava dobrando
a esquina da Bíblio Pública que muito poucas
líudes freqüentavam naquele tempo. Na verdade,
nunca se via muita pinta de burguês
velho nas ruas, naquele tempo, depois do
cair da noite, assim com a escassez de policia
e nós os jovens maltchiquezinhos à solta, e
aquele velho com pinta de professor era o
único andando na rua inteira. Então nós gulhamos
em direção a ele, muito corteses, e eu
falei:
- Com licença, irmão.
Ele pareceu um malenque pugle quando
videou nós quatro saindo assim tão silenciosos
e corteses e sorrindo, mas falou: -
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Sim? o que é? - com uma golosse alta, de
professor, como se estivesse tentando nos
mostrar que não estava pugle. Ai, eu falei:
- Vejo que o senhor está com livros debaixo
do braço, irmão: é realmente um raro
prazer, nos dias que correm, cruzar com alguém
que ainda lê, irmão.
- Ah - disse ele todo trêmulo. - É mesmo?
Ah, sei. - E continuava olhando de um para o
outro de nós quatro, se sentindo agora como
que no meio de um quadrado, todo assim
muito sorridente e cortês.
- É - disse eu. - Me interessaria
muitíssimo, irmão, se tivesse a bondade de
me deixar ver que livros são esses que o senhor
tem debaixo do braço. Não há nada de
que eu goste mais neste mundo do que de
um bom livro sadio, irmão.
- Sadio - disse ele. - Sadio, hein? - E aí
Pete esquivatou os três livros dele e distribuiu
bem escorre. Sendo três, cada um de
nós tinha um livro pra videar, com exceção
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do Tapado. O que estava comigo se chamava
Cristalografia Elementar, então eu abri e
falei: - Excelente, realmente de primeira
classe - sempre virando as paginas. Ai, eu
disse, com uma golosse muito chocada: -
Mas, o que é isso aqui? Que eslovo sujo é
esse? Eu fico ruborizado só de ver essa palavra.
Você me decepciona, irmão, realmente
me decepciona.
- Mas... - tentou ele - mas, mas...
- Veja - disse Georgie -, isto aqui é o que
eu chamo de coisa imunda. Tem uma palavra
que começa com um "f" outra que começa
com um "c" . - Ele estava com um livro chamado
o Milagre do Floco de Neve.
- Ih - disse o coitado do Tapado, esmotando
por cima do ombro de Pete e engrossando
demais, como sempre -, aqui conta
o que ele fez com ela e tem fotografia e
tudo! Puxa - disse ele - você não passa de um
velho lelé da cuca, que só pensa em sujeira.
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- Um velho da sua idade, irmão - disse eu,
e comecei a rasgar o livro que estava comigo
e os outros fizeram o mesmo com os que tinham
nas mãos, o Tapado e Pete fazendo
cabo-de-guerra com O Sistema
Romboédrico.
O estarre com pinta de professor
começou a critchar: - Mas não são meus, pertencem
a municipalidade, isto é deboche e
vandalismo! - e uns eslovos assim. E ele
mesmo tentou arrancar os livros da gente, o
que foi assim patético. –Você está precisando
de uma lição, irmão - disse eu -, lá isso
está.
O tal livro de cristais que estava comigo
tinha uma encadernação muito sólida e era
duro de rasrezar em pedaços, porque era
muito estarre e feito no tempo em que as
coisas eram feitas assim pra durar, mas eu
consegui arrancar as páginas e atirar aos
punhados como se fossem flocos de neve, só
que grandes, em cima do velho que
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critchava, e os outros fizeram a mesma coisa
com os deles, o Tapado só dançando em
volta, que nem o palhaço que era. – Pronto -
disse Pete -, taí a carne do cozido pra você,
seu porco, leitor de sujeira e indecência.
- Ah, seu velho safado - disse eu, e ai a
gente começou a toltchocar ele. Pete
segurou-lhe os ruqueres e Georgie
escancarou-lhe a rote, e ai o Tapado arrancou
de lá de dentro os zubes postiços, os de
cima e os de baixo. Jogou tudo na calçada e
eu comecei a moê-los a botinadas, se bem
que fossem duros paca, feitos que eram assim
de algum novo troço de plástico horrorshow.
O veque velho começou a fazer uns
chumes resmungando - uuf, uaf, uof - por
isso Georgie largou os gúberes dele e
mandou-lhe um murro na rote desdentada
com seu mãozão cheio de anéis, e isso fez o
veque velho começar a gemer à beça, aí é que
começou a sair o sangue, meus irmãos, uma
beleza. Ai, a gente só fez foi arrancar as
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pletes externas dele, deixando ele de colete e
ceroulas (muito estarres; o Tapado quase estourou
de tanto esmecar). Pete deu-lhe um
lindo chute na pança e então nós largamos
ele. Ficamos meio cambaleando, que realmente
não tinha sido um toltchoque tão
pesado assim, fazendo ah ah ah, sem saber o
que era aquilo tudo, ainda gozamos ele um
bocado e depois revistamos os bolsos dele,
enquanto o Tapado dançava em volta com o
guarda-chuva sebento, mas não tinha grande
coisa nos bolsos. Tinha umas cartas estarres,
algumas datando lá de 1960, com "Meu
muito querido" escrito em cima e aquela
tchipuca toda, e um chaveiro e uma caneta
estarre vazando. O Tapado parou com a
dança da sombrinha e, é claro, tinha que
começar a ler uma das cartas em voz alta, assim
pra mostrar pra rua vazia que sabia ler.
"Meu bem-ama-do", recitava ele com a
sua golossezinha mais aguda. "Vou ficar
pensando em você enquanto você estiver
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ausente e espero que você se lembre de se
agasalhar bem quentinho quando sair a
noite." Ai, soltou um esmeque muito chumento
- ah ah ah -, fingindo limpar o iama
com a carta.
- Tá bom - disse eu -, vamos embora, ó
meus irmãos. Nas caças do tal veque estarre
tinha só um malenquezinho de cortador
(dinheiro, quer dizer) - não mais do que três
golhes - por isso a gente jogou a titica das
moedinhas dele pro alto, já que era mixaria
perto da quantidade de tutu que a gente já
tinha. Então, quebramos o guarda-chuva
dele, rasrezamos as suas pletes e jogamos
tudo aos ventos que sopravam, meus irmãos,
e aí, pra nós estava encerrada a nossa
história com o veque estarre com pinta de
professor. Sei que a gente não tinha feito
grande coisa, mais era assim só o começo da
noite e não peço desculpas a vós e vós outros
por isso. As facas do leite-com estavam picando
gostoso e horrorshow, agora.
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A próxima coisa a fazer era a ação sâmie,
que era uma forma de descarregar uma parte
do nosso cortador, assim pra gente ter mais
um incentivo pra crastar alguma loja, ao
mesmo tempo que era um modo de um álibi,
por isso nós fomos ao Duke of New York, na
Amis Avenué, e lá, muito aconchegadas, estavam
três ou quatro babúchecas velhas pitando
a sua cerveja preta por conta do AE
(Auxílio Estatal). Agora, nós éramos uns
maltchiques muito bonzinhos, sorrindo
muito simpatiquinhos pra todos e todo o
mundo, se bem que as barcaças velhas enrugadas
começassem a ficar todas sacolejando,
as rúqueres cheias de veias tremendo
em volta dos copos, derramando a espuma
na mesa. "Deixem a gente em paz, meninos",
disse uma delas, a cara parecendo um mapa,
que ela tinha mil anos, "nós somos só umas
velhas." Mas a gente só botou os zubes pra
brilhar flash flash flash, sentou, tocou a campainha
e ficou esperando o garçom chegar.
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Quando ele chegou, todo nervoso e esfregando
as mãos no avental gredzento, nós
pedimos quatro veteranos - sendo veterano
uma mistura de rum com conhaque e
cerveja, muito em voga na época, alguns
gostando de uma pitada de lima dentro, que
é a variante canadense. Aí eu disse pro
garçom:
- Dá aí pra essas pobres babúchecas velhas
alguma coisa que alimente. Uma rodada
de escocês duplo e alguma coisa pra levar. -
E despejei todo o dengue do meu bolso em
cima da mesa inteira, Os outros três fazendo
o mesmo, ó meus irmãos. Trouxeram ouroem-
brasa pras assustadas barcaças estarres e
elas não sabiam o que fazer nem dizer. Uma
delas conseguiu um "obrigada, rapazes", mas
via-se que elas estavam pensando que vinha
alguma sujeira pela frente. De qualquer jeito,
cada uma ganhou uma garrafa de general
ianque, quer dizer, conhaque, pra levar pra
casa e eu deixei dinheiro pra mandarem
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entregar a cada uma delas uma dúzia de
cerveja preta na manhã seguinte, elas deixando
os seus endereços fedorentos de tchinas
velhas no balcão. Depois, com o cortador
que sobrou, a gente comprou, meus irmãos,
tudo quanto era pastelão de carne,
rosquinha, pastel de queijo, batata frita e
barra de chocolate que tinha dentro do méssito.
AÍ a gente falou: "A gente volta numa
minuta", e as ptitsas velhas ainda estavam
dizendo "obrigada, rapaziada" e "Deus
abençoe vocês, meninos", e a gente já estava
saindo sem um centavo de cortador nos nossos
cármans.
- A gente fica se sentindo muito dobe,
isso fica - disse Pete. Podia-se videar que o
Tapado, o tapado, não estava poniando bem
nada daquilo, mas não falava nada de medo
de ser chamado de glupe e abilolado da cuca.
Bom, aí nós nos mandamos, dobrando a esquina
da Attlee Avenue, e tinha aquela loja
de doces e canceres ainda aberta. A gente
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tinha deixado aquela em paz durante quase
três meses já, e o bairro todo tinha andado,
no geral, muito sossegado, por isso os milicentes
armados e as patrulhas de rodzes não
andavam muito por lá, ficando mais pro
norte do rio, naquela época. Nós pusemos as
mascarinhas, um troço novo que era muito
horrorshow - de fato, maravilhosamente
feitas; eram assim caras de personagens
históricos (eles diziam os nomes quando a
gente comprava) e eu tinha Disraeli, Pete
tinha Elvis Presley, Georgie tinha Henrique
VIII e o coitado do Tapado tinha um veque
poeta chamado Pebe Shelley; eram assim um
disfarce perfeito, cabelo e tudo, e feitas de
uma véssiche plástica muito especial, de
modo que a gente podia enrolar depois de
usar e esconder na bota - então três de nós
entramos, Pete ficando de tchasso do lado de
fora, não que tivesse perigo nenhum por
aquele lado. Assim que a gente aterrissou na
loja foi direto pro Slouse, que era o dono, um
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vequezão cor de geléia de vinho do porto,
que viu logo o que estava pra acontecer e foi
direto pro interior da loja, onde ficava o telefone
e, talvez, a sua púcheca bem azeitada,
completa, com seis baitas rodelas dentro. O
Tapado rodeou o balcão, escorre que nem
um passarinho, jogando pro alto pacotes de
tabaco e rachando um cartaz de uma garota
com os zubes todos faiscando pra freguesia,
os grudes quase caindo pra fora, pra anunciar
alguma nova marca de câncer. O que se
conseguiu videar então foi uma espécie de
bolão grande rolando pro interior da loja,
por trás da cortina, e eram o Tapado e o
Slouse atracados numa luta de morte. Então,
podia-se esluchar roncos e respiração
ofegante e pontapés por trás da cortina e véssiches
caindo e palavrões e depois vidro
fazendo crache crache crache. A Dona
Slouse, a mulher dele, estava meio congelada
atrás do balcão. Percebia-se que ela bem que
queria critchar "assassino" se tivesse uma
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chance, por isso eu me mandei pra trás do
balcão muito escorre e agarrei ela, um
pãozão muito horrorshow, toda niucando a
perfume e com aqueles grudes moles e
tremelicando. Grudei o rúquer em cima da
rote dela pra evitar que ela começasse a
bradar morte e destruição aos quatro ventos
dos céus, mas a cachorra daquela senhora
me tacou uma dentadona traiçoeira e quem
deu o critche fui eu, ela botou a boca no
mundo chamando os milicentes.
Bom, aí ela teve que ser devidamente toltchocada
com um dos pesos da balança e, depois,
uma boa caquerada com um pé-decabra
que eles usavam pra abrir caixas e aí o
vermelho apareceu, como se fosse um velho
amigo. Aí, a gente jogou ela no chão e rasgou
as pletes dela, só de brincadeira, e umas botinadazinhas
pra parar com os gemidos. E
videando ela caída ali no chão, eu pensei se
fazia ou não, mas isso ficou pra mais tarde
naquela noite. Aí, limpamos a caixa e
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naquela nótchi teve uma féria horrorshow e a
gente ficou com maços de algumas das melhores
marcas de câncer pra cada um de n6ó
e lá fomos nós embora, ó meus irmãos.
- Grande e pesadão que o sacana era - repetia
o Tapado. Eu não estava gostando do
aspecto do Tapado; estava sujo e descomposto,
como um veque que tivesse brigado, e
ele tinha, é claro, mas a gente não deve
nunca parecer que brigou. A gravata parecia
que tinham sapateado em cima, a mascarinha
dele tinha sido arrancada e ele estava
com sujo de chão no litso, então a gente levou
ele prum beco e ajeitou ele um malenquezinho,
molhando Os nossos tachetuques
no cuspe pra tchistar fora a sujeira. As coisas
que a gente tinha que fazer pelo Tapado.
Voltamos pro Duke of New York bem escorre
e, pelo meu relógio, calculei que a gente não
tinha se ausentado mais de dez minutos. As
babuchecas velhas estarres ainda estavam lá,
com a cerveja preta e os escoceses que a
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gente tinha pago pra elas, e a gente falou:
"Como é, garotas, o que e que vai ser?" E elas
começaram de novo com aquilo de "vocês
são muito bonzinhos, rapazes, Deus abençoe
vocês, meninos", e a gente tocou a colócol
que trouxe um garçom novo dessa vez e pedimos
cerveja com rum dentro, que a gente estava
morrendo de sede, meus irmãos, e mais
o que as ptitsas quisessem. Então eu disse
pras babuchecas velhas: - A gente não saiu
daqui, saiu? A gente ficou aqui o tempo todo,
não ficou? - Elas pegaram a idéia muito
escorre e falaram:
- É isso mesmo, rapazes. Não sumiram da
nossa vista, não. Deus abençoe vocês,
moçada bebendo.
Não que tivesse muita importância não,
realmente. Passou por volta de meia hora
antes que os milicentes dessem sinal de vida;
e depois, foram só dois rodzes muito moços
que entraram, muito vermelhos debaixo dos
seus enormes chilemes de meganhas. Um
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falou: - Alguém desse bando aí sabe alguma
coisa sobre o que aconteceu esta noite na loja
do Slouse?
- Nós? - disse eu inocente. - Por que, o
que que aconteceu?
- Roubo e violência. Duas baixas no hospital.
Onde foi que vocês estiveram hoje a
noite?
- Eu não vou com esse tom impertinente -
disse eu. - Eu não dou pelota pra essas insinuações
impertinentes. E coisa que denota
um temperamento muito desconfiado, meus
irmãozinhos.
- Eles ficaram aqui a noite toda, moço -
começaram a critchar as coroas. - Deus que
Os proteja, não tem nenhuma turma de
rapazes que viva com tanta bondade, com
tanta generosidade. Eles ficaram aqui o
tempo todo, sim. Ninguém viu eles se mexerem
daqui.
- Nós tamos só perguntando - disse o
outro milicente moço. - Nós temos nossa
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obrigação a fazer, como todo mundo. - Mas
nos deram uma olhada dura de advertência,
antes de sair. Quando eles iam saindo, nós os
brindamos com algumas trombetadas labiais:
prrrrrrzzzzzz. Mas eu, por mim, não podia
deixar de sentir um pouco de desapontamento
diante das coisas, do jeito que elas andavam
naquele tempo. Nada pra enfrentar
mesmo, no duro. Tudo sopa que nem uma
lambida nos cherres. Mas, enfim, a noite
ainda era uma criança.
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Capítulo 2
Quando a gente chegou do lado de fora
do Duke of New York, videou, perto da
ampla vitrina iluminada do bar principal, um
velho piânitsa, ou pau-d’água, cantando aos
berros as porcarias das canções dos seus
antepassados e fazendo bé bé bé nos intervalos,
como se tivesse uma porcaria duma
orquestra antiga nas suas podres tripas fedorentas.
Uma véssiche que eu nunca pude
suportar era isso. Eu nunca pude suportar
ver um mudge todo imundo e cambaleando e
arrotando e bêbedo, fosse qual fosse a idade,
mas muito especialmente quando era bem
estarre como aquele ali. Ele estava meio
achatado contra a parede e suas pletes estavam
uma vergonha, todas amarrotadas e
desalinhadas, cobertas de quel, de lama, de
lixo e de imundície. Então a gente pegou ele
e rachou logo com alguns toltchoques horrorshow,
mas ele continuou cantando. A canção
dizia: E eu voltarei para o meu amor,
meu amor,
Quando o meu amor for embora.
Mas quando o Tapado punhou ele umas
duas vezes na rote imunda de bêbedo, ele
parou de cantar e começou a critchar: -
Continuem, acabem comigo, seus covardes
filhos da puta, que eu não quero viver
mesmo, não num mundo fedido como esse! -
Aí eu falei pro Tapado parar um pouco, que
as vezes eu me interessava em esluchar o que
e que aqueles decrepes estarres tinham a
dizer sobre a vida e o mundo. Eu falei: - Ah,
é? E porque é fedido?
Ele exclamou: - o mundo esta fedido
porque deixam os moços baterem nos velhos,
como vocês fizeram, e não existe mais
lei nem ordem. - Ele estava critchando alto e
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balançando os ruqueres e fazendo um verdadeiro
horrorshow com os eslovos, só um
blurp blurp esquisito saindo das suas
quíchecas, como se alguma coisa estivesse
em órbita dentro dele ou como se algum
mudge muito sem educação ficasse interrompendo
ele fazendo um chume, de modo
que o veque velho ficava assim como quem
está ameaçando com os punhos, bradando: -
Isto não é mais mundo pra quem é velho, por
isso eu não tenho medo nenhum de vocês,
seus criançolas, porque estou de porre demais
pra sentir alguma dor quando vocês me
batem, e se vocês me matarem, eu vou morrer
muito contente. - Nós esmecamos e depois
sorrimos, mas não dissemos nada, ai ele
falou: - Que diabo de mundo é esse, afinal?
Tem homem na lua e homem rodando no espaço
que nem mosca em volta da lâmpada,
mas ninguém obedece mais à lei nem à ordem
aqui embaixo. Por isso, o pior que vocês
possam fazer, façam, seus desordeirinhos
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covardes de merda. - Depois, nos mandou
uma trombetada com os lábios,
prrrrrrzzzzzz, que nem a gente tinha feito
pros milicentes moços, e aí começou a cantar
de novo:
Oh minha terra amada, lutei por ti,
Dou-te a paz e a vitória que consegui...
Então a gente partiu pra rachar ele que
foi uma beleza, sorrindo com o litso inteiro,
mas ele continuava a cantar. Aí, nós cobrimos
ele de pisadas, até que ele ficou deitado
mole e pesado e um balde de vômito de
cerveja saiu espirrando. Isso foi nojento, por
isso a gente botinou ele, um de cada vez, e aí
foi sangue, e não cantoria nem vômito, que
saiu da sua rote velha e imunda. Depois a
gente seguiu caminho.
Foi lá por perto da Usina Elétrica Municipal
que nós cruzamos com Billyboy e seus
cinco drugues. Ora, naquele tempo, meus
irmãos, a enturmação era principalmente a
quatro ou cinco, constituindo uma equipe
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motorizável, quatro sendo um numero cômodo
pra caber num carro e seis o limite
máximo pra uma quadrilha.
As vezes as quadrilhas se juntavam pra
formar exércitos malenques pras grandes
guerras noturnas, mas geralmente o melhor
era vagar assim em pequenos números.
Billyboy era algo que me dava vontade de
vomitar, só de videar o seu litso gordo sorridente,
e ele estava sempre com aquele vone
de óleo muito rançoso, depois de usado pra
fritar muitas e muitas vezes, mesmo quando
botava as suas melhores pletes, como
naquela hora. Eles videaram a gente do
mesmo jeito que a gente videou eles, e agora
a gente estava assim se vigiando uns aos outros,
muito parados. Essa ia ser de verdade,
essa ia ser pra valer, essa ia ser a noje, a uze,
a britva, e não só na mão e na bota. Billyboy
e seus drugues pararam o que estavam
fazendo, que eles iam começar a executar alguma
coisa em cima de uma jovem
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devótcheca que chorava e estava no meio
deles, dez anos, não mais, critchando mas
ainda de pletes no corpo, Billyboy segurando
ela por um ruquer e o seu número-um, Leo,
segurando o outro. Provavelmente estavam
só fazendo a parte do espetáculo correspondente
aos eslovos feios, antes de chegar a uma
ultraviolenciazinha malenque. Quando eles
nos videaram vindo, largaram a tal ptitsazinha
buuuuuuu, que não tinha nada de
especial, e ela correu, as perninhas brancas e
finas faiscando na escuridão e ainda fazendo
"ai ai ai". Eu disse, com um sorriso muito
largo e druguei: - Com que então trata-se do
bode Billyboy im p'soua, gordo e fedorento?
Como ides vós, ó untuosa garrafa de óleo de
batata frita barato e fedido? Vem, pra levar
uma nos iarbos, se é que os tendes, ó tu,
geleia de eunuco! - Aí, começou.
Nós éramos quatro contra seis deles,
como eu já indiquei, mas o Tapado, com toda
a sua tapadice, valia por três ou quatro deles,
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de pura loucura e golpe baixo. o Tapado
tinha um horrorshow de comprimento de
uze, ou corrente, em volta da cintura, enrolada
em duas voltas, e aí ele desenrolou ela e
começou a rodar que era uma beleza, pra
acertar nos olbos ou glazes. Pete e Georgie
tinham umas boas nojes afiadas e eu, por
meu lado, tinha uma ótima britva de degolar
estarre muito horrorshow, que naquele
tempo eu sabia botar pra brilhar e faiscar
que nem um artista. Portanto, Iá estávamos
nós dratsando no escuro, a velha Luna com
os homens acabando de chegar nela, as estrelas
dando cutiladas, como facas ansiosas
pra entrar na dratsa. Com a minha britva,
consegui cortar de cima a baixo a frente das
pletes de um dos drugues do Billyboy, com
uma limpeza total, sem sequer tocar no plote
por baixo do pano. Então, em plena dratsa,
esse drugue do Billyboy viu-se de repente todo
aberto, que nem uma ervilha, com a barriga
nua e os pobres iarbos a mostra, e aí ele
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ficou muito rasdraz, acenando e gritando e
abrindo a guarda e deixando o Tapado entrar
com a sua corrente silvando que nem uma
cobra, znisssssshhhhhh, de modo que o
Tapado acertou ele bem nos glazes e o tal
drugue do Billyboy sai estrebuchando e berrando
como se fosse botar o coração pela
boca. A gente estava se dando muito horrorshow,
e logo tinha o número-um do Billyboy
no chão, cegado pela corrente do Tapado,
uivando e rastejando que nem um bicho,
mas com uma boa botinada no gúliver ele foi
apagando e apagando e apagando.
De nós quatro, como de habito, o Tapado
foi quem ficou em pior estado, do ponto de
vista da apresentação, e as pletes eram uma
sujeira só, mas nós, os outros, estávamos
ainda fresquinhos e compostos. Era o gordo
fedorento do Billyboy que eu queria agora, e
lá estava eu dançando com a minha britva
como se fosse um barbeiro a bordo de um
navio em mar muito violento, tentando
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atingi-lo em cheio com umas boas navalhadas
no seu litso sujo e sebento. Billyboy estava
de noje longa, de mola, mas era um
malenquezinho lento, movimentos pesados
demais pra vredar alguém mais seriamente.
E, meus irmãos, pra mim era uma verdadeira
satisfação valsar - esquerdo, dois três,
direito, dois três - e talhar bochechinha esquerda
e bochechinha direita, de modo que
pareciam escorrer assim duas cortinas de
sangue ao mesmo tempo, uma de cada lado
do focinho dele, sujo e oleoso, sob a luz hibernal
das estrelas. o sangue corria como
cortinas vermelhas, mas se videava que o
Billyboy não sentia coisa alguma e continuava
lenhando que nem um urso sujo e
gorducho, futucando na minha direção com
a sua noje.
Aí a gente esluchou as sirenes e ficou
sabendo que os milicentes estavam
chegando, com púchecas saindo pelas janelas
das viaturas, de prontidão. A tal devótcheca
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chorona devia sem dúvida ter dado o serviço
pra eles, porque tinha uma caixa de alarme
pra chamar Os rodzes não muito longe, atras
da Usina Elétrica. "Vos pegarei breve, não
temais", exclamei eu, "bode fedorento. Vou
cortar-vos Os iarbos lindo lindo!" E lá se foram
eles correndo, meio lentos e ofegando,
pro norte, em direção ao rio, e nós fomos pro
outro lado. Logo depois da primeira virada
tinha um beco, escuro e vazio, com saída
pelos dois lados, e nós descansamos lá,
ofegando rápido, depois mais lento e depois
respirando assim normal. Era como repousar
entre as raízes de duas serras magníficas e
enormes, que eram os edifícios, e nas janelas
de todos os apartamentos videavam-se luzes
azuis dançando. Isso era as televisões.
Naquela noite tinha o que eles chamavam de
transmissão mundial, querendo dizer que o
mesmo programa estava sendo videado por
todos que quisessem ver, no mundo inteiro,
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e eram principalmente as líudes de meia-idade
e da classe média.
Devia ser algum imbecil dum tcheloveque
cômico famoso, ou algum cantor preto, e estava
tudo sendo quicado de volta à terra
pelos satélites especiais de TV no espaço sideral,
meus irmãos. A gente esperou ofegando
e podia esluchar os milicentes sirenando e
indo pra leste e sabendo que agora estava
tudo certo. Mas o coitado do Tapado continuava
a olhar pras estrelas e pros planetas
e pra Luna, de rote aberta que nem um garoto
que nunca tivesse visto nada daquilo
antes, e aí ele falou:
- O que é que tem lá, isso é o que eu fico
pensando. O que é que tem naqueles troços
lá?
Eu lhe dei um baita safanão, dizendo: -
Vamos, glupe babaca. Não fique pensando
neles. Haverá vida como aqui embaixo,
muito provavelmente, com uns levando
facada e outros dando facada. E agora, com a
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nótchi ainda molodói, sigamos nosso caminho,
ó meus irmãos. - Os outros esmecaram
com essa, mas o coitado do Tapado olhava
pra mim muito sério, depois pras estrelas e
pra Luna. Então nós seguimos o nosso caminho
pelo beco, com a transmissão mundial
azulando os dois lados. O que a gente precisava
agora era de um carro; por isso, saindo
do beco, dobramos à esquerda, sacando logo
que a gente estava no Priestley Place, assim
que videamos a grande estátua em bronze de
um poeta estarre qualquer, com o beiço superior
que nem de macaco e um cachimbo
metido na velha rote despencado. Seguindo
pro norte, chegamos ao Filmódromo, velho,
imundo, todo descascado e caindo aos pedaços,
já que ninguém ia muito lá, a não ser
maltchiques como eu e meus drugues, mas ai
só pra fazer gritaria ou um rasrez, ou pra um
pouco de entra-sai-entra-sai no escuro.
Videavapelo cartaz na fachada do
Filmódromo, iluminado por um par de
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refletores sujos de cocô de mosca, que o programa
era briga de caubói, com os arcanjos
do lado do xerife federal dos EUA dando seis
tiros nos ladrões de gado saídos das legiões
de combate do inferno, o tipo de véssiche
cretina e devassa fabricada pela Estadofilme
naquela época. Os carros estacionados perto
do cinema não eram todos tão horrorshow
assim, a maioria umas véssiches muito estarres
e esculhambadas, mas tinha um Durango
95 ainda novo que eu achei que servia.
Geogie tinha uma daquelas policlefes - como
eram chamadas - no chaveiro, portanto, bem
depressa a gente estava a bordo - o Tapado e
Pete atrás, dando senhoras tragadas nos respectivos
cânceres - e eu liguei a ignição e dei
a partida, no que o carro roncou que foi um
horrorshow; dando uma sensação quente,
gostosa e vibrante que fazia roncar as tripinhas.
Aí, afundei o noga, o corpo da gente recuou
lindo e ninguém videou a gente saindo.
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A gente ficou traquinando durante algum
tempo no que chamavam de subúrbio, assustando
veques e tchinas que atravessassem a
rua, correndo em ziguezague atrás de gatos e
coisas assim. Depois pegamos a estrada pra
leste. Não havia muito tráfego, portanto eu
continuava afundando o noga quase até furar
o chão do carro e o Durango 95 comia estrada
que nem espaguete. Logo logo já eram
as árvores de inverno e a escuridão, meus
irmãos, num campo preto, e num determinado
lugar eu avancei em cima de um troço
grande que tinha uma rote cheia de dentes
rosnando em frente dos faróis, e logo a coisa
berrava e se esborrachava embaixo e o
Tapado, no banco de trás, riu de estourar -
ho ho ho - com isso. Aí, nós vimos um
maltchique e sua guria fazendo lubilúbi embaixo
de uma árvore, então paramos,
aplaudimos e partimos pra cima dos dois e,
com um par de toltchoques sem muito
entusiasmo, botamos ambos pra chorar e
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fomos embora. O que a gente estava procurando
agora era a velha visita-surpresa. Esse
negócio era uma graça, e proporcionava bons
esmeques e lances de ultravioleta. Chegamos
finalmente a uma espécie de lugarejo, e logo
na entrada desse lugarejo tinha uma casinha
isolada, com o seu jardinzinho. A Luna estava
bem a pino agora, e a gente podia videar
a tal casinha nitidamente, enquanto eu
parava o carro e puxava o freio, os outros
três dando risadinhas que nem bezúmines, e
a gente podia videar que o nome no portão
da casinha era LAR, um nome muito do
glupe. Eu saí do carro ordenando aos meus
drugues que parassem com os risinhos e fingissem
de sérios, abri o portão malenque e
caminhei até a porta da frente. Bati muito de
levezinho e ninguém atendeu, então eu bati
um pouco mais e dessa vez esluchei alguém
vindo, depois puxaram uma tranca e a porta
abriu polegada, e eu videei aquele glaze olhando
pra fora, pra mim, e a porta tinha uma
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correntinha. "Sim? Quem é?" Era uma golosse
de guria, uma devótcheca mocinha,
pelo som, e então eu falei, com uma pronúncia
muito refinada, uma verdadeira golosse
de cavalheiro:
- Desculpe, minha senhora, sinto muito
incomodá-la, mas meu amigo e eu saímos
para passear e meu amigo se sentiu mal de
repente, teve um mal súbito e agora está lá,
na estrada, duro no chão e gemendo. Poderia
ter a bondade de me deixar usar o seu telefone
para chamar uma ambulância?
- Nós não temos telefone - disse a
devótcheca. -Sinto muito, mas não temos. O
senhor vai ter que procurar em outro lugar. -
De dentro da casinha malenque eu podia esluchar
o claque claque cláquete claquelaque
de algum veque batendo à máquina, e aí as
batidas pararam e veio a golosse do tcheloveque
indagando: "O que é, meu amor?"
- Bem, - disse eu -, a senhora poderia ter
a bondade de dar um copo d'água para ele?
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Sabe, é como um desfalecimento. Foi como
se ele tivesse perdido os sentidos, como um
desmaio.
A devótcheca teve uma meia hesitação e
então falou:
"Espera aí." Então desapareceu, e meus
três drugues já tinham saído do carro quietinhos
e se esgueirado horrorshow, furtivamente,
e agora colocavam as mascarinhas e
eu também coloquei a minha; agora era só
questão de enfiar o rúquer e desprender a
correntinha, que eu já tinha amaciado a
devótcheca com a minha golosse de cavalheiro,
de jeito que ela não fechasse a porta,
como devia ter feito, sendo nós desconhecidos
na noite. Nós quatro entramos com
estardalhaço, o Tapado bancando o chute,
como sempre, pulando pra cima e pra baixo
e cantando eslovos feios, e era uma casinha
malenque muito bonitinha, isso eu vou dizer.
Entramos todos esmecando no quarto de luz
acesa e lá estava a devótcheca meio se
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encolhendo, uma guriazinha jovem e bonitinha,
com grudes muito horrorshow, e com
ela estava o tcheloveque que era o mudge
dela, também de aparência juvenil, usando
óculos de aro de tartaruga, e em cima duma
mesa tinha uma máquina de escrever e
muito papel espalhado por tudo quanto era
lugar, mas tinha assim uma pilha de papel,
como se fosse a que ele já havia batido, portanto
lá estava outro cara do tipo inteligente,
de tipo chegado a livros, como aquele com
que a gente tinha traquinado algumas horas
antes, mas esse agora era um escritor, não
um leitor. Mas aí ele falou:
- O que é isso? Quem são vocês? Como é
que se atrevem a entrar na minha casa sem
permissão? - e o tempo todo a sua golosse
tremia e os rúqueres também. Então, eu
disse:
- Não temas. Se medo tens em teu coração,
irmão, peço-te, expulsa-o incontinenti.
- Aí Georgie e Pete foram procurar a cozinha,
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enquanto o Tapado aguardava ordens, de pé
ao meu lado, de rote escancarado. - O que e
isso, pois? - disse eu apanhando a pilha de
papéis batidos em cima da mesa, e o mudge
de óculos de aro de tartaruga disse, trêmulo:
- É exatamente o que eu quero saber. O que é
isso? O que é que vocês querem?
Saiam imediatamente antes que eu jogue
vocês lá fora! -Aí, o coitado do Tapado, mascarado
de Pebê Shelley, deu uma boa esmecada
com essa, rugindo que nem um
animal.
- É um livro - disse eu. - Você está escrevendo
um livro! - Eu falava com uma golosse
bem grosseira. - Eu sempre tive a maior admiração
por quem sabe escrever livros. -
Então eu olhei pra folha de cima e tinha o
nome - A LARANJA MECÂNICA - e eu falei:
- Esse título é bastante glupe. Onde é que já
se viu uma laranja mecânica? - Então eu li
um malenquinho, com uma golosse meio
aguda, que nem de pregador: "...A tentativa
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de impor ao homem, criatura superior e
capaz de doçura, a fluir suculentamente, na
última fase da Criação, dos cantos dos lábios
barbudos de Deus, tentar impor, digo eu, leis
e condições apropriadas pra uma criação
mecânica, contra isso eu levanto a minha
pena-espada." O Tapado fez o velho som de
língua no beiço com essa e eu também tive
que esmecar. Então, comecei a rasgar as folhas
e espalhar os pedaços pelo chão, e o
mudge escritor ficou meio bezúmine e partiu
pra mim com os zubes cerrados mostrando o
amarelado e as unhas prontas pra mim como
garras. Isso foi a deixa pro Tapado velho de
guerra e ele partiu com um sorriso, fazendo
eh eh eh e ah ah ah, direto ao rote trêmulo
do veque, taque taque, primeiro o punho esquerdo
depois o direito, de modo que o
nosso amigo, o vermelho, vermelho vino de
primeira casta e o mesmo em todos os
lugares, como se fosse todo produzido pela
mesma grande firma, começou a correr e
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manchar o lindo tapete limpo e os pedacinhos
do livro dele que eu continuava
rasgando, rasrez, rasrez. Esse tempo todo, a
devótcheca, sua esposa amantíssima e fiel,
permanecia assim congelada perto da lareira
e nessa altura começou a soltar uns critchezinhos
malenques, como se acompanhasse assim
o tempo da musiquinha dos punhos do
Tapado. Ai, Georgie e Pete chegaram da cozinha,
ambos mastigando com barulho,
mesmo usando as mascarinhas dava pra se
comer sem nenhum problema, Georgie com
uma coxa fria de alguma coisa num dos
rúuueres e uma meia bisnaga de clebe com
um montão de maslo no outro, e Pete com
uma garrafa de cerveja botando espuma pelo
gúber e um pedaço horrorshow de pudim de
pão. Eles fizeram ha ha ha videando o
Tapado a dançar e punhar o veque escritor, e
o veque escritor começou a platchar assim o
trabalho de sua vida inteira perdido, fazendo
buuuuuu com a rote de choro e
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ensangúentada, mas tinha um hum hum
hum hum abafado de quem está de boca
cheia e dava pra se ver pedaços do que eles
estavam comendo. Eu não gostei daquilo
porque era porcaria e falta de educação, então
falei:
- Parem de comer fazendo barulho. E eu
não dei licença. Segurem esse veque aqui pra
ele videar tudo e não fugir. - Aí eles largaram
a pichetcha gordurosa em cima da mesa, no
meio dos papéis que voavam, e se cloparam
pra cima do veque escritor, cujos ótcheques
de aro de tartaruga estavam quebrados mas
ainda em cima do nariz, o Tapado dançando
ainda e fazendo sacudir os enfeites em cima
do tampo da lareira (eu varri tudo e eles não
tinham mais como sacudir, irmãozinhos),
enquanto traquinava com o autor de A
Laranja Mecânica, fazendo o litso dele ficar
todo roxo e pingando, como se fosse uma
qualidade de fruta sumarenta muito especial.
- Tá bom, Tapado - disse eu.
53/412
- Agora, quanto à outra véssiche, que Bog
nos ajude a todos. - Então ele deu uma de
parrudo pra cima da devótcheca, que ainda
estava critche critche critchando, num 4 por
4 muito horrorshow, prendendo os braços
dela por trás, enquanto eu ia rasgando umas
coisas e outras e os outros ainda ah ah ah, e
eram grudes muito horrorshow os que os
seus glazes miúdos mostravam, enquanto eu
me desataviava e me preparava pra meter.
Enquanto metia, eu esluchava gritos de
agonia e o veque escritor ensangúentado que
Georgie e Pete estavam segurando quase se
soltou, uivando que nem bezúmine os eslovos
mais feios, os que eu já conhecia e mais os
que ele ia inventando. Depois de mim era
justo que o Tapado também tivesse a sua vez
e teve aos berros e rosnados, sem que a mascarinha
de Pebê Shelley prestasse a menor
atenção, enquanto eu segurava a menina.
Depois teve revezamento, com o Tapado
e eu segurando o veque escritor que falava
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engrolado, que já não dava mais pra espernear,
soltando uns eslovos meio moles, como
se estivesse curtindo num bar de leite-com, e
Pete e Georgie tiveram a deles. Aí, ficou assim
um silêncio e a gente ficou assim doido
de ódio e despedaçou tudo o que ainda
faltava despedaçar - máquina de escrever,
lâmpadas, cadeiras - e o Tapado, era típico
do Tapado, mijou na lareira e ia estrumar no
tapete, já que tinha tanto papel, mas eu disse
que não, "Fora fora fora fora", berrei. O
veque escritor e sua jina estavam mais pra lá
do que pra cá, rasgados, ensangüentados e
fazendo ruídos. Mas iam continuar vivos.
Então, entramos no carro que estava à espera
e eu deixei Georgie pegar no volante, eu
me sentindo um malenque irritado, e
voltamos pra cidade, passando por cima de
algumas coisas estranhas que davam guinchos
pelo caminho.
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Capítulo 3
A gente iequetou de volta pra cidade,
meus irmãos, mas quase chegando, não
longe do que chamavam de Canal Industrial,
a gente videou que o ponteiro do combustível
tinha assim despencado, que nem o ponteiro
do nosso riso, e o carro estava tossindo,
queche queche queche. Não era preocupação
maior, que tinha uma estação de trem piscando
em azul, acende apaga, acende apaga,
bem pertinho. O caso era resolver se se
deixava o carro pra ser sobiratado pelos
rodzes ou se a gente, estando assim num
clima de ódio e assassinato, dava-lhe um
bom toltchoque dentro d'água, pra ouvir um
plesque gostoso, pesado, alto, antes do fim
da noite.
Foi essa última coisa o que a gente resolveu,
então saímos do carro, soltamos os
freios e nós quatro toltchocamos ele até à
beira da água suja, que era assim melado
misturado com produto dos buracos humanos,
depois um bom toltchoque horrorshow
e lá se foi ele. A gente teve de pular pra
trás, de medo que a sujeira respingasse nas
nossas pletes, mas lá se foi ele, splusssssshhhh
e glolp, lindo, pela água abaixo. "Adeus,
drugue velho', exclamou Georgie e o Tapado
saudou com uma boa gargalhada de palhaço,
"hu hu hu hu".
Então a gente foi até a Estação pra andar
uma parada só, até o Centro, como
chamavam o meio da cidade.
Pagamos as passagens bonitinho e
ficamos esperando como cavalheiros na
plataforma, o Tapado brincando com as máquinas
de flíper, os cármans cheios de moedinhas
malenques, e prontos a distribuir, se
fosse preciso, barras de chocolate aos pobres
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e famintos, se bem que não houvesse nenhum
à vista, e ai o velho expresso rápido
chegou lenhando e subimos a bordo, o trem
parecendo estar quase vazio. Pra passar os
três minutos da viagem, a gente começou a
traquinar com o que chamavam de estofamento,
arrancando horrorshow uns belos
pedaços das tripas dos assentos oTapado
dando correntadas na ocno até que o vidro
estilhaçou e rebrilhou no ar de inverno. Mas
nós estávamos muito cansados, irritados e de
saco cheio, que a noite tinha sido de algum
dispendiozinho de energia, meus irmãos, o
Tapado, que nem o animal palhaço que era,
continuou muito alegrinho, mas muito sujo e
com muito vone de suor, que isso era uma
coisa que eu tinha contra o Tapado. Saltamos
no Centro e voltamos lentamente pro Leitebar
Korova, todos fazendo iaaaaaaá um
malenquezinho e mostrando à lua e às estrelas
e aos lampiões as nossas obturações de
trás, porque nós éramos ainda maltchiques
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em idade de crescimento e tínhamos colégio
durante o dia, e quando chegamos ao Korova
encontramos ele mais cheio do que quando a
gente tinha saído de lá, mais cedo. Mas o tcheloveque
que borborejava no barato do leite
com sintemesque ou coisa que o valha estava
lá na mesma, dizendo "Ouriços de atirados
mortos no ca-me-minho glio temo platônico
nascetempo". Era provável que aquela fosse
a sua terceira ou quarta dose naquela noite,
porque estava com aquele aspecto pálido e
inumano, como se tivesse virado uma coisa e
seu rosto fosse assim um pedaço de giz esculpido.
Realmente, se ele queria passar
tanto tempo viajando, devia ter ido pra um
dos cubículos reservados, nos fundos, e não
ter ficado no méssito principal, porque ali,
um ou outro dos maltchiques podia ficar traquinando
com ele um malenquinho, se bem
que não demais, porque tinha muito leão-dechácara
parrudão malocado lá dentro do
velho Korova pra liquidar com qualquer
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bagunça. Bom, mas o Tapado conseguiu se
espremer até o lado do veque e com o bocão
de palhaço aberto, mostrando até a campainha
pendurada no fundo da goela, deu
uma pisada no pé do veque, com o seu
saboguezão imundo. Mas o veque, meus
irmàos, não sacou nada, que ele já estava
muito acima do corpo
Eram nadsats, principalmente, leitando,
tomando coca-cola e traquinando por ali
mesmo (nadsats era como a gente se
chamava, os adolescentes dos treze aos
dezenove), mas tinha alguns dos mais estarres,
tanto veques quanto tchinas (mas não
burgueses, eles nunca), rindo e govoritando
no bar. Percebia-se, pelos seus penteados e
escanhoados e pelas pletes largas (grandes
sueteres de fio grosso, principalmente), que
eles tinham estado ensaiando no estúdio de
TV, dobrando a esquina. As devotchecas que
estavam com eles tinham aqueles litsos
muito vivazes e rotes escancaradas, muito
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vermelhas, mostrando uma porção de
dentes, esmecando muito e não ligando pra
este mundo malvado nem um tiquinho. E ai
o disco do estéreo parou de buzinar. Era um
cócheca rusqui cantando Só Dia Sim, Dia
Não e, no intervalo, no curto silêncio antes
que começasse o seguinte, uma das tais devotchecas
– muito bonita e com um sorriso
largo na rote vermelha, já nos seus trinta e
muitos anos, eu diria – saiu-se com uma ligeira
cantoria, só um compasso e meio e
como se estivesse dando um exemplo de alguma
coisa de que estivesse govoritando, e
foi assim por um momento, ó meus irmãos,
como se um grande pássaro tivesse entrado
voando no leite-bar, e eu senti todos os
malenques pelinhos do meu plote ficarem esticados
ate a ponta e os arrepios fervilhando
devagarinho como lagartixas malenques e
depois descendo. Porque eu sabia o que e
que ela estava cantando. Era uma opera de
Friedrich Gitterfenster chamada Das
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bettzeug, e era o trecho em que ela esta
dando o ultimo suspiro com a garganta
cortada, e os eslovos que ela canta são "Melhor
assim, talvez." Pois bem, eu fiquei arrepiado.
Mas o Tapado, assim que esluchou
essa lasca de melo dia, como um lontique de
carne vermelhona despejado no teu prato,
soltou uma de suas vulgaridades, que no caso
consistiu de uma trombetada labial, seguida
de um uivo de cachorro seguido de dois dedos
furando o ar seguidos de uma gargalhada
de palhaço. Eu me senti todo em febres e assim
me afogando em sangue vermelhão ao
esluchar e videar a vulgaridade do Tapado, e
disse: "Escroto! Porco nojento sem educação!"
e me estiquei passando pela frente de
Georgie, que estava entre eu e o horroroso do
Tapado, e punhei o Tapado escorre na rote.
O Tapado pareceu ficar muito surpreendido,
de rote aberta, limpando o crove do guber
com o ruquer e olhando alternadamente pro
crove vermelho que brotava e pra mim. "Por
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que que foi isso?", disse ele com aquele seu
jeitão ignorante. Pouca gente videou o que eu
tinha feito e quem videou pouco ligou. O estéreo
estava ligado de novo e tocava uma
véssiche de guitarra eletrônica muito desagradável.
Eu falei:
- Porque você é um escroto sem educação
e sem um pingo de noção de como se comportar
em público, ó meu irmão.
O Tapado botou uma cretina duma cara
feia de mau, dizendo: - Eu não gosto que você
tenha feito que nem fez. E não sou mais
teu irmão e nem queria ser. - Tinha tirado
um tachetuque ranhento do bolso e estava
limpando o jorro vermelho atarantado e olhando
pra ele sem parar, franzindo a testa
como se estivesse pensando que sangue era
pros outros, não pra ele. Era como se ele estivesse
cantando sangue pra se desculpar pela
sua vulgaridade, quando a tal devótcheca estava
cantando música. Mas a devótcheca
agora estava se esmecando, ha ha ha, com os
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seus drugues no bar, a rote vermelha funcionando
e os zubes brilhando, sem ter notado
a sórdida vulgaridade do Tapado. Na
realidade, era a mim que o Tapado tinha
ofendido. Eu falei:
- Se você não gosta disso e não queria
aquilo, já sabe o que tem a fazer, irmãozinho.
Georgie disse, de um modo brusco, que
me fez olhar pra ele:
- Tá bom, não vamos começar!
- Isso é aí com o Tapado - disse eu. - O
Tapado não pode continuar a djísene inteira
como se fosse uma criancinha. - E olhei duro
pro Georgie. O Tapado disse, e agora o crove
vermelho estava diminuindo o fluxo:
- Que direito é que ele tem de pensar que
pode me dar ordens e me toltchocar quando
estiver a fim? Os iarbos, é o que eu digo pra
ele, e arranco os glazes dele com a corrente,
de estalo.
- Olha lá, - disse eu tão baixo quanto podia,
com o estéreo quicando em todas as
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paredes e no teto e mais o veque no barato
atrás do Tapado agora falando alto, "Centelha
mais próximo ultótimo." Eu disse: -
Olha lá, ó Tapado, se continuar em vida tu
desejas.
- Os iarbos - disse o Tapado zombando. -
Um bolche monte de iarbos pra você. O que
você fez ainda agora não tinha o direito. Eu
te enfrento na corrente, na noje e na britva a
qualquer hora. Que não tem razão pra você
ficar me dando toltchoques sem razão. Não
deixo não
- Uma parada de noje quando você quiser
- rosnei eu de volta. Pete falou:
- Ih, não façam isso, vocês dois. Nós
somos drugues, não somos? Não está certo
drugues ficarem se tratando assim. Olha lá,
tem uns maltchiques boquirrotos ali esmecando
da gente, assim zombando. Não vamos
relaxar.
- O Tapado - disse eu - tem de aprender o
lugar dele, certo?
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- Espera aí - disse Georgie. - Que negócio
é esse de lugar? E a primeira vez que eu ouço
falar que as líudes têm que aprender o lugar
delas.
Pete falou: - Verdade seja dita, Alex, que
você não devia ter dado esse toltchoque no
Tapado sem motivo. E a primeira e última
vez que eu vou dizer isso. Digo com todo o
respeito, mas se fosse em mim que você
tivesse dado, ia ter que se explicar. Não vou
falar mais nada. - E afogou o litso no copo de
leite.
Eu estava me sentindo ficar todo rasdraz
por dentro, mas tentei disfarçar dizendo
calmo: - Tem que haver um chefe. Disciplina
tem que haver. Certo? - Nenhum deles esquezetou
uma palavra, nem sequer concordou
com a cabeça. Eu fiquei mais rasdraz por
dentro, porém mais calmo por fora. - Eu -
disse - estou com esse cargo já há muito
tempo. Nós somos todos drugues, mas alguém
tem que ter esse cargo. Certo? Certo? -
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Todos eles concordaram assim cautelosos. O
Tapado estava osuchando o último resto do
crove. Aí, era o Tapado quem falava agora:
- Certo, certo. Tá legal. Um pouco
cansado todo mundo está. Melhor não falar
mais nada. - Eu fiquei surpreso e só um
malenquinho pugle de esluchar o Tapado govoritar
com tanta sabedoria. O Tapado falou:
- O caminho certo agora é o caminho da
cama, então o melhor é ir pra casa. Certo?
- Eu estava muito surpreendido. Os outros
três inclinaram a cabeça dizendo certo,
certo, certo. Eu falei:
- Você entenda aquele toltchoque no rote,
Tapado. Era a música, sabe? Eu fico que nem
bezúmine quando qualquer veque atrapalha
uma ptitsa que estiver cantando. O negócio é
esse.
- Melhor a gente ir indo pra casa puxar
uma espátcheca - disse o Tapado. - Foi uma
noite muito comprida pra maltchiques que
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ainda estão crescendo. Certo? - Certo, certo,
concordaram os outros dois. Eu disse:
- Eu acho que é melhor a gente ir pra casa
agora. O Tapado deu uma sugestão muito
horrorshow. Se a gente não se encontrar durante
o dia, ó meus irmãos, então... mesma
hora e mesmo lugar amanhã?
- Ah, sim - disse Georgie. - Acho que se dá
um jeito.
- Talvez - disse o Tapado - eu chegue um
malenquinho atrasado. Mas, mesmo lugar e
mais ou menos mesma hora amanhã, claro. -
Ele estava limpando o gúber, se bem que
agora não estivesse mais escorrendo crove. –
E disse ele - é de se esperar que não tenha
mais nenhuma ptitsa cantando aqui dentro. -
E soltou a sua velha gargalhada de Tapado,
um baita ho ho ho ho ho de palhaço. Parecia
que ele era tapado demais pra se sentir ofendido
demais.
E assim, nós saímos, cada qual pro seu
lado, eu arrotando arrrgh a coca gelada que
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tinha pitado. Minha britva de degolar esta à
mão pro caso de algum dos drugues do Billyboy
estar por perto do prédio de apartamentos
esperando ou, por falar nisso, qualquer
das outras bandas, ou grupas, ou chaicas
que, de tempos em tempos, estavam em
guerra com uma delas. Eu morava com meu
papá e minha mamã, num dos apartamentos
do Edifício Municipal 18-A, entre a Kingsley
Ave nue e o Wilsonsway. Cheguei até à porta
principal sem problemas, se bem que tivesse
passado por um jovem maltchique esparramado
numa sarjeta, critchando e gemendo,
todo cortado que estava uma beleza, e também
vi, à luz do poste, riscos de sangue aqui
e ali, como assinaturas, meus irmãos, das
traquinagens noturnas. E vi também, perto
do 18-A, um par de nijenes de devótcheca,
sem dúvida arrancadas rude mente no calor
do momento, ó meus irmãos. Então, pra
dentro. No corredor de entrada estava, no
muro, a indefectível pintura municipal -
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veques e ptitsas muito bem desenvolvidos,
austeros na dignidade do trabalho, nas bancadas
e nas máquinas, mas sem nem um
fiapo de pletes nos plotes bem desenvolvidos.
Mas, naturalmente, alguns
maltchiques moradores do 18-A tinham,
como era de se esperar, embelezado e decorado
a dita pinturona com hábeis lápis e esferográficas,
acrescentando pentelhos, picas
duras e balõezinhos com eslovos feios saindo
das dignas rotes dos tais veques e tchinas
nagóis (nus, quero dizer). Eu me dirigi ao elevador,
mas não foi preciso apertar o nopca
pra saber se estava funcionando ou não,
porque ele tinha levado um toltchoque horrorshow
naquela noite, as portas de metal estavam
todas amarrotadas, realmente um
feito de rara força, portanto eu tive de subir
os dez andares.
Eu xingava e ofegava enquanto subia, que
eu estava cansado de plote, mas de cuca nem
tanto assim. Eu queria muito ouvir música
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naquela noite, aquela devótcheca do Korova,
cantando, talvez tivesse me ligado. Eu queria
assim um banquete de música antes de
carimbar o passaporte, ó irmãos, na fronteira
do sono e que a cheste listrada levantasse pra
me deixar passar.
Abri a porta do 10-8 com a minha própria
clutchinha e dentro dos nossos alojamentos
malenques estava tudo silencioso, pê e eme
estavam anos na sonolência e mãe tinha
posto uma amostra melenque de jantar - um
par de lontiques de almôndegas em lata com
umas fatias de clebe com manteiga e um
copo de moloco. Ho ho ho, o moloco velho
sem facas nem sintemesque nem dencrom
dentro. Que droga, meus irmãos, o leite, tão
inocente, tinha agora que me aparecer
sempre. Mas bebi e comi grunhindo, que eu
estava com mais fome do que pensava antes
de começar, e apanhei torta de fruta no
guarda-comidas e arranquei punhados pra
enfiar na minha rote ávida. Depois, limpei os
71/412
dentes estalando a língua e limpei a rote com
a iãzique, depois fui pro meu quartinho ou
estúdio, afrouxando as pletes no caminho. Lá
estavam minha cama e meu estéreo, o orgulho
da minha djísene, e meus discos no
armário, as bandeiras e as flâmulas nas
paredes, essas sendo assim lembranças da
minha vida na escola correcional, desde os
onze anos de idade, ó meus irmãos, cada
uma delas brilhante e brasonada, com um
nome ou um número: SUL 4;DIVISÃO AZUL
DA ESCOLCOR METRO; OS RAPAZES DE
ALFA.
Os pequenos alto-falantes do meu estéreo
estavam todos instalados em volta do quarto
no teto nas paredes, no chão, por isso, deitado
na cama esluchando a música, eu estava
assim como que refestelado no meio da orquestra.
Bom, o que eu estava pensando em
primeiro lugar era no novo concerto para violino
do americano Geoffrey Plautus, executado
por Odysseus Choerilos com a
72/412
Orquestra Filarmônica de Macon (Geórgia),
portanto eu tirei o disco de onde estava,
cuidadosamente guardado, liguei e fiquei
esperando.
Então, irmãos, começou. Ah, bênção,
bênção dos Céus! Fiquei deitado, completamente
nagói, olhando pro teto, o gúliver
sobre as mãos no travesseiro, os glazes
fechados, a rote aberta em beatitude, esluchando
o esguicho de lindos sons. Ah, era o
belo e a beleza feitos carne. Os trombones
mastigavam ouro debaixo da minha cama,
por detrás do meu gúliver, os trompetes
lançavam chamas de prata em três direções e
lá, perto da porta, os tímpanos rolavam por
dentro das minhas tripas e tornavam a sair,
mastigados como um torrão de trovão. F então,
como um pássaro do mais raro tecido de
metal celeste, ou como vinho prateado escorrendo
numa espaçonave, a gravidade transformada
agora em absurdo, veio o solo de violino,
por sobre todas as outras cordas, e
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essas cordas eram como que uma gaiola de
seda em volta da minha cama. Depois, a
flauta e o oboé perfuraram, como se fossem
vermes de platina, o espesso, espesso torrão
de ouro e prata. Pê e eme, no quarto de
dormir ao lado, já tinham aprendido a não
bater na parede se queixando do que
chamavam de barulho. Eu tinha ensinado a
eles. Agora eles tomavam pílulas pra dormir.
Talvez sabendo da alegria que eu sentia com
a minha música noturna, eles já deviam ter
tomado. Enquanto eu esluchava, meus glazes
bem apertados pra trancar do lado de dentro
a beatitude que era melhor do que qualquer
Bog ou Deus de sintemesque, eu via imagens
tão lindas. Tinha veques e ptitsas, tanto
jovens quanto estarres, caídos no chão, gritando
por misericórdia, e eu esmecando com
a rote inteira e moendo os litsos deles com a
bota. E tinha devótebecas rasgadas e
critchando contra as paredes e eu metendo
nelas como uma chilaga e, realmente,
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quando a música, que tinha só um movimento,
chegou ao topo da sua torre mais
alta, então eu gozei e esporrei e gritei
aaaaaaaahhhhh de beatitude. E a linda
música deslizou para o seu término
cintilante.
Depois disso, eu ouvi um lindo Mozart, a
Júpiter, e vi novas imagens de litsos diferentes
sendo jogados ao chão e esmagados, e
foi depois disso que eu achei que devia ouvir
mais um último disco, antes de atravessar a
fronteira, e eu queria alguma coisa estarre,
forte e muito firme, e foi J. S. Bach que eu
ouvi, o Concerto de Brandenhurgo só pra
cordas médias e graves. E, esluchando com
uma beatitude diferente da anterior, eu
videei de novo aquele nome no papel que eu
tinha rasrezado naquela noite, parece que há
muito tempo, naquela casinha chamada
LAR. O nome falava de uma laranja mecânica.
Esluchando o J. S. Bach, eu comecei a
poniar melhor agora o que aquilo queria
75/412
dizer e achei, esluchando a perfeita lindeza
do estarre mestre alemão, que eu devia ter
toitchocado ambos muito mais forte e
rasgado eles em tiras, no próprio chão deles.
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Capítulo 4
Na manhã seguinte eu acordei ás oito em
ponto, meus irmãos, e como eu ainda estava
me sentindo cansado, chateado e de saco
cheio, e meus glazes estavam grudados de
remela muito horrorshow, eu resolvi que não
ia à escola. Resolvi ficar um malenquinho
mais na cama, digamos uma hora ou duas, e
depois me vestir com calminha, talvez até
dar um esploche no banheiro, depois preparar
um bule de tchai horrorshow bem
forte, fazer torradas pra mim e esluchar o rádio,
ou ler a gazeta, muito no meu odinoque.
E então, depois do café talvez eu itasse, se
ainda estivesse com vontade, até o velho
escoliuol, pra ver o que e que estavam varitando
naquela grande sede do saber glupe e
inútil, ó meus irmãos. Ouvi meu papapá resmungando
e mexendo com os pés e depois
itiando para a velha estamparia de tecidos
onde ele rabitava, e aí minha mamãe entrou
me chamando com uma voz muito respeitosa,
como ela fazia agora que eu estava
crescendo, grande e forte:
- Já passa das oito, meu filho. Não vá se
atrasar de novo.
Eu retruquei: - Tô com um pouco de dor
de gúliver. Me deixa quieto que eu vou tentar
dormir pra ver se passa e aí, de tarde, eu vou
estar tinindo. Eu esluchei ela dar uma espécie
de suspiro e aí falou:
- Então eu vou botar a sua comida no
forno, meu filho. Eu também já vou saindo. -
O que era verdade, porque tinha aquela lei
mandando que todo mundo que não fosse
criança, nem com crianças, nem doente tinha
que rabitar fora. A mãe trabalhava num dos
Mercados Estatais, como eles chamavam, enchendo
as prateleiras de sopa e feijão em lata
78/412
e essa quel toda. Então eu esluchei o tlenque
do prato no forno a gás e depois ela calçando
os sapatos, depois apanhando o casaco atrás
da porta, depois suspirando de novo, e ela
falou: "Eu já vou, meu filho." Mas eu procurei
voltar pra sonolândia e aí peguei no
sono muito horrorshow e, por alguma razão,
tive um esnite esquisito e muito real, com o
meu drugue Georgie. Nesse esnite ele já estava
assim muito mais velho e muito severo e
muito durão e estava govoritando sobre disciplina
e obediência e dizendo que todos os
maltchiques sob seu controle tinham que andar
muito na linha e bater continência, como
se estivessem no exército, e lá estava eu nas
fileiras assim que nem os outros, dizendo
sim senhor e não senhor, e videei claramente
que Georgie estava com aquelas estrelas nos
pletchos e era assim um general. E ai ele
trouxe o Tapado com um chicote e o Tapado
estava muito mais, estarre e grisalho e estava
com alguns zubes faltando, o que eu pude ver
79/412
quando ele deixou escapar um esmeque me
videando, e aí o meu drugue Georgie disse
assim apontando pra mim: "Esse homem aí
está com as pletes cheias de sujeira e quel!".
e era verdade.
Aí eu critchei:
"Não batam em mim não, por favor, não
batam em mim, meus irmãos!", e comecei a
correr. E fiquei correndo assim em círculos,
o Tapado atrás de mim esmecando à beça,
estalando o chicote e, de cada vez que eu
levava um toltchoque horrorshow do chicote
dele, era como se fosse uma campainha
elétrica tocando muito alto trrrintrrrintrrin,
e essa campainha era unia espécie de dor
também.
Ai, eu acordei escorre, meu coração taque
taque taque. e, naturalmente, tinha mesnio
uma campainha fazendo brrrr e era a da
porta da frente. Eu fingi que não tinha ninguém
emi casa, mas aquele brrrr continuou,
e aí eu ouvi uma golosse gritando do outro
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lado da porta: "Anda, anda, deixa disso, eu
sei que você está na cama!" Eu reconheci a
golosse imediatamente. Era a golosse de P.R.
Deltoid (esse aí era um naze muito glupe),
que chamavam de meu consultor pós-correcional,
um veque sobrecarregado de trabalho,
com centenas de nomes nos seus caderninhos.
Eu gritei certo, certo, certo, com
uma voz assim de dor, e me levantei e fui me
ataviar, ó meus irmãos num muito lindo
chambre de seda assini com desenhos de
grandes cidades. todos estampadas em cima
desse chambre. Depois meti os meus nogas
dentro de cômodas tuflas de lã, penteei a
minha bela cabeleira e estava pronto para o
Sr. P. R. Deltoid. Quando eu abri a porta, ele
entrou arrastando os pés, desgrenhado um
chilapa surrado no gúliver, a capa de chuva
imunda. - Ah, menino Alex - disse-me ele. -
Encontrei sua mãe, não é? Ela falou alguma
coisa a respeito de uma dor. Daí, escola
nada, não é?
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- Uma dor de cabeça insuportável, irmão,
Sr. Deltoid - disse eu com a minha golosse de
cavalheiro. - Acho que deverá ceder durante
a tarde.
- Ou certamente durante a noite, não é? -
disse P. R. Deltoid. - A noite é a grande hora,
não é, menino Alex?
Sente-se. "Senta, senta..." como se fosse a
dome dele e eu a visita. E ele sentou naquela
cadeira de balanço estarre do meu pai e
começou a balançar, como se só tivesse
vindo pra isso. Eu falei:
- Uma xícara de tchai, Sr. Deltoid? Chá,
quero dizer.
- Não dá tempo - disse ele. E balançava,
com aquele olhar faiscante debaixo das sobrancelhas
cerradas, como se dispusesse de
todo o tempo deste mundo. - Não dá tempo,
não é? - disse ele. Aí eu botei a chaleira no
fogo.
E falei:
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- A que devo o extremo prazer? Alguma
coisa errada, Sr. Deltoid?
- Errada? - disse ele muito escorre e astuto,
olhando pra mim meio curvado mas
ainda se balançando. Aí ele viu um anúncio
na gazeta que estava em cima da mesa - uma
linda ptitsa esmecante, com os grudes de
fora anunciando, meus irmãos, as Glórias
das Praias Iugoslavas. Então, depois de tê-la
comido em duas deglutidas, ele falou: - Por
que é que você está pensando em termos de
haver alguma Coisa errada? Você andou
fazendo alguma coisa que não devia, é?
- É só maneira de falar - disse eu - Sr.
Deltoid.
- Pois bem - disse P. R. Deltoid - é só
maneira de falar, de mim pra você, pra você
tomar cuidado, Alexinho, porque a próxima
vez, como você sabe muito bem, não vai mais
ser a escola correcional. Da próxima vez vai
ser nas grades, e todo o meu trabalho vai por
água abaixo. Se você não tem consideração
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para com o seu próprio eu horrendo, pelo
menos tenha alguma para comigo, que suei
muito por sua causa. Uma grande mancha
negra, digo-lhe confidencialmente, pra cada
um de vocês que acaba atrás das grades.
- Eu não andei fazendo nada que não devia,
Sr. Deltoid - disse eu. - Os milicentes não
têm nada contra mim, irmão, Sr. Deltoid,
quero dizer.
- Corta essa conversa de malandro a respeito
de milicentes - disse P. R. Deltoid,
muito cansado mas ainda se balançando na
cadeira. - Só porque a polícia não pegou você
ultimamente, isso não quer dizer, como você
sabe muito bem, que você não tenha andado
fazendo alguma safadeza. Teve uma
briguinha ontem à noite, não teve? Teve uma
dança com nojes e correntes de bicicleta e
coisas assim. Um amigo de um certo rapaz
gordo foi recolhido, não faz muito tempo,
por uma ambulância, perto da Usina
Elétrica, e hospitalizado, todo cheio de cortes
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muito desagradáveis, não é? O teu nome foi
mencionado. A notícia me chegou pelos
canais habituais. Certos amigos teus também
foram mencionados. Aparentemente houve
uma boa quantidade de safadezas sortidas,
ontem à noite. Ah, ninguém pode provar
nada contra ninguém, como sempre. Mas eu
estou lhe prevenindo, Alexinho, porque sou
seu amigo como sempre, e o único homem
nesta comunidade dorida e doente que quer
salvar você de você mesmo.
Eu agradeço muito, Sr. Deltoid disse eu -,
muito sinceramente.
- É, você agradece, não é? - zombou ele. –
Tome cuidado, só isso, tá? Nós estamos mais
por dentro do que você está pensando, Alexinho.
- Aí, ele falou, com uma golosse de
grande sofrimento, mais ainda se
balançando:
- O que é que vocês têm? Nós estudamos
o problema e estamos estudando já há, puxa
vida, quase um século, mas não progredimos
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nesse estudo. Vocês têm boas casas, bons
pais, umas cabeças nada más... E algum demônio
que baixa em vocês?
- Ninguém tem nada contra mim, senhor
- disse eu.
- Eu já saí dos rúqueres dos milicentes há
muito tempo.
- É exatamente isso que me preocupa -
suspirou P. R. Deltoid. - É tempo demais pra
ser saudável. Você está pra chegar lá, pelos
meus cálculos. É por isso que estou prevenindo
você, Alexinho, pra tirar a sua bela
trombazinha da lama, não é? Estou sendo
claro?
- Como um lago sem lodo, Sr. Deltoid -
disse eu. - Claro como um céu azul do mais
profundo verão. O senhor pode confiar em
mim. - E lhe dei um belo sorriso cheio de
zubes.
Mas quando ele ucaditou e eu estava
fazendo aquele bule de tchai muito forte, eu
sorri comigo mesmo dessa véssiche com a
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qual se preocupavam P. R. Deltoid e seus
drugues. Tá bom, eu ajo errado com esse
negócio de craste, de toltchoque e de rasgões
a britva e o velho entra-sai-entra-sai, mas se
eu for lovetado, pior pra mim, ó meus
irmãos, que ninguém pode governar um país
com todos os tcheloveques se comportando
da maneira que eu me comporto à noite.
Portanto, se eu for lovetado e forem três
meses num méssito e depois seis meses
noutro e aí, como adverte amavelmente o P.
R. Deltoid, e a despeito da tenrura dos meus
janeiros, irmãos, vai ser o jardim zoológico
do outro mundo, eu digo: "Tá certo, mas é
uma pena, meus senhores, porque não
suporto ficar trancado. Meus esforços, no futuro
que estende para mim os seus braços
brancos como lírios, serão voltados para que,
antes, a noje me alcance, ou que o sangue esguiche
seu compasso final em metal retorcido
e vidro estilhaçado na estrada, pra não
ser lovetado de novo." O que é um belo
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discurso. Mas, irmãos, eles ficarem roendo a
unha do pé pra saber a causa da ruindade é
que me deixa um bom maltchique ridente.
Eles não procuram a causa da bondade, por
que então ficar cavucando do outro lado? Se
as líudes são boas é porque gostam, e eu
nunca desmancharia os prazeres deles, e do
outro lado a mesma coisa. E eu estava defendendo
esse outro lado. Mais ainda, a ruindade
faz parte do ser, do eu, tanto em mim
quanto em vocês no odinoque, e este eu é
feito por Bog, ou Deus, e é o seu grande orgulho
e radoste. Mas o não-ser não pode
aceitar o mal, quer dizer, os do governo, os
juizes e os colégios não podem permitir o
mal porque não podem permitir a individualidade.
E não é a nossa História moderna,
meus irmãos, a história de bravas individualidades
malenques lutando contra essas máquinas
enormes? Quanto a isto, meus
irmãos, eu estou falando com toda a
88/412
seriedade. Mas, o que faço, faço porque
gosto.
Por isso, agora, nessa sorridente manhã
de inverno, eu tomo meu tchai com moloco e
colheres e colheres e colheres de açúcar, que
eu tenho boa boca pra esládique, e pesquei
no forno a refeição matinal que a coitada da
mãe fez pra mim. Era um ovo frito, nada
mais do que isso, mas eu fiz torrada e comi
ovo com torrada e geléia, estalando a língua
enquanto lia a gazeta. A gazeta era o trivial,
sobre ultraviolência, assaltos a bancos,
greves e jogadores de futebol deixando todo
mundo paralítico de medo, ameaçando não
jogar no sábado seguinte se não fossem
aumentados, maltchiquezinhos travessos
que eles eram. Também havia mais viagens
espaciais e telas de TV estéreo maiores e
ofertas de pacotes de sopa em flocos, grátis
em troca de rótulos de latas de sopa, maravilhosa
oferta só esta semana, o que me fez
esmecar. E tinha um bolche artigo sobre
89/412
Juventude Moderna (ou seja, de mim - eu fiz
uma reverência, rindo que nem bezúmine),
escrito por algum tcheloveque careca, muito
competente. Isso eu li com atenção, meus
irmãos, mamando o meu tchai, xícaras e
canecas e tchachas, roendo os meus
lontiques de torrada escura mergulhada em
geleinha e ovinho. Esse veque, instruído dizia
as véssiches habituais sobre falta de disciplina
paterna, como ele chamava, e a
carência de professores realmente horrorshow
para tirar fora a vergastadas a sacanagem
dos seus inocentes pupilos e fazê-los
abrir o berreiro por demência. Tudo isso era
glupe demais e me fez esmecar, mas era
agradável continuar sabendo que a gente está
fazendo as notícias sem parar, ó meus
irmãos. Todo dia tinha alguma coisa sobre
Juventude Moderna, mas a melhor véssiche
que eles já tinham botado na gazeta foi um
estarre dum padre de colarinho duro que
disse que, na sua ponderada opinião, e ele
90/412
estava govoritando como homem de Bog,
ERA O DIABO QUE ESTAVA À SOLTA, e
que estava predando o seu caminho através
da carne inocente, e que o mundo adulto é
que devia ser responsabilizado por isso, com
suas guerras, suas bombas e seus absurdos.
E isso estava certo. E ele sabia o que estava
falando, sendo um homem de Deus. E nós,
os maltchiques inocentes, não podíamos
levar a culpa. Certo, certo, certo.
Depois de arrotar um par de razes, com
meu estômago inocente cheio, comecei a tirar
pletes de dia do meu guarda-roupas, ligando
o rádio. Estava tocando música, um
quarteto de cordas malenque muito bonito,
meus irmãos de Claudius Birdman, um que
eu conhecia bem. Mas eu tinha que dar um
esmeque pensando no que tinha videado
uma vez num desses artigos sobre Juventude
Moderna e de como a Juventude Moderna
poderia ser melhor se mia Viva Apreciação
das Artes pudesse ser incrementada. A
91/412
Grande Música, diziam, e a Grande Poesia,
aquietariam a Juventude Moderna e fariam a
Juventude Moderna mais civilizada. Civilizada,
meus iarbos sifilíticos. A música sempre
me deixava arrepiado, ó meus irmãos, e me
fazia sentir como o próprio Bog, pronto a
disparar raios e trovões e ter os veques e as
ptitsas critchando sob o meu gargalhante
poder. E, depois de tchistar um pouco o meu
litso e rúqueres e me vestir (minhas pletes
diurnas eram de estudante: as velhas pantalonas
azuis e um suéter com um A, de
Alex), eu pensei que agora, pelo menos, eu
tinha tempo para itar até a discobutique (e
cortador também, meus bolsos estavam
cheios de tutu) pra ver o negócio da
gravação, há tanto tempo prometida e há
tanto tempo pedida, da Nona de Beethoven
(isto é, a Sinfonia Coral), gravada na Masterstroke
pela Esh Sham Sinfonia, sob a regência
de L. Muhaiwir. Portanto, irmãos, saí.
92/412
O dia era muito diferente da noite. A
noite pertencia a mim e a meus drugues e ao
resto dos nadsats, e os estarres burgueses se
entocavam dentro de casa, bebendo nos programas
mundiais glupes de televisão, mas o
dia era pros estarres e também apareciam
sempre mais rodzes ou milicentes zanzando
durante o dia. Tomei o ônibus na esquina e
segui pro Centro, depois voltei até Taylor
Place, e lá estava a discobutique que eu
favorecia com o meu patrocínio, ó meus
irmãos. Tinha o nome glupe de MELODIA,
mas era um méssito realmente horrorshow e
escorre na maioria das vezes, pra receber as
gravações novas. Entrei, e as duas únicas
freguesas eram duas ptitsas chupando
Picolés (e estávamos, notem, num inverno
frio de matar )remexendo os novos discos
pop - Johnny Burnaway, Stash Kroh, The
Mixers, Lay Quiet Awhile With Ed And ld
Molotov, e o resto da quel toda. Essas duas
ptitsas não podiam ter mais de dez anos e,
93/412
evidentemente, parecia que elas também,
que nem eu, tinham resolvido tirar manhã de
folga do escoliuol. Via-se que elas achavam
que já eram realmente devótchecas crescidas,
requebrando os quadris quando viram o
Vosso Fiel Narrador, irmãos, e grudes com
enchimento vermelho plochado nos gúberes.
Eu fui até o balcão, botando o sorriso cortês,
cheio de zubes, para o velho Andy lá atrás
(ele também sempre cortês, sempre útil, um
tipo de veque realmente horrorshow, se bem
que careca e muito magro). Ele disse:
- Ah, eu acho que sei o que o senhor quer.
Boas notícias, boas notícias. Chegou. - E com
os rúqueres como os de um grande regente,
marcando o compasso, ele foi buscar. As
duas jovens ptitsas começaram a dar risadinhas,
como elas fazem naquela idade, e eu
lhes lancei um glazear frio. Andy voltou
muito escorre, brandindo a grande capa
branca reluzente da Nona que tinha impresso,
ó irmãos, o litso carrancudo do
94/412
próprio Ludwig van, como um trovão engarrafado.
Aí está
- disse Andy. - Vamos dar a rodada inaugural?
- Mas eu queria ele de volta à casa,
no meu estéreo, para esluchar no meu
odinoque, numa secura danada. Remexi o
dengue pra pagar e urna das ptitsazinhas
disse:
- Quem cê paganhou, brete? Que norme,
só unzão?
Essas devótebecas muito garotas tinham
a sua maneira própria de govoritar. "The
Seaven Seventeen? Luke Sterne? Goggly Gogol?"
E ambas deram risinhos balançando os
quadris. Aí, me bateu uma idéia que me fez
cambalear de angustia e êxtase, ó meus
irmãos, tanto que não pude respirar durante
quase dez segundos. Eu me refiz, botei meus
zubes recém-limpos pra fora e disse:
O que é que vocês têm em casa, maninhas,
pra tocar esses trinados convusos?
Porque eu estava videando que os discos que
95/412
elas estavam comprando eram essas véssiches
pop de recém-adolescentes. - Aposto
que vocês tem assim dessas vitrolinhas
portáteis baratas de piquenique. - Com essa
elas meio torceram o beiço inferior - Venham
com o titio - disse eu -- e ouçam como deve.
Ouçam trompetes dos anjos e trombones do
demônio.
Estão convidadas. - E fiz assim uma
mesura. Elas tornaram a dar risinhos e uma
delas disse:
- Ih, mas a gente tá com tanta fome. Ih, .a
gente bem que podia comer. - A outra disse:
E, ela falou. Ela falou mesmo. - Aí, eu disse:
- Venham comer com o titio. Digam o
lugar.
Então elas se videaram entre elas como
verdadeiras sofisticadas, o que era patético, e
começaram a falar com golosse de grandes
damas sobre o Ritz, o Bristol, o Hilton e o
Ristorante Granturco. Mas eu acabei com
aquilo com um "venham com o titio", e levei
96/412
elas para a Pasta Parlour, dobrando a esquina,
e deixei que elas enchessem os inocentes
litsozinhos de espaguete e salsichas e
bombas de creme e banana-splits, e calda de
chocolate quente, até que eu quase enjoei
vendo aquilo, eu, irmãos, lanchando apenas
frugalmente uma fatia de presunto frio e
uma braba bombada de pimenta. Essas duas
ptitsas eram muito parecidas, se bem que
não fossem irmãs. Tinham as mesmas idéias,
ou falta de, a mesma cor de cabelo, assim
uma tintura cor de palha.
Bem, hoje elas iam crescer de verdade.
Hoje eu ia dedicar o dia a isso. Nada de
escola depois daquela merenda, mas instrução,
garantida, com Alex de professor.
Seus nomes, disseram, eram Marty e Sonietta,
bastante bezúmines e no rigor da moda
infantil. Então eu disse:
- Certo, certo, Marty e Sonietta. Tá na
hora da grande audição. Vamos. - Quando
estávamos na rua fria, elas pensaram que
97/412
não iam de ônibus, ah, não, mas de táxi, então
eu fiz a vontade delas, se bem que com
um sorriso interior horrorshow, e chamei um
táxi da fila perto do Center. O motorista, um
veque estarre que usava suíças, de pletes
muito enodoadas, falou:
- Nada de rasgar. Nada de bobagem com
esses assentos. Acabaram de ser estofados de
novo.
Eu acalmei os seus temores glupes e lá
rodamos nós pro Edifício Municipal 18-A, as
duas ptitsazinhas despachadas rindo e
cochichando. Portanto, para encurtar a
história, chegamos, ó meus irmãos, e eu fui
subindo pra mostrar o caminho até o 10-8, e
elas ofegaram e esmecaram até lá em cima e
aí disseram que estavam com sede, então eu
abri a arca dos tesouros no meu quarto e dei
àquelas devótchecas de dez aninhos um escocês
horrorshow pra cada, ainda que bem
cheio de soda espirrando alfinetes e agulhas.
Elas sentaram na minha cama (ainda por
98/412
fazer) de pernas balançando, esmecando e
pitando os uísques com soda enquanto eu
tocava o seu patético disquinho malenque no
meu estéreo. Aquilo era assim como pitar alguma
perfumada bebida infantil em taças de
ouro, belas e caras. Mas elas faziam ah ah ah
e diziam "desmaico", "montanho" e outros
eslovos bizarros que eram a última moda
dentro daquele grupo etário. Enquanto eu
rodava aquela quel pra elas, eu ia dando
força pra beber e tomar outro, e elas não estavam
nada abominando, ó meus irmãos.
Portanto, quando os seus patéticos discos
já tinham tocado duas vezes cada um (eram
dois: Honey Nose, cantado por Ike Yard e
Night Afier Day Afier Night, gemido por dois
horrendos eunucos sem iarbos cujos nomes
me esqueço agora), elas estavam chegando
ao ponto de histeria de ptitsas jovens, dando
pulos em cima da minha cama e eu no quarto
com elas.
99/412
O que foi efetivamente feito naquela
tarde não precisa ser descrito, irmãos, vocês
bem podem adivinhar. Logo logo aquelas
duas estavam despletadas e esmecando de
arrebentar e achando a graça mais bolche do
mundo videar o tio Alex ali, de pé, completamente
nagói e de cabo-de-panela, espremendo
a seringa hipodérmica que nem um
médico pelado e depois me aplicando no
rúquer o velho pico, de secreção de gato-domato.
Então eu puxei a linda Nona de dentro
da capa, de modo que Ludwig van agora
também estava nagói e botei a agulha pra
chiar no último movimento, que era pura
beatitude. Lã estava ela, pois, os contrabaixos
como que govoritando debaixo da
minha cama com o resto da orquestra, e então
a golosse humana masculina entrando e
dizendo a eles todos que se alegrassem, e aí a
melodia beatifica, linda, que diz que a
Alegria é uma gloriosa centelha do céu, e aí
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eu senti os tigres pularem dentro de mim e
pulei pra cima das duas jovens ptitsas.
Dessa vez elas não acharam nada engraçado
e pararam de critchar com grande
deleite e tiveram de se submeter aos estranhos
e insólitos desejos de Alexandre o grande
que, com a Nona e o pico, estavam
chudésines, zamechates e muito exigentes, ó
meus irmãos. Mas elas estavam muito bêbedas
e não podiam sentir grande coisa.
Quando o segundo movimento tinha tocado
pela segunda vez, ribombando e
critchando Alegria Alegria Alegria Alegria, aí
as duas ptitsas não estavam mais fazendo o
gênero dama sofisticada. Estavam assim
acordando para o que estava sendo feito com
as suas malenques pessoas, e dizendo que
queriam ir pra casa e que eu era assim uma
besta selvagem. Pareciam que tinham estado
em alguma bitva, como realmente tinham, e
estavam todas machucadas e amuadas. Bom,
mesmo que não quisessem ir à escola,
101/412
tinham que receber alguma instrução. E instrução
elas tinham recebido. Estavam
critchando e fazendo ai ai ai enquanto botavam
as pletes, e me davam soquinhos com os
seus pulsinhos de gurias enquanto eu ficava
na cama deitado, sujo e nu, cansado e
chateado.
A jovem Sonietta estava critchando:
"Besta de animal repelente! Porco horroroso!"
Então eu deixei elas apanharem as
coisas delas e saírem, o que fizeram dizendo
que deviam chamar os rodzes pra me pegar e
aquela quel toda. Aí, foram descendo as escadas
e eu me deixei pegar no sono, ainda com
a Alegria Alegria






Capítulo 5
O que aconteceu, porém, foi que eu
acordei tarde (quase sete e meia, pelo meu
relógio) e, como se viu depois, isso não foi
bem bolado. Pode-se videar que tudo neste
mundo malvado conta. Agente pode poniar
que uma coisa sempre leva a outra. Certo,
certo, certo. Meu estéreo não estava mais
naquela Alegria e Eu Vos Abraço, Ó Vós Que
Sois Milhões, que um veque qualquer tinha
cortado, e só podia ter sido pê ou eme, ambos
muito nitidamente eslucháveis na sala de
estar, tanto no tlique tlique dos pratos
quanto no chupe chupe da pitação de chá nas
xícaras, da sua refeição cansada depois da
rabitagem diária, ele na fábrica, ela na loja.
Coitado do velho.
Pobrezinha da estarre. Enfiei o chambre e
botei a cara pra fora, na pele do filho
amantíssimo, dizendo:
- Oba, oba oba, pessoal. Tô muito melhor
depois desse descanso diurno. Agora estou
pronto pro batente noturno, pra faturar
aquele tutuzinho. - Porque era isso que eles
pensavam que eu fazia naquele tempo. -
lamiamiam, mãe. Tem pra mim? - Era assim
uma torta congelada que a mãe tinha
descongelado e esquentado e não parecia
nada apetitosa, mas eu tinha que dizer o que
disse. O velho me olhou com um olhar não
muito contente e desconfiado, mas não disse
nada, sabendo que não ousava, e a mãe me
deu um esmequezinho tipo a ti, fruto do meu
ventre, meu único filho. Eu dancei pro banheiro
e, bem escorre, dei um tchiste muito
completo, que eu estava me sentindo sujo e
pegajoso, depois voltei pro meu quarto pra
botar as pletas noturnas. Depois, luzindo,
104/412
penteado, escovado e lindo, sentei pra pegar
o meu lontique de torta. Papapá falou:
- Não é que eu queira me meter, meu
filho, mas onde exatamente você vai trabalhar
à noite?
- Ah - mastiguei eu - são principalmente
umas coisas avulsas, uns biscates, aqui e ali,
onde aparece. -Eu lhe lancei um olhar feio
direto, como pra dizer pra cuidar da dele que
eu cuidava da minha. - Eu nunca peço dinheiro,
peço? Nem pra roupa, nem pra diversão.
Pois então, pra que perguntar?
Meu pai era assim muito humildezinho. -
Desculpe, meu filho - disse ele - mas é que às
vezes eu fico preocupado. As vezes eu tenho
sonhos. Pode rir, se quiser, mas há muita
coisa nos sonhos. Essa noite eu sonhei com
você e não gostei nada do que sonhei.
- Ah, é? -Agora ele tinha me deixado interessovatado
sonhando comigo daquele
jeito. Eu tinha a sensação de ter tido um
sonho também, mas não conseguia me
105/412
lembrar direito. - Que foi? - disse eu parando
de mastigar a minha torta grudenta.
- Era muito vivido - disse meu pai. - Eu vi
você caído deitado na rua, você tinha levado
uma surra dos outros rapazes. Os rapazes
eram assim como aqueles com quem você
andava antes de ser mandado pra escola
correcional.
- Ah, é? - Eu sorria por dentro com essa,
papapa acreditando que eu tinha sido realmente
reformado ou acreditando que acreditava.
E aí eu me lembrei do meu próprio
sonho, que era o daquela manhã, com Georgie
dando as suas ordens de general e o
Tapado esmecando à volta desdentado enquanto
brandia o chicote. Mas, uma vez me
tinham dito que os sonhos funcionam ao
contrário. - Não te preocupes com o teu
único filho e herdeiro, ó meu pai - disse eu. -
Não temas. Ele sabe se garantir, deveras.
- E - disse meu pai - você estava indefeso
e ensangüentado e não podia mais reagir. -
106/412
Eram realmente ao contrário, portanto eu
dei outra risadinha malenque interior e aí
tirei todo o dengue dos meus cármans e botei
pra tilintar em cima da toalha da mesa suja
de molho. E falei:
- Olha, pai, isso aí não é muito. Foi o que
eu ganhei Ontem à noite. Mas talvez dê pro
escocês, pra você e mamãe pitarem
aconchegados em algum lugar.
Obrigado, meu filho - disse ele. - Mas
agora a gente quase não sai. Não se tem coragem
de sair, as ruas estando do jeito que estão.
Rapazes desordeiros e tudo isso. Mesmo
assim, obrigado. Amanhã eu vou trazer pra
casa, pra ela, uma garrafa de qualquer coisa.
- E rapou o tutu malganho pra dentro dos
cármans da calça, mamãe tchistando os
pratos na cozinha. E eu saí, distribuindo sorrisos
amáveis.
Quando cheguei ao pé da escada do edifício,
eu fiquei algo surpreso. Fiquei mais do
que isso. Escancarei assim a rote como se
107/412
estivesse dando um baita bocejo. Eles tinham
vindo ao meu encontro. Estavam esperando
perto da pintura municipal toda escalavrada,
representando a nagói dignidade do
trabalho, veques e tchinas pelados e austeros,
comandando as engrenagens da indústria,
como eu disse, com toda aquela
sacanagem rabiscada nas rotes por
maltchiques travessos. O Tapado estava com
um bastão grosso e comprido de lápis de cera
preto, traçando enormes eslovos feios em
cima da nossa pintura municipal, enquanto
ia soltando a sua famosa gargalhada - hu hu
hu hu hu. Mas se voltou quando Georgie e
Pete me deram o como é que é, mostrando os
zumbes brilhantes e drugues, e aí buzinou: -
Tamos aí, chegamos, oba, oba, oba - e fez
umas piruetas desajeitadas.
- Nós ficamos preocupados - disse Georgie.
- A gente ficou lá esperando e pitando o
nosso molocozinho com facas, você podia ter
ficado ofendido com alguma véssiche, então
108/412
a gente veio até o seu domicílio. Está certo,
Pete, certo?
- Ah, é, certo - disse Pete.
- Desculpas - disse eu, cauteloso. - Eu tive
aí uma dor de gúliver e tinha que dormir.
Não me acordaram na hora que eu tinha
dado ordem. Mas estamos aí, prontos para o
que a nótchi nos oferece, não é? - Parece que
eu tinha pego aquele "não é? "do P. R. Deltoid,
meu consultor pós-correcional. Muito
estranho.
- Pena essa dor de cabeça - disse Georgie
assim muito preocupado. - Assim usando o
gúliver demais, talvez.
Dando ordens e disciplina e coisas assim,
talvez. Tem certeza de que não vai se sentir
mais feliz se voltar pra cama? - E todos fizeram
um ar de riso malenque.
- Espera aí - disse eu. Vamos esclarecer
tudo direitinho. Esse sarcasmo, se se pode
chamar assim, não fica bem em vocês, ó
meus amiguinhos. Talvez vocês tenham tido
109/412
um govoritezinho tranqúilo pelas minhas
costas, fazendo as suas piadinhas e coisa e
tal. Como eu sou drugue e chefe de vocês, é
claro que eu tenho o direito de saber o que
está acontecendo, não é? Como é, ô Tapado,
o que é que prenuncia esse riso á guisa de
bocejo de cavalo? - Porque oTapado estava
de rote aberta, numa espécie de esmeque
bezúmine, sem som.
Georgie atalhou, muito escorre:
- Tá bom, não implica mais com o
Tapado. Isso faz parte das novas normas.
- Novas normas? disse eu. - Que negócio
é esse de novas normas? Houve muito falatório
enquanto eu estava de costas, dormindo,
não tem como errar. Deixem eu esluchar
mais. - E cruzei os rúqueres e me
apoiei confortavelmente pra ouvir, no corrimão
quebrado da escada, estando eu ainda
mais alto do que eles, os meus drugues,
como se intitulavam, no terceiro degrau.
110/412
- Não se ofenda, Alex - disse Pete -, mas
nós queremos fazer as coisas assim mais
democráticas. Não assim você dizendo o que
que pode e o que que não pode, o tempo todo.
Mas não se ofenda.
Georgie falou:
- Isso não é ofensa coisa nenhuma. E uma
questão de quem tem idéias Que idéias é que
ele teve? - E mantinha os glazes muito ousados
fixos em mim. - E tudo troço pequeno,
véssichezinhas malenques, como ontem à
noite. Nós estávamos crescendo, irmãos.
- Mais - disse eu. - Deixa eu esluchar
mais.
- Bom - disse Georgie -, Se você quer
ouvir, então vai ouvir. Agente ia por aí, crastando
lojas e coisas assim e sai com um
ruqucado lastimável de cortador cada um. E
fica o Will o Inglês no café Muscleman
dizendo que recepta qualquer coisa que
qualquer maltchique se dê ao trabalho de
111/412
crastar. O vil metal, a gaita - disse ele, ainda
com Os glazes frios em cima de mim.
- O dinheiro muito, muito, muito alto está
disponível, é isso que o Will o Inglês diz.
- Ah - disse eu, muito à vontade por fora,
mas muito rasdraz por dentro, desde quando
você anda de carne e unha com o Will o
Inglês?
- De vez em quando - disse Georgie. - Eu
circulo muito, quando estou no meu
odinoque. Como no último Sabá, por exemplo.
Eu tenho direito a minha djísene, certo,
druguinho?
Eu pouco estava ligando para tudo
aquilo, meus irmãos. - E o que é que vocês
vão fazer - disse eu - com o muito, muito,
muito tutu, ou dinheiro, como você chama
tão bombasticamente? Vocês não têm todas
as véssiches que querem? Se vocês precisam
de um carro, é só colher no pé. Se precisam
de tutu, é só pegar. Por que esse súbito
112/412
chilarne de passar a grande capitalista
barrigudo?
- Ah - disse Georgieie -, ás vezes você
pensa e govorita como se fosse uma criancinha.
- O Tapado fez hu hu hu com essa. -
Hoje à noite a gente vai dar uma crastada de
adulto.
Meu sonho tinha contado a verdade então...
Georgie, o general, dizendo o que a
gente devia ou não devia fazer, o Tapado de
chicote, um buldogue sorridente e desmiolado.
Mas eu agia com cuidado, com muito
cuidado, o máximo, dizendo, sorrindo: -
Ótimo. Horrorshow mesmo. A iniciativa
chega àqueles que sabem esperar. Eu lhe ensinei
muita coisa, meu druguinho. Agora me
diga o que está querendo fazer, Georgito.
- Ah - disse Georgie com um sorriso astuto
e ardiloso , primeiro um moloco-com,
você não acha? Alguma coisa pra nos deixar
acesos, cara, e você principalmente, que a
gente vai começar com você.
113/412
- Você govoritou meus pensamentos por
mim - disse eu sorrindo. - Eu já ia sugerir o
velho Korova. Muito bem, muito bem, muito
bem. Lidere, Georginho. - E eu fiz assim uma
profunda curvatura sorrindo que nem
bezúmine, mas pensando o tempo todo. Mas,
quando saímos pra rua, eu videei que pensar
é pros glupes e que os úmines usam a inspiração
e o que Bog manda. Porque agora era
linda música que vinha em meu auxílio.
Tinha um carro itando perto e o rádio estava
ligado e eu consegui esluchar um compasso
ou dois de Ludwig van (era o Concerto
para Violino, último momento) e videei no
mesmo instante o que tinha a fazer. Falei, assim
com uma golosse pesada e profunda: -
Certo, Georgie, agora - e saquei zunindo a
minha britva de degolar. Georgie disse
"Ahn?", mas era bastante escorre com a noje
dele, a lâmina pulando rápida de dentro do
cabo, e partimos um pro outro. O Tapado
falou: - Ah, isso não tá legal não! - e fez
114/412
menção de desenrolar a corrente da cintura,
mas Pete falou, botando a mão firme em
cima do Tapado: - Deixa eles. Assim é que tá
certo. - Aí então, Georgie e aqui o Vosso Humilde
ficaram naquela silenciosa dança de
gato, procurando aberturas, um conhecendo
o estilo do outro um pouco horrorshow demais
até, de vez em quando Georgie dando
golpes perigosos com a sua noje reluzente,
mas sem me tocar. E esse tempo todo as
líudes passavam e videavam tudo isso, mas
metiam-se com a deles, aquilo sendo talvez
uma cena de rua bastante comum. Mas aí eu
contei ôdin, dva, tri e fui zape zape zape com
a britva, se bem que não ao litso ou aos
glazes, mas ao rúquer de Georgi e que segurava
a noje e, meus irmãozinhos, ele
soltou. soltou. Deixou cair a sua noje com
um tlinqueliaque na calçada dura de inverno.
Eu só tinha feito uma cosquinha nos dedos
dele com a minha britva e lá estava ele
115/412
olhando paira a malenque goteirinha de
crove que estava se averjuelhando à luz do
poste. -
Agora - disse eu, e desta vez era eu que
estava começando, porque Pete tinha dado o
soviete ao Tapado de não desenrolar a uze e
o Tapado tinha acatado, agora, Tapado, vamos
tu e eu resolver isso agora, vamos nós? -
O
Tapado fez "Aaaiaaaargh", como se fosse
um bolche animal bezúmine, e tirou a corrente
da cintura como uma cobra, muito horrorshow
e escorre, aí a gente tinha que admirar.
Agora, a posição certa pra eu ficar era
abaixado, que nem na dança do sapo, pra
proteger o litso e os glazes, e foi o que eu fiz,
irmãos. poir isso o coitado do Tapado ficou
um malenque surpreso, que ele estava acostumado
a dar a chicotada direto na cara, lape
lape lape. Agora, devo dizer que ele me deu
uma lambada horrível nas costas, que me
deu uma dor bezúnime, mas aquela dor me
116/412
aconselhou a abrir caminho escorre e de uma
vez por todas e terminar com o Tapado.
Então eu zuni a britva no noga esquerdo
dele, na parte mais apertada da malha, abri
duas polegadas de roupa e arranquei uma
quantidade malenque de crove, o bastante
para deixar o Tapado bezúmine de verdade.
Então, enquanto ele fazia au au au que nem
um cachorrinho, eu tentei o mesmo lance
usado com Georgie, botando as bolas todas
na caçapa de uma jogada só, pra cima, cruzado
e corta - e eu senti a britva entrar suficientemente
fundo no bife do pulso do
Tapado, e ele deixou cair a uze serpenteando,
berrando feito uma criancinha. Aí, ele tentou
beber de volta todo o sangue do pulso e uivar
ao mesmo tempo, e tinha crove demais pra
beber e ele fazia blube blube blube blube, o
vermelho assim jorrando lindo que nem uma
fonte, mas não por muito tempo. Eu falei:
Certo, meus druguinhos. Agora nós já
sabemos. Sim, Pete?
117/412
- Eu nunca falei nada - disse Pete. - Não
govoritei nem um eslovo. Olha, o Tapado vai
sangrar até morrer.
- Nunca - disse eu. A gente só morre uma
vez. O Tapado morreu antes de nascer. Esse
crove vermelho vermelho vai parar logo. -
Porque eu não tinha cortado assim os vasos
principais. E eu mesmo tirei um tachetuque
limpo do meus cárman pra enrolar o rúquer
do pobre Tapado moribundo, uivando e gemendo
que ele estava, e o crove parou como
eu tinha dito, ó meus irmãos. Aí eles ficaram
sabendo quem era o mestre e o líder, carneiros,
pensei eu.
Não demorou muito pra acalmar esses
dois soldados feridos no aconchego do Duke
of New York, com grandes conhaques (pagos
com o cortador deles, que o meu eu tinha
dado todo pro meu pai) e uma limpeza com
os tachetuques molhados na jarra d'água. As
ptitsas velhas com quem a gente tinha sido
tão horrorshow na noite da véspera estavam
118/412
lá de novo, fazendo "obrigada, meninos" e
"Deus abençoe vocês, moços" como se não
pudessem parar, se bem que a gente não
tivesse repetido a ação sâmie com elas. Mas
Pete disse: - O que é que vai ser, garotas? - e
pagou cerveja preta pra elas, que ele parecia
estar com um bocado de tutu nos cármans, ai
elas continuaram mais alto do que nunca
com o seu "Deus abençoe e guarde vocês,
rapazes" e "os melhores rapazes que ainda
estão com vida, isso é o que vocês são". Finalmente,
eu disse pro Georgie:
- Agora a gente está como antes, não é?
Tudo como antes e tudo esquecido, certo?
- Certo, certo, certo - disse Georgie. Mas o
Tapado ainda parecia um pouco atordoado e
até disse:
- Eu podia ter apanhado aquele puto com
a minha uze, sabe, mas teve um veque que
ficou no meio - como se ele tivesse estado
dratsando não comigo, mas com um outro
maltchique qualquer. Eu disse:
119/412
- Bom, Georgito, o que era que você estava
planejando?
-Ah - disse Georgie -, hoje à noite não.
Por favor, não esta nótchi.
- Você é um tcheloveque grande e forte -
disse eu -, como todos nós. Nós não somos
criancinhas, somos, Georgito? O que então
planejando estavas tu?
- Eu podia ter dado uma correntada nos
glazes dele bem horrorshow - dizia o Tapado,
e as velhas babúchecas ainda estavam no ar
com "obrigada, moços".
- Era aquela casa, sabe? - disse Georgie. -
A que tem duas lâmpadas do lado de fora.
Aquela assim que tem o nome glupe.
- Que Mansão?
- A Mansão, ou o Solar, ou uma glupice
dessas. Onde mora aquela ptitsa muito estarre
com seus gatos e todas aquelas véssiches
velhas valiosas.
- Como o quê?
120/412
- Ouro, prata e jóias. Foi Will o Inglês que
falou.
- Estou videando - disse eu - estou
videando horrorshow. - Eu sabia do que é
que ele estava falando -
Oldtown, logo depois do edifício Victoria.
Bem, o chefe realmente horrorshow sempre
sabe quando dar e mostrar generosidade
para com os seus subordinados. - Muito
bem, Georgie - disse eu. - Uma boa idéia, que
merece ser executada. Vamos itar imediatamente.
- E enquanto a gente saía, as velhas
babúchecas diziam:
- Nós não vamos dizer nada, rapazes. Nós
ficamos aqui o tempo todo que vocês
ficaram. - Aí eu disse: - Boas meninas.
Agente volta pra pagar mais, dentro de dez
minutos. - E levei os meus três drugues pra
fora e para a minha danação.
121/412
Capítulo 6
Um pouco adiante do Duke of New York,
indo pro leste, tinha escritórios e depois a estarre
bíblio surrada e depois tinha um bolche
prédio de apartamentos chamado Edifício
Victória, por causa de uma vitória qualquer,
e depois a gente chegava às casas estarres da
cidade, no lugar que era por isso chamado
Oldtown. Aqui é que se encontravam os
domes antigos mais horrorshow, meus
irmãos, com liúdes estarres morando, tipo
coronéis velhos magros e de bastãozinho
falando aos latidos e velhas ptitsas viúvas e
damas estarres surdas, com gatos, que não
tinham jamais sentido o toque de um tcheloveque
em toda a sua djísene de pureza. E
aqui, é verdade, tinha véssiches estarres que
pegariam o seu quinhão de cortador no mercado
dos turistas, como quadros e jóias e
toda essa quel estarre pré-plástica desse tipo.
Então nós chegamos muito devagarzinho a
essa casa chamada Solar e tinha globos de
luz em hastes de ferro do lado de fora assim
guardando a porta da frente de cada lado, e
tinha uma luz fraca num dos quartos, no andar
de baixo, e a gente foi até um pedaço da
rua escura espiar pela janela o que é que estava
itando lã dentro. A janela tinha barras
de ferro do lado de fora, como se a casa fosse
uma prisão, mas a gente videava direitinho o
que é que estava itando.
O que estava itando é que aquela ptitsa
estarre, de volosse muito grisalho, e um litso
muito enrugado, estava botando moloco de
uma garrafa em pires e depois botando esses
pires no chão, de modo que já se sabia que
tinha uni bocado de cotes e cóchecas miando
e se enroscando ali por baixo. E a gente podia
videar um ou dois gordos que nem umas
123/412
escotinas pulando pra cima da mesa, as rotes
abertas fazendo mé mé mé. E se videava a
babúcheca velha respondendo a eles, govoritando
tatebitate assim com os bichaninhos.
No quarto, dava pra videar uma porção de
quadros antigos nas paredes e relógios estarres
muito elaborados e também alguns
vasos e ornamentos que pareciam estarres e
dorogóis. Georgie sussurrou: - Tem coisa aí
que dá um dengue horrorshow de alto,
irmãos. Will o Inglês está seco atrás disso. -
Pete falou: - Entrar como?
- Agora era comigo e escorre, antes que
Georgie começasse a dizer como. - A
primeira véssiche – murmurei - é tentar o
caminho normal, pela frente. Eu vou, muito
educado, e digo que um dos meus drugues
teve assim um desmaio esquisito no meio da
rua. O Georgie pode ficar pronto pra aparecer
fazendo esse papel quando ela abrir a
porta. Depois, pedir água, ou pra telefonar
124/412
pro doutor. Aí, a gente entra fácil. - Georgie
falou:
- Pode ser que ela não abra. - Eu disse:
- Agente tenta, não é? - Ele deu de ombros,
fazendo boca de sapo. Então eu disse a
Pete e ao Tapado: - Vocês, drugues, ficam
um de cada lado da porta. Certo? - Eles menearam
a cabeça na penumbra, certo, certo,
certo. -
Então... - disse eu pro Georgie, e saí sem
rebouços, direto à porta da frente. Tinha um
cordão de campainha e eu puxei e soou brrrr
brrrr dentro do vestíbulo. Seguiu-se assim
uma sensação de silêncio, como se a ptitsa e
seus cóchecas estivessem todos de ouvidos
voltados pro brrrr brrrr, intrigados. Aí, eu
puxei o esvonoque com um pouco mais de
urgência. Depois abaixei até à caixa das
cartas e clamei com uma golosse assim
refinada:
- Auxilio, minha senhora, por favor. Meu
amigo acaba de ter um mal-estar no meio da
125/412
rua. Deixe-me telefonar para um médico, por
favor. - Então eu pude videar uma luz sendo
acesa no vestíbulo e ouvir as nogas da
babúcheca velha com os chinelos fazendo
lepe lepe para mais perto da porta da frente e
me veio a idéia, não sei por quê, de que ela
carregava um gatarrão enorme debaixo de
cada braço. Então ela retrucou assim numa
golosse surpreendentemente grossa:
- Vá-se embora. Vá-se embora ou eu
atiro. - Georgie ouviu e ficou com vontade de
rir. Eu disse, com sofrimento e pressa na
minha golosse de cavalheiro:
- Por favor, me ajude, minha senhora.
Meu amigo está muito doente!
- Vá-se embora respondeu ela. - Eu conheço
esses seus macetes pra me fazer abrir a
porta e comprar coisas que eu não quero.
Olhe o que eu estou dizendo: vá-se embora. -
Que era uma inocência muito linda, lá isso
era. - Vá-se embora - repetiu ela - ou eu atiço
os meus gatos em cima de você.
126/412
Ela era um malenquezinho bezúnime,
percebia-se, à força de passar a djísene completamente
no odinoque. Eu aí olhei pro alto
e videei que tinha uma folha de janela basculante
acima da porta de entrada e que seria
muito mais escorre dar só aquela subida no
pletcho de alguém e entrar assim. Senão ia
ficar aquela discussão a nótchi inteira. Então
eu disse:
- Muito bem, minha senhora. Se a senhora
não quer me ajudar, eu vou ter que
levar o meu amigo doente a outra casa. - E
pisquei o olho pros meus drugues, todos
afastados e calados, só eu gritando. "É,
amigo, na certa você há de encontrar alguma
boa samaritana em outro lugar qualquer.
Esta senhora talvez não tenha culpa de ser
tão desconfiada, com tanto patife e salafrário
à solta no meio da noite. Não, não tem não."
Então nós tornamos a esperar na escuridão e
eu sussurrei: Certo. Voltem pra porta. Eu
trepo nos pletchos do Tapado.
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Abro aquela basculante e entro, drugues.
Aí apago a velha e abro pra todo mundo. Sem
problema. - Porque eu estava mostrando que
era o chefe, o tcheloveque que tinha as idéias.
- Olha - disse eu -, tem um ressalto de
pedra em cima daquela porta que é um horrorshow,
um degrau pros meus nogas. - Eles
videaram tudo aquilo talvez admirando, pensei
eu, e acenaram com a cabeça certo, certo,
certo, no escuro.
Portanto, de volta à porta, na ponta dos
pés. O Tapado era o nosso maltebique parrudo,
e Pete e Georgie me levantaram assim
até os seus bolche e másculos pletchos. Durante
esse tempo todo, oh graças aos programas
mundiais da glupe TV e mais ainda aos
temores noturnos das líudes por falta de
guarda noturna, desertas estavam as ruas. Lá
em cima dos pletchos do Tapado, eu vi que o
ressalto acima da porta agüentava lindamente
as minhas botas. Coloquei o joelho,
meus irmãos, e lá estava eu. A janela, como
128/412
eu esperava, estava fechada, mas eu puxei da
minha britva e parti o vidro da janela com
jeitinho, usando o cabo de osso.
Enquanto isso, embaixo, meus drugues
respiravam forte. Aí eu enfiei meu rúquer
pelo buraco do vidro e fiz a metade inferior
da folha da janela subir como uma vela de
barco, macio e lindo. E estava assim entrando
no banheiro, dentro. E lá estavam
meus carneiros embaixo, de rote aberta olhando
pra cima, ó irmãos.
Eu estava numa escuridão de dar caneladas,
cheia de camas e armários e banquetas
bolches e pesadas e pilhas de caixas e livros
tudo à volta. Mas eu avançava virilmente em
direção à porta do quarto onde me achava,
vendo uma fresta de luz embaixo. A porta fez
iiiiiiiiúc e aí eu estava num corredor empoeirado,
cheio de outras portas. Esse desperdício
todo, meus irmãos, quer dizer, todos
esses quartos e só uma dona estarre e
seus bichanos, mas talvez os cotes e cóchecas
129/412
tivessem assim quartos separados e passassem
a creme e cabeça de peixe, que nem
rainhas e príncipes. Eu estava ouvindo a golosse
abafada da ptitsa velha, embaixo,
dizendo: 'É, é, é, isso mesmo", mas ela devia
estar govoritando com aqueles malandros
miadores fazendo meeeeé pra ganhar mais
moloco. Aí eu vi a escada que descia pro
vestíbulo e pensei comigo mesmo que eu ia
mostrar àqueles meus drugues volúveis e inúteis
que eu valia pelos três deles juntos e
mais alguém. Eu ia fazer tudo no meu
odinoque. Eu ia executar a ultraviolência em
cima da ptitsa estarre, e dos seus bichaninhos
se fosse preciso, e aí ia apanhar belos
ruqucados do que parecesse troço assim
polésine de verdade e ia valsar até a porta da
frente e abrir, fazendo chover ouro e prata
em cima dos meus drugues que esperavam.
Eles precisavam aprender tudo sobre
liderança.
130/412
Então eu itei pra baixo, lento e leve, admirando
no vão da escada quadros gréjines
de antigamente - devótchecas de cabelo comprido
e golas altas, assim o campo com
árvores e cavalos, o santo veque barbudo todo
nagói pendurado numa cruz. Eu sentia
um vone azedo de gato e de peixe e de poeira
estarre naquele dome, diferente do dos
apartamentos. E aí eu estava no andar de
baixo e conseguia videar a luz daquele quarto
da frente onde ela tinha estado distribuindo
moloco aos cotes e cóchecas. E mais, eu conseguia
videar aquelas enormes escotinas peludas
entrando e saindo de rabo abanando e
se esfregando na beira da porta. No armário
assim grande, de madeira, eu podia videar na
penumbra uma estatueta malenque, lindai
que brilhava à luz do quarto, e crastei pra
min, porque era uma devótcheca magra, de
pé sobre um noga só, com os rúqueres estendidos,
e eu estava vendo que era de prata.
Logo, eu estava com ela na mão quando
131/412
entrei no quarto iluminado dizendo: - Oba
oba oba. Finalmente nos eu encontramos.
Nosso breve govorite através da caixa das
cartas não foi, digamos, satisfatório, não é?
Vamos confessar que não, ah, realmente não,
sua bruxa estarre fedorenta. - E fiquei assim
piscando pra luz do quarto e a velha ptitsa
que estava dentro. Estava tudo cheio de cotes
e cóchecas engatinhando pra cima e pra
baixo no tapete, com pedacinhos de pêlo flutuando
na parte rente ao chão, e aquelas
escotinas gordas eram de diversas formas e
cores, pretos brancos, ruivos, cinzentos, cor
de gengibre, de casca de tartaruga, e de todas
as idades também, de maneira que tinha gatinhos
pequenos brincando uns com os outros,
e tinha bichanos já adultos e tinha uns
estarres trôpegos muito mal-huniorados. A
sua dona, a ptitsa velha, olhou pra mim feroz
como um homem e falou:
132/412
- Como foi que você entrou? Fique longe
de mim, seu sapinho malfeitor, ou eu lhe
bato!
Com essa, eu dei uni esmeque horrorshow,
videando que ela empunhava, com o
rúquer cheio de veias, uma sebenta bengala
de madeira, que levantou pra mim me
ameaçando. Aí, botando os zubes de fora, eu
itei um pouco mais perto dela, sem pressa, e
no caminho eu vi uma véssichezinha muito
linda, a véssiche malenque mais linda que
um maltichique amante de música como eu
jamais tinha esperado videar com seus
glazinhos e que era assim o gúliver e os
pletehos de Ludwig van em pessoa, o que
chamam de busto, uma véssiche em pedra,
com cabelos compridos, olhinhos cegos e a
grande gravata enfunada. Eu parti pra ele na
hora, dizendo:
"Puxa, que lindo, e todinho pra mim!"
Mas, itando em direção a ele com os olhos
assim grudados nele e com o rúquer cúpido
133/412
esticado, eu não vi os pires de leite no chão e
pisei num deles, perdendo o equilíbrio.
"Uui!", fiz eu, tentando me aprumar mas a
ptitsa velha tinha vindo por detrás de mim,
muito astuta e muito escorre pra idade dela,
e toque toque no meu gúliver com a bengala.
Eu me vi de quatro, tentando me levantar e
dizendo:
"Feia, feia, feia!", e ela continuava toque
toque dizendo:
"Seu piolhozinho de favela, invadindo
casa de gente de verdade!" Eu não gostei
dessa igra de toque toque, então agarrei a
ponta da bengala dela, assim que desceu de
novo, e aí ela perdeu o equilíbrio e tentou se
firmar na mesa, mas quando a toalha da
mesa caiu com uma jarra de leite e uma garrafa
de leite que primeiro ficou de porre e depois
espalhou esploche branco em todas as
direções, aí ela caiu no chão grunhindo: "Seu
amaldiçoado, você vai sofrer." Agora, a
gataria estava aterrorizada, correndo e
134/412
pulando em pânico, uns botando a culpa nos
outros, dando toltchoques de gato com a lapa
e ptaaaaá e grrrrrrr e crrrrrrac. Eu me pus
em cima dos nogas e lá estava aquela horrenda
forela estarre vingativa com os gravetos
tremendo e grunhindo enquanto tentava
se levantar do chão, então eu lhe dei um pontapé
bem ,malenque no litso e disso ela não
gostou, gritando "uaaaaá", e videavase o seu
litso enodoado e cheio de veias ir ficando violáceo
no lugar onde eu acertei o noga.
No que eu recuei do pontapé, devo ter
pisado no rabo de um dos bichanos que estavam
critchando e dratsando, porque eu eslutchei
um gronque iaaaaaauuuuu e verifiquei
assim que pele, dentes e garras tinham
se amarrado na minha perna, e lá estava eu
xingando e tentando sacudir fora, segurando
a malenque estatueta de prata num rúquer e
tentando subir em cima da ptitsa velha no
chão pra alcançar o lindo Ludwig van assim
de cenho de pedra franzido. E aí eu caí
135/412
dentro de outro pires cheio de cremoso moloco
até a beira e quase saí voando de novo, a
véssiche toda realmente muito engraçada se
se pudesse imaginá-la eslutchatando a outro
veque qualquer que não o Vosso Humilde
Narrador. E aí, a ptitsa estarre, no chão, se
esticou por cima de toda a gataria que estava
dratsando e uivando e agarrou o meu noga,
ainda fazendo "uaaaaaá" pra mim e, estando
o meu equilíbrio já comprometido, eu realmente
desabei dessa vez, em cima do leite
esplochado e da gataria que lanhava, e a
forela começou a me socar no litso, estando
nós ambos no chão, critchando: Bate nele, dá
uma surra nele, arranca as unhas dele, desse
besouro venenoso! - dirigindo-se apenas aos
seus bichanos, e aí, como que obedecendo à
ptitsa estarre, um par de cochecas trepou em
cima de mim e começou a me arranhar que
nem bezúmines. Aí eu próprio fiquei
bezúmine, dei porrada neles, mas a tal
babúcheca disse: - Seu sapo, não toque nos
136/412
meus gatinhos - e assim arranhou o meu
litso. Aí eu critchei: - Sua sunca velha
imunda! - e levantei a estatueta malenque de
prata e rachei-lhe um bom toltchoque no
gúliver que fez ela calar a boca muito horrorshow,
uma beleza.
Mas agora, enquanto eu me levantava do
chão, entre os cotes e as cóchecas, o que eu
esluchava em apenas o velho chume de
sirene do carro da polícia, à distância, e
comecei a compreender que a forela velha
dos bichanos tinha falado com os milicentes
pelo telefone, enquanto eu estava pensando
que ela govoritava com os miadores, que ela
já tinha ficado com o desconfiômetro fervendo
quando eu puxei o esvonoque fingindo
precisar de ajuda. Portanto agora, esluchando
o temível chume do furgão dos
rodzes, eu disparei pra porta da frente e tive
que rabitar um bocado desfazendo todas as
fechaduras correntes, trincos e outras vessiches
de segurança. Aí, consegui abrir e
137/412
quem é que estava no umbral senão o
Tapado, eu mal tendo tempo de videar os
meus outros dois supostos drugues se
mandando
- Vamos - critchei pro Tapado. Os rodzes
vêm aí! - O Tapado falou: - Você fica pra receber
eles, hu hu hu hu hu - então eu videi
que ele estava com a uze solta e aí ele levantou
ela e silvou uishhhhh e me deu uma correntada
suave e artística assim nas pálpebras,
que eu mal tive tempo de fechar. Aí
fiquei uivando às tontas, tentando ver com
aquela dor de uivar mesmo, e o Tapado
falou: - Eu não gosto que você tenha feito
que nem fez, druguinho velho. Não foi legal
não, me encestar do jeito que você fez, brete!
- E aí esluchei as suas botas boiches e massudas
se mandando, ele fazendo hu hu hu hu
nas sombras, e só uns sete segundos depois
foi que eu esluchei o furgão dos milicentes
chegar, com um enorme uivo de sirene,
asqueroso, morrendo, que nem um animal
138/412
bezúmine dando a pitada. Eu também estava
uivando e assim à deriva, e batendo com o
gúliver nas paredes do vestíbulo, que os
meus glazes estavam apertados e o caldo
escorrendo deles, uma agonia. Portanto, lá
estava eu, tateando no vestíbulo, quando os
milicentes entraram. Eu não podia videar
eles, é claro, mas podia esluchar e, merda,
podia sentir o vone dos putos, e logo logo
pude sentir os putos quando eles engrossaram
e me deram aquela torcida de braço,
me levando pra fora. Eu também esluchei
uma golosse de milicente falando do quarto
de onde eu tinha saído, comi todos os cotes e
cóchecas dentro: - Ela levou uma pancada
feia mas está respirando - e o tempo todo se
ouviam os miados altos.
- Mas isso é realmente um prazer - ouvi
outra golosse de milicente dizer enquanto eu
era toltchocado com força e escorre pra dentro
do carro. - O Alexinho todinho pra nós! -
Eu critechei:
139/412
- Eu estou cego, Bog que dê cabo de vocês,
seus gréjines filhos da puta!
- Que linguagem, que linguagem... - esmecou
uma golosse, e aí eu levei um tolchoque
de costas de mão com um anel
qualquer bem no meio da rote. Eu disse:
- Bog mate vocês, seus brétchenes fedorentos.
Onde estão os outros? Onde estão
meus drugues traidores fedorentos? Um dos
meus malditos bretes gréjines me deu uma
correntada nos glazes. Pegues eles antes que
eles fujam. Foi tudo idéia deles irmãos. Eles
é que me obrigaram a fazer isso. Eu sou inocente,
Bog que estraçalhe vocês!
Nessa altura eles estavam todos dando
uma boa esmecada assim com toda a grosseria
à minha custa e me toltchocando pra
traseira do carro, mas eu continuava falando
nos meus falsos drugues e videei que não ia
adiantar, porque já deviam estar de volta ao
aconchego do Duke of New York, empurrando
cerveja preta e escoceses duplos nos
140/412
gorlos das ptitsas estarres e fedorentas, elas
sem protestar e dizendo: "Obrigada, rapazes.
Deus abençoe vocês, moços. A gente ficou
aqui o tempo todo que vocês ficaram,
rapazes. Não saíram da nossa vista, não."
O tempo todo a gente ia sirenando em
direção à loja dos rodzes, eu imprensado
entre dois milicentes e levando uns tecos e
outros e toltchoques malenques dos dois
brutamontes que esmecavam. Então eu
descobri que podia entreabrir as pálpebras
um malenquinho e videar assim entre lágrimas
uma espécie de cidade líquida passando,
as luzes como se tivesse corrido umas pras
outras. Agora eu conseguia videar com os
glazes doridos os dois milicentes esmecantes
que iam atrás comigo e o motorista de
pescoço fino e o filho da puta de pescoço
grosso do lado dele, esse último me dirigindo
um govorite muito sarca, dizendo: - Então,
Alexito, temos pela frente uma noitada
agradável juntos, não temos não?
141/412
- Como é que você sabe o meu nome, seu
mastodonte vonento? Que Bog te mande pro
inferno, seu gréjine brétchene, seu bosta. -
Então todos eles esmecaram com essa e eu
tive o meu uco assim torcido por um dos
milicentes fedorentos que iam atrás comigo.
O de pescoço grosso. que não ia guiando,
falou:
- Todo mundo conhece Alexinho e seus
drugues. O nosso Alex ficou um menininho
muito famoso.
- Foram aqueles outros - critchei eu. - O
Georgie, o Tapado e o Pete. Meus drugues,
esses filhos da puta não são.
- Bom - disse o de pescoço grosso -, você
vai ter a noite toda pela frente pra contar a
história toda das ousadas proezas desses
jovens cavalheiros e de como eles levaram o
pobre inocente do Alex pelo mau caminho. -
Aí teve o chume de outra sirene da polícia
passando pelo nosso carro, só que indo pro
outro lado.
142/412
- Isso é praqueles filhos da puta? - disse
eu. - Eles estão sendo agarrados pelos filhos
da puta do lado de vocês?
- Aquilo - disse o de pescoço grosso - era
uma ambulância. Com certeza pra sua vítima,
seu safado nojento, desgraçado.
- Foi tudo culpa deles - critchei eu, piscando
meus glazes doloridos. - Os putos devem
estar pitando no Duke of New York.
Peguem eles, porra, seus bestas fedorentos!
- E teve mais esmeques e outro
toltchoque malenque, ó meus irmãos, na
minha rote dolorida. E aí chegamos à loja
dos rodzes e eles me ajudaram a sair do carro
aos pontapés e empurrões e me toltchocaram
escada acima e eu sabia que ia ter tudo
menos lealdade, de parte daqueles gréjines
brétchenes duma figa, Bog que os fulmine.
143/412
Capítulo 6
Me arrastaram praquele cantora todo caiado
de branco, muito iluminado, e tinha um
vone forte que era uma mistura assim de
vômito, mictório, cerveja podre e desinfetante,
tudo vindo dos xilindrós próximos.
Ouviam-se alguns dos plenes nas suas celas,
praguejando e cantando e eu achei que estava
esluchando um que berrava: E eu voltarei
para o meu amor, meu amor,
Quando você, meu amor, for embora.
Mas tinha as golosses dos milicentes
dizendo a eles pra calar a boca e esluchava-se
até o esvuque de alguém sendo toltchocado
realmente horrorshow e fazendo ó e era assim
a golosse de uma ptitsa estarre bêbeda e
não de homem. Comigo, no cantora, estavam
quatro milicentes, todos tomando um bom
pite ruidoso de tchai forte, um grande bule
estava em cima da mesa e eles chupando e
arrotando por cima de suas boiches canecas
imundas. Não me ofereceram. Tudo que me
deram foi um espelho estarre e ordinário pra
eu me olhar, e de fato eu não era mais o
vosso jovem e belo Narrador, mas uma visão
estreque, minha rote inchada, meus glazes
completamente vermelhos e meu nariz também
um pouco encalombado. Todos eles soltaram
um esmeque horrorshow quando
videaram minha consternação, e um deles
falou: - Assim o jovem pesadelo do amor. - E
aí entrou um milicente graduado, com estrelas
nos pletchos, pra mostrar que estava
alto alto alto, e ele me videou e disse: - Hum.
- Aí então eles começaram. Eu disse:
Eu não vou falar um único eslovo pra
amostra, a menos que meu advogado esteja
aqui. Eu conheço a lei, seus putos. - Naturalmente
todos eles deram um gronque
145/412
esmeque com isso, e o milicente estrelar
falou:
- Muito bem, moçada, vamos começar
por mostrar a ele que nós também conhecemos
a lei, mas que conhecer a lei não é
tudo. - Tinha assim uma golosse de cavalheiro
e falava num tom muito cansado e fez
sinal de cabeça, com um sorriso muito
drugue, prum puto muito gordalhão. O puto
gordalhão tirou a túnica e videavase que uma
baita barriga estarre ele tinha. Aí, ele veio na
minha direção, não muito escorre, e quando
abriu a rote, com um esgar de lado, muito
cansado, eu podia sentir o vone do chá com
leite que ele tinha pitado. Pra rodze ele não
estava muito bem barbeado e videavam-se
nódoas de suor seco na camisa, debaixo dos
braços, e eu podia sentir aquele vone assim
de cera de ouvido vindo dele quando ele se
aproximava. Aí, ele fechou o fétido rúquer
vermelho e me deu uma bem na barriga, o
que era uma sujeira, e todos os outros
146/412
milicentes esmecaram de estourar com isso,
menos o graduado, que continuou com o sorriso
assim lasso, como se estivesse entediado.
Eu tive de me encostar na parede
branca de cal, de modo que o branco ficou
todo nas minhas pletes, eu tentando recuperar
a respiração, numa grande agonia, e sentia
vontade de vomitar a torta grudenta que
tinha comido antes, no começo da noite. Mas
eu não podia tolerar esse tipo de véssiche de
vomitar o chão todo, então eu prendi. Aí eu
vi que o capanga banhento estava olhando
pro lado dos drugues milicentes, pra dar um
esmeque horrorshow com o que tinha feito,
então eu levantei meu noga esquerdo e, antes
que pudessem critchar pra ele tomar
cuidado, acertei-lhe um pontapé lindo e
caprichado na canela. Ele abriu o berro, pulando
pela sala.
Mas depois disso, todos eles fizeram uma
roda, me empurrando de um pro outro,
como se eu fosse uma bola sangrenta muito
147/412
cansada, ó meus irmãos, e me dando socos
nos iarbos, na rote e na barriga e me distribuindo
pontapés, e então, finalmente, eu
tive que vomitar no chão e como um veque
realmente bezúmine, eu até falei:
"Desculpem, irmãos, isso não é coisa que
se faça. Desculpem, desculpem, desculpem."
Mas eles me deram pedaços estarres de gazeta
e me fizeram limpar, depois me fizeram
passar serragem. E aí me disseram, quase
como se fossem velhos e queridos drugues,
pra eu ir me sentar, que nós íamos ter um
govoritezinho tranqüilo.
E ai o P. R. Deltoid entrou pra dar uma
videada, que o escritório dele era no mesmo
prédio, com um ar muito cansado e gréjine, e
pra dizer:
- Então aconteceu, Alexito, não é? Exatamente
como eu previa. Ai ai ai ai ai. Não é?
Aí voltou-se para os milicentes pra dizer: -
Noite, inspetor. Noite, sargento. Noite pra
todos. E... isso pra mim é o fim da linha, não
148/412
é? Ai, ai, esse rapaz parece que está muito
desmazelado, não está? Olha só o estado
dele.
- A violência gera a violência - disse o
milicente graduado num tom de golosse
muito santo. - Ele resistiu aos seus captores
legais.
- O fim da linha, não é? - disse P. R. Deltoid
de novo. Olhou pra mim com glazinhos
muito frios, como se eu tivesse virado uma
coisa e não mais um tcheloveque espancado,
muito cansado e sangrento.- Suponho que eu
terei que ir ao tribunal amanhã.
- Não fui eu, irmão, Sr. Deltoid - disse eu,
um malenquezinho choroso. - Fale por mim,
senhor, que eu não sou tão mau assim. Eu fui
levado pela traição dos outros, senhor.
- Canta como um rouxinol - disse o rodze
graduado escarnecendo. - Canta bem, em
cima do telhado, lá ele canta.
- Vou falar - disse o frio P. R. Deltoid. -
Estarei lá amanhã, não se preocupe.
149/412
- Se o senhor quiser dar um murro nos
queixos dele, Sr. Deltoid - disse o milicente
graduado -, não se acanhe com a gente. A
gente segura ele. Ele deve ser outra grande
decepção para o senhor.
P. R. Deltoid então fez uma coisa que eu
nunca pensei que um homem como ele, que
se esperava que transformasse a nós, os
mauzinhos, em maltebiques muito horrorshow
fizesse, principalmente com aqueles
rodzes todos em volta. Ele chegou um pouco
mais perto e cuspiu. Cuspiu. Cuspiu em
cheio no meu litso e depois limpou a rote
molhada de cuspe com o róquer. E eu
limpava e limpava e limpava o meu litso
cuspido com o meu tachetuque ensangüentado,
dizendo: - Muiito obrigado,
senhor, muitíssimo obrigado, senhor, isso foi
muita bondade sua, muito obrigado. - E aí P.
R. Deltoid saiu sem mais um eslovo.
Os milicentes então passaram a fazer
aquele longo depoimento pra eu assinar e eu
150/412
pensei comigo mesmo: quero que vocês todos
se danem, seus putos, Se vocês estão do
lado do bem, então eu fico muito contente de
estar do outro lado. - Tá bom - eu disse pra
eles. - Seus gréjines brétchenes, seus bostas
vonentos. Ouçam, ouçam tudo. Eu não vou
mais ficar rastejando de bruço, seus fetos
mersques. Onde é que vocês querem que eu
comece, seus animais quelentos, vonentos?
Desde a minha última correcional? Horrorshow,
horrorshow, então lá vai. - Aí eu contei
tudo pra ele, e fiz aquele milicente taquígrafo,
um tipo de tcheloveque muito quieto e
assustado, que não tinha nada de rodze,
cobrir páginas e páginas e paginas. Entreguei
a ultraviolência, os crastes, as dratsas, o
entra-sai-entra-sai, tudo, até chegar à véssiche
daquela noite, com a ptitsa estarre bôgate
dos cotes e cótebecas miantes. E fiz
questão de que os meus supostos drugues estivessem
em todas, até o chiieque. Quando
eu acabei a tralha toda, o milicente
151/412
taquígrafo parecia estar meio zonzo, coitado
do veque. O rodze graduado falou pra ele,
com uma golosse amável:
- Tá, meu filho, sai e toma uma boa xícara
de tchai, com calma, e depois bate essa
podridão toda à máquina, com um pregador
de roupa no nariz, três cópias. Depois traz
pro nosso lindo amiguinho assinar. E você -
disse ele pra mim - já pode ser levado para a
sua suíte nupcial, com água corrente e todas
as comodidades. Tudo certo - na sua golosse
cansada a dois dos rodzes tipo durão -, levem
ele daqui.
Então eu fui chutado, socado e brutalizado
em direção às celas e trancafiado junto
com dez ou doze outros plenes, muitos deles
embriagados. Tinha veques que eram verdadeiros
tipos de bichos ujássines, entre eles
um com o nariz todo comido e a rote aberta,
que nem um grande buraco preto, um que
estava no chão roncando e um visgo escorrendo
sem parar da rote, e um que tinha
152/412
largado toda a quel nas calças. Depois, tinha
assim duas bichas que se engraçam ambas
comigo e uma delas deu um pulo pras minhas
costas e eu tive unia dratsa feia com ela,
e o vone que tinha, assim de bebida e perfume
barato, me deu vontade de vomitar de
novo, só que agora eu estava de barriga
vazia, ó meus irmãos. Aí a outra bicha
começou a botar os rúqueres em cima de
mim e teve uma dratsa cheia de rosnados
entre as duas, ambas querendo pegar no meu
plote. O chume ficou muito alto, então
chegou um par de milicentes e rachou os
dois assim com cassetetes e aí os dois sentaram
quietos assim olhando pro ar e o crove
velho pingando, pim pim pini pim pelo litso
de um deles abaixo. Havia catres na cela,
mas todos ocupados. Eu subi até o mais alto
de uma pilha de catres, tinha quatro em cada
pilha e lá estava um veque estarre bêbedo
roncando, muito provavelmente içado lá pra
cima pelos milicentes. Seja lá como for, eu
153/412
desci ele de novo, que ele não era tão pesado
assim, e ele desabou no chão, em cima de um
tcheloveque gordo e bêbedo. e ambos
acordaram e começaram a critchar e dar socos
um no outro que era patético. Então eu
deitei naquela cama vonenta, meus irmãos, e
peguei num sono muito cansado. exausto e
magoado. Mas não era realmente sono, era
como passar para outro mundo melhor. E
nesse outro mundo melhor, ó meus irmãos,
eu estava num vasto campo, com tudo
quanto era flor e árvore, e tinha assim um
bode com litso de homem, tocando uma
flauta. E então surgiu, como o Sol, o próprio
Ludwig van, de litso de trovão e gravata, o
volosse revolto pelo vento, e então eu ouvi a
Nona, último movimento, com os eslovos um
tanto ou quanto misturados, como se até eles
soubessem que tinham que estar misturados,
já que aquilo era um sonho:
Ó tu, jovem turbulento, glutão do céu,
Carniceiro do Eliseu.
154/412
Corações em fogo, alevantados extasiados
Toltchocar-te-mos na rote e chutaremos
Teu gréjine, vonento rabo.
Mas a melodia estava certa, como eu
soube quando estava sendo acordado dois ou
dez minutos ou vinte horas ou dias ou anos
mais tarde, meu relógio tinha sido levado.
Tinha um milicente assim milhas e milhas lá
embaixo e ele estava me espetando uma vara
comprida com um prego na ponta, dizendo:
- Acorda, meu filho. Acorda, minha
beleza. Acorda pra enfrentar o pior! - Eu
disse:
- Por quê? Quem? O quê? O que é? - E o
tema de Ode à Alegria da Nona estava cantando
que era uma beleza e horrorshow dentro
da cuca. O milicente falou:
- Desce pra saber. Tem uma notícia muito
boa pra você, meu filho. - Então eu desci de
cambulhada, muito duro e assim sem estar
realmente acordado, e esse rodze que tinha
um vone forte de queijo e cebola, me
155/412
empurrou para fora da cela imunda que roncava
toda e depois ao longo de corredores, e
todo esse tempo o velho tema Oh, Tu Alegria
Gloriosa Centelha do Céu estava cintilando
dentro de mim. Então chegamos a um cantora
muito arrumado, com máquinas de escrever
e flores nas escrivaninhas, e assim na
escrivaninha principal estava sentado o milicente
graduado, com um ar muito sério e fixando
assim um glaze muito gelado em meu
litso sonolento. Eu falei:
- Ora, ora, ora. O que é que há, brete? Qual
é, assim bem no meio da nótchi? - Ele
disse:
- Dou-lhe só dez segundos pra tirar esse
riso imbecil da cara. Depois, quero que
escute.
- O que é que é isso? - disse eu esmecando.
- Vocês não estão satisfeitos de me
bater quase até eu morrer, de me cuspirem e
me fazerem confessar crimes horas a fio, depois
me jogarem no meio de pervertidos
156/412
bezúmines e vonentos naquela cela gréjine?
Tem alguma tortura nova pra mim, seu
brétchene?
- Vai ser a sua própria tortura - disse ele
sério. - Espero em Deus que te torture até a
loucura.
Então, antes que ele me dissesse, eu sabia
o que era. A ptitsa velha que tinha aqueles
cotes e cóchecas tinha passado desta para
melhor, num dos hospitais da cidade. Eu
tinha rachado assim com força demais. Ora,
ora.
Agora eu já tinha feito de tudo. E só estava
com quinze anos.
157/412
Parte Dois
Capítulo 1
- Qual vai ser o programa, hein?
Reinicio agora, e esta é a parte realmente
chorosa e assim trágica da história que está
começando, meus irmãos e únicos amigos,
na Prisesta (quer dizer, Prisão Estatal) numero
84-F. Vocês não vão querer esluchar
toda a quelenta e horrível rascadze do
choque que deixou meu pai brandindo os
rúqueres machucados e croventos assim contra
o injusto Bog dos Céus e minha mãe abrindo
a rote num aiiiii aiiiii na sua dor de
mãe porque o seu filho, o único do seu
ventre, tinha deixado todo mundo na mão
muito horrorshow. E depois teve também o
estarre magistrado muito sinistro no tribunal
de primeira instância govoritando alguns
eslovos duros contra o Vosso Amigo e Humilde
Narrador, e depois todas as gréjines e
quelentas calúnias escarradas por P. R. Deltoid
e os rodzes, que Bog os fulmine. E depois
teve o recambiamento pra imunda Detenção,
no meio dos prestúpniques vonentos e pervertidos.
Depois, teve o julgamento no
tribunal de segunda instância, com juizes e
um júri e alguns eslovos realmente muito
grosseiros e govoritados de modo assim
muito solene, e depois Culpado e minha mãe
buuuuuuu quando disseram Catorze anos, ó
meus irmãos. Portanto, cá estava eu, exatamente
dois anos depois daquele dia em que
fui chutado e trancado na Prisesta 84-F,
vestido no rigor da moda presidiária, que era
uma roupa de uma só peça, cor de quel assim
muito suja e com o número costurado nos
meus grudes, logo acima do tique-taque e
nas costas também, de modo que, para todos
os efeitos, eu era o 6655321, e não mais o
vosso druguinho Alex.
160/412
Qual vai ser o programa, hein?
Não tinha sido assim edificante, deveras
não tinha, ficar dois anos nesse gréjine
buraco do inferno, unia espécie de jardim zoológico
humano, sendo chutado e toltchocado
por carcereiros brutais e valentões e
conhecendo criminosos vonentos de olhar
atravessado, alguns deles autênticos pervertidos
prontos a desencaminhar um jovem
maltchique gostoso como este que vos fala. E
a gente tinha que rabitar na oficina, fazendo
caixas de fósforos, e itar rodando, rodando,
rodando em volta do pátio assim pra fazer
exercício, e de noite, às vezes, um veque estarre
qualquer com pinta de professor fazia
palestras sobre escaravelhos ou a Via Láctea,
ou as Gloriosas Maravilhas do Floco de Neve,
e essa última me fazia dar bons esmeques,
porque me lembrava do tempo dos
toltchoques e do Puro Vandalisnio, como
aquele dede saindo da Bíblio Pública numa
noite de inverno, quando os meus drugues
161/412
ainda não eram traidores e eu era assim livre
e feliz. Desses drugues, eu só tinha esluchado
uma coisa, isso foi num dia em que meu pê e
eme vieram me visitar e me contaram que
Georgie já era morto, morto sim, meus
irmãos. Estava morto com um montinho de
quel de cachorro na rua. Georgie tinha
levado os outros dois à casa de um tcheloveque
assim muito rico e eles tinham
chutado e toltchoeado o dono da casa no
chão, e depois Georgie tinha começado a
rasrezar as almofadas e as cortinas e o
Tapado tinha quebrado alguns adornos preciosos
como estátuas e coisas assim, e o rico
tcheloveque espancado tinha se enraivecido
como um bezúmine e tinha partido pra cima
deles com uma barra de ferro muito pesada.
O fato dele estar muito rasdraz tinha dado a
ele uma força gigantesca, e o Tapado e Pete
tinham fugido pela janela, mas Georgie tinha
tropeçado no tapete e aí levou aquela
162/412
porrada que lhe estraçalhou a cabeça e
acabou-se o traiçoeiro Georgie.
O estarre assassino tinha escapado por
legítima defesa e estava realmente tudo
muito certo. Mataram Georgie, mesmo mais
de um ano depois de eu ter sido apanhado
pelos milicentes, tudo isso estava muito certo
e era assim, o Destino.
Qual vai ser o programa, hein?
Eu estava na Capela Wing, que era
domingo de manhã e o carlitos da prisão estava
govoritando a Palavra do Senhor. Meu
rábite era tocar o estarre estéreo, botando
musica solene antes, depois e no meio também,
quando cantavam hinos. Eu estava nos
fundos da Capela Wing (tinha quatro aqui na
Prisesta 54-E), perto de onde os carcereiros
ou tchassos ficavam com os seus rifles e suas
imundas queixadas bolches, azuis e brutais, e
eu podia videar todos os plenes sentados esluchando
o Eslovo do Senhor em suas horríveis
roupas de prisão cor de quel, e uma
163/412
espécie de vone nojento exalava deles, não
como se realmente não estivessem lavado,
não gredzes, mas assim um vone especialmente
muito fedorento, que a gente só sente
nos criminosos, meus irmãos, um vone assim
de poeira, de graxa, sem esperanças. E eu estava
pensando que talvez eu também estivesse
com aquele vone, que eu também
tivesse me tornado um autêntico plene,
apesar de muito jovem. Por isso é que era tão
importante pra mim, ó meus irmãos, sair
desse zôo gréjine tão depressa quanto fosse
possível e, como vocês vão videar, se continuarem
lendo, não faltava muito pra isso.
- Qual vai ser o programa, hein? - disse o
carlitos da prisão pela terceira raze. - Vai ser
entra e sai e entra e sai de instituições como
esta, se bem mais que entra do que sai, para
a maioria de vocês, ou vocês vão prestar
atenção à Palavra Divina e compreender os
castigos que esperam o pecador impenitente
no outro mundo, tanto quanto neste? A
164/412
maioria de vocês não passa de um bando de
imbecis vendendo seus direitos de nascença
por um pires de papa fria. A emoção do
roubo, da violência, a necessidade de vida fácil
- tudo isso vale a pena, quando temos
provas insofismáveis; sim, sim, incontroversas
de que o inferno existe? Eu sei, eu sei,
meus amigos, eu fui informado em visões de
que existe um lugar, mais escuro do que
qualquer prisão, mais quente do que
qualquer chama de fogo humano, onde as almas
dos pecadores criminosos impenitentes
como vocês - e não debochem de min, malditos,
não achem graça -, como vocês, estou
lhes dizendo, gritam em agonia interminável
e infinita, as narinas sufocadas pelo odor de
imundície, a boca entalada de sujidade escaldante,
a pele caindo e apodrecendo, uma
bola de fogo rodando nas suas entranhas que
gritam. Sim, sim, eu sei.
Neste ponto, irmãos, um plene num
ponto qualquer da fila de trás fez um som
165/412
chumento com os lábios - "Prrrrrrrrp" - e aí
os tchassos brutais puseram mais uma vez
mãos à obra, correndo muito escorre para
onde eles acharam que ficava a origem do
som, batendo feio e distribuindo toltchoques
prum lado e pro outro.
Depois agarraram um pobre plene
trêmulo, muito magro e malenque e estarre
também, e arrastaram ele pra fora, mas o
tempo todo ele critchava: "Não fui eu não, foi
ele, viu?", mas isso não fez a menor diferença.
Ele foi toltchocado feio e forte e arrastado
pra fora da Capela Wing, critchando
de arrebentar.
- Bom - disse o carlitos da prisão -, escutem
a Palavra do Senhor. - Então ele pegou o
grande livro e começou a passar as páginas,
sempre molhando os dedos e pra isso os lambia,
eslupe eslupe. Era um sacanão boiche e
troncudo, de litso muito vermelho, mas
gostava muito de mim, porque eu era jovem
e também muito interessado no grande livro.
166/412
Tinha sido providenciado, como parte da
minha educação complementar, que eu lesse
o livro e até mesmo ouvisse música no estéreo
da capela enquanto lia, ó meus irmãos.
E isso era muito horrorshow. Eles me
trancavam assim lá dentro e me deixavam
esluchar a linda música de J. S. Bach e G. F.
Handel, e eu lia sobre aqueles brutalhões estarres
se toltchocando uns aos outros e depois
pitando o seu vino hebreu e indo assim
pra cama com as aias das suas mulheres,
muito horrorshow.
Isso me ajudava a ir levando, meus
irmãos. Eu não copetei lá muito bem a parte
final do livro, que tem assim mais govorite
de pregador do que briga e entra-sai-entrasai.
Mas um dia o Charles me disse, me abraçando
assim apertado com o seu rúquer
bolche e carnudo: "Ah, 6655321, pense no
sofrimento divino. Medite sobre isso, meu
filho!" E ele tinha sempre aquele vone rico e
másculo de escocês, que a gente ia sempre ao
167/412
cantora dele pra pitar mais um bocadinho. E
aí eu lia tudo sobre a flagelação e a coroa de
espinhos e depois a véssiche da cruz e aquela
quel toda, e videava melhor que aquilo encerrava
alguma coisa. Enquanto o estéreo
tocava trechos do lindo Bach, eu fechava os
glazes e me videava ajudando e até me encarregando
dos toltchoques e de pregar os cravos,
vestido com uma toga, que era o rigor da
moda romana. Portanto, ficar na Prisesta
não foi tanto perda de tempo assim, e o
próprio Diretor ficou muito satisfeito de
ouvir que eu tinha passado a gostar de religião,
e era nisso que eu depositava as minhas
esperanças.
Naquele domingo de manhã, o carlitos
leu no livro sobre tcheloveques que eslucharam
o eslovo e não deram a menor bola
de estar a dome assim construída sobre a
areia, e aí veio a chuva esplache e bumbumbum
estalou no céu e lá se foi a tal dome.
Mas eu achei que só um veque muito tapado
168/412
ia construir a própria dome em cima da areia
e que ele tinha um bando de drugues que
eram uns auténticos gozadores e vizinhos
calhordas, que ninguém falou pra ele que
tapado que ele era fazendo a obra daquele
jeito. Aí, o Charles critchou: "Certo, cambada.
Vamos terminar com o número 435 do
Hinário dos Detentos." Ai houve um trasque
e plope e zuche zuche zuche enquanto os
plenes pegavam, soltavam e viravam as páginas
dos seus hinários gredzes e malenques e
os brutamontes raivosos dos guardas
critchavam: "Parem de falar aí, seus sacanas!
Tô de olho em você, 920537!" É claro que eu
já estava com o disco pronto no estéreo e aí
foi só deixar a singela música para órgão entrar,
envolvendo tudo com um
grrrrooooouuooooouu. Então os plenes
começaram a cantar que era realmente um
horror:
Nós somos chã fraco, misturado há
pouco,
169/412
Mas mexer faz tudo ficar forte.
Não comemos da comida dos anjos,
E longa provação é a nossa sorte
Eles como que choravam e uivavam esses
eslovos imbecis, com o carlitos assim
vergastando:
"Mais alto, amaldiçoados, cantem, anda!",
e os carcereiros critchando "Você vai
ver, 7749222!" e "O que é teu tá guardado,
seu porco!" Depois acabou tudo e o carlitos
disse: "Que a Santíssima Trindade vos
guarde sempre e vos faça bons, amém." E o
arrastar de pés da saída começou com um
trechinho seleto da Sinfonia nº 2 de Adrian
Schweigselber, escolhido aqui pelo Vosso
Humilde Narrador, ó meus irmãos. Que
cambada aquela, pensava eu enquanto ficava
lá perto do estarre estéreo da capela
videando eles arrastando os pés pra sair e
fazendo marrre e béééé como uns bichos e
me fazendo sinal de enfiar no cu com seus
dedos gréjines, porque parecia que eu tinha
170/412
privilégios muito especiais. Depois que o último
deles tinha arrastado os pés pra fora os
rúqueres caídos que nem macaco, e o único
carcereiro que ainda restava saiu, dando-lhe
um toltchoque por detrás do gúliver, e depois
que eu desliguei o estéreo, o carlitos veio até
mim, dando baforadas num câncer, ainda
com as suas estarres pletes de homemdebog,
toda branca e rendada que nem de
devótcheca.
Ele disse:
- Como sempre, muito obrigado, 665531.
Quais são as novidades que você tem pra
mim hoje? - Eu sabia que o negócio era que
esse carlitos estava querendo virar um santo
tcheloveque no mundo da Religião nas
prisões e que ele queria um testemunho
muito horrorshow do diretor; por isso, de vez
em quando ele ia e govoritiva muito na moita
com o diretor a respeito de que negras tramas
estavam fervilhando entre os plenes, e
muita dessa quel ele obtinha de mim. Muita
171/412
coisa era assim tudo inventado, mas muita
coisa era verdade, como, por exemplo, da vez
que tinha chegado até à nossa cela, pelos encanamentos
toquetoque toquetoque, que o
Harriman grandão ia fugir. Ia dar um
toltchoque no carcereiro na hora ia refeição e
sair com as pletes do guarda. Aí ia haver uma
baita jogação da píchetcha horrenda que nos
serviam no refeitório, e eu sabia disso e contei.
Então o carlitos passou adiante e foi felicitado
pelo diretor por ter Espírito Público e
Ouvidos Atentos. Por isso daquela vez eu
disse e não era verdade:
- Bem, reverendo, chegou pelos encanamentos
que uma partida de cocaína chegou
por meios ilícitos e que uma das celas da Galeria
5 vai ser o centro distribuição.
- Tudo isso eu inventei enquanto ia
falando, como tantas outras histórias dessas
que eu já tinha fabricado, mas o carlitos da
prisão ficou muito agradecido, dizendo: -
Ótimo, ótimo, ótimo, ótimo. Vou levar essa
172/412
ao Próprio - que era assim que ele chamava o
Diretor. Aí, eu filei:
- Reverendo, eu estou fazendo o que
posso, não estou? - Eu sempre usava a minha
muito polida golosse de cavalheiro, quando
govoritava com o pessoal lá de cima.
- Eu tenho feito o que posso, reverendo,
não tenho?
- Eu acho - disse o carlitos - que no geral
você tem, 6655321. Você tem Sido muito útil
e, acho eu, mostrando um desejo autêntico
de se recuperar. Você, se continuar assim,
vai ganhar o seu indulto sem problema
algum.
- Mas, reverendo - disse eu -, e essa
novidade de que eles estão falando agora?
Que tal esse novo tratamento que tira a gente
assim da prisão logo logo e assegura que a
gente não volta nunca mais.
- Ué - disse ele muito desconfiado. - Onde
foi que você ouviu isso? Quem lhe falou
desse negócio?
173/412
- Essas coisas correm, reverendo - disse
eu. - Dois guardas conversam, por exemplo,
e a gente não pode deixar de escutar o que
eles estão falando. Ou então alguém pega um
pedaço de papel de jornal na oficina e o jornal
conta tudo. Que tal o senhor me inteirar
desse negócio, se é que o senhor permite a
liberdade de dar a sugestão?
Eu podia videar que ele estava pensando
no assunto enquanto puxava o seu cancerzinho,
avaliando o quanto ele ia poder contar
do que sabia a respeito dessa véssiche de que
eu tinha falado. Aí, ele disse: - Suponho que
você esteja se referindo á Técnica Ludovico. -
Ele continuava muito cauteloso.
- Não sei como se chama, reverendo - eu
falei. -Só sei que tira a gente daqui rápido e
garante que não volta mais.
- E isso mesmo - disse ele, as sobrancelhas
assim muito arqueadas, enquanto olhava
pra mim. - é bem assim, 6655321. É claro
que ainda está na fase experimental, no
174/412
momento. É muito simples, mas muito
drástica.
- Mas está sendo usada aqui, não está,
reverendo? - disse eu. - Aqueles prédios
brancos novos, assim perto da muralha sul,
reverendo. Nós víamos aquilo sendo construído
enquanto estava fazendo exercício,
reverendo.
- Ainda não foram usados - disse ele -,
não nesta prisão, 6655321. O Próprio tem
sérias dúvidas a respeito. O problema é saber
se uma técnica assim pode tornar alguém
bom. A bondade vem de dentro, 6655321. A
bondade é uma coisa que se escolhe. Quando
alguém não pode escolher, deixa de ser humano.
- Ele bem que ia continuar com muito
mais quel desse tipo, mas já se esluchava a
nova leva de plenes marchando planque
planque planque pelas escadas de ferro
abaixo, pra receber o seu naquinho de Religião.
Ele falou: -- Nós vamos bater um papo
sobre isso noutra hora. Agora é melhor você
175/412
botar o solo de órgão pra tocar. - Aí, eu voltei
pro estéreo estarre e botei o prelúdio Wachet
Auf do J. S. Bach, e aqueles delinquentes
pervertidos, gréjines, vonentos e filhos da
puta chegaram arrastando os pés como um
bando de macacos alquebrados, os guardas
ou tchassos latindo pra eles e chocoteando. E
em breve, o carlitos da prisão estava perguntando:
- Qual vai ser o programa, hein? - E
foi aí que vocês chegaram.
Nós tivemos assim quatro dessas
lontiques de Religião nas Prisões naquela
manhã, mas o charles não falou mais nada
sobre a tal de Técnica Ludovico, fosse lá o
que fosse, ó meus irmãos. Quando eu terminei
a minha rabitagem com o estéreo, ele
só me govoritou alguns eslovos de agradecimento
e aí eu fui privoditado de volta à cela
da galeria 6, que era o meu próprio lar, vonento
e entulhado. O tchasso não era um
veque tão mau assim, e não me dava
toltchoques nem pontapés quando abria a
176/412
porta, apenas dizia; "Pronto, filhinho, cá está
você de volta pro poço." E lá estava eu com
os meus novos drugues, todos muito criminosos,
mas, Bog seja louvado, não dados a
perversões corporais. Tinha Zophar, no seu
catre, um veque muito magro e escuro, que
falava, falava, falava, com uma voz assim
muito cancerenta, portanto ninguém se dava
ao trabalho de esluchar. O que ele estava
falando agora era: "E naquele tempo, tu não
conseguia agarrar um pogue" (fosse lá isso o
que fosse, irmãos), "não se tu tivesse que entregar
dois milhões de arquibaldos; então o
que foi que eu fiz, hein? Eu desci até o
Turkey's e disse que tinha aquele esprugue
na manhã seguinte, e aí o que é que ele podia
fazer?" Era aquela gíria de delinqüente muito
antiga, que ele falava. Tinha também o
Muro, que tinha um glazinho só e estava arrancando
pedaços de unha de pé, pra
comemorar o domingo. Tinha também o
Judeuzão, um veque muito gordo e suarento,
177/412
caído prostrado no catre como morto. Em
seguida tinha o Jojohn e o Doutor. Jojohn
era muito maldoso, astuto e agitadinho e
tinha assim se especializado em Estupro, e o
Doutor tinha alegado ser capaz de curar sífilis,
gonô e corrimento, mas só injetava água e
tinha também matado duas devótchecas em
vez de, como havia prometido, livrá-las dos
seus fardos indesejáveis. Era um bando realmente
gréjine, terrível, e eu não gostava de
estar junto com eles, ó meus irmãos, não
mais do que vocês agora, mas não vai ser por
muito tempo.
Agora, o que eu quero que vocês saibam é
que esta cela tinha sido destinada a três
pessoas, quando foi construída, mas nós
éramos seis lã dentro, todos amontoados,
suados e apertados. E essa era a situação de
todas as celas em todas as prisões naquele
tempo, irmãos, e era uma vergonha imunda
e quelenta, que não havia um lugar decente
prum tcheloveque esticar os membros. E
178/412
vocês mal vão acreditar no que eu vou lhes
contar agora, que é que naquele domingo
brosataram mais um plene lá dentro. E, a
gente tinha comido a nossa píchetcha horrorosa
de bolinhos e cozido vonento, e estava
fumando um câncer tranqtiilo, cada um no
seu catre, quando aquele veque foi jogado no
meio da gente. Era um veque estarre e
queixudo e foi ele quem começou critchando
reclamações, antes mesmo que a gente
tivesse chance de videar a posição. Ele tentou
sacudir as grades, critechando: - Eu exijo a
porra dos meus direitos, isso aqui tá lotado, é
um abuso escroto, isso é o que é! - Mas um
dos tchassos voltou pra dizer que ele ia ter
que se arrumar como pudesse e dividir um
catre com quem quisesse deixar, que de
outro modo ia ter que ser no chão mesmo. -
E - disse o carcereiro - vai ser pior. Um
mundo criminoso muito sujo é o que essa
cambada criminosa de vocês está tentando
construir.
179/412
180/412
Capítulo 2
Bem, foi a admissão desse novo tcheloveque
que iniciou realmente a minha saída
da velha Prisesta, porque ele era um plene
tão safado e encrenqueiro, de mentalidide
tão nojenta e intenções tão asquerosas que a
encrenca natchinatou naquele mesmo dia.
Ele era também muito faroleiro e começou
fazendo um litso muito desdenhoso para nós
todos e uma golosse alta e orgulhosa.
Esclareceu que era o único prestúpnique
realmente horrorshow que tinha no zôo inteiro,
e foi por ali afora, dizendo que tinha
feito isso e acontecido aquilo e matado dez
rodzes de uma ruqueada só e essa quel toda.
Mas ninguém se impressionou muito, ó
meus irmãos.
Aí ele começou pra cima de mim, já que
era o mais moço que tinha lá dentro, querendo
dizer que, como eu era o mais moço, eu
é que devia zasnutar no chão, e não ele. Mas
os outros todos ficaram do meu lado,
critchando: "Deixa ele quieto, seu gréjine
brétchene", e ai ele começou com a velha
lamúria de que ninguém gostava dele. Então,
naquela mesma nótchi eu acordei e encontrei
aquele plene horrendo simplesmente deitado
junto comigo no catre, que era o de baixo,
numa pilha de três, e muito estreito, e ele estava
govoritando eslovos de amor e tocatoca-
toca. Aí eu fiquei realmente bezúmine e
sentei a lenha, se bem que não estivesse
enxergando tão horrorshow assim, que só
tinha aquela luzinha vermelha malenque do
lado de fora, no patamar da escada. Mas eu
sabia que era ele, o puto vonento, e aí a encrenca
começou de verdade e ligaram as
luzes e eu videei o seu litso horrendo com o
182/412
crove todo pingando da rote, onde eu tinha
acertado com o meu rúquer cerrado.
O que eslutchatou então, naturalmente,
foi que os meus companheiros de cela
acordaram e começaram a entrar na dança,
toltchocando meio adoidado na semi-obscuridade,
e parece que o chume acordou a galeria
inteira e esluchava-se um bocado de gente
critchando e batendo com as canecas de lata
na parede como se todos os plenes, em todas
as celas, pensassem que estivesse pra
começar uma fuga em massa, ó meus irmãos.
Aí então as luzes se acenderam e os
tchassos chegaram de mangas de camisa,
calça e boné e agitando grandes bastões. Aí
nós pudemos videar os nossos litsos afogueados
e a agitação de róqueres fechados, e
houve um bocado de critche e palavrão. Aí eu
fiz a minha reclamação e todos os tchassos
disseram que, provavelmente o Vosso Humilde
Narrador, irmão, é que tinha
começado mesmo o negócio, porque eu não
183/412
tinha marca nem arranhão, mas havia aquele
horrível plene pingando crove vermelho, vermelho
da rote onde eu tinha acertado meu
rúquer fechado. Aquilo me deixou muito
bezúmine. Eu disse que não dormia nem
mais uma nótchi naquela cela se as Autoridades
Penitenciárias viessem permitir que
prestúpniques pervertidos, vonentos e nojentos
pulassem em cima do meu plote numa
hora em que eu estava dormindo, sem condições
de me defender. "Espera até de
manha", disseram eles. É um quarto particular
com banheiro e televisão que vossa senhoria
deseja? Muito bem, amanhã de manhã
vamos ver isso. Mas por enquanto,
druguinho, enfia a porra do gúliver no teu
podúcheca de palha e que ninguém mais faça
confusão. Certo, certo, certo?" E lá se foram
eles com severas advertências a todos, e logo
depois as luzes se apagaram e aí eu disse que
ia passar o resto da nótchi sentado, dizendo
antes ao prestúpnique nojento:
184/412
-Vai, sobe no meu catre se quiser. Eu não
quero mais. Você já emporcalhou tudo, deitando
o seu plote vonento e nojento em cima
dele. - Mas aí os outros se meteram. O
Judeuzão falou, ainda suando da bitvazinha
que a gente tinha tido no escuro
- Efa a gente não afeita não, irmãof. Não
dá o lugar pra efe merda não. - Aí o novo
disse:
- Fecha o penico, juda - querendo dizer
pra calar a boca, mas era muito insultuoso.
Então o Judeuzão se preparou pra mandar
um toltchoque. O Doutor falou:
- Vamos, senhores, nós não queremos
confusão, queremos? - com a sua golosse de
classe alta, mas o tal prestúpnique novo estava
mesmo pedindo. videava-se que ele estava
mesmo pensando que era um veque de
muito bolche importância e que estava
abaixo da sua dignidade ficar dividindo uma
cela com outros seis e tendo que dormir no
chão, até que eu fiz aquela atitude pra ele.
185/412
Com seu jeito desdenhoso ele tentou arremedar
o Doutor, fazendo:
- Óóóó, vocêsss não quierem mass confuseo,
não é seusss capadossos? - Então Jojohn,
maldoso, astuto agitadinho, disse:
- Já que não podemos dormir, então vamos
à educação. Aqui o nosso novo colega
devia receber uma aula.
Apesar de ser assim especialista em Estupro,
ele tinha um modo agradável de govoritar,
calmo e assim preciso. Aí, o novo
plene escarneceu: "Nhenhenhenhé, seu monstrenguinho."
Aí é que o negócio começou
mesmo, mas de um modo estranho, assim
suave, sem ninguém levantar muito a golosse.
O novo plene critchou um malenquinho
no começo, mas o Muro punhou ele
na rote, enquanto o Judeuzão segurava ele
contra as grades pra que pudesse ser videado
à malenque luz vermelha do patamar da escada,
e ele fazia só ai ai ai. O tipo dele não
era de veque muito forte, sendo muito débil
186/412
na tentativa de toltchocar de volta, e eu presumo
que ele compensava isso usando uma
golosse muito chumenta e muito convencida.
Seja como for, quando eu vi o crove velho
correr vermelho na luz vermelha, eu senti
aquela velha alegria assim tomando conta
das minhas quíchecas e disse:
- Deixa ele pra mim, anda, me dá ele
agora, irmãos.
- Aí o Judeuzão falou:
- É fim, é fim, pefoal, é jufto. Amafa ele
você agora, (sic) Alecf. - E aí eles ficaram em
volta enquanto eu rachava aquele
prestúpuique na semi-obscuridade. Eu punhei
ele todo, dançando á volta de botas, se
bem que desamarradas, e aí pisoteei ele e ele
fazia pafe pafe no chão. Dei-lhe um pontapé
muito horrorshow no gúliver e o Doutor
falou:
- Tá bom, isso chega como castigo - olhando
com os olhos semicerrados pra videar
o veque surrado e arriado no chão. - Deixa,
187/412
que talvez ele esteja sonhando em ser um
menino melhor no futuro. - Então, nós todos
subimos nos catres, que agora estávamos todos
muito cansados. O que eu sonhei, meus
irmãos, foi que eu estava numa orquestra
imensa, de centenas e centenas de músicos, e
o regente era assim uma mistura de Ludwig
van e G. F. Handel, e parecia muito surdo e
cego e cansado do mundo. Eu ficava em meio
aos instrumentos de sopro, mas o que eu estava
tocando era assim um fagote brancorosado
feito de carne e saindo do meu plote,
bem no meio da minha barriga, e quando eu
soprava nele eu tinha de esmecar hi hi hi
muito alto, porque ele me fazia assim cócegas,
e aí Ludwig van G. F. ficou muito
rasdraz e bezúmine. Então ele veio direto ao
meu litso e critchou alto no meu uco e aí eu
acordei assim suando. Naturalmente, o
chume alto era na realidade a campainha da
prisão brrrr brrrr brrrr. Era manhã de inverno
e os meus glazes estavam todos
188/412
quelentos de remela e quando eu abri, eles
doeram com a luz elétrica que tinha sido
acesa no zôo inteiro. Ai, eu olhei pra baixo e
videei o novo prestúpuique muito ensangúcutado
e machucado e ainda completamente
desligado.
Mas quando eu desci do catre e mexi nele
com o meu noga descalço, o toque foi assim
frio e rígido; então eu fui até o catre do
Doutor e sacudi ele, que era muito duro de
acordar de manhã. Mas ele saiu do catre
bastante escorre dessa vez, e o mesmo fizeram
os outros, com exceção do Muro, que
dormia como um bife. - Muito lamentável -
disse ô Doutor. – Ataque cardíaco, deve ter
sido isso. -Aí ele disse olhando em torno, pra
nós todos: - Realmente, vocês não deviam ter
partido pra ele desta forma. Foi realmente
muito mal ensado. -
Jojohn disse:
- Deixa disso, ô doutor você também não
ficou pra trás na hora de dar a sua
189/412
porradinha. - Ai, o Judeuzão virou-se pra
mim, dizendo:
- Alecf, vofê foi muito impetuovo. Aquele
último fiute foi muito fério. - Eu comecei a
ficar rasdraz com aquilo (sic) e falei:
- Quem foi que começou, hein? Eu só
peguei ele no fim, não foi? Apontei pra Jojohn
dizendo: - A idéia foi sua! - O Muro roucou
um pouco alto, então eu disse: - Acordem
esse brétchene vonento. Foi ele que
ficou batendo na rote enquanto aqui o
Judeuzão segurava ele de encontro à grade. -
O Doutor falou:
- Ninguém pode negar que bateu um
pouquinho no homem, pra lhe dar uma lição,
digamos assim, mas aparentemente foi você,
meu caro jovem, que, com o vigor e, diria eu,
a maneira descuidosa da juventude, aplicoulhe
o golpe de misericórdia. Grande lástima.
- Traidores - disse eu. - Traidores e
mentirosos porque eu podia videar que era
tudo como antes, dois anos antes quando os
190/412
meus falsos drugues tinham me abandonado
aos rúqueres brutais dos milicentes. Não se
podia confiar em ninguém neste mundo, ó
meus irmãos, pelo que eu estava vendo. E
Jojohn foi acordar o Muro, e o Muro estava
mais do que pronto a jurar que tinha sido o
Vosso Humilde Narrador que tinha realmente
praticado os tolchoques e a repugnante
brutalidade. Quando os tchassos
chegaram e depois o Tchasso-Chefe e depois
o próprio diretor, aqueles meus drugues todos
ficaram muito chumentos, contando
lorotas a respeito de tudo o que eu tinha feito
pra ubivatar aquele pervertido inútil, cujo
plote coberto de crove jazia no chão como
um saco.
Aquele foi um dia muito estranho, ó meus
irmãos. o cadáver foi levado embora, e aí todo
mundo na prisão inteira teve que ficar
trancado até segunda ordem, e não deram
píchetcha, nem mesmo uma caneca de tchai
quente. A gente ficou tudo sentado lá, e os
191/412
carcereiros ou tchassos lavam passadas pra
cima e pra baixo na galeria critchando de vez
em quando: "Fecha essa cloaca!" assim que
esluchavam nem que fosse um cochicho em
uma das celas. Então, por volta de onze horas
da manhã, houve uma espécie assim de
retesamento e excitação e assim o vone do
medo se espalhando e vindo de fora da cela e
a gente podia videar o Diretor, o Tchasso-
Chefe e alguns tcheloveques de bolche importância
passando muito escorre, govoritando
que nem bezúmines. Pareciam se dirigir
para o fim da galeria, depois dava pra esluchar
eles voltando novamente, dessa vez
mais devagar, e esluchava-se o Diretor, um
veque muito gordo e suarento e de cabelo
claro, dizendo slovos como "Mas, Excelência..."
e "Bem, mas o que se pode fazer, Excelência?"
e assim por diante. Depois o
banho todo parou na nossa cela e o Tchasso-
Chefe abriu. Vodeava-se logo de cara quem
era o veque realmente importante; muito
192/412
alto, de glazes azuis, e vestindo pletes realmente
horrorshow, o terno mais lindo que eu
já tinha visto, no rigor da moda. Ele só
lançou um olhar sobre nós, pobres plenes,
dizendo, numa golosse muito bonita, realmente
educada: "O Governo não pode mais
se preocupar com teorias penalógicas
caducas. Amontoem-se delinqüentes deste
modo e veja-se o que acontece. Obtém-se a
criminalidade concentrada, o crime no meio
do castigo. Em breve, estaremos necessitando
de todo o espaço de nossas prisões para
os transgressores políticos." Isso eu não
poniei nada, irmãos, mas afinal ele não estava
falando comigo. Aí, ele disse: "Os criminosos
comuns, como essa malta intragável"
(isso era eu, irmãos, tanto quanto os outros,
que eram verdadeiros prestóúpniques e
muito traiçoeiros), "podem ser melhor tratados
em bases puramente curativas. Matar o
reflexo criminoso, só isso.
193/412
Implementação completa em um ano. O
castigo não significa nada para eles, como
podem ver. Eles desfrutam do pretenso castigo.
Começam a se assassinar uns aos outros."
E voltou os seus olhos azuis pra mim.
Aí, eu disse, muito atrevido:
- Com o devido respeito, Excelência, eu
protesto energicamente contra o que o senhor
acaba de dizer. Eu não sou um criminoso
comum, e não sou intragável. Os outros podem
ser intragáveis, mas eu não sou. - O
Tchasso-Chefe ficou violáceo e critchou.
- Feche essa cloaca imunda! Você sabe
com quem está falando?
- Deixe, deixe - disse o tal veque grande.
Aí ele se virou pro Diretor e disse: - Pode
usá-lo como abre-alas. Ele é jovem, atrevido,
perverso. Brodsky vai tomar conta dele
amanhã e o senhor pode ficar sentado lá e
ver Brodsky trabalhar. Funciona bem, não se
preocupe. Este jovem baderneiro, perverso
vai ser irreconhecivelmente transformado.
194/412
E esses duros eslovos, meus irmãos, foram
assim o início da minha liberdade.
195/412
Capítulo 3
Naquela mesma noite eu fui delicadamente
arrastado por tchassos brutais que me
davam toltchoques, pra videar o Diretor no
seu santo dos santos, santo gabinete. O Diretor
parecia estar muito cansado de mim e
disse: - Não creio que você saiba quem era
aquele, hoje de manhã, sabe, 6655321? - E
sem esperar que eu dissesse não, ele falou: -
Aquele personagem era nada mais nada
menos que o Ministro do Interior, o novo
Ministro do Interior, e o que eles chamam de
marinheiro de primeira viagem.
Bem, essas ridículas idéias novas
chegaram finalmente e ordens são ordens, se
bem que eu deva lhe dizer confidencialmente
que não aprovo. Enfaticamente não aprovo.
Comigo é olho por olho. Se alguém agride
você, você dá o troco, não dá? Então, por que
o Estado, brutalmente agredido por vocês, os
desordeiros, não daria o troco também? Mas
a nova visão diz que não. A nova visão quer
que transformemos o mau em bom.
Tudo isso me parece muito injusto.
Hummm? - Então eu disse, tentando ser assim
respeitoso e conciliador:
- Senhor Diretor... - E aí o Tchasso-Chefe,
que estava de pé, todo vermelho e volumoso,
por trás da poltrona do Diretor, critchou:
- Fecha essa cloaca imunda, seu
rebotalho!
- Deixa, deixa - disse o Diretor, assim
cansado e exausto. - Você, 6655321 vai ser
reabilitado. Amanhã você vai para esse
Brodsky. Acredita-se que você vai estar em
condições de deixar a custódia do Estado em
pouco mais de uma quinzena. Em pouco
mais de uma quinzena você vai estar novamente
no vasto mundo livre, não mais um
197/412
número. Presumo - e aqui, ele bufou um
pouco - que esta perspectiva lhe é agradável?
Eu não disse nada, então o Tchasso-Chefe
critchou:
- Responda, seu porco, quando o Diretor
lhe faz uma pergunta!
- Ah, sim, senhor Diretor. Muito obrigado,
senhor Diretor. Eu fiz o que pude aqui,
realmente fiz. Fico muito agradecido a todos.
- Não fique não - suspirou assim o Diretor.
- Isso não é uma recompensa. Está longe
de ser uma recompensa.
Bom. Há um formulário pra você assinar.
Diz que você deseja ter o restante da sua sentença
comutado em submetimento ao que é
chamado aqui, expressão ridícula, de Tratamento
de Reaproveitamento. Quer assinar?
- Mas é claro que eu vou assinar - disse eu
-, Senhor Diretor. E muitíssimo obrigado. -
Então me deram uma caneta-tinteiro e eu
assinei meu nome, linda e fluentemente. O
Diretor disse:
198/412
- Certo. Acho que isso é tudo. - O
Tchasso-Chefe disse: - O Capelão da prisão
quer uma palavrinha com ele, Doutor.
Então eu marchei pra fora da sala e pelo
corredor que levava à Capela Wing, toltchocado
nas costas e no gúliver por um dos
tchassos, mas assim com um jeito bocejante
e entediado. E marchei através da Capela
Wing até o cantorazinho do charles e então
me fizeram entrar. O carlitos estava sentado
à sua escrivaninha, exalando muito acentuadamente
um másculo vone de câncer caro, e
escocês. Ele disse:
-Ah, 6655321, sente-se. - E aos tchassos: -
Esperem lá fora, sim? - O que fizeram. Aí, ele
falou de um jeito assim muito franco comigo,
dizendo: - Uma coisa que eu quero que você
compreenda, rapaz, é que isso não tem nada
a ver comigo. Se adiantasse, eu faria um
protesto a esse respeito, mas não adianta. Há
o problema da minha própria carreira, da
fraqueza da minha própria voz, quando
 confrontada com o grito de certos elementos
mais poderosos na governança. Estou me
fazendo claro? - Não estava, irmãos, mas eu
inclinei a cabeça, fazendo que sim. - Há muitos
problemas éticos difíceis em jogo - continuou
ele. - Você vai ser transformado em
um bom menino, 6655321. Nunca mais você
vai ter o desejo de cometer atos de violência
ou ofender quem quer que seja, contra a Paz
do Estado. Eu espero que você aceite tudo
isso. Espero que você esteja vendo claro em
sua mente com relação a tudo isso. - Eu
disse:
- Ah, vai ser agradável ser bom, reverendo.
- Mas por dentro eu dei um esmeque
realmente horrorshow, irmãos. Ele disse:
- Ser bom pode não ser agradável,
6655321. Pode ser horrível ser bom. E
quando digo isto a você, eu compreendo
como soa contraditório. Eu sei que vou passar
muitas noites sem dormir por causa
disto. O que é que Deus quer? Deus quer a
200/412
bondade ou a escolha da bondade? O homem
que escolhe o mal é talvez de uma certa
forma melhor do que aquele a quem a
bondade é imposta. Questões duras e profundas,
6655321. Mas tudo o que eu quero
dizer a você agora é o seguinte: se, alguma
vez no futuro, você olhar para trás, para a
época de hoje, e se lembrar de mim, o mais
baixo e mais humilde dos servidores de
Deus, eu lhe rogo, não me queira mal, dentro
do seu coração, pensando que eu esteja de alguma
forma envolvido no que está para lhe
acontecer. E agora, por falar em rogar, eu
percebo com tristeza que pouco vai adiantar
rogar a Deus por você.
Você está passando agora para uma região
onde você vai ficar fora do alcance do
poder da prece. Uma coisa terrível de se
meditar. E no entanto, num certo sentido, ao
escolher ser privado da faculdade de efetuar
uma opção ética, você realmente escolheu o
bem. E assim que eu gostarei de pensar. E
201/412
assim, e Deus nos ampare a todos, 665532,
que eu gostarei de pensar. - Aí ele começou a
chorar. Mas eu não estava prestando muito
atenção a isso, irmãos, eu só tinha um esmequezinho
silencioso por dentro, porque
videava-se que ele tinha andado pitando o
velho uísque e agora ele tirava uma garrafa
de um armariozinho da escrivaninha e
começava a se servir de um bolche trago,
realmente horrorshow dentro de um copo
sebento e gréjine. Entornou na goela e então
falou: Pode estar tudo certo. quem sabe?
Deus escreve certo por linhas tortas. - Aí ele
começou a cantar um hino, com uma golosse
realmente rica e forte. E a porta se abriu e os
tchassos entraram pra me toltchocar de volta
à minha cela novamente, mas o velho charles
continuava cantando o seu hino.
Bem, na manhã seguinte eu tive que dizer
adeus à velha Prisesta, e eu me sentia um
malenquizinho triste, como sempre que a
gente tem que deixar um lugar com que
202/412
assim se acostumou. Mas eu não fui muito
longe, ó meus irmãos, eu fui socado e
chutado para o novo edifício branco, logo depois
do pátio onde a gente costumava fazer o
nosso exerciciozinho. Esse era um edifício
muito novo e tinha um cheiro assim gélido
de coisa grande, que dava assim um certo
calafrio. Eu fiquei lá, naquele hall horrível,
boiche, vazio e senti novos vones farejando
com o meu mui sensível mórder, ou focinho.
Eram assim que nem vones de hospital, e o
tcheloveque a quem os tchassos me entregaram
usava um avental branco que podia
ser de um cara de hospital.
Ele assinou recibo da minha entrega e um
dos tchassos brutais que tinham me trazido
disse: - Cuidado com esse aí, senhor. Tem
sido um sacana muito brutal e vai continuar
a ser, apesar de ficar puxando o saco do
capelão da prisão e lendo a Bíblia. - Mas o
novo tcheloveque tinha uns glazes azuis
203/412
muito horrorshow que assim sorriam
quando ele govoritava. Ele disse:
- Ah, nós não estamos prevendo nenhum
problema. Nós vamos ser amigos, não vamos?
- E sorriu com os glazes e a rote grande
e bonita, cheia de luzidios zubes brancos, e
eu fui assim com ele de cara. Bem. Ele me
passou assim pra outro veque inferior de
avental branco e esse também era muito
agradável e eu fui levado prum quarto muito
agradável, branco e limpo, com cortinas e
lâmpadas de cabeceira e só uma cama,
todinha pro Vosso Humilde Narrador. Então
eu dei um esmeque interior muito horrorshow
com isso, pensando comigo mesmo que
eu era realmente um maltchiquezinho de
muita sorte. Me disseram pra tirar as minhas
horríveis pletes de prisão e me deram um
conjunto de pijama, realmente muito bonito,
ó meus irmãos, verde liso, no rigor da moda
para trajes de cama, e me deram também um
robe-de-chambre gostoso e quentinho e
204/412
lindas tuflas pra calçar os meus nogas descalços,
e eu pensei: - Bom, Alexinho, o
6655321 já era, você deu uma de sorte, não
tem como errar. Você vai gostar muito disto
aqui.
Depois que me deram uma tchacha de
café muito horrorshow e umas gazetas e revistas
velhas pra passar os olhos enquanto
pitava, o primeiro veque de branco, o que
tinha assim passado recibo de mim, entrou e
disse: -
Pronto, cá está você - uma véssiche assim
meio boba de se dizer mas não soou boba,
que ele era um veque assim muito simpático.
- Meu nome - disse ele - é Dr. Brannon. Sou
assistente do Dr. Brodsky. Com sua licença,
vou lhe fazer o exame geral de praxe. - E
tirou o esteto do cárman direito. - É preciso
ter certeza de que você está em plena forma,
não é verdade? É claro que precisamos. - Aí,
enquanto eu ficava ali deitado, sem o paletó
do pijama, e ele fazia umas e outras, eu disse:
205/412
- O que é exatamente, doutor, o que os
senhores vão fazer?
- Ah - disse o Dr. Brannon, com o frio esteto
percorrendo as minhas costas pra baixo
e pra cima. - Na realidade, é muito simples.
Nós apenas passamos uns filmes pra você.
- Filmes? - Eu mal podia acreditar nos
meus ucos, irmãos, como vocês bem podem
compreender.
- Quer dizer - disse eu - que vai ser assim
só como ir ao cinema?
- São filmes especiais - disse o tal Dr.
Brannon. - Filmes muito especiais. Você vai
ver a primeira sessão hoje à tarde. E - disse
ele, deixando de se curvar sobre mim -,
parece que você é um rapaz em muito boa
forma.
Um pouco subnutrido, talvez. Deve ser
culpa da comida da prisão. Pode vestir o
paletó do pijama. Depois de cada refeição -
disse ele sentado na beira da cama - nós
206/412
vamos lhe dar uma injeção no braço. Isso vai
ajudar.
Eu Estava realmente grato a esse Dr.
Brannon, tão simpático. Eu disse:
- Vão ser vitaminas, doutor?
- Mais ou menos isso - disse ele sorrindo
muito horrorshow e amistoso. - Só uma
picada no braço depois de cada refeição. - E
aí ele saiu. Eu fiquei na cama pensando
comigo que aqui era assim realmente o céu e
li algumas revistas que tinham me dado -
Mundo do Esporte, Cinema e Gol. Depois
deitei na cama e fechei os glazes e pensei
como ia ser bom estar lá fora de novo, Alex,
com talvez um trabalhozinho fácil e
agradável durante o dia, que agora eu já estava
velho demais pro escoliuol, e aí talvez
reunindo assim uma nova turma pra nótchi,
o primeiro rábite ia ser pegar o Tapado e o
Pete, se eles já não tivessem sido pegos pelos
milicentes. Dessa vez ia tomar cuidado pra
não ser lovetado.
207/412
Estavam me dando assim outra chance,
eu tendo cometido assassinato e tudo o mais,
e não teria assim direito a ser apanhado de
novo depois de todo esse trabalho de me
mostrarem filmes que iam fazer de mim um
maltchique realmente bom. Eu dei um esmeque
muito horrorshow assim da inocência
de todo mundo e estava esmecando de estourar
quando trouxeram meu almoço numa
bandeja. O veque que trouxe foi o que tinha
me conduzido até este quarto de dormir
malenque quando eu cheguei aqui no méssito
e ele disse:
- É bom saber que há alguém feliz. - Era
realmente uma pichetchazinha muito
agradável e apetitosa que tinham posto na
bandeja: assim dois ou três lontiques de rosbife
quente com purê de cartófel e legumes,
depois sorvete e uma gostosa tchacha de
tchai quente. E tinha até um câncer pra fumar
e uma caixa de fósforos com apenas um
palito dentro. Portanto, parecia que isso é
208/412
que era vida, ó meus irmãos. Então, cerca de
meia hora depois, quando eu estava deitado
meio sonolento, entrou uma enfermeira,
uma devotchecazinha moça, de grudes muito
horrorshow (eu não via isso há dois anos) e
ela trazia uma bandeja e uma seringa. Eu
disse:
- Ah, as vitaminas, não é? - E pisquei o
olho pra ela, mas ela não me deu bola. A única
coisa que ela fez foi bater a agulha no
meu braço esquerdo e uissshhhhh, lá entrou
o treco das vitaminas. Depois saiu de novo
taquetaquetaque de nogas metidos em sapatos
altos. Então, o veque de avental branco,
que era assim um enfermeiro, entrou com
uma cadeira de rodas. Eu fiquei um malenquezinho
surpreso videando aquilo. Eu falei:
- Qual é, irmão? Eu garanto que posso
andar, até onde a gente tiver que itar. - Mas
ele disse: Melhor empurrar você aqui. - E
realmente, meus irmãos, quando eu saí da
cama me achei um malenquezinho fraco. Era
209/412
a subnutrição, como tinha dito o Dr. Brannon,
com aquela píchetcha horrível da
prisão. Mas as vitaminas da injeção após as
refeições iam me endireitar. Sem dúvida
nenhuma, pensava eu.
210/412
Capítulo 4
O lugar pra onde me levaram na cadeira,
irmãos, não se parecia com nenhum cinema
que eu tinha videado antes. É bem verdade
que uma das paredes estava coberta por uma
tela prateada, e na parede exatamente oposta
estavam buracos quadrados pro projetor
poder projetar, e havia alto-falantes estéreos
enfiados no méssito todo. Mas, de encontro a
uma das paredes, a que ficava à direta, estava
uma console toda assim de reloginhos
medidores e no centro da sala, voltada para a
tela, estava assim uma cadeira de dentista de
onde saíam fios de todos os comprimentos, e
eu tive de assim engatinhar da cadeira de rodas
até lá, recebendo alguma ajuda de um
veque enfermeiro de avental branco. Aí, eu
notei que embaixo dos buracos da projeção
era assim tudo de vidro fosco e eu pensei
videar alguém tossindo,
quechequechequeche. Mas aí, só o que eu
conseguia notar era como eu parecia que estava
fraco, e eu debitei isso à mudança da
píchetcha da prisão para essa nova píchetcha
rica e as vitaminas injetadas em mim. - Certo
- disse o veque que empurrou a cadeira de
rodas.
Agora eu vou deixar você. A sessão vai
começar assim que o Dr. Brodsky chegar. Espero
que goste. - Pra falar a verdade, irmãos,
eu não estava com vontade nenhuma de
videar uma sessão de cinema naquela tarde.
Não estava com disposição. Teria gostado
muito mas de uma boa espâtcheca sossegada
na minha cama e bem no meu odinoque. Eu
estava me sentindo muito flácido.
O que aconteceu então foi que um veque
de avental branco prendeu meu gúliver com
uma correia assim ao apoio, o tempo todo
212/412
cantando pra ele mesno uma música pop
vonenta e quelenta qualquer. - Pra que isso?
- disse eu, e o veque replicou, interrompendo
a sua musiquinha um instante, que era pra
manter o meu gúilver firme e me fazer olhar
pra tela. - Mas - eu disse - eu quero olhar pra
tela. Eu fui trazido pra cá pra ver filmes e ver
filmes eu irei. - E aí, o outro veque de avental
branco (eram três ao todo, sendo um deles
uma devótcheca assim sentada junto ao console
de medidores e brincando com os
botões) deu um esmeque com essa. Disse:
- Nunca se sabe. Ah, nunca se sabe. Podes
crer, amigo. É melhor assim. - E aí eu
descobri que estavam amarrando meus
rúqueres nos braços da cadeira e que meus
nogas estavam como que enfiados nos descansos
da cadeira. A mim me parecia um
tanto bezúmine, mas deixei eles fazerem o
que tinham que fazer. Se eu ia ser novamente
um maltchique livre dentro de uma quinzena,
eu estava disposto a agüentar muita
213/412
coisa nesse meio tempo, ó meus irmãos.
Uma véssiche de que eu não gostei, no entanto,
foi quando eles prenderam assim
grampos na minha fronte, de modo que as
minhas pálpebras superiores foram sendo
puxadas pra cima e pra cima e pra cima e eu
não podia mais fechar os olhos, por mais que
tentasse. Eu tentei esmecar e disse: - Deve
ser um filme realmente horrorshow, se vocês
fazem assim tanta questão de que eu videie. -
E um dos veques de avental branco disse,
esmecando.
- Horrorshow está correto, amigo. Um
verdadeiro show de horrores. - E aí enfiaram
assim um capacete no meu gúliver e dava pra
videar tudo quanto era fio saindo dele, e aí
eles enfiaram uma almofada de sucção na
minha barriga e uma no meu tique-taque, e
ainda deu pra videar os fios saindo delas
também. Depois houve o chume de uma
porta se abrindo e percebia-se que algum
tcheloveque muito importante estava
214/412
chegando pelo modo que os subveques de
avental branco ficaram todos duros. E então
eu videei o tal Dr. Brodsky. Era um veque
malenque, muito gordo, o cabelo encaracolado
encaracolando o gúliver dele todo e em
cima do nariz de batata usava ótcheques
muito grossos. Eu podia videar que ele estava
usando uma roupa muito horrorshow
rigorosamente na última moda, e dele saía
um vone muito delicado e sutil de anfiteatro
de operações. Com ele estava o Dr. Brannon,
assim todo sorridente, como que para me inspirar
confiança. - Tudo pronto? - disse o Dr.
Brodsky com uma golosse de respiração
forte. Aí eu esluchei vozes dizendo certo,
certo, certo; assim, assim à distância, depois
mais perto, e houve um leve chume assim
como um zumbido, como se os troços todos
tivessem sido ligados. E aí as luzes se
apagaram e lá estava o Vosso Humilde Narrador
e Amigo sentado sozinho no escuro, inteiramente
no seu odinoque assustado, sem
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poder se mexer nem fechar os glazes, nem
nada. E então, meus irmãos, a sessão de
cinema começou com uma música muito
gronque pra dar o clima, saindo dos altofalantes
muito furiosa e cheia de dissonâncias.
E aí, na tela apareceu o filme, mas não
tinha título nem letreiros. O que apareceu foi
uma rua, que podia ser qualquer rua de
qualquer cidade e era uma nótchi muito escura
e os postes estavam iluminados. Era um
trabalho assim de cinema profissional muito
bom, e não tinha nada daqueles piscados e
bolhas que aparecem, digamos, quando se vê
um daqueles filmes de sacanagem na casa de
alguém numa rua escondida. O tempo todo a
música batucava assim muito sinistra. Aí,
videava-se um velho descendo a rua, muito
estarre, e aí pulavam em cima daquele veque
velho dois maltchiques, vestidos no rigor da
moda (ainda calças justas mas não mais assim
gravatões, e sim gravata mesmo), e
começavam a traquinar com ele.
216/412
Esluchavam-se os seus gritos e gemidos,
muito realista, e podia-se até ouvir a respiração
pesada e ofegante dos dois maltchiques
que toltchocavam. Eles fizeram um verdadeiro
pudim daquele veque estarre,
batendo craque craque nele com os rúqueres
fechados, rasgando fora as pletes dele e depois
terminando por dar botinadas no seu
plote nagói, que estava todo vermelho de
crove no lodo da sarjeta, e depois fugiram
muito escorre. Aí, tinha um close do gúliver
do veque estarre espancado e o crove escorria
em lindo vermelho. É engraçado como as
cores assim do mundo real só parecem realmente
reais quando a gente videia elas na
tela.
Agora, o tempo todo que eu estava vendo
isso, eu estava começando a ficar muito consciente
de que não estava me sentindo lá
muito bem e botei na conta da subnutrição e
de meu estômago não estar ainda acostumado
com a píchetcha rica e as vitaminas
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que eu estava tomando aqui. Mas eu tentei
esquecer isso me concentrando no filme
seguinte, que veio logo em cima, meus
irmãos, sem pausa nenhuma. E já começava
com uma devótcheca que estava levando o
velho entra-sai-entra-sai, primeiro de um
maltchique, depois de outro, depois de outro,
ela critchando muito gronque pelos altofalantes
e uma música muito patética e trágica
tocando ao mesmo tempo. Aquilo era
real, muito real, se bem que, pensando bem,
não se podia imaginar as líudes simplesmente
concordando com que lhes fizessem
tudo aquilo num filme e, se esses filmes foram
feitos pelo Bem do Estado, não se podia
imaginar que tivessem permissão para fazer
assim as tomadas sem interferir no que estava
acontecendo. Portanto, deve ter sido
muita habilidade no que eles chamam corte,
ou montagem, ou qualquer véssiche assim.
Porque era muito real. E quando chegou no
sexto ou sétimo maltchique, olhando com
218/412
crueldade, esmecando e metendo, e a
devótcheca na trilha sonora que nem
bezúmine, eu comecei a ficar nauseado. Sentia
dores no corpo todo, tinha vontade de
vomitar e ao mesmo tempo não vomitava e
comecei a me sentir assim aflito, ó meus
irmãos, ainda por cima rigidamente preso
naquela cadeira como estava. Quando esse
filmezinho acabou, eu esluchei a golosse do
Dr. Brodsky vindo de perto do console
dizendo: - Reação aproximada de doze vírgula
cinco. Promete, promete.
Aí entramos direto em outro lontique de
filme, e dessa vez era apenas um litso humano,
um rosto humano assim muito pálido,
preso firme e com o qual faziam as coisas
mais diversas e odiosas. Eu estava suando
um malenque com a dor nas tripas e uma
sede horrível e meu gúliver fazendo tum tum
tum e eu achava que se eu não pudesse
videar o filminho, talvez não me sentisse tão
enjoado. Mas não podia fechar os glazes e,
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mesmo que tentasse mover meus globos pros
lados, eu não podia sair do campo de projeção
do filme. Portanto tinha que continuar
videando o que estava sendo feito e ouvindo
os critches mais macabros, saindo daquele
litso. Eu sabia que não podia ser verdade
mais isso não fazia diferença. Eu estava
tendo espasmos mas não conseguia vomitar,
videando primeiro uma britva cortar fora um
olho, depois cortar a bochecha em fatias, depois
ir zape zape em tudo, enquanto o crove
espirrava em direção à objetiva. Depois, todos
os dentes foram arrancados com um par
de tenazes, e os critches e o sangue foram espantosos.
Então eu esluchei a golosse muito
satisfeita do Dr. Brodsky, dizendo: - Excelente,
excelente, excelente.
O lontique seguinte de filme foi de uma
velha que tinha uma loja, sendo chutada pela
casa afora entre gronques gargalhadas por
um bando de maltchiques, e esses
maltchiques quebravam a loja toda e depois
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botavam fogo. Videava-se a pobre ptitsa estarre
tentando rastejar pra fora das chamas,
berrando e critchiando, mas estando com a
perna quebrada pelos maltchiques dando
chutes nela, ela não podia se mexer. Então as
chamas todas ficaram rugindo em volta dela
e videava-se o seu litso. Agonizante, assim
suplicando através das chamas. E aí
esluchavam-se os berros mais gronques, agonizados
e agonizantes que já saíram de uma
golosse humana. Então, dessa vez eu sabia
que tinha que vomitar, aí critchei:
- Quero vomitar. Por favor, me deixem
vomitar. Por favor, tragam alguma coisa pra
eu vomitar! - Mas o Dr.
Brodsky respondeu:
- É pura imaginação. Você não tem com
que se preocupar. O próximo filme já vem aí.
- Provavelmente isso era piada, porque eu
ouvi assim um esmequezinho vindo do
escuro. E aí eu fui forçado a videar o mais
horripilante filme sobre torturas japonesas.
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Era na guerra de 39-45 e tinha soldados
sendo pregados nas árvores com pregos e
acendiam fogueiras debaixo deles e
cortavam-lhes os iarbos, e se via até o gúliver
de um soldado sendo cortado fora com uma
espada, e agora, com a cabeça rolando no
chão e a rote e os glazes parecendo ainda
vivos, o plote do soldado simplesmente corria
à solta, crovando pelo pescoço como uma
fonte, e depois caía, e o tempo todo se
ouviam fortes gargalhadas dos japoneses. As
dores que eu sentia agora na barriga, a dor
de cabeça e a sede eram terríveis, e parecia
estar tudo saindo da tela. Então eu critchei:
- Parem o filme! Por favor, parem! Eu
não agüento mais. - E aí, a golosse do Dr.
Brosdsky falou:
- Parar? Você diz parar? Ora, nós mal
começamos. E ele e os outros esmecaram
muito alto.
222/412
Capítulo 5
Não quero descrever, irmãos, que outras
terríveis véssiches eu fui forçado a videar
naquela tarde. As cuquinhas assim do Dr.
Brodsky e do Dr. Brannon e dos outros de
avental branco, e lembrem-se que tinha a
devótcheca mexendo com os botõezinhos e
observando os medidores, deviam ser mais
quelentas e sórdidas do que a de qualquer
prestúpnique da própria Prisesta. Porque eu
não pensava que fosse possível veque nenhum
sequer pensar em filmar as coisas que
eu estava sendo forçado a videar, todo amarrado
naquela cadeira e com os glazes abertos
à força. A única coisa que eu podia fazer era
critchar muito gronque pra eles desligarem,
e isso assim em parte abafado pelo ruído das
dratsas e das traquinagens e pela música que
acompanhava tudo.
Vocês podem imaginar que foi assim um
alívio terrível quando eu videei o último
trecho de filme e o tal Dr.
Brodsky disse, numa golosse assim de bocejo
e tédio: - Acho que isso já basta para o
Dia Um, não, Brannon? - E lá estava eu, as
luzes acesas, meu gúliver latejando como
uma bolche máquina de fazer dor e minha
rote toda seca e quelenta por dentro e sentindo
que poderia assim vomitar cada pedacinho
de píchetcha que eu já tinha comido
assim desde o dia em que comecei a ser amamentado,
ó meus irmãos. - Muito bem - disse
o tal Dr. Brodsky -, podem levar ele de volta
pra cama.
Depois me deu palmadinhas assim no
pletcho e falou: - Muito bom, muito bom.
Um começo muito promissor - sorrindo com
o litso inteiro, e aí saiu caminhando que nem
um peru, o Dr. Brannon atrás dele, mas o Dr.
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Brannon me deu um sorriso assim do tipo
drugue e solidário, como se não tivesse nada
a ver com aquela véssiche toda, mas fosse assim
forçado a estar naquilo como eu estava.
Bom, seja lá como for, eles livraram o
meu plote da cadeira e desprenderam a pele
acima dos meus glazes de modo que eu podia
abrir e fechar de novo, e eu fechei, ó meus
irmãos, com a dor e o latejamento do meu
gúliver, e aí eu fui assim carregado pra cadeira
de rodas e levado de volta ao meu
malenque quarto de dormir, o subveque que
me empurrava cantando uma merda duma
música pop qual-quer, de modo que eu rosnei
"para com isso", mas ele só esmecou e
disse "deixa pra lá, amigo", e ai cantou mais
alto. Então eu fui recolocado na cama e ainda
me sentia bolnói, mas não conseguia dormir,
mas logo eu comecei a sentir que logo eu podia
começar a sentir que ia logo me sentir
um malenquezinho melhor, e aí me trouxeram
um gostoso tchai quente com muito
225/412
moloco e sácar e, pitando, eu sabia que
aquele horrível pesadelo já estava no passado
e acabou-se.
E então o Dr. Brannon entrou, todo
agradável e sorridente. Ele disse:
- Muito bem, pelos meus cálculos você já
deve estar se sentindo melhor de novo. Não?
- Doutor - disse eu assim desconfiado. Eu
não copetava aonde é que ele queria chegar,
govoritando de cálculos, achando que melhorar
de se sentir bolnói e assim problema
seu e que não tem nada a ver com cálculos.
Ele sentou, todo agradável e drugue, na beira
da minha cama e falou:
- O Dr. Brodsky está satisfeito com você.
Você teve uma reação muito positiva. Amanhã,
naturalmente, vai haver duas sessões, de
manhã e à tarde, e eu imagino que você vai
estar se sentindo um pouco mole no fim do
dia. Mas nós temos que ser duros com você,
você precisa ser curado. - Eu disse:
226/412
- Quer dizer que eu vou ter que ficar sentado...?
Quer dizer que eu vou ter que ficar
vendo...? Ah, não - disse eu -, foi horrível!
- Claro que foi horrível - sorriu o Dr.
Brannon. - A violência é uma coisa muito
horrível. É isto o que você está aprendendo.
O seu corpo está aprendendo isso.
- Mas - disse eu - eu não compreendo.
Não compreendo como foi que eu me senti
enjoado daquele jeito.
Nunca me senti enjoado antes. Eu costumava
sentir exatamente o contrário. Quer
dizer, fazendo ou vendo fazer eu me sentia
muito horrorshow. Eu simplesmente não
compreendo por que, ou como, ou o que...
- A vida é uma coisa maravilhosa - disse o
Dr. Brannon numa golosse assim muito
beata. - Os processos da vida, a estrutura do
organismo humano, quem pode compreender
inteiramente esses milagres? O Dr.
Brodsky naturalmente é um homem notável.
O que está lhe acontecendo é o que tem que
227/412
acontecer com qualquer organismo humano
normal, contemplando os atos das forças do
mal, os feitos do princípio da destruição.
Você está sendo transformado em são,
você está ficando sadio.
- Isso eu não aceito - disse eu - nem posso
absolutamente compreender. O que vocês
fizeram foi deixar me sentindo muito, muito
doente.
- E, agora, você está se sentindo doente? -
disse ele sempre com o sorriso drugue no
litso. - Tomando chá, descansando, batendo
um papo tranqüilo com um amigo. Garanto
que você só pode estar se sentindo bem.
Eu assim escutei e fiquei procurando ver
se sentia alguma dor ou enjôo, no gúliver ou
no plote, com um jeito assim cauteloso, mas
era verdade, irmãos, que eu estava me sentindo
muito horrorshow e até querendo meu
jantar.
- Não entendo - disse eu. - Vocês devem
estar fazendo alguma coisa comigo pra que
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eu me sinta doente. - E fiquei assim meio
franzindo a testa, pensando naquilo.
- Você se sentiu mal esta tarde - disse ele
- porque você está melhorando. Quando se
está com saúde, reage-se à presença do
odioso com medo e náusea. Você está ficando
bom. Amanhã, por essa hora, você vai
estar melhor ainda. - Aí, ele deu uns tapinhas
no meu noga e saiu e eu tentei destrinchar a
véssiche toda da melhor maneira possível. O
que me parecia era que os fios e outras véssiches
que ficavam presas no meu plote
talvez estivessem me fazendo sentir mal e
que na realidade era tudo um truque. Eu
ainda estava destrinchando isso tudo e
pensando se devia ou não me recusar a ser
arreado amanhã àquela cadeira e mesmo
começar a dratsar com todos eles - porque eu
tinha os meus direitos, quando outro tcheloveque
entrou pra me videar. Era assim um
veque estarre e sorridente que disse ser o que
chamava de Encarregado das Solturas, e
229/412
carregava um monte de pedaços de papel
com ele. Ele disse:
Para onde é que você vai quando sair daqui?
Eu realmente ainda não tinha pensado
nesse tipo de véssiche e só agora começava a
me luzir que eu ia ser um bom maltchique
livre muito em breve e então eu videei que
isso só iria ser se eu fizesse o jogo de todo
mundo e não começasse a dratsar e a
critchar, a me recusar e assim por diante. Eu
disse:
- Ah, eu vou pra casa. De volta pra meu
pê e eme.
- Seu...? - Ele não entendia nada de gíria
nadsat, então eu disse:
- Meus pais, no meu querido prédio.
- Ah, sim - disse ele. E quando você recebeu
a última visita dos seus pais?
- Um mês - disse eu - mais ou menos.
Suspenderam o dia de visita por uns tempos,
por causa de um prestúpinique que recebeu
um pacote de pólvora que a ptitsa dele
230/412
conseguiu enfiar pelo arame. Um golpe
muito quelento que deram em cima dos inocentes,
assim castigando eles também. Portanto,
faz um mês mais ou menos que eu tive
visita.
- Ah, sei - disse o tal veque. - E seus pais
foran informados da sua transferência e da
sua soltura iminente: Aquilo tinha um esvuque
muito bonito, lá isso tinha, aquele eslovo
Soltura. Eu falei:
- Não. Vai ser uma surpresa agradável
pra eles essa não vai? Eu, entrando pela
porta adentro dizendo: "Cá estou de volta, e
um veque livre novamente!" É, vai ser muito
horrorshow.
- Certo - disse o veque encarregado de
solturas. - Vamos ficar por aqui. Desde que
você tenha onde morar...
Agora, há a questão de você ter um
emprego, não é? - E me mostrou aquela
longa lista de empregos que eu podi. arranjar,
mas eu pensava: Bom, vai ter muito
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tempo pra isso. Primeiro umas boas férias
malenques. Eu podia fazer um serviço de
crastar assim que saísse e encher os cármans
de tutu, mas eu ia ter que ser muito cauteloso
e ia ter que fazer o serviço no meu
odinoque. Eu não confiava mais nos chamados
drugues. Então eu disse ao tal veque pra
deixar isso de lado um pouco, a gente ia govoritar
de novo a respeito. Ele disse certo,
certo, certo e se preparou pra sair. Ele
demonstrou ser um veque muito esquisito,
porque, agora, o que ele estava fazendo era
dar uma risadinha, e aí disse: - Você gostaria
de me dar um soco na cara, antes de eu ir
embora? - Eu achei que não era possível que
eu tivesse esluchado direito, então falei:
- Ahn?
- Você - ele deu uma risadinha - gostaria
de me dar um soco na cara, antes de eu ir
embora? - Eu franzi assim a testa, muito intrigado
e disse:
- Porquê?
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- Ah - disse ele-, só pra saber como é que
você vai indo. - E chegou o litso até bem
perto, um riso gordo na rote. Aí eu levantei o
punho e mandei direto ao litso dele, mas ele
se desviou muito escorre e o meu rúquer deu
um soco no ar. Muito esquisito que isso era,
e eu franzia a testa enquanto ele saía, esmecando
de arrebentar. E então, meus
irmãos, eu me senti enjoado de novo, justo
como durante a tarde, mas só umas duas
minutas. E aí passou escorre e, quando me
trouxeram o jantar, eu descobri que estava
com muito apetite e pronto pra mastigar a
galinha assada. Mas era engraçado aquele
tcheloveque estarre pedir um toltchoque no
litso. E era engraçado me sentir enjoado
daquele jeito.
O que foi mais engraçado ainda foi
quando eu fui dormir naquela noite, ó meus
irmãos. Eu tive um pesadelo e foi, como vocês
devem imaginar, com um daqueles filmezinhos
que eu tinha videado durante a
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tarde. Um sonho ou um pesadelo, na realidade
é só assim um filme dentro do gúliver, só
que a gente pode entrar e tomar parte nele.
Foi o pesadelo de um daqueles filminhos que
me mostraram assim perto do final da tarde,
o dos maltchiques que esmecavam fazendo
de ultraviolentos em cima de uma ptitsa
jovem que critchava em crove vermelho vermelho,
as pletes todas rasrezadas muito horrorshow.
Eu estava nessa brincadeira esmecando
e sendo assim o chefe do círculo,
vestido no rigor da moda nadsat. E então, no
auge de toda essa dratsa e de todo esse
toltchoque, eu me senti assim paralisado e
com muita vontade de vomitar, e todos os
outros maltchiques deram um gronque esmeque
à minha custa. Aí eu já estava dratsando
pra ver se acordava, no meio do meu
próprio crove, aos litros, baldes e tanques, e
aí me vi na minha cama, neste quarto. Estava
com vontade de vomitar, então saí da cama
todo trêmulo, querendo sair pelo corredor
234/412
afora até o dabliucê. Mas contemplai,
irmãos, a porta estava fechada. E me
voltando, eu vi pela primeira vez que havia
grades nas janelas. E então, enquanto eu
catava assim o penico no armário malenque
ao lado da cama, eu videei que não ia ter
como escapar daquilo tudo. Pior ainda, eu
não tinha coragem de botar o gúliver pra
dormir de novo.
Logo logo eu descobri que não queria
vomitar nada, mas estava pugle de voltar pra
cama e dormir. Mas bem depressa eu ferrei
no sono e não sonhei mais.
235/412
Capítulo 6
- Pára, pára, pára! - continuava eu gritando.
- Desliga isso, seus gréjines putos, que
eu não agüento mais!
- Era no dia seguinte, irmãos, e eu tinha
verdadeiramente feito todo o possível de
manhã e de tarde pra fazer o que eles queriam
e ficar sentado como um bom maltchique
sorridente, cooperador, na cadeira de tortura,
enquanto eles projetavam horríveis
trechos de ultraviolência na tela, meus glazes
grampeados pra ficarem abertos e videar
tudo, meu plote, rúqueres e nogas presos à
cadeira pra eu não poder fugir. O que me estava
fazendo videar agora era uma véssiche
que eu não teria achado tão má antes, que
eram só três ou quatro maltchiques
crastando uma loja e enchendo os cármans
de cortador e ao mesmo tempo traquinando
com a ptitsa velha dona da loja que crithcava,
toltchocando ela e fazendo o crove vermelho
vermelho escorrer. Mas o latejar e assim
o tuque tuque tuque dentro do meu
gúliver e a vontade de vomitar e a sede terrível,
que deixava a minha rote como se fosse
uma lixa, tudo estava pior do que ontem. -
Ai, já chega - gritei
-,isso não é justo, seus merdas vonentos!
- e tentei sair da cadeira, mas não era possível,
eu estava como que encravado.
- De primeira ordem - critchou o tal Dr.
Brodsky. - Você vai indo muito bem. Só mais
um e acabamos.
O que vinha agora era a estarre guerra de
39-45 de novo, e era um filme cheio de bolhas,
riscos e rachaduras que se videava, que
tinha sido feito pelos alemães. Abria com
águias alemãs e a bandeira nazista com
aquela cruz assim torta que todos os
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maltchiques de escola gostam de desenhar, e
aí tinha assim uns oficiais alemães muito insolentes
e nadmenhes, andando em ruas que
eram só poeira e buracos de bomba e edifícios
destroçados. Ai, me davam o direito de
videar líudes sendo fuziladas de encontro às
paredes; oficiais dando as ordens e também
horríveis plotes nagóis abandonados em sarjetas,
todos como se fossem gaiolas de
costelas secas e nogas brancas e finas. Depois
tinha iludes sendo arrastadas e critchando,
se bem que não na trilha sonora, meus
irmãos, que o único som era a musica, e
sendo toltchocadas. Então eu notei, em meio
a toda a minha dor e náusea, qual era a
música que fazia paratimbuni na trilha sonora,
e era Ludwig van, o último movimento
da Quinta Sinfonia, e com essa, eu critchei
que nem bezumine: - Parem, seus grandes
merdas nojentos! É um pecado, isso é o que
é, um pecado nojento e sem perdão, seus
brétchenes! - Eles não pararam logo, porque
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só faltavam um ou dois minutos pra terminar
-
Líudes sendo espancadas e todas em
crove, e depois mais pelotões de fuzilamento,
depois a velha bandeira nazista, e depois,
FIM. Mas quando as luzes se acenderam no
final, o tal Dr. Brodsky e também o Dr. Brannon
estavam de pé na minha frente, e o Dr.
Brodsky dizia:
- Que negócio foi esse de pecado, hein?
- Aquilo - disse eu, muito enjoado. - Usar
Ludwig van daquele jeito. Ele nunca fez mal
a ninguém. Beethoven só fazia escrever
música - e aí eu fiquei realmente enjoa-do e
tiveram que trazer um balde que tinha assim
a forma de um rim.
- Música - disse o Dr. Brodsky como que
divagando. - Então você é chegado a
música... Eu, disso, não entendo nada. E um
estimulante emocional muito útil, é tudo o
que eu sei. Ora, ora. O que é que você acha
disso, hein, Brannon?
239/412
- E inevitável - disse o Dr. Brannon. -
Cada um mata aquilo que ama, como disse o
poeta-prisioneiro. Eis aí talvez o elemento de
punição. O Diretor vai ficar contente.
- Me dêem alguma coisa pra beber - disse
eu - pelo amor de Deus.
- Soltem ele - ordenou o Dr. Brodsky. -
Alguém vai buscar uma garrafa de água gelada.
– Aí então, aqueles subveques puseram
mãos à obra e logo eu estava pitando galões e
galões de água e era assim o céu, ó meus
irmãos. O Dr. Brodsky disse:
- Você me parece um jovem suficientemente
inteligente. Parece também não ser
desprovido de gosto. Você só tem essa coisa
de violência, não é? Violência e roubo, sendo
o roubo um aspecto da violência. - Eu não
govoritei nem um eslovo, irmãos. Eu ainda
estava me sentindo enjoado, se bem que
agora melhorando um malenquinho. Mas o
dia tinha sido terrível. - Mas, então - disse o
Dr. Brodsky -, como é que você acha que isso
240/412
é feito? Diga o que é que você acha que nós
estamos fazendo com você?
- Vocês estão me fazendo ficar doente, eu
fico doente quando vejo esses imundos
filmes de perversão que vocês têm. Mas não
são realmente os filmes que estão fazendo
esse efeito. Mas acho que se vocês pararem
com esses filmes, eu paro de me sentir
doente.
- Certo - disse o Dr. Brodsky. - É associação,
o método educacional mais antigo do
mundo. E o que realmente faz com que você
se sinta doente?
- Essas gréjines vésiches de merda que
saem do meu gúliver e do meu plote - disse
eu. - É isso.
- Pitoresco - disse o Dr. Brodsky assim
sorrindo - o dialeto da tribo. Você sabe alguma
coisa a respeito de sua procedência,
Brannon?
- Fragmentos avulsos de antiga gíria
rimada - disse o Dr. Brannon, que não
241/412
parecia mais amigo -, um pouco de gíria cigana,
também. Mas a maior parte das raízes
é eslava. Propaganda. Penetração
subliminar.
- Tá bom, tá bom, tá bom - disse o Dr.
Brodsky assim impaciente e não mais interessado.
- Pois bem - disse ele pra mim -,
não são os fios. Não tem nada a ver com o
que fica preso a você. Aquilo é só para medir
as suas reações. O que é, então?
Eu videei então, é claro, que chute
bezúmine que eu era de não perceber que
eram as injeções no rúquer. - Ah - critchei eu
-, agora eu estou videando tudo. Um macete
sujo, quelento e vonento. Um ato de traição,
seu merda, e não vai fazer de novo.
- Estimo muito que tenha levantado as
suas objeções - disse o Dr. Brodsky. - Agora
podemos deixar tudo às claras. Nós podemos
enfiar esse negócio do Ludovico no seu organismo
de muitas maneiras diferentes. Por
via oral, por exemplo. Mas a via subcutânea é
242/412
a melhor. Não lute contra isso, por favor.
Não adianta lutar.
Você não pode levar a melhor contra nós.
- Gréjines brétchenes - disse eu assim
meio choramingando. Ai eu disse: - Eu não
me importo com a ultraviolência e essa quel
toda. Até ai, eu agüento. Mas isso não se faz
com a música. Não é justo que eu me sinta
mal seluchando o lindo Ludwig van e G. F.
Handel e outros. E isso mostra que vocês são
um bando perverso de filhos da puta e eu
nunca vou perdoar vocês por isso, seus
merdas.
Pareceram ambos muito pensativos. Aí o
Dr. Brodsky disse: - A delimitação é sempre
muito difícil. O mundo é um, a vida é uma.
As atividades mais doces e celestiais compartilham
da violência em alguma medida - o
ato do amor, por exemplo; a música, por exemplo.
Você tem que correr o risco, rapaz. A
opção foi inteiramente sua. - Eu não entendi
esses eslovos todos, mas agora eu dizia:
243/412
- Os senhores não precisam levar a coisa
diante, doutores. - Eu tinha mudado a cantilena
um malenquezinho, à minha maneira
astuta. - Os senhores me provaram que tudo
isso de dratsa e ultraviolência e matança é
errado. errado, terrivelmente errado. Eu
aprendi a minha lição, meus senhores. Vejo
agora o que nunca tinha visto antes. Estou
curado, graças a Deus. - E levantei os glazes
de um jeito bem santo para o teto. Mas ambos
aqueles doutores acudiram os gulíveres
assim com tristeza e o Dr. Brodskv disse:
- Você ainda não está curado. Ainda falta
fazer muita coisa. Só quando o seu corpo reagir
pronta e violentamente à violência como
a uma cobra, sem mais ajuda nossa, sem
medicação, só então... - Eu disse:
- Mas doutor, doutores, eu vejo que é errado.
É errado porque é assim contra a sociedade,
é errado porque cada veque na
Terra tem o direito de viver e ser feliz sem
ser espancado, e toltchocado e esfaqueado.
244/412
Eu aprendi muito, mas aprendi mesmo. -
Mas o Dr. Brodsky deu um esmeque alto e
longo com isso, mostrando os zubes brancos,
e disse:
- A heresia de uma idade da razão - ou
uns eslovos assim. - Eu vejo o que é certo e
eu o aprovo, mas faço o que é errado. Não,
não, meu rapaz, você tem que deixar isso
tudo por nossa conta. Mas enfrente isso com
ânimo. Vai acabar depressa. Em menos de
uma quinzena você vai ser um homem livre.
- E ai me deu uns tapinhas no pletcho.
Menos de uma quinzena. Ó meus irmãos
e amigos, era assim uma vida. Era assim do
começo do mundo até o fim. Terminar os
quatorze anos na Prisesta, sem indulto, não
teria sido nada perto disto. Todo o dia era a
mesma coisa. Quando a devótcheca da
seringa foi chegando, no entanto, quatro dias
depois desse govorite com o Dr. Brodsky e o
Dr. Brannon, eu disse: - Ah, não vai não
245/412
- e dei-lhe um toltchoque no rúquer e a
seringa foi plinque plaque no chão. Era assim
pra videar o que é que eles iam fazer. O
que eles fizeram foi arranjar quatro ou cinco
bolches filhos da puta de uns subveques de
avental branco pra me segurar na cama, me
toltchocando com os litsos sorridentes bem
perto do meu, e ai a ptitsa enfermeira disse: -
Seu diabinho travesso e mauzinho
- enquanto picava o meu rúquer com
outra seringa e esguichava aquele troço pra
dentro de um jeito brutal e maldoso. E depois
me levaram na cadeira assim exausto
praquele cineminha do inferno, como antes.
Todo dia, meus irmãos, aquelas fitas eram
assim a mesma coisa, tudo cheio de pontapés
e toltchoques e crove vermelho vermelho
pingando de litsos e plotes e espirrando em
cima da objetiva da câmara. Eram geralmente
maltchiques que sorriam e esmecavam
vestidos no rigor da última moda
nadsat ou então torturadores japoneses
246/412
tihihihihi, ou brutais chutadores e fuziladores
nazistas. E cada dia o sentimento de
querer morrer com o enjôo, as dores no
gúliver e as dores nos zubes e a sede horrível,
tudo ficava realmente pior. Até que, uma
manhã, eu tentei derrotar os filhos da puta
dando tuque tuque tuque com o gúliver na
parede pra me toltchocar até ficar inconsciente
mas tudo o que aconteceu foi que eu
fiquei enjoado videando que essa espécie de
violência era como a violência dos filmes, então
só fiquei exausto e me deram a injeção e
fui levado na cadeira de rodas como antes.
E então chegou a manhã em que eu
acordei e comi o meu pequeno almoço de ovos,
torrada e geléia e techai com leite muito
quente e aí pensei: "Agora não deve faltar
muito. Agora já deve estar perto do fim do
prazo.
Eu tenho sofrido o cúmulo e não posso
sofrer mais." E esperei e esperei, irmãos, por
aquela ptitsa enfermeira trazendo a seringa,
247/412
mas ela não veio. E aí, o subveque de avental
branco chegou e disse:
- Hoje, amigo, vamos deixar você
caminhar.
- Caminhar? - disse eu. - Pra onde?
- O lugar de costume - disse ele. - É, é,
não fique assim tão espantado. Você vai caminhar
até o cinema, eu junto, naturalmente.
Você não vai mais ser carregado de cadeira
de rodas.
- Mas - disse eu - e a minha horrenda injeção
matinal? - Porque eu estava realmente
surpreso com aquilo, irmãos, estando eles
tão empenhados em enfiar aquele véssiche
do Ludovico dentro de mim, como eles
diziam.
- Não vão mais espetar aquele troço
doente no meu pobre rúquer sofredor?
- Acabou - disse o veque assim rindo. -
Para todo sempre amém. Agora é com você,
moço. Caminhando para câmara dos
horrores e tudo. Mas você ainda vai ser
248/412
arreado e forçado a ver. Então, vamos, meu
tigrezinho. - E eu tive de botar o meu
chambre e as tuflas e percorrer o corredor
assim pro méssito do cinema.
Bom, dessa vez, ó meus irmãos, eu não
estava apenas muito enjoado, mas muito intrigado.
Lá estava de novo toda a ultraviolência
e os veques com os gúlivers esmagados e
abertos, ptitsas pingando crove e critchando
por misericórdia, assim as traquinagens e
brutalidades privadas e individuais. Depois
teve os campos de concentração e os judeus,
e assim as cinzentas ruas do estrangeiro
cheias de tanques e uniformes e veques
tombando sob o fogo fosco dos fuzis, sendo
esse o aspecto público da coisa. E daquela
vez eu não podia botar a culpa em coisa alguma
por estar enjoado e com sede e cheio
de dores, exceto que eu forçado a videar,
meus glazes ainda grampeados pra ficar
abertos e meus nogas e plotes presos à cadeira,
mas o jogo de fios e outras véssiches
249/412
não mais saindo do meu plote e do meu
gúliver. Então o que poderia ser se não os
filmes que eu estava videando que estavam
fazendo aquilo comigo? A menos naturalmente,
irmãos, que aquele troço do Ludovico
fosse assim como uma vacina - e lá estava ela
passeando pelo meu crove, de modo que eu
ia ficar sempre enjoado, para sempre e
sempre amém, sempre que videasse
qualquer ultraviolência dessas. Aí, fiquei
com boca de choro e fiz buuuuuuuu, e as lágrimas
assim embaçaram o que estavam me
forçando a videar, assim em bem-aventuradas,
fluidas e prateadas gotas de orvalho.
Mas aqueles brétchenes de avental branco vieram
escorre com seus tachetuques pra
limpar as lágrimas, dizendo: - Tu é, ti é, exe
minino tá munto solão...
- E ai tudo clareou novamente diante dos
meus glazes, aqueles alemães assim aguilhoando
judeus suplicantes e em prantos -
veques e tchinas e maltchiques e devótchecas
250/412
- pra dentro de méssitos onde iam todos dar
a pitada com gás venenoso. E tive que fazer
buuuuuuuu de novo e lá vieram eles me
limpar as lágrimas muito escorre, de jeito
que eu não perdesse nem uma única vessichezinha
do que eles estavam mostrando.
Foi um dia terrível e horrível, ó meus irmãos
e únicos amigos.
Eu estava deitado na cama naquela nótchi,
sozinho, depois do meu jantar, um suculento
guisado de carneiro, gordo e espesso e
torta de fruta e sorvete, e pensei comigo
mesmo: "Diabo, diabo, diabo, deve haver
uma chance d'eu sair agora." Mas eu não
tinha arma. Não me deixavam usar britva lá
e eu vinha sendo barbeado dia sim dia não
por um veque gordo e careca que vinha pra
perto de minha cama antes do pequeno almoço,
dois brétchenes de avental branco, de
plantão pra cuidar de que eu fosse um bom
maltchique não-violento. As unhas dos meus
rúqueres tinham sido cortadas e lixadas
251/412
muito rente, pra eu não poder arranhar. Mas
eu ainda era muito escorre no ataque, apesar
deles me terem enfraquecido, irmãos, até
virar uma sombra assim do que eu tinha sido
nos velhos dias de liberdade. Então me levantei
da cama e fui até à porta trancada e
comecei a punhar muito horrorshow e forte,
critchando ao mesmo tempo: - Ai, socorro,
socorro, eu estou doente, eu estou morrendo!
Doutor, doutor, doutor, depressa! Por favor!
Ai, eu vou morrer, eu vou sim! - Meu
gorlo estava seco e doendo mesmo, antes que
alguém chegasse. Aí, eu ouvi barulho de nogas
pelo corredor e assim uma golosse resmungando,
e eu reconheci a golosse do
veque que me trazia a píchetcha e assim me
escoltava à minha danação. Ele grunhiu:
- Que é? O que é que está havendo? Que
brincadeira safada é essa aí dentro?
- Ai, eu estou morrendo - gemi. - Ai, eu tô
com uma dor horrível aqui do lado. É apendicite.
Aaaai!
252/412
- Apenas sítios... - grunhiu ele e aí, para
minha alegria, irmãos, eu esluchei o tlenquezinho
de chaves. - Se você está pensando
em tentar, amiguinho, eu e meus amigos podemos
ficar surrando e chutando você a
noite inteira. - Então ele abriu a porta e deixou
entrar assim o doce ar da promessa da
minha liberdade. Bom. Eu estava assim atrás
da porta quando ele empurrou pra abrir e eu
pude videar ele na luz do corredor, me procurando,
intrigado. Ai eu levantei os meus
dois pulsinhos pra toltchocar ele feio no
pescoço e então, eu juro, enquanto eu via ele
antecipadamente caído gemendo ou duro
duro e sentia a alegria tomar conta das minhas
entranhas, foi ai que a náusea me subiu
como se fosse uma onda e eu senti um medo
horrível como se fosse realmente morrer. Eu
cambaleei assim pra cama fazendo ug ug, e o
veque, que não estava de avental branco,
mas de chambre, videou bem claro o que é
que eu tinha, porque disse:
253/412
- Muito bem, tudo serve de lição, não é?
Vivendo e aprendendo, como se diz. Vamos,
amiguinho, levante-se dessa cama e me bata.
Eu quero sim, realmente. Uma boa porrada
no meio do queixo. Ah, eu estou morrendo
de vontade, estou mesmo. - Mas tudo o que
eu conseguia fazer, irmãos, era ficar lá deitado,
soluçando, buuuuuuuuu.
- Escória - escarnecia agora o veque. -
Lixo. - E ele me puxou assim por trás da gola
do pijama e eu levei um bom toltchoque em
pleno litso. - Isto - disse ele - e por me tirar
da cama, sua imundiciezinha. - E limpou os
rúqueres um contra o outro e saiu, tloque
tloque, fez a chave na fechadura.
E o quê, meus irmãos...? Eu tinha que fugir
para o sono, daquilo que era o horrível e
errôneo sentimento de que era melhor levar
a pancada do que bater. Se aquele veque
tivesse ficado ali, eu era capaz assim de ter
oferecido a outra face.
254/412
Capítulo 7
Eu não podia acreditar, irmãos, no que
me diziam. Parecia que eu tinha estado
naquele méssito vonento desde sempre e que
ia ficar pra todo o sempre. Mas tinha mesmo
sido uma quinzena e agora me diziam que a
quinzena estava quase terminando. Diziam:
- Amanhã, amiguinho, fora, fora, fora. - E
faziam o velho gesto com o polegar, assim
apontando pra liberdade.
E aí, o veque de avental branco que tinha
me toltchocado e que ainda levava a minha
pichetcha e assim me escoltava para a tortura
diária, me disse:
- Mas você ainda tem um grande dia pela
frente. É o seu dia de passamento. - E com
essa deu um esmeque de escárnio.
Eu pensava que naquela manhã eu ia itar
como de hábito até o méssito do cineminha
de pijamas e tuflas e chambre. Mas não.
Naquela manhã me deram minha camisa e
minhas subvéssiches e minhas pletes de
noite e minhas botas de chutar horrorshow,
tudo lindo e lavado, ou passado ou polido. E
até me deram a minha britva de degolar, que
eu tinha usado naqueles dias felizes pra traquinar
de dratsar. Por isso eu franzi a testa,
intrigado com aquilo, enquanto me vestia,
mas o subveque de avental branco apenas
sorriu e não quis govoritar nada, ó meus
irmãos.
Fui levado muito cortesmente ao mesmo
méssito de sempre, mas lá havia mudanças.
Tinham puxado uma cortina na frente da
tela, e o vidro fosco sob os buracos da projeção
não estava mais lá, talvez tendo sido levantado
ou dobrado pros lados, como as persianas
ou biombos. E onde tinha havido
apenas o barulho de tosse,
256/412
quechequechequeche, e assim sombras de
líudes, estava agora uma verdadeira platéia,
e nessa platéia tinha litsos que eu conhecia.
Lá estavam o Diretor da Prisesta e o santo
homem, o carlitos ou charles como era chamado,
e o Tchasso-Chefe e aquele tcheloveque
muito importante e bem-vestido que
era o Ministro do Interior ou Inferior. Todo o
resto eu não conhecia. O Dr. Brodsky e o Dr.
Brannon estavam lá, se bem que não de
avental branco - e em lugar disso estavam
vestidos como os médicos devem se vestir, os
que são importantes bastante pra querer se
vestir no rigor da moda. O Dr. Brannon estava
apenas de pé, mas o Dr.
Brodsky estava de pé e govoritava assim
com ar muito doutor pra todas as líudes ali
reunidas. Quando ele me videou entrando
ele disse:
- Ah ha. Nesse ponto, senhores, apresentamos
o próprio elemento. Ele está,
como os senhores poderão notar, bem-
257/412
disposto e bem alimentado. Está chegando
diretamente de uma noite de sono e de um
bom desjejum, sem estar drogado e hipnotizado.
Amanhã vamos mandá-lo com toda
confiança de volta ao mundo novamente, um
moço tão direito quanto qualquer outro que
os senhores poderiam conhecer numa manhã
de maio, inclinado a dar uma palavra
bondosa e praticar um gesto útil. Que diferença
aqui está, senhores, do miserável desordeiro
que o Estado submeteu ao castigo
improfícuo há dois anos atrás. Sem ter
mudado, pergunto? Não exatamente.
A prisão lhe ensinou o sorriso falso, o esfregar
de mãos da hipocrisia, o olhar untuoso
e servil da bajulação.
Outros vícios lhe ensinou, ao mesmo
tempo que o confirmava nos que já havia
praticado antes. Mas, senhores, basta de palavras.
Ações falam mais alto. Ação agora.
Observem tudo.
258/412
Eu estava um pouco aturdido com aquela
govoritação toda e estava tentando
apreender mentalmente que tudo aquilo era
assim a meu respeito. Aí, todas as luzes se
apagaram e saíram assim dois refletores brilhando
dos buracos da projeção e um deles
estava em cheio sobre o Vosso Humilde e Sofrido
Narrador. E dentro do facho do outro
refletor estava um bolche tcheloveque que eu
nunca tinha visto antes. Tinha um rosto assim
sebento, bigode e assim fiapos de cabelo
emplastrados no gúliver quase careca. Tinha
cerca de trinta anos, ou quarenta ou cinqüenta,
uma idade assim estarre. Ele itou na
minha direção e o spotligh itou com ele, e
breve os dois spots tinham formado assim
uma grande poça. Ele me disse, muito
debochado:
- Como é que é, monte de lixo? Puh, você
não é muito chegado a um banho, do jeito
horroroso que você cheira... - Depois pisou
nos meus nogas, direito, esquerdo, depois
259/412
um beliscão no nariz com as unhas que deu
uma dor bezúmine e me encheu os glazes de
lágrimas, depois me torceu o uco esquerdo
feito botão de rádio.
Eu esluchava risotas e um par de ha ha
has horrorshow vindos da platéia. Meu nariz
e nogas e uco davam ferroadas e doíam assim
bezúmines, então eu disse:
- Por que é que você está fazendo isso
comigo? Eu nunca lhe fiz mal nenhum,
irmão.
- Ah - disse o tal veque -, eu faço isso
(nhoquetenhoque, torcida no nariz) e isso
(torcida no buraco do ouvido) e mais isso
(pisada feia no pé direito), porque não vou
com a sua cara nojenta. E se você vai fazer alguma
coisa, começa, por favor, começa.
Agora eu percebia que tinha que ser
muito escorre e sacar a minha britva de degolar
antes que aquela horrível doença assassina
subisse zunindo e transformasse assim a
alegria da batalha na sensação de que eu ia
260/412
dar a pitada. Mas, ó irmãos, enquanto a
minha mão ia pra britva, no meu bolso interno,
eu vi assim aquela cena, com os olhos da
mente, aquele tcheloveque insultuoso
uivando por misericórdia com o crove vermelho
vermelho todo escorrendo da sua rote,
e logo em cima desse quadro, a náusea, a secura
e as dores vieram correndo pra me alcançar
e eu videei que tinha de mudar os
meus sentimentos em relação àquele veque
sórdido realmente escorre, então apalpei os
cármans procurando cigarros ou dinheiro e,
ó meus irmãos, não tinha nenhuma dessas
duas véssiches. Eu disse assim todo lamuriento
e choramingas:
- Eu queria lhe dar um cigarro, irmão,
mas não tenho nem um. - O veque fez: - Ha
ha, buuuuuuuuuu. Chora, neném. - Aí,
nhoquetenhoque de novo com a unha bolche
que nem um chifre no meu nariz e eu esluchava
assim esmeques altíssimos de euforia
vindos da platéia às escuras. Eu disse,
261/412
desesperado mesmo, tentando ser agradável
àquele veque que me insultava e machucava,
para impedir que chegassem as dores e o
enjôo:
- Por favor, deixe eu fazer alguma coisa
pro senhor, por favor. - E eu tateava os cármans
mas só encontrei a minha britva de degolar,
então eu tirei ela pra fora, ofereci a ele
e disse: - Por favor, fique com isso, por favor.
Mas ele falou:
- Pode ficar com os seus fedorentos
presentinhos de suborno. Você não vai se livrar
de mim dessa maneira.
E deu uma porrada no meu braço e a
minha britva de degolar caiu no chão. Então
eu disse:
- Por favor, eu tenho que fazer alguma
coisa. Quer que eu limpe as suas botas? Olha,
eu vou me abaixar e lamber as suas botas. -
E, meus irmãos, acreditem ou lambam os
meus cherres, eu caí de joelhos e estiquei o
262/412
meu iázique milha e meia, pra lamber as
grejinentas vonentas botas dele.
Mas o tal veque só fez foi me dar um pontape
não muito forte na rote. Então me pareceu
que não provocaria enjôo nem dor se eu
agarrasse as canelas dele com os meus
rúqueres e desse com aquele gréjine
brétchene no chão. E foi o que eu fiz. Ele levou
uma bolche surpresa arriando ploft, debaixo
das gargalhadas fortes da platéia vonenta.
Mas, videando ele no chão, eu comecei
a sentir aquela sensação inteira me invadindo,
então dei-lhe o meu róquer pra ele
se levantar escorre e lá subiu ele. Aí, quando
ele ia me dar um toltchoque realmente feio e
forte no litso, o Dr. Brodsky falou:
- Está bom, até aí já basta. - Então o tal
veque sórdido fez uma espécie de curvatura e
saiu dançante como um ator, enquanto as
luzes se acendiam, eu piscando e fazendo
boca pra choramingar. O Dr. Brodsky disse
pra platéia: - O nosso elemento está,
263/412
compreendem, impelido para o bem, paradoxalmente,
por ser impelido para o mal. A
intenção de agir violentamente é acompanhada
por fortes sensações de mal-estar físico.
Para obstá-las, ele tem que mudar para uma
atitude diametralmente oposta. Alguma
pergunta?
- Opção - roncou uma golosse rica e profunda.
Eu videei que pertencia ao carlitos da
prisão. - Ele não tem realmente opção, tem?
O interesse pessoal, o medo da dor física
levaram a esse ato grotesco de auto-rebaixamento.
A sua insinceridade foi patente. Ele
deixa de ser um malfeitor. Mas cessa também
de ser uma criatura capaz de opção
moral.
- Isso são sutilezas - sorriu assim o Dr.
Brodsky. - Não estamos preocupados com
motivação, mas com ética superior. Estamos
apenas preocupados com refrear o cri-me...
264/412
- E - encaixou o tal Ministro bolche e
bem-vestido - aliviar o lúgubre congestionamento
das nossas prisões.
- Muito bem - disse alguém.
Então teve um bocado de govorite e discussão
e eu lá, completamente ignorado por
aqueles brétchenes ignorantles, então eu
critchei:
- Eu, eu, eu! E eu? Como é que eu fico no
meio disso tudo? Eu sou algum bicho, ou algum
cachorro? - E com isso eles começaram
a govoritar muito alto mesmo e atirando eslovos
em cima de mim. Então eu critchei
mais alto ainda, critchando: - Eu vou ser
como uma laranja mecânica? - Eu não sabia
o que me fazia usar esses eslovos, irmãos,
que simplesmente tinham entrado no meu
gúliver sem pedir licença. E isso, por algum
motivo, calou a boca daqueles veques, durante
uma minuta ou duas. Aí um tcheloveque
muito magro e estarre, com pinta de professor,
se levantou, o pescoço assim de cabos
265/412
elétricos, transmitindo assim a energia do
gúliver pro plote, e disse:
- Você não tem razão nenhuma para ranzinzar,
rapaz. Você fez a sua escolha e isto é
uma conseqüência da sua escolha. O que
quer que venha agora, foi o que você mesmo
escolheu. - E o carlitos da prisão critchou:
- Ah, se ao menos eu pudesse acreditar
nisso! - E a gente videava o Diretor dando
uma olhada pra ele assim querendo dizer
que ele não ia subir tão alto quanto estava
pensando dentro da Religião nas Prisões. Aí
a discussão inflamada recomeçou e eu esluchei
a palavra Amor sendo jogada de um
lado pro outro, o próprio charles critchando
que nem os outros que o Perfeito Amor Expulsa
o Nosso Medo e aquela quel toda. E aí,
o Dr. Brodsky falou, sorrindo com o litso
todo:
- Alegra-me, meus senhores, que a
questão do Amor tenha sido levantada. Veremos
agora uma forma de Amor que
266/412
acreditava-se ter morrido com a Idade Média.
E aí as luzes caíram e os spots acenderam
novamente, um sobre o vosso pobre e
sofrido Amigo e Narrador, e no centro do
facho do outro, rolava, ou deslizava a mais
linda jovem devótcheca que jamais se poderia
esperar videar na djísene, ó meus irmãos.
Quer dizer, tinha uns grudes muito horrorshow
e se podia videar assim todinhos, que
ela usava pletes que iam descendo, descendo,
descendo dos pletchos. E seus nogas eram
Bog no Céu e ela caminhava assim de fazer
roncar as quíchecas, e no entanto o seu litso
era assim doce, sorridente e jovem. Ela veio
em minha direção junto com a luz como se
fosse assim a luz da graça celestial e essa
quel toda vindo junto com ela, e a primeira
coisa que relampejou no meu gúliver foi que
eu queria ter ela ali mesmo, no chão, fazendo
entra-sai-entra-sai muito selvagem, mas
escorre como um tiro me veio o enjôo, assim
como um detetive que tivesse ficado
267/412
espiando atrás da esquina e agora partisse
pra fazer a sua gréjine captura. Agora, o vone
do lindo perfume que estava nela me fazia
assim querer pensar em revirar as minhas
quíchecas, então eu tive de pensar assim um
novo modo de pensar nela, antes que a dor e
a sede e a horrível náusea tomassem conta
de mim horrorshow mesmo, de verdade. Aí,
eu critchei:
- O tu, a mais bela e formosa das
devótchecas, eu assim jogo o meu coração a
teus pés pra assim sapatear em cima. Se eu
tivesse uma rosa, uma rosa te daria. Se estivesse
tudo chuvoso e o chão estivesse
quelento, eu te daria as minhas pletes para
andar em cima, para não cobrires tuas nogas
graciosas de sujeira e quel. - E enquanto dizia
isso sentia o enjôo ir assim sumindo. -
Deixa-me - critchci eu - adorar-te e ser assim
teu auxílio e proteção assim contra o mundo
malvado. - Aí, eu encontrei o eslovo certo e
por isso melhorei, dizendo: -
268/412
Deixa-me ser o teu fiel cavalheiro. - E lá
fui eu de novo assim lá pra baixo de joelhos,
me curvando e ralando a língua.
E aí me senti realmente chute e tapado,
porque tinha sido assim de novo uma representação,
porque a tal devótcheca sorriu e fez
uma mesura assim pra platéia e saiu assim
dançante, as luzes voltando com um
aplausozinho.
E os glazes de alguns daqueles veques estarres
da platéia estavam assim pulando fora
com a jovem devótcheca, de desejo imundo e
profano, ó meus irmãos!
- Ele vai ser um verdadeiro cristão - estava
critchando o Dr. Brodsky -, pronto a
oferecer a outra face, a ser crucificado, ao invés
de crucificar, enojado até à alma ao
pensar em matar sequer uma mosca. - E isso
era verdade, irmãos, porque quando ele falou
aquilo de matar uma mosca eu senti um enjoozinho,
mas repeli o enjôo e a dor
pensando na mosca sendo alimentada a
269/412
torrões de açúcar e cuidado como uma porra
dum bicho de estimação e aquela quel toda. -
Redenção - critchou ele. - Alegria perante os
Anjos de Deus!
- O fato é - dizia o tal Ministro do Inferior,
muito gronque - que funciona.
- Ah - disse o carlitos da prisão assim suspirando
-, funciona mesmo, Deus que nos
ampare a todos!
270/412
Parte Três
Capítulo 1
- Qual vai ser o programa, hein?
Isso, meus irmãos, era eu me perguntando
na manhã seguinte, de pé, do lado de
fora daquele edifício branco que ficava assim
anexo à velha Prisesta, vestido com minhas
pletes noturnas de dois anos atrás, na luz
cinzenta da madrugada, com uma sacolinha
malenque contendo as minhas poucas véssiches
pessoais e um pouco de cortador bondosamente
doado pelas Autoridades vonentas
assim pra começar vida nova.
O resto do dia anterior tinha sido muito
cansativo, assim com entrevistas em fita pra
irem assim pras telenotícias e fotografias
sendo batidas, flash flash flash, e assim mais
demonstrações de eu me dobrando diante da
ultraviolência e toda aquela quel
constrangedora. E aí eu tinha assim caído na
cama e depois, que eu achava que tinha sido
assim, acordado pra me dizerem pra eu me
mandar, pra itar pra casa, que eles não
queriam videar o Vosso Humilde Narrador
nunca-jamais-em-tempo-algum, ó meus
irmãos. Portanto, lá estava eu, de manhã
cedinho, só com aquele pouquinho de tutu
no meu cárman esquerdo e que eu tilintava
pensando:
- Qual vai ser o programa, hein?
Comer alguma coisa em algum méssito,
pensava eu, que não tinha comido nada
naquela madrugada, os veques todos estando
muito ansiosos pra me toltchocar pra fora,
para a Liberdade. Uma tchacha de tchai era
tudo o que eu tinha pitado. Essa Prisesta
ficava numa parte muito sombria da cidade,
mas tinha uns botecos malenques de operários
por todo lado e logo eu achei um, meus
irmãos. Era muito quelento e vonento, com
uma lâmpada no teto cheia de cocô de mosca
273/412
escurecendo o pouco de luz, e tinha uns rabitadores
madrugadores chupando o seu tchai
e suas salsichas de péssima cara e fatias de
clebe que eles comiam como lobos, lobe lobe
lobe, e depois critchando e pedindo mais.
Eram servidos por uma devótcheca muito
quelenta mas que tinha uns grudes muito
boiches, e alguns dos veques que estavam
comendo tentavam agarrar ela fazendo ho ho
ho enquanto ela fazia hi hi hi, e ver isso
quase que me fez ficar enjoado, irmãos. Mas
pedi torradas e geléia e tchai, mui polidamente
e com a minha golosse de cavalheiro,
e depois sentei num canto escuro pra comer
e pitar.
Enquanto eu fazia isso, um veque anãozinho
malenque itou dentro, vendendo as gazetas
matutinas, um prestúpnique aleijado e
gréjine de óculos grossos de armação de aço,
as roupas assim da cor de pudim de groselha
podre, já muito velho. Eu cupetei uma gazeta,
que a minha intenção era tomar a
274/412
mergulhar na djisene normal, videando o
que era que estava itando no mundo. Essa
gazeta que eu comprei devia ser gazeta do
Governo, porque as únicas notícias que tinha
na primeira página era a respeito da
obrigação que tinham todos os veques de
botar o Governo de novo no poder nas próximas
Eleições Gerais, que pareciam ser daí a
umas duas ou três semanas. Tinha eslovos
muito ufanos sobre o que o Governo tinha
feito, irmãos, durante o último ano ou coisa
parecida, com aumento de exportações, e
uma política exterior muito horrorshow, e
melhoria nos serviços sociais e essa quel
toda. Mas o que o Governo estava realmente
mais ufano era o modo pelo qual eles
achavam que as ruas tinham se tomado mais
seguras para as líudes notívagas amantes da
paz, durante os últimos seis meses, com melhores
salários para a polícia, e a polícia ficando
assim mais dura para com os jovens desordeiros
e os pervertidos e os assaltantes e
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aquela quel toda. O que interessovatava ao
Vosso Humilde Narrador um bocado. E na
segunda página da gazeta tinha uma fotografia
borrada de alguém que parecia muito
meu conhecido, e que acabou não sendo
outro senão eu eu eu. Eu estava com um ar
sombrio e assustado, mas isso era com os
flashes fazendo pof pof pof sem parar. O que
dizia embaixo do meu retrato era que eis
aqui o primeiro diplomado pelo novo Instituto
Estatal de Recuperação de Tipos Criminosos,
curado dos seus instintos criminosos
em apenas uma quinzena, fazia hoje, e agora
um bom cidadão temente à lei e essa quel
toda. Então eu vi que tinha um artigo que
louvava muito a tal Técnica Ludovico, e
como o Governo era hábil e essa quel toda.
Depois tinha outro retrato de outro veque
que eu achei que conhecia e era o tal Ministro
do Inferior ou Interior. Parece que ele
tinha se gabado um bocado, antevendo uma
agradável era livre do crime, na qual não
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haveria mais o temor dos covardes ataques
dos jovens desordeiros, dos pervertidos e dos
assaltantes e essa quel toda. Aí eu fiz arghhhh
e joguei a tal gazeta no chão, de modo que
ela ficou toda manchada de tchai entornado
e horrendas escarradas dos animais quelentos
que freqüentavam aquele boteco.
- Qual vai ser o programa, hein?
O que ia ser em seguida, irmãos, era o
caminho de casa e uma agradável surpresa
pro papapá e pra mamã, o seu único filho e
herdeiro de volta ao seio da família. Então eu
ia poder deitar na cama do meu estudiozinho
malenque, esluchar linda música e ao mesmo
tempo poder refletir sobre o que era que eu
ia fazer da minha djísene. O Encarregado de
Solturas tinha me dado na véspera uma
longa relação de empregos que eu poderia
tentar e tinha telefonado pra uma porção de
veques a meu respeito, mas eu não tinha intenção,
meus irmãos, de sair pra rabitar logo
logo. Um malenquezinho de descanso
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primeiro, é, e uma pensada tranqüila na
cama, ao som de linda música.
Portanto, o ônibus pro Centro e depois o
ônibus pra Kingsley Avenue, que os apartamentos
do Bloco 18-A ficavam pertinho.
Vocês não vão acreditar, meus irmãos,
quando eu disser que o meu coração estava
toquetoquetoque assim com a excitação.
Estava tudo muito sossegado, sendo ainda
cedo em uma manhã de inverno, e quando
eu itei no vestíbulo não tinha nem um veque,
só os veques e tchinas nagóis da Dignidade
do Trabalho. O que me surpreendeu, irmãos,
foi o jeito que tinha sido limpo, não tendo
mais os balões com eslovos feios saindo das
rotes dos Dignos Operários e nenhuma das
partes escusas do corpo acrescentadas aos
seus plotes nus por maltchiques rabiscadores
de mentalidade porca. E o que também me
surpreendeu foi que o elevador estava funcionando.
Veio ronronando até embaixo
quando eu apertei o nopca elétrico e quando
278/412
eu entrei, fiquei surpreendido ao videar que
assim dentro da cabina estava limpo.
Portanto, lá subi eu pro décimo andar e lá
eu vi 1O-8 como era antes, e o meu rúquer
tremeu e sacudiu enquanto eu tirava do cárman
a clutchinha que eu tinha pra abrir a
porta. Mas enfiei firmemente a clutche na
fechadura e girei, abri e entrei e lá encontrei
três pares de glazinhos surpresos e quase assustados
olhando pra mim, e estavam pê e
eme comendo o desjejum, mas estava também
um outro veque que eu nunca tinha
videado antes na minha djísene, um veque
bolche e gordo, em mangas de camisa e suspensórios,
muito à vontade, irmãos,
chuchando o tchaizinho com leite e croquecroquecroque
no ovo com torrada. E foi esse
veque estranho quem falou primeiro
dizendo:
- Quem é você, amigo? Onde é que você
arranjou essa chave? Cai fora antes que eu te
279/412
amasse a cara. Sai lá pra fora e bate. Fala
qual é o caso, depressa.
Meu pai e minha mãe estavam sentados
assim petrificados e eu videava que eles
ainda não tinham lido a gazeta e aí eu me
lembrei que a gazeta não chegava antes de
papapá sair pro trabalho dele. Mas, aí, a mãe
disse:
- Ih! Você fugiu! Você escapou. O que é
que a gente vai fazer? A policia vai vir aqui,
ai ai ai ai ai. Ah, menino mau e perverso, envergonhando
a gente desse jeito! - E acreditem
ou lambam minhas cherres, ela
começou a fazer buuuuuu. Aí eu comecei a
tentar explicar, eles podiam telefonar pra
Prisesta se quisessem, e o tempo todo o
veque estranho ficou ali sentado franzindo a
testa e com ar de quem ia me amassar o litso
com o punho cabeludo, bolche e carnudo.
Então eu disse:
- E que tal você me responder um pouco,
irmão? O que é que você está fazendo aqui e
280/412
por quanto tempo? Eu não gostei do tom do
que você disse. Olha lá! Vamos, fala!
Era um veque com pinta de braçal, muito
feio, por volta de trinta ou quarenta, e agora
estava sentado com a rote aberta pra mim,
sem govoritar um único eslovo. Aí, meu pai
falou:
- Isso tudo é meio desconcertante, meu
filho. Você devia ter avisado a gente de que ia
chegar. Nós pensávamos que ainda iam se
passar uns cinco ou seis anos antes que eles
deixassem você sair. Não - e isso ele disse assim
muito sombrio - que não nos dê prazer
ver você de novo, e ainda mais livre...
- Quem é esse? - disse eu. - Por que é que
ele não fala? O que é que há aqui?
- Esse é o Joe - disse minha mãe. - Ele
mora aqui agora. O que ele é, é inquilino. Ai,
meu Deus, meu Deus, meu Deus.
- Você - disse o tal Joe. - Eu já soube de
tudo a seu respeito, moço. Eu sei o que você
fez, partindo o coração dos seus pobres pais
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aflitos. Então voltou, é? Voltou pra desgraçar
a vida deles de novo, é isso? Só se for por
cima do meu cadáver, porque eles me deixaram
ser mais um filho pra eles do que um
inquilino. - Eu quase especava alto com essa,
se o velho rasdraz dentro de mim não tivesse
começado a despertar a sensação de querer
vomitar, porque esse veque parecia ter a
mesma idade que o meu pê e eme, e lá estava
ele tentando botar um rúquer de filho protetor
em volta da minha mãe que chorava, ó
irmãos.
- Ah - disse eu, e eu me sentia perto de
cair em prantos também. - Ah, então é isso?
Bom, eu lhe dou cinco longos minutos pra
tirar todas as suas fétidas véssiches
quelentas do meu quarto. - E parti em
direção ao quarto, o veque sendo um
malenque lento demais pra me impedir.
Quando eu abri a porta, meu coração despencou
no tapete, porque eu videei que não
era mais absolutamente o meu quarto,
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irmãos. Todas as minhas bandeiras tinham
sumido das paredes e esse veque tinha
pregado retratos de lutadores de boxe e também
um time assim sentado descansando de
rúqueres cruzados e com um escudo assim
de prata na frente. E depois eu videei que
tudo o mais estava faltando. Meu estéreo e
meu armário de discos não estavam mais lá,
nem minha arca dos tesouros fechada, contendo
garrafas e duas seringas brilhando de
limpas. - Aqui teve alguma trama suja e vonenta
- critchei eu. - O que foi que você fez
com as minhas véssiches pessoais, seu
sacana nojento?
Isso era com o Joe, mas foi meu pai que
respondeu dizendo:
- Foi tudo levado, meu filho, pela polícia.
Essa nova lei, sabe, de compensação pras
vitimas.
Eu senti muita dificuldade em não ficar
muito doente, mas meu gúliver estava
doendo de atordoar, e minha rote estava tão
283/412
seca que eu tive de dar uma talagada escorre
na garrafa de leite em cima da mesa, e aí o
tal Joe disse: - Mal-educado como um porco.
- Eu falei:
- Mas ela morreu... Aquela mulher
morreu!
- Foram os gatos, meu filho - disse meu
pai assim penalizado -, que ficaram sem ninguém
pra dar de comer a eles, até a leitura
do testamento. Então a polícia vendeu as
suas roupas e tudo, pra ajudar a tomar conta
deles.
É a Lei, meu filho. Mas você nunca foi
muito de seguir a lei.
Aí eu tive de sentar e o tal Joe disse: -
Peça licença antes de sentar, seu porco maleducado
- e aí eu dei escorre o troco com um
"Fecha essa cloaca suja banhenta, seu..." sentindo
enjôo. Então tentei ser todo razoável e
sorridente, assim pro bem da minha saúde,
então eu disse:
284/412
- Puxa, esse é o meu quarto, não há como
negar. E é minha casa. Que sugestões vocês
têm a dar, meu pê e eme?
- Mas eles pareciam apenas muito
abatidos, minha mãe tremendo um pouco, o
litso cheio de rugas e assim molhado de lágrimas,
e ai meu pai disse:
- Nós precisamos pensar nisso tudo, meu
filho. A gente também não pode chutar o Joe
daqui pra fora assim sem mais nem menos,
pode? Quer dizer, o Joe está aqui fazendo um
negócio, quer dizer, um contrato, dois anos,
e a gente fez assim um acordo, não foi, Joe?
Quer dizer, meu filho, pensando que você ia
ficar na prisão muito tempo e aquele quarto
pedindo por isso... - Ele estava um pouco
envergonhado, videava-se isso no seu litso.
Então eu assim sorri, e concordei com a
cabeça, dizendo:
- Estou videando tudo. Vocês se acostumaram
com um pouco de paz, e vocês se
acostumaram com um pouco de gaita extra.
285/412
O negócio é assim mesmo. E o filho de vocês
não tem sido mais do que uma grande
maçada. -
E aí, meus irmãos, vocês acreditem ou
lambam meus cherres, eu comecei assim a
chorar, sentindo assim muita pena de mim
mesmo. Então meu pai disse:
- Bem, você sabe, o Joe já pagou o aluguel
adiantado, quer dizer, qualquer coisa que a
gente faça no futuro, a gente não pode dizer
ao Joe pra ele sair, pode Joe?
O tal Joe falou:
- É em vocês dois que eu tenho que
pensar, vocês foram uns pais pra mim. Seria
justo, ou certo, eu ir embora e deixar vocês
às tenras mercês desse jovem monstro que
foi tudo menos um filho de verdade? Agora
ele está chorando, mas isso são artimanhas.
Deixa ele ir embora e procurar um quarto em
outro lugar. Deixa ele aprender que o caminho
dele está errado e que um menino mau
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como ele tem sido não merece pai e mãe tão
bons como os que ele tem.
- Está certo - disse eu me levantando
ainda em prantos. - Ninguém me quer nem
gosta de mim. Eu sofri, sofri, sofri e todo
mundo quer que eu continue sofrendo. Já
sei.
- Você fez os outros sofrerem - disse o tal
Joe. - Não é mais do que normal que você sofra
bastante. Me contaram tudo que você fez,
eu sentado aqui na mesa da família, e foi
uma coisa muito chocante de se escutar.
Realmente enojado, muita coisa me
deixou.
- Eu queria - disse eu - voltar pra prisão.
Mesmo que fosse a Prisesta velha. Vou itar
fora agora - eu falei.
- Vocês não vão me videar mais. Eu vou
seguir o meu caminho, muito obrigado. E
que isso pese na consciência de vocês. - Meu
pai falou:
287/412
- Não leve a coisa assim, meu filho - e
minha mãe caiu no buuuuu, o litso apertado
feio mesmo, e o tal de Joe botou o rúquer em
volta dela de novo, batendo nas costas dela e
dizendo vamos vamos vamos que nem
bezúmine. E então eu saí meio cambaleando
em direção à porta e os deixei entregues à
sua horrível culpa, ó meus irmãos.
288/412
Capítulo 2
Itando pela rua abaixo, assim meio sem
objetivo, naquelas pletes noturnas que as
líudes ficavam assim olhando quando eu
passava, e frio, ainda por cima, que era um
dia de inverno filho da puta de frio, só o que
eu sentia era que queria era estar longe daquilo
tudo e não ter mais que pensar em vessichissima
nenhuma. Então peguei o ônibus
pro Centro e aí voltei a pé até Taylor Place, e
lá estava a discobutique MELODIA, que eu
costumava favorecer com o meu inestimável
patrocínio, ó meus irmãos, e parecia ser o
mesmo méssito de sempre e, entrando, eu
esperava videar lá o velho Andy, aquele
veque calvo e muito magro, aquele veque
atencioso de quem eu cupetava discos nos
velhos tempos. Mas não tinha mais o Andy
lá, irmãos, mas apenas o critche e o berro de
uns nadsats (quer dizer, adolescentes),
maltchiques e ptitsas esluchando uma nova
canção pop horrorosa qualquer e dançando
ao som dela também, e o veque atrás do balcão
não era muito mais do que um nadsat ele
também, estalando os ossos do rúquer e esmecando
que nem bezúmine.
Então eu cheguei perto e esperei até que
ele assim se dignasse a notar a minha
presença, e aí falei:
- Eu gostaria de ouvir uma gravação da
Quarenta de Mozart. - Não sei o que foi que
tinha me dado no gúliver, mas foi isso o que
eu fiz. O veque do balcão disse:
- Quarenta o quê, amigo?
Eu disse: - Sinfonia. Sinfonia número
quarenta em Sol Menor.
- Uhhhhh - fez um dos nadsats que estava
dançando, um maltchique com o cabelo todo
290/412
caído nos glazes. - Sem funil. Não é gozado?
Ele quer uma sem funil.
Eu sentia que estava ficando muito
rasdraz por dentro, mas eu tinha que me
cuidar, então eu sorri pro veque que tinha
ficado com a loja do Andy e pra todos os
nadsats que critchavam e dançavam. O
veque do balcão disse:
- Vai naquela cabina de audição ali,
amigo, que eu vou mandar um som pra lá.
Então eu fui pro boxe malenque onde se
podia esluchar os discos que queria comprar,
e aí o tal veque botou um disco pra mim, mas
não era a Quarenta de Mozart, mas a "de
Praga" de Mozart - aparentemente ele apanhou
qualquer Mozart que conseguiu encontrar
na estante - e isso devia me deixar realmente
rasdraz, e eu tinha que tomar cuidado,
de medo da dor e do enjôo, mas o que
eu tinha esquecido era alguma coisa que não
devia ter esquecido e que agora me fazia ter
vontade de dar a pitada. Era que aqueles
291/412
brétchenes doutores tinham aprontado as
coisas de tal modo que qualquer música que
mexesse com as emoções ia me fazer sentir
enjoado, tanto quanto videar ou querer fazer
violência. Era porque todos aqueles filmes de
violência tinham música. E me lembrava especialmente
daquele horrendo filme nazista
com a Quinta de Beethoven, último movimento.
E agora cá estava o lindo Mozart tornado
horrível. Eu disparei da loja, com
aqueles nadsats, esmecando atrás de mim e o
veque do balcão critchando: "Eh eh eh!" Mas
eu não dei importância e saí cambaleando,
assim quase cego, atravessei a rua e dobrei a
esquina em direção ao Leite-bar Korova. Eu
sabia o que queria.
O méssito estava quase vazio, sendo
ainda de manhã. E estava esquisito também,
tinha sido todo pintado de vacas vermelhas,
e por trás do balcão não tinha nenhum veque
que eu conhecesse. Mas quando eu disse
292/412
"Leite-com, grande," o veque de rosto
muito macilento, recém-barbeado, sabia o
que eu queria. Eu levei o moloco com grande
pra um dos pequenos cubículos que ficavam
a toda a volta do méssito, tendo assim cortinas
pra separar do méssito central, e lá sentei
na cadeira de pelúcia e beberiquei.
Quando acabei o troço todo comecei a achar
que as coisas estavam acontecendo. Eu estava
com os meus glazes fixos num pedacinho
malenque de papel prateado de maço
de cigarros que estava no chão, que a faxina
daquele méssito não era assim tão horrorshow,
irmãos. Aquele pedaço de papel
prateado começou a crescer, crescer e crescer
e ficou assim tão brilhante que eu tive de
apertar os glazes diante dele. Ficou tão
grande que não tomava apenas aquele
cubículo onde eu estava flanando, mas o
Korova inteiro, a rua inteira, a cidade inteira.
Depois era o mundo inteiro, depois era o
tudo inteiro, irmãos, e era como que um mar
293/412
lavando todas as véssiches jamais feitas ou
sequer pensadas. Eu como que esluchava a
mim mesmo fazendo uns chumos muito especiais
e govoritando eslovos como: "Caros
caros idolidros não decaiais em varimorfas
formas", e essa quel toda.
Depois eu podia sentir assim a visão
batendo de encontro àquela prata e então
havia cores que ninguém havia videado
antes, e então eu pude videar assim um
grupo de estátuas, muito muito ao longe, que
estava sendo empurrado assim cada vez mais
perto, mais perto, mais perto, todo iluminado
por uma luz muito brilhante que
vinha igualmente de cima e de baixo, ó meus
irmaos. Esse grupo de estátuas era de Deus
ou Bog e todos os Seus Anjos e Santos, todas
assim de bronze muito brilhante, de barbas e
com bolches asas que batiam assim numa espécie
de vento, de modo que não podiam ser
realmente de pedra ou bronze, realmente, e
assim os olhos ou glazes mexiam e eram
294/412
vivos. Essas bolches figuras chegaram mais
perto, mais perto, até que estavam assim
como se fossem me esmagar e eu podia esluchar
a minha golosse fazendo "liiiii". E
senti que tinha me livrado de tudo - pletes,
corpo, cérebro, nome, a tralha toda - e me
sentia muito horrorshow, como no céu.
Então houve o chume assim de esmigalhamento
e amarrotamento e Bog e os Anjos e
os Santos meio balançaram as cabeças como
que para govoritar que não dava tempo dessa
vez, mas que eu devia tentar de novo, e então
tudo assim escarneceu, esmecou e desapareceu
e a grande luz quente foi ficando fria, e aí
lá estava eu como antes, o copo vazio na
mesa e com vontade de chorar e sentindo
que a morte era a única solução pra tudo.
E era isso, era isso que eu videava claramente
ser o que eu tinha a fazer mas, como,
eu não sabia exatamente, ó meus irmãos, que
eu nunca tinha pensado nisso antes. Na
minha sacola de véssiches pessoais eu tinha
295/412
a minha britva de degolar, mas imediatamente
eu senti náusea ao pensar em mim
mesmo fazendo suisssshhhh e todo o meu
próprio crove vermelho vermelho correndo.
O que eu queria não era nada de violento,
mas alguma coisa que me fizesse dormir
suavemente e que isso fosse o fim do Vosso
Humilde Narrador, sem nunca mais dar trabalho
a ninguém. Talvez, pensei eu, se eu
itasse até à Bíblio Pública, dobrando a esquina,
eu encontrasse algum livro sobre a
melhor maneira de dar a pitada sem dor. Eu
me imaginei morto e como todo mundo ia
ficar com pena, pê e eme e aquele quelento e
vonento que era assim um usurpador, e o Dr.
Brodsky e o Dr. Brannon também, e o tal
Ministro do Interior Inferior e todos os outros
veques. E também o governo gabola e
vonento. Então eu me mandei pelo inverno
afora, e agora já era de tarde, por volta das
duas, eu estava videando no bolche relógio
do Centro, de modo que a minha viagem com
296/412
o moloco devia ter levado mais tempo do que
eu pensava. Desci o Marghanita Boulevard e
depois virei na Boothby Avenue, depois
dobrei a esquina de novo e lá estava a Biblio
Pública.
Era um méssito estarre e quelento, onde
eu não me lembrava de ter entrado desde
que era um maltchique muito muito
malenque, não mais de seis anos, e tinha
duas partes - uma parte pra emprestar livros
e outra pra ler, cheia de gazetas e revistas e
assim o vone de velhos muito estarres, com
os plotes fedendo assim a velhice e pobreza.
Esses estavam de pé perto dos cavaletes de
gazetas, a toda a volta da sala, fungando e arrotando
e govoritando sozinhos e virando as
páginas pra ler as notícias, com muita
tristeza, ou então estavam sentados às mesas,
lendo as revistas ou fingindo que estavam,
alguns deles dormindo e um ou dois
roncando gronque mesmo. De início, eu não
conseguia me lembrar o que era mesmo que
297/412
eu queria, depois me lembrei com um certo
choque que eu tinha itado lá pra descobrir
como dar a pitada sem dor, então eu gulhei
até a estante cheia de véssiches de referência.
Tinha uma porção de livros, mas nenhum
com títulos, irmãos, que servissem.
Tinha um livro de medicina que eu
peguei, mas quando eu abri, estava cheio de
desenhos e fotografias de feridas e doenças
horrorosas e me deu vontade de vomitar, só
um pouquinho. Então eu botei de volta no
lugar e aí peguei o grande livro, ou Bíblia,
como era chamado, pensando que me reconfortaria
como nos velhos tempos da Prisesta
(não tão velhos realmente, mas parecia há
muito muito tempo) e cambaleci até uma cadeira
pra ler. Mas, tudo o que eu encontrei
foi porrada setenta vezes sete e um bando de
judeus se toltchocando uns aos outros e isso
também me deu vontade de vomitar. Então,
quase que eu gritei, e aí um mudge muito
298/412
estarre e esfarrapado, do outro lado da mesa,
me disse:
- O que é, meu filho? Qual é o problema?
- Eu quero dar a pitada - disse eu. - Pra
mim já chega. A vida se tornou demais pra
mim.
Um velho estarre lendo perto de mim fez
"psiiiiu" sem levantar os olhos de uma revista
bezúmine que estava com ele, cheia de
assim boiches véssiches geométricas. Aquilo
me lembrou alguma coisa. O outro mudge
disse:
- Você está muito moço pra isso, meu
filho. Puxa você tem tudo pela frente.
- É - disse eu -, como um par de grudes
postiços - O tal veque que lia a revista fez
"psiiiiu" de novo, dessa vez levantando a
vista, e alguma coisa ligou em nós ambos. Eu
videei quem era. Ele disse, gronque mesmo:
- Eu nunca esqueço uma forma, juro por
Deus. Nunca esqueço a forma de nada. Ah,
meu Deus, seu porco, agora eu te peguei. -
299/412
Cristalografia, era isso. Era o que ele estava
levando da Biblio daquela vez. Dentadura
pisada muito horrorshow. Pletes arrancadas.
Eu achei que era melhor sair dali muito
escorre, irmãos. Mas o mudge estarre estava
de pé, critchando que nem bezúmine pra todos
os velhos estarres que tossiam nas gazetas
em volta das paredes e pros que estavam
tirando uma soneca em cima das revistas nas
mesas. - Pegamos ele - critchava. - O
cachorro sem-vergonha que estragou os livros
de Cristalografia, livros raros, livros que
não se acham mais, em lugar nenhum! -
Aquilo tinha um chume de loucura, como se
o velho veque tivesse realmente perdido o
gúliver. - Um espécime valioso de jovem covarde
e brutal! - critchou ele. - Aqui no nosso
meio e à nossa mercê! Ele e os amigos dele
me bateram e me chutaram e me massacraram.
Me rasgaram e me arrancaram os
dentes. Riram do meu sangue e dos meus
gemidos. Me chutaram pra casa, aturdido e
300/412
despido. - Tudo isso não era bem verdade,
como vocês sabem, irmãos. Ele ficou com algumas
pletes, não tinha ficado inteiramente
nagói.
Eu critchei em resposta: - Isso já foi há
mais de dois anos. Já aprendi a minha lição.
Olha aqui - meu retrato está nos jornais.
- Castigo, é? - disse um estarre com pinta
assim de ex-soldado. - Vocês deviam ser todos
exterminados. Como tantas outras pragas
malcheirosas. Castigo, pois sim!
- Tá bom, tá bom - disse eu. - Todo
mundo tem direito à sua opinião. Queiram
me desculpar todos. Agora eu preciso ir embora.
- E comecei a itar pra fora do méssito
dos velhos bezúmines. Aspirina, era isso. A
gente podia dar a pitada com cem aspirinas.
Aspirina, comprada na velha farmácia. Mas o
veque da cristalografia critchou:
- Não deixem ele sair. Vamos dar uma
lição completa a respeito de castigo a este
porquinho assassino. Pega ele.
301/412
- E, acreditem, irmãos, ou façam a outra
véssiche, dois ou três estarres gagás, com uns
noventa anos por cabeça, me agarraram com
seus rúqueres velhos e trêmulos e eu fiquei
assim enjoado com o vone de velhice e
doença que saía daqueles mudges semimortos.
O veque de cristal estava vindo pra cima
de mim agora, e começando a distribuir
toltchoques fracos, malenques, no meu litso
e eu tentei fugir e itar pra fora, mas os tais
rúqueres estarres que me seguravam eram
mais fortes do que eu tinha pensado. Então,
outros veques estarres vieram capengando
das gazetas pra dar um teco no Vosso Humilde
Narrador. Estavam critchando véssiches
como "Mata, pisa em cima, acaba com
ele; dá um pontapé nos dentes", e essa quel
toda, e eu videava o que era aquilo. Era a velhice
dando um teco na mocidade, era isso o
que era. Mas alguns deles estavam dizendo:
"Coitado do Jack, quase que matou o coitado
do Jack, esse ai, esse é que é o tal", e
302/412
assim por diante, como se tudo tivesse
acontecido ontem. O que, pra eles, suponho
que era. Agora tinha assim um mar de vonentos
e suados velhos sujos querendo me
atacar com seus rúqueres débeis e suas velhas
garras chifrentas, critchando e ofegando
pra cima de mim, mas o nosso drugue de
cristal estava bem na frente, distribuindo
toltchoque em cima de toltchoque. E eu não
ousava fazer nem uma vessichezinha, sendo
melhor apanhar daquele jeito do que querer
vomitar e sentir aquela dor horrível, mas,
naturalmente, o fato de que estava havendo
violência me fazia sentir que a náusea estava
espreitando na esquina, pra videar se podia
sair em campo aberto e se pôr a rugir.
Então, um veque servente chegou, um
veque ainda jovem, e critchou: - O que é que
está havendo aqui? Parem já com isso! Isso
aqui é uma sala de leitura! - Mas ninguém
prestou atenção. Então o veque servente
disse: -
303/412
Certo, eu vou chamar a polícia. - Então eu
critchei e jamais pensei que chegasse a fazer
isso em toda a minha djísene:
- Isso, isso, isso, chama mesmo, me salva
desses velhos malucos! - Eu notei que o
veque servente não estava muito ansioso pra
entrar na dratsa e me livrar da raiva e da
loucura das garras daqueles veques estarres;
ele apenas se mandou pro gabinete dele, ou
onde quer que ficasse o telefone. Bom, os tais
velhos estavam ofegando um bocado agora e
eu achava que bastava eu dar uma cutucada
e eles caíam todos, mas apenas me deixei segurar,
muito paciente, por aqueles rúqueres,
de glazes fechados, e sentir os débeis
toltchoques no meu litso e também esluchar
as velhas golosses de respiração ofegante
critchando: "Cachorro, garoto assassino, desordeiro,
mata ele!" Aí levei um toltchoque
realmente tão doloroso no nariz que eu disse
merda merda merda e abri os glazes e comecei
a fazer força pra me libertar, o que não
304/412
era difícil, irmãos, e me arranquei critchando
para a espécie de corredor de entrada que
tinha do lado de fora da sala de leitura. Mas
os estarres vingadores ainda vieram atrás de
mim ofegando assim de morrer com suas patas
de animais todas tremendo pra pegar o
Vosso Humilde Narrador. E aí fui calçado e
caí no chão e estava sendo chutado, quando
esluchei golosses de veques jovens
critchando: "Tá bom, tá bom, pára com isso
agora", e eu sabia que a polícia tinha
chegado.
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Capítulo 3
Eu estava meio aturdido, ó meus irmãos,
e não conseguia videar muito claro, mas
tinha certeza de que já tinha encontrado
aqueles milicentes em algum méssito antes.
O que tinha me agarrado dizendo "pronto,
pronto, pronto", pertinho da porta da frente
da Bíblio Pública, esse eu não conhecia
mesmo, mas me parecia que ele era assim
muito jovem pra ser um rodze. Mas os outros
dois tinham costas que eu tinha certeza que
já tinha videado antes. Eles estavam vergastando
os veques estarres com grande bolche
alegria e satisfação, com chicotes
malenques, "toma, molecada travessa. Isso é
pra aprender a não fazer arruaça e perturbar
a paz do Estado, seus patifes maldosos". E
empurraram aqueles estarres vingadores,
ofegantes, asmáticos e quase mortos de volta
pra sala de leitura, depois se voltaram, esmecando
com a diversão que tinham arranjado,
pra me videar. O mais velho dos dois
disse:
- Ora ora ora ora ora ora ora. Se não é o
Alexinho. Muito tempo sem se videar,
drugue. Como é que é? - Eu estava assim
zonzo, o uniforme e o chileme ou capacete
dificultando videar quem era, se bem que o
litso e a golosse me fossem conhecidos.
Então eu olhei pro outro e, quanto a ele, com
aquele litso sorridente e bezúmine, não havia
dúvida. Aí, entorpecido, e cada vez mais, eu
tornei a olhar para o do ora ora ora. Esse,
pois, era o gorducho do Billyboy, meu velho
inimigo. O outro, é claro, era o Tapado, que
tinha sido meu drugue e também inimigo do
bode fedorento do Billyboy, mas que agora
era um milicente, de uniforme e chileme e
chicote pra manter a ordem. Eu disse:
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- Essa não!
- Surpresa, hein? - E o velho Tapado
soltou a velha gargalhada que eu lembrava
tão horrorshow :
- Hu hu hu.
- É impossível - disse eu. - Não pode ser.
Não acredito.
- A prova dos glazes - sorriu Billyboy. -
Nada nas mangas. Sem mágica, drugue. Um
trabalho pra dois que agora estão na idade de
trabalhar. A polícia.
- Vocês são muito jovens - disse eu. -
Jovens demais. Eles não transformam
maltchiques da idade de vocês em rodzes.
- Era jovem - falou o velho milicente
Tapado. Eu não conseguia me refazer,
irmãos. Não conseguia mesmo.
- É o que a gente era, druguinho. E você
era, o que era mais jovem. E agora, estamos
aí.
- Ainda não estou acreditando - disse eu.
Então, Billyboy, o rodze Billyboy, de quem eu
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não me refazia, disse pro tal milicente jovem
que estava assim me segurando e que eu não
conhecia:
- Acho que era mais negócio, Rex, se a
gente distribuísse logo o sumário. Menino é
menino, como sempre foi.
Não precisa aquela rotina do distrito.
Esse aqui andou fazendo das suas, como a
gente ainda se lembra, se bem que você, é
claro, não pode. Andou agredindo os velhos
indefesos e eles andaram devidamente indo à
forra.
Mas nós também temos que dar a nossa
palavrinha em nome do Estado.
- Mas, que negócio é esse? - disse eu, não
podendo quase acreditar nos meus ucos. -
Foram eles que vieram pra cima de mim,
irmãos. Vocês não estão do lado deles, não
podem estar. Você não pode estar, Tapado.
Foi um veque com quem nós traquinamos
uma vez, nos velhos tempos, tentando ir à
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sua forrazinha malenque, depois de passado
muito tempo.
- Muito tempo está certo - disse o
Tapado. - Eu não me lembro desse tempo tão
horrorshow. E também não me chame mais
de Tapado. Me chame de seu guarda.
- Muita coisa é lembrada, ainda assim -
Billyboy estava sacudindo a cabeça. Ele não
estava tão gorducho quanto tinha sido. -
Maltchiquezinhos malvados, bons de britva,
esses têm que ser reprimidos. - E eles me
pegaram realmente com força e me fizeram
ir assim andando pra fora da Bíblio. Tinha
um carro de patrulha dos milicentes esperando
do lado de fora e o tal veque que eles
chamavam de Rex era o motorista. Eles me
toltchocaram assim pra dentro da parte de
trás do carro e eu não podia deixar de achar
que era tudo realmente assim uma piada e
que o Tapado ia acabar tirando o chileme
dele do gúliver e fazer ho ho ho ho. Mas não
fez.
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Eu disse, tentando evitar o estreque dentro
de mim:
- E o Pete, o que é que foi feito do Pete?
Fiquei muito triste com a história do Georgie
- disse eu. - E esluchei a história toda.
- Pete, ah sim, Pete - disse o Tapado. - Eu
acho que me lembro assim do nome. - Eu
videava que a gente estava saindo da cidade.
Eu falei:
- E pra onde é que nós vamos?
Billyboy se voltou no banco da frente pra
dizer: - Está claro ainda. Um passeiozinho no
campo, todo nu do inverno, mas isolado e
bonito. Não é bom, não sempre, as líudes da
cidade videar demais as nossas punições
sumárias. As ruas precisam ser mantidas
limpas em mais de um significado. - E se
voltou pra frente de novo.
- Espera aí - disse eu -, eu simplesmente
não estou entendendo nada do que está
acontecendo. Os velhos tempos já se foram.
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Pelo que eu fiz no passado, eu já fui castigado.
Eu fui curado.
- Isso foi lido pra gente. O superior leu
aquilo tudo pra gente. Disse que é um modo
muito bom.
- Leu pra você - disse eu, um malenquezinho
maldoso. - Você ainda é tapado demais
pra ler sozinho, ó irmão?
- Ah, não - disse o Mortiço assim muito
afável e assim pesaroso -, não falar mais assim.
Não não mais, druguinho. - E mandou
um bolche toltchoque bem no meu cliuve, de
modo que todo aquele crove vermelho vermelho
de nariz começou a pingar pingar
pingar.
- Nunca houve confiança alguma - disse
eu amargo, limpando o crove com o rúquer. -
Eu sempre estive no meu odinoque.
- Aqui está bom - disse Billyboy. Agora
nós estávamos no campo e estava tudo de
árvores desfolhadas e alguns piadores assim
distantes, e assim longe, tinha assim alguma
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máquina de fazenda fazendo um chume assim
de zumbido. Agora já estava baixando o
crepúsculo, era o auge do inverno. Não tinha
líudes por perto, nem animais. Só tinha nós
quatro. - Sai, Alexito - disse o Tapado. - Só
um sumariozinho malenque.
Durante tudo o que eles fizeram, o tal
motorista só ficou sentado ao volante, fumando
um câncer e lendo um livrinho
malenque. Estava com a luz do carro acesa
pra poder videar. Não prestou atenção ao
que o Billyboy e o Tapado fizeram ao Vosso
Humilde Narrador. Não vou contar o que
eles fizeram, mas foi tudo assim arquejo e
barulho de soco contra assim aquele fundo
de máquina de fazenda zumbindo e o
piupiupiu nos galhos nus ou nagóis. Dava
pra videar um pouquinho de fumaça na luz
do carro, aquele motorista virando as páginas,
muito calmo. Eles em cima de mim o
tempo todo, ó meus irmãos. Então, Billyboy
ou o Tapado, eu não sei dizer qual dos dois,
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falou: - Acho que chega, druguinho, você não
acha? - Então eles me deram um toltchoque
final no litso, cada um, e eu arriei e fiquei
deitado ali na grama. Estava frio, mas eu não
estava sentindo o frio.
Então, eles tiraram a poeira dos ráqueres
e repuseram os chilemes e as túnicas que tinham
tirado e depois tornaram a entrar no
carro. - A gente se videia de novo por aí -
disse Billyboy, e o Tapado soltou uma de
suas gargalhadas de palhaço. O chofer
acabou a página que estava lendo e botou o
livro de lado, depois deu partida no carro e
eles foram embora em direção à cidade, meu
ex-drugue e meu ex-inimigo acenando. E eu
fiquei lá mesmo caído, cansado e chateado.
Depois de um certo tempo eu estava todo
muito doído, e depois começou a chuva,
muito gelada. Eu não videava líudes à vista
nem luzes de casas. Pra onde é que eu ia, que
não tinha lar e não muito cortador nos cármans?
Eu chorei com pena de mim,
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buuuuuuuuu. Depois me levantei e comecei a
caminhar.
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Capítulo 4
Lar, lar, lar, era um lar que eu estava querendo,
e foi para o LAR que eu vim, irmãos.
Caminhei na escuridão e segui, não em
direção à cidade, mas na direção de onde
tinha vindo o chume da máquina de fazenda.
Isso me levou a uma espécie de cidadezinha
que eu achei que já tinha visto antes, mas era
talvez porque todas as cidadezinhas pareciam
iguais, principalmente no escuro. Tinha
casas e tinha assim um méssito de bebidas e
bem no fim do vilarejo tinha uma casinha no
seu odinoque, e eu podia videar o seu nome
em branco, brilhando no portão, LAR, dizia.
Eu estava ensopado de pingar, com aquela
chuva gelada, de modo que minhas pletes
não estavam mais no rigor da moda, mas
realmente miseráveis e assim patéticas, e
meu cabelo estava uma bagunça emaranhada
e quelente, espalhado pelo meu gúliver inteiro,
e eu tinha certeza de que tinha cortes e
pisaduras pelo litso inteiro e um par de zubes
balançavam, soltos, quando eu tocava neles
com a língua ou iázique. E, sentia dores pelo
corpo todo e estava com muita sede, por isso
ficava abrindo a rote, pra chuva fria, e meu
estômago roncava, grrrrrrr, o tempo todo,
que eu não tinha tocado em píchetcha desde
de manhã e também não tinha sido lá muita,
ó meus irmãos.
LAR, dizia, e talvez ali tivesse um veque
qualquer que pudesse ajudar. Abri o portão e
fui meio me esgueirando pela alameda, a
chuva assim virando gelo, e aí eu bati suave e
patético na porta. Não veio veque nenhum,
então eu bati um malenquezinho mais prolongado
e mais forte e aí ouvi um chume de
nogas vindo para a porta. Então a porta se
abriu e uma golosse masculina disse:
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- Sim, quem é?
- Ah - disse eu -, por favor, me ajude. Eu
fui espancado pela polícia e largado na estrada,
pra morrer. Ah, por favor, me dê um
gole de alguma coisa e me deixe sentar perto
da lareira, por favor, meu senhor.
A porta então se abriu completamente e
eu pude videar lá dentro a luz cálida e uma
lareira fazendo craque craque craque. - Entre
- disse o tal veque -, seja lá quem for. Ah,
meu Deus, pobre vítima, entre e vamos dar
uma olhada, em você. - Ai eu entrei cambaleando
e não estava assim fazendo fita,
não, irmãos, eu estava mesmo me sentindo
findo e acabado. Aquele veque bondoso passou
os rúqueres em volta dos meus pletchos
e me empurrou pra dentro do quarto onde
tinha a lareira e, é claro, eu percebi imediatamente
por que o LAR no portão me parecia
conhecido. Eu olhei para aquele veque e ele
olhou pra mim com um jeito muito bondoso
e agora eu me lembrava dele muito bem. E
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claro que ele não ia se lembrar de mim,
porque naqueles dias despreocupados, eu e
os meus falsos drugues fazíamos as nossas
bolches dratsas e crastes e brincadeiras
usando mascarinhas que eram um disfarce
muito horrorshow. Era um veque baixote, de
meia-idade, trinta, quarenta, cinqüenta, e
usava ótcheques.
- Sente perto do fogo - disse ele -, que eu
vou lhe buscar uísque e água quente. Credo,
credo, credo, alguém lhe deu uma surra
mesmo! - E fez assim um olhar terno pro
gúliver e o meu litso.
- A polícia - disse eu. - A terrível,
medonha policia.
- Mais uma vítima - disse ele assim suspirando.
- Vítima da época moderna. Eu vou
buscar aquele uísque e depois preciso limpar
os seus machucados um pouco. - E saiu. Eu
dei uma olhada em volta do quarto malenque
e confortável. Estava quase todo cheio de livros
agora, e uma lareira e um par de
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cadeiras, e de algum modo se videava que ali
não morava mulher alguma. Em cima da
mesa tinha uma máquina de escrever e assim
uma porção de papéis caídos no chão eu eu
me lembrei de que aquele veque era um
veque escritor. A Laranja Mecânica, tinha
sido isso. Era engraçado que tivesse ficado
encravado na minha mente. Mas agora eu
não podia dar a entender, porque estava precisando
de ajuda e bondade. Aqueles horríveis
gréjines brétchenes, naquele terrível
méssito branco, tinham me feito isso, me
obrigado a precisar de ajuda e bondade e me
forçando a dar ajuda e bondade também, se
alguém quisesse aceitar.
- Pronto, cá está - disse o tal veque
voltando. Me deu pra pitar aquele copo
cheio, quente e estimulante, que me fez sentir
melhor, e aí ele me limpou os cortes no
litso. Então falou: - Tome um banho quente
que eu vou preparar pra você e depois você
me conta a história toda durante um jantar
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quentinho que eu vou fazer enquanto você
toma o banho. - Ó meus irmãos, eu quase
chorei com a bondade dele, e eu acho que ele
deve ter videado as lágrimas nos meus
glazes, porque disse: - Vamos, vamos, vamos
- batendo no meu pletcho.
Bom, eu subi e tomei o tal banho, e ele
trouxe pijamas e um chambre pra eu vestir,
tudo quentinho do fogo, e também um par de
tuflas muito usado. E agora, irmãos, se bem
que eu estivesse dolorido, cheio de dores no
corpo todo, eu sentia que logo ia me sentir
muito melhor. Desci a escada e videei que,
na cozinha, ele tinha posto a mesa com garfos
e facas e uma boa fatia de clebe, e também
uma garrafa de MOLHO PRIMA, e logo
serviu uma bela fritada de lontiques de presunto
e salsichas estourando e bolches canecos
de tchai quente e doce com leite. Foi
gostoso ficar sentado ali no quentinho
comendo, e eu descobri que estava com
muita fome, tanto que depois da fritada eu
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tive que comer lontiques e mais lontiques de
clebe com manteiga e com geléia de morango,
tirada de um bolche pote. - Muito melhor
- disse eu. - Como é que algum dia eu
vou poder lhe retribuir?
- Eu acho que sei quem você é - disse ele.
- Se você é quem estou pensando, então você
veio, meu amigo, ao lugar certo. Não era você,
naquelas fotografias nos jornais de hoje
de manhã? É você a pobre vítima dessa horrível
técnica nova? Se é, então você foi
mandado aqui pela Providência. Torturado
na prisão, depois jogado na rua pra ser torturado
pela policia. Estou do seu lado de todo
o coração. - Irmãos, eu não conseguia encaixar
um eslovo, se bem que estivesse de
rote aberta pra responder às perguntas dele.
- Você não é o primeiro que aparece aqui em
dificuldades - disse ele. - A polícia gosta de
trazer as suas vítimas para os arredores desta
cidade. Mas é providencial que você, que é
também outra espécie de vítima, tenha vindo
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para cá. Talvez você já tenha ouvido falar de
mim.
Eu tinha que ser muito cauteloso, irmãos.
Eu falei: - Eu já ouvi falar da Laranja Mecânica.
Não li, mas já ouvi falar.
- Ah - disse ele, e o seu litso brilhou como
o sol na sua flamejante glória matinal. -
Agora, fale de você.
- Muito pouca coisa pra contar, meu senhor
- disse eu, todo humilde. - Foi uma peça
tola e infantil que me pregaram os que se
diziam meus amigos, me convencendo, ou
melhor, me forçando a invadir a casa de uma
velha ptitsa - senhora, quero dizer. Não era
pra fazer mal nenhum. Infelizmente a velha
senhora sobrecarregou o velho coração na
tentativa de me expulsar, se bem que eu estivesse
muito pronto a sair por minha própria
iniciativa, e aí morreu. Fui acusado de ter
causado a sua morte. Então, fui mandado
pra prisão.
- Sim, sim, continue.
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- Aí, fui apanhado pelo Ministro do Interior
ou Inferior pra experimentarem essa
véssiche do Ludovico em mim.
- Conte-me como é isso - disse ele
curvando-se pra frente, ávido, os cotovelos
do pulôver cobertos de geléia de morango do
prato que eu tinha empurrado pro lado.
Então, eu contei como era. Contei tudo, tudo,
meus irmãos. Ele estava muito ávido pra
saber tudo, os glazes assim brilhando, os
gúberes entreabertos, enquanto a gordura
nos pratos ia ficando dura, dura, dura.
Quando eu terminei, ele se levantou da
mesa, inclinando muitas vezes a cabeça e
fazendo hum hum hum, tirando os pratos e
outras véssiches da mesa e levando pra pia,
pra lavar. Eu disse:
- Deixe que eu lavo, senhor, com todo o
prazer.
- Descanse, descanse, meu pobre rapaz -
disse ele abrindo a torneira, de modo que o
vapor todo começou a sair aos arrotos. -
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Você pecou, imagino, mas o seu castigo foi
fora de qualquer proporção. Eles transformaram
você em outra coisa que não um ser
humano. Você não tem mais poder de
escolha. Você está obrigado a atos socialmente
aceitáveis, uma maquineta capaz de
fazer somente o bem. E vejo isso com toda a
clareza - esse negócio dos condicionamentos
marginais. A música e o ato sexual, a arte e a
literatura, tudo isso passa a ser, agora, não
uma fonte de prazer, mas de dor.
- É exatamente isso - disse eu fumando
um dos cânceres de ponta de cortiça daquele
homem bondoso.
- Eles dão sempre uma dentada muito
grande - disse ele enxugando um prato assim
muito distraído. - Mas a intenção essencial é
o verdadeiro pecado. O homem que cessa de
optar deixa de ser um homem.
- Foi isso o que o charles disse - disse eu.
- O capelão da prisão, quero dizer.
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- Ele disse, ele disse? Claro que disse,
tinha que dizer, sendo um cristão, não tinha?
Pois muito bem - dizia ele ainda limpando o
mesmo prato que ele estava limpando há dez
minutos -, amanhã virão umas pessoas aqui
pra ver você. Eu acho que você pode ser
usado, meu pobre rapaz. Acho que você pode
ajudar a derrubar esse Governo arrogante.
Transformar um rapaz direito em máquina
de relógio não deveria certamente ser encarado
como um triunfo de qualquer governo,
salvo um governo que se jacta da sua
repressividade. - Ele continuava enxugando
o mesmo prato. Eu disse:
- Olhe, o senhor continua enxugando o
mesmo prato. Eu concordo com o senhor,
com esse negócio de se jactar. Esse Governo
parece que gosta muito de se jactar.
- Ah - disse ele, videando aquele prato assim
pela primeira vez e botando ele no lugar.
- Eu ainda não estou muito prático - disse ele
- nas lides domésticas. Minha mulher
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costumava fazer tudo, para eu poder
escrever.
- Sua mulher? - disse eu. - Ela foi embora
e lhe deixou? - Eu queria realmente saber
notícias da mulher dele, que eu me lembrava
muito bem.
- Sim, me deixou - disse ele com uma golosse
assim alta e amarga. - Ela morreu,
sabe? Foi brutalmente violada e espancada.
O choque foi muito grande. Foi nesta casa - e
os rúqueres estavam tremendo, segurando
um pano de prato -, nesse quarto ao lado. Eu
tive que me fazer de aço pra continuar a
viver aqui, mas ela gostaria que eu ficasse no
lugar onde a sua memória fragrante ainda
permanece. E isso mesmo. Coitadinha.
Eu videei tudo claramente, meus irmãos,
o que tinha acontecido naquela nótchi distante,
e me vendo naquele negócio eu comecei
a sentir que queria vomitar e a minha dor
no gúliver começou. O tal veque videou isso,
porque eu senti que o meu litso tinha sido
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drenado do crove vermelho vermelho, muito
pálido, e ele não podia deixar de videar isso.
- Está na hora de ir pra cama - disse ele. - O
quarto de hóspedes já está arrumado.
Coitado desse rapaz, você deve ter passado
por um mau pedaço. Uma vítima da
época moderna, como ela foi.
Coitadinha...
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Capítulo 5
Passei uma noite de sono realmente horrorshow,
irmãos, e a manhã estava assim
muito clara e de geada, e tinha assim o vone
muito agradável da primeira refeição sendo
feita no andar de baixo. Eu levei algum
tempo pra me lembrar onde estava, como
sempre, mas logo me lembrei e então me
senti assim quentinho e protegido. Mas, enquanto
eu ficava ali deitado na cama, esperando
ser chamado para o desjejum, me lembrei
de que tinha que conseguir saber o
nome daquele veque bondoso, protetor e assim
maternal, então dei uma circulada pelo
quarto com os meus nogas nagóis, procurando
A Laranja Mecânica, que devia ter o
ímia dele, já que ele era o autor. No meu
quarto não tinha nada a não ser uma cama,
uma cadeira e uma luz, então eu itei até o
quarto ao lado, o quarto do próprio veque, e
aí eu videei a mulher dele na parede, uma
bolche fotografia ampliada, e me senti um
malenquezinho enjoado me lembrando. Mas
tinha lá também duas ou três estantes de livros
e tinha, como eu achava que tinha que
ter, um exemplar de A Laranja Mecânica e na
lombada do livro, como na capa, tinha o ímia
do autor – F. Alexander. Aí, meu Bog, pensei
eu, é outro Alex. Então folheei o livro de pé,
de pijama e de nogas descalços, mas sem
sentir nem um malenquinho do frio, que a
casa estava toda quentinha, e não conseguia
videar sobre o que era o livro. Parecia ser escrito
num estilo assim muito bezúmine,
cheio de cahs e de ohs e essa quel toda, mas
o que parecia querer dizer era que todas as
líudes, hoje em dia, estavam sendo transformadas
em máquinas e que na realidade elas
eram - vocês e eu lambem meus cherres -
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mais um produto natural, assim como um
fruto. O F. Alexander parecia achar que nós
todos assim crescemos no que ele chamava a
árvore-mundo, no pomar do mundo e que
assim Bog ou Deus plantou, e que nós estávamos
nele porque Bog ou Deus precisava
mitigar a sua sede de amor, uma quel dessas.
E não gostei do chume daquilo tudo, ó meus
irmãos, e fiquei imaginando como o tal de F.
Alexander era realmente bezúmine, talvez
tivesse ficado bezúmine porque a mulher
dele tinha dado a pitada. Mas aí, ele chamou
de lá de baixo, com uma golosse assim de
veque muito são, cheio de alegria, amor e
aquela quel toda; então lá desceu o Vosso
Humilde Narrador.
- Você dormiu um bocado - disse ele pescando
ovos cozidos com a concha e puxando
torradas escuras de debaixo da grelha. - Já
são quase dez horas. Eu já estou acordado há
horas, trabalhando.
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- O senhor está escrevendo outro livro? -
disse eu.
- Não, não, não, agora não é isso não -
disse ele, e nós nos sentamos muito agradáveis
e drugues pro craque craque dos ovos e
cruche cruche cruche daquela torrada preta e
tchai com muito leite dentro de bolches
canecas matinais. - Não, eu estive no telefone,
falando com diversas pessoas.
- Pensei que o senhor não tivesse telefone
- disse eu, metendo a colher no ovo sem prestar
atenção no que estava dizendo.
- Por quê? - disse ele muito alerta, assim
como um bicho escorre, com uma colher de
ovo no rúquer. - Por que é que você haveria
de achar que eu não tenho telefone?
- Nada - disse eu -, nada, nada. - E fiquei
pensando o quanto ele se lembrava da parte
inicial daquela nótchi distante, eu chegando
até a porta com a conversa fiada e dizendo
pra telefonar pro doutor e ela dizendo não
tem telefone. Ele me deu um esmote bem de
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perto, mas depois voltou a ficar assim afável
e animado e metendo a colher no ovo. Ele
disse, mastigando:
- Pois é, eu telefonei pra diversas pessoas
que estarão interessadas no seu caso. Você
pode ser um instrumento muito poderoso,
sabe, para garantir que o atual Governo, perverso
e daninho, não se reeleja na votação
que vem aí. O de que o Governo mais se
ufana, entende, é o modo pelo qual cuidou
do crime nestes últimos meses. - Me olhou
muito de perto outra vez, por cima do seu
ovo fumegante, e eu pensei novamente se ele
estava videando que papel eu já tinha representado
na djísene dele. Mas ele falou: -
Recrutando jovens desordeiros e brutais
para a polícia. Propondo métodos de condicionamento
que debilitam e solapam a vontade.
- Esses eslovos compridos todos,
irmãos, e assim um olhar louco ou bezúmine
nos glazes.
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- Nós já vimos isso tudo antes - disse ele -
em outros países. A ponta de lança afiada.
Antes que se possa perceber a quantas anda,
tem-se o aparato completo do totalitarismo. -
"Credo, credo, credo", pensei eu, comendo
ovo e mastigando torrada. Eu disse:
- E onde é que eu entro nessa?
- Você - disse ele ainda com o olhar
bezúmine – é testemunha viva desses
propósitos diabólicos. O povo, o homem
comum precisa saber, precisa ver. - Levantou
da mesa e começou a andar de um lado pro
outro da cozinha, da pia até o guarda-comidas,
dizendo muito gronque: - Eles gostariam
que os filhos deles ficassem como você,
pobre vítima, ficou? Não irá agora o próprio
Governo decidir o.que é e o que não é crime e
extrair as vidas, as entranhas e a vontade de
quem quer que resolva contrariar o
Governo? - Ele ficou mais calmo, mas não
voltou ao ovo. - Eu escrevi um artigo - disse
ele - esta manhã, enquanto você estava
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dormindo. Vai ser publicado dentro de um
ou dois dias, junto com a sua triste fotografia.
Você vai assinar, meu pobre rapaz,
um depoimento sobre o que eles fizeram com
você. - Eu disse:
- E o que é que o senhor ganha com isso?
Quer dizer, além do tutu que o senhor ganha
com o artigo, como o senhor chama? Quer
dizer, por que o senhor fica tão queimado
contra esse Governo, se eu posso assim tomar
a liberdade de perguntar?
Ele agarrou a borda da mesa e disse, rilhando
os dentes, que eram muito quelentos e
manchados de fumaça de câncer: - Alguns de
nós temos que lutar. Há grandes tradições de
liberdade a defender. Eu não sou um homem
de partido. Onde eu vejo infâmia, tento
apagá-la. Nomes de partido não significam
nada. A tradição de liberdade significa tudo.
As pessoas comuns deixam passar, ah
deixam. São capazes de vender a liberdade
por uma vida mais sossegada. E por isso que
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têm que ser aguilhoadas...! - E aí, irmãos, ele
apanhou um garfo e enfiou duas ou três
razes na parede, de maneira que ficou todo
torto. Depois jogou no chão. Muito afável, ele
disse: - Coma, meu pobre rapaz, pobre vítima
do mundo moderno. - E eu videava
claramente que ele estava perdendo o gúliver.
- Coma, coma. Coma o meu ovo também.
- Mas eu disse:
- E o que é que eu ganho com isso? Fico
curado do que eu tenho? Vou ser capaz de
esluchar a velha Sinfonia Coral sem ficar enjoado
de novo? Posso assim viver uma
djísene normal novamente? O que é, senhor,
que vai me acontecer?
Ele olhou pra mim, irmãos, como se não
tivesse pensado nisso antes, e fosse lá como
fosse, não tinha importância, comparado
com a Liberdade e aquela quel toda, e estava
com um olhar de surpresa por eu ter dito o
que disse, como se eu estivesse sendo assim
egoísta, por querer alguma coisa pra mim
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mesmo. Então ele disse: - Ah, é como eu
digo, você é uma testemunha viva, pobre
rapaz. Coma tudo e depois venha ver o que
eu escrevi, porque vai sair na Trombeta Semanal
com o seu nome, pobre vítima
infortunada.
Bem, irmãos, o que ele tinha aprontado
era um escrito muito longo e muito lamuriento,
e, à medida que eu lia, ia ficando com
pena do pobre maltchique que estava govoritando
sobre os seus sofrimentos e como o
Governo tinha solapado a sua vontade, e
como dependia das líudes não deixarem que
um Governo tão podre e perverso as governasse
de novo, e ai, naturalmente, eu me
dei conta de que o pobre maltchique sofredor
não era outro senão o V. H. N. - Muito bom -
disse eu. - Muito horrorshow. Muito bem escrevestes,
ó senhor. - Então ele olhou pra
mim muito tenso e disse:
- O quê? - Era como se ele nunca tivesse
me esluchado antes.
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- Ah, isso - disse eu - é o que a gente
chama gíria nadsat. Todos os adolescentes
usam. - Aí então ele itou pra cozinha lavar os
pratos e eu fui deixado com essas roupas de
dormir e tuflas emprestadas, esperando que
fizessem comigo o que tinham que fazer, que
eu não tinha nenhum plano traçado pra mim
mesmo, ó meus irmãos.
Enquanto o grande F. Alexander estava
na cozinha, veio um tlintlintlin da porta. - Ah
- critchou ele saindo da cozinha limpando os
rúqueres -, deve ser o pessoal. Deixe que eu
vou. - Aí, ele foi e deixou o pessoal entrar, e
no corredor da entrada ficou um tal de hihihi
rosnado e alô e tempo ruim e como vão as
coisas, depois eles itaram pra dentro do
quarto onde estava a lareira, o livro e o artigo
que contava como eu tinha sofrido, me
videando e fazendo ahhhhhh quando
videavam. Tinha três líudes e F. Alex me deu
os ímias deles. Z. Dolin era um veque muito
asmático e fumacento, tossindo
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quechequechequeche com uma guimba de
câncer na rote, deixando cair cinza nas pletes
todas e depois assim limpando com rúqueres
muito impacientes. Era um veque malenque,
rotundo, gordo, usando ótcheques de aro
muito grosso. Depois, tinha o Não-sei-quê de
Não-sei-quê Rubinstem, um tcheloveque
muito alto e educado, com uma verdadeira
golosse de cavalheiro, muito estarre, assim
com uma barbicha oval. E, por último, tinha
o D. B. da Silva, que era assim escorre de
movimento e com aquele forte vone de perfume
que saía dele. Todos eles me deram
uma olhada muito horrorshow e pareciam
transbordantes de alegria com o que estavam
videando. Z. Dolin disse:
- Muito bom, muito bom, hein? Que
ótimo expediente ele pode ser, esse rapaz. A
única coisa, se é que falta, é que, é claro, ele
podia, de preferência, estar com mais cara de
doente, ou de zumbi, do que está. Tudo pela
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causa. Sem dúvida a gente pode inventar alguma
coisa.
Eu não gostei daquela piada de zumbi,
irmãos, então falei: - O que que está havendo,
bretes? O que aprontando para o vosso
drugue estais? - E então, F. Alexander
sibilou:
- Estranho, estranho, esse timbre de voz
me ferroa. Nós já tivemos contato antes,
tenho certeza de que já tivemos. - E ficou
meditando, assim de cenho franzido. Eu precisava
tomar cuidado, ó meus irmãos. D. B.
da Silva falou:
- Comícios, principalmente. Mostrar você
em comícios públicos vai ser uma tremenda
ajuda. E, naturalmente, o aspecto jornalístico
já está todo garantido. Uma vida arruinada,
é essa a tônica. Precisamos inflamar
todos os corações. - Ele mostrou os trinta e
tantos zubes, muito brancos contra o seu
litso moreno, que ele parecia assim um
malenque estrangeiro. Eu disse:
340/412
- Ninguém me diz o que é que eu ganho
com tudo isso. Torturado na prisão, jogado
pra fora de casa pelos meus próprios pais e
seu hóspede intrometido e nojento, surrado
por velhos e quase morto pelos milicentes - o
que é que vai ser de mim?
O veque Rubinstem veio com essa:
- Você vai ver, rapaz, que o Partido não
vai ser ingrato. Ah, não. No fim de tudo, vai
haver uma surpresa muito razoável pra você.
Espere e vera.
- Tem só uma véssiche que eu peço -
critchei eu -, é ser normal e saudável como
eu era nos dias estarres, me divertindo um
malenquezinho com drugues de verdade, e
não com os que diziam ser e que são na realidade
assim uns traidores. Vocês podem
fazer isso, podem? Algum veque pode me
deixar como eu era? É isso o que eu quero e é
isso o que eu quero saber.
- Quechequechequeche - tossiu o tal Z.
DoIin. - Um mártir pela causa da Liberdade -
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disse ele. - Você tem o seu papel a cumprir,
não se esqueça disso. Enquanto isso, nós vamos
tomar conta de você. - E começou a alisar
o meu rúquer como se eu fosse assim um
idiota, sorrindo de um jeito bezúmine. Eu
critchei:
- Parem de me tratar como se eu fosse assim
uma coisa que tem que ser usada. Eu não
sou um idiota a quem vocês possam fazer
imposições, seus brétchenes estúpidos. Os
prestúpniques comuns são burros, mas eu
não sou comum nem sou tapado! Estão
esluchando?
- Tapado - disse F. Alexander assim absorto.
- Tapado. Isso foi um nome, em algum
lugar, Tapado.
- Hein? - disse eu. - O que é que o Tapado
tem a ver com isso? O que é que você sabe do
Tapado? - E aí eu disse: - Ih, Bog que nos
ajude! - Eu não gostei do olhar nos glazes de
F. Alexander. Fui em direção à porta,
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querendo subir a escada e pegar as minhas
pletes e itar pra fora.
- Estou quase acreditando... - dizia F. Alexander
mostrando os zubes manchados,
seus glazes enlouquecidos - mas essas coisas
não acontecem. Porque, por Jesus Cristo, se
fosse ele, eu o faria em pedaços, eu o
racharia ao meio, juro por Deus, é, é isso o
que eu faria.
- Calma - disse D. B. da Silva alisando o
peito dele, como se ele fosse um cachorrinho,
pra ele sossegar. - Isso ficou tudo no passado.
Foram outras pessoas, completamente.
Precisamos ajudar esta pobre vítima. Agora,
é isso o que temos a fazer, pensando no futuro
e na nossa Causa.
- Eu vou só buscar minhas pletes - disse
eu ao pé da escada -, quer dizer, roupas, e aí
eu vou itar embora, no meu odinoque. Quero
dizer minha gratidão a todos, mas eu tenho a
minha própria djísene pra viver. - Porque,
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irmãos, eu queria sair dali muito escorre.
Mas Z. Dolin disse:
- Ah, não. Nós temos você, amigo, e vamos
ficar com você. Você vem conosco. Vai
dar tudo certo, você vai ver.
- E veio pra mim assim pra agarrar o meu
rúquer de novo. Aí, irmãos, eu pensei em
brigar, mas pensar em briga me deu vontade
de desmaiar e vomitar, então eu fiquei firme.
Aí então eu vi aquela loucura nos glazes de F.
Alexander e falei:
- O que vocês disserem. Eu estou nos
rúqueres de vocês. Mas vamos começar e
acabar logo, irmãos. - Porque o que eu queria
agora era sumir daquele méssito chamado
LAR. Eu estava começando assim a não
gostar de olhar nos glazes do F. Alexander
nem um malenquinho.
- Ótimo - disse o Rubinstem. - Vá se vestir
e vamos começar.
- Tapado, Tapado, Tapado - continuava
dizendo F. Alexander assim num resmungo
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baixinho. - Quem ou o que era esse Tapado?
- Eu itei escada acima muito escorre e me
vesti em cerca de dois segundos em ponto.
Aí, já estava na rua com aqueles três e dentro
de um carro. Rubinstem me flanqueava de
um lado e Z. Dolin tossindo
quechequechequeche do outro, D. B. da Silva
dirigindo dentro da cidade e para um prédio
de apartamentos na realidade não muito distante
assim do que tinha sido o meu prédio
de apartamentos ou lar.
- Vem, rapaz, sai - disse Z. Dolin tossindo
de fazer a guimba do câncer que estava na
sua rote brilhar como se fosse uma fornalha
malenque. - É aqui que você vai ficar instalado.
- Aí eu itei pra dentro e tinha assim
outra daquelas véssiches da Dignidade do
Trabalho na parede do vestíbulo e a gente
subiu no elevador, irmãos, e entrou num
apartamento igual a todos os apartamentos
dos prédios de apartamentos da cidade.
Muito, muito malenque, de dois quartos e
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uma sala de estar-comer-trabalhar, a mesa
toda coberta de livros e papéis e tintas e
tinteiros e aquela quel toda. - Este é o seu
novo lar - disse D. B. da Silva.
- Fique aqui, rapaz. Tem comida no
guarda-comidas. Os pijamas estão na gaveta.
Descansa, descansa, espírito conturbado.
- Hein? - disse eu, não poniando aquela.
- Muito bem - disse Rubinstem com a sua
golosse estarre. - Agora nós vamos deixar você.
Há muito trabalho a fazer. Vamos estar
com você mais tarde. Ocupe o seu tempo
como melhor puder.
- Uma coisa - tossiu o Z. Dolin,
quechequechequeche. - Você viu o que você
mexeu na memória torturada do nosso
amigo F. Alexander. Foi por acaso...? Quer
dizer, foi você...? Eu acho que você sabe o
que eu quero dizer. Não vamos levar isso
mais adiante.
- Eu paguei - disse eu. - Bog sabe que eu
paguei pelo que fiz. Paguei não só assim por
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mim mesmo, mas por aqueles brétchenes
que se diziam meus drugues. - Eu me sentia
violento, por isso eu me senti um pouco
enjoado.
- Eu vou me deitar um pouco - disse eu -,
eu passei por momentos terríveis.
- Passou, sim... - disse D. B. da Silva,
mostrando todos os seus trinta zubes. - Faça
isso.
Então, eles me deixaram, irmãos. Itaram
fora pra tratar dos negócios deles, que eu deduzi
ser política e aquela quel toda. E eu
fiquei na cama, completamente no meu
odinoque, com tudo muito sossegado. Fiquei
deitadinho lá; eu tinha chutado os sabogues
dos meus nogas e afrouxado a gravata, assim
muito desconcertado e sem saber que espécie
de djísene eu ia viver agora. E tudo quanto
era cena ia passando pelos meus glazes, os
diversos tcheloveques que eu tinha conhecido
na escola e na Prisesta, e as diversas
véssiches que tinham me acontecido, e como
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não tinha um veque em quem se pudesse
confiar nesse bolche mundo. E então eu assim
peguei no sono, irmãos.
Quando acordei, eu estava ouvindo e esluchando
música que saía da parede,
gronque mesmo, e era isso que tinha me arrancado
assim do meu sono. Era uma sinfonia
que eu conhecia muito horrorshow,
mas que não tinha esluchado há muitos
anos, a Terceira Sinfonia do veque dinamarquês
Otto Skadelig, uma peça muito gronque
e muito violenta, especialmente o primeiro
movimento, que era o que estava tocando no
momento.
Eu esluchei durante dois segundos assim
com interesse e alegria, mas ai o troço todo
desabou em cima de mim, o início da dor e
do enjôo, e eu comecei a ficar com as
quíchecas roncando fundo. E então, lá estava
eu, que tanto tinha amado a música, engatinhando
pra fora da cama, fazendo ai ai ai pra
mim mesmo e depois tuque tuque tuque na
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parede e critchando: "Pára, pára, pára, desliga
isso!" Mas continuou e parecia assim estar
mais alto. Então eu esmurrei a parede até
os nós dos dedos virarem crove vermelho
vermelho e pele rasgada, critchando,
critchando, mas a música não parava. Depois
eu achei que tinha que fugir dela, então sai
com dificuldade do quarto malenque e itei
escorre pra porta da frente do apartamento,
mas tinha sido fechada por fora e eu não podia
sair. E o tempo todo a música ficava cada
vez mais gronque, como se fosse uma tortura
deliberada, ó meus irmãos. Então eu enfiei
os meus dedinhos bem fundo nos meus ucos,
mas os trombones e os tímpanos penetravam
estourando, muito gronque. Então eu
critchei novamente pra eles pararem e martelei,
martelei, martelei na parede, mas não
fez nem um malenquezinho de diferença.
"Ai, o que é que eu faço?", buuuuuuuaa eu
sozinho. "Ai, Bog do Céu, me ajuda!" Eu estava
assim perambulando pelo apartamento
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inteiro, com dores e náuseas, tentando tampar
a música e assim gemendo do fundo das
tripas, e aí, no alto da pilha de livros e papéis
e aquela quel toda que estava em cima da
mesa da sala de estar, eu videei o que é que
eu tinha a fazer e o que tinha querido fazer
até que aqueles velhos da Biblio Pública e depois
Billyboy e o Tapado disfarçados de
rodzes me impedissem, e era acabar comigo
mesmo, dar a pitada, sumir deste mundo
perverso e cruel. O que eu videei foi o eslovo
MORTE assim na capa de um panfleto,
mesmo sendo apenas MORTE AO
GOVERNO. E, como se fosse o Destino,
tinha assim outro livrinho malenque que
tinha uma janela aberta na capa e dizia:
"Abra a janela para o ar fresco, para as idéias
novas, uma nova maneira de viver." E aí eu
entendi que estava me sendo dito pra acabar
com tudo pulando pra fora. Um momento de
dor, talvez, depois o sono, pra todo o sempre.
350/412
A música ainda estava despejando pra
dentro tudo quanto era metal e tambor, e os
violinos subiam milhas através das paredes.
A janela do quarto onde eu tinha me deitado
estava aberta. Eu itei até ela e videei uma boa
distância até os carros e os ônibus e os tcheloveques
andando lá embaixo. Eu critchei
para o mundo: - Adeus, adeus, que Bog me
perdoe por uma vida desperdiçada! - Então
subi no peitoril, a música estourando à
minha esquerda, eu fechei os glazes e senti o
vento frio no meu litso, e então pulei.
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Capítulo 6
Pulei, ó meus irmãos, e bati duro na
calçada, mas não dei a pitada, ah, não. Se eu
tivesse dado a pitada eu não estaria aqui pra
escrever o que escrito eu tenho. Parece que o
pulo não foi de uma altura suficiente pra
matar.
Mas quebrei as costas e os pulsos e os nogas
e senti uma dor muito bolche antes de
desmaiar, irmãos, com litsos atônitos e surpresos
dos tcheloveques da rua me olhando
do alto. E pouco antes de desmaiar, eu videei
claramente que não tinha um só tcheloveque
no mundo inteiro horroroso que estivesse do
meu lado, e que aquela música através da
parede tinha sido tudo assim arranjado por
aqueles que supunha serem assim os meus
novos drugues e que era alguma véssiche assim
que eles queriam para a sua política horrenda,
egoísta e gabola. E tudo isso foi na
milionésima da milionésima parte da minuta
antes que eu me jogasse em cima do mundo
e do céu e dos litsos dos tcheloveques que estavam
me olhando de cima.
Onde eu estava quando voltei à djísene,
depois de um longo lapso preto preto de, podia
ser, um milhão de anos, era um hospital
e com aquele cheiro de hospital que a gente
sente, assim ácido, aconchegado e limpo.
Essas véssiches antissépticas que dão à
gente nos hospitais deviam ter um vone realmente
horrorshow assim de cebola ou de
flor. Eu fui aos poucos voltando a saber
quem eu era e estava todo enfaixado de
branco, e não sentia nada no meu plote, nem
dor, nem sensação, nem véssiche nenhuma.
Em volta do meu gúliver inteiro tinha uma
atadura e pedaços de pano assim grudados
no meu litso, e meus rúqueres estavam todos
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em ataduras e tinha assim pedaços de
varetas fixados assim aos meus dedos, como
se neles tivessem flores pra fazer elas crescerem
direito, e os coitados dos meus nogas
também estavam todos na fôrma, e era tudo
ataduras e gaiolas de arame e no rúquer
direito, perto do pletcho, tinha crove vermelho
vermelho pingando de um pote de
cabeça pra baixo. Mas eu não sentia nada, ó
meus irmãos. Tinha uma enfermeira sentada
perto da minha cama e ela estava lendo um
livro qualquer de uma impressão muito
apagada e dava pra videar que era uma
história, porque tinha uma porção de aspas e
ela estava assim respirando forte em cima
dele uh, uh, uh, logo, devia ser uma história
de entra-sai-entra-sai. Ela era uma devotcheca
muito horrorshow, essa enfermeira,
com uma rote muito vermelha e sobrancelhas
compridas em cima dos glazes, e debaixo
do uniforme assim muito engomado, dava
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pra se videar que tinha grudes muito horrorshow.
Então eu disse pra ela:
- Qual é, ó minha irmãzinha? Chega-te e
dá uma deitadinha aqui com o seu malenque
drugue aqui na caminha.
- Mas os eslovos não saíram assim tão
horrorshow, sendo assim como se a minha
rote estivesse toda dura, e eu pude sentir
com o meu iázique que alguns dos meus
zubes não estavam mais lá. Mas a tal enfermeira
deu assim um pulo e deixou cair o livro
no chão e disse:
- Ah, você recobrou consciência!
Isso era coisa muito complicada pra rote
de uma ptitsa malenque como ela, e eu tentei
dizer isso, mas os eslovos saíram assim só eh
eh eh. Ela itou fora e me deixou no meu
odinoque, e eu podia videar agora que eu estava
num quarto malenque só pra mim, não
numa daquelas enfermarias compridas como
eu tinha estado quando ainda era um
maltchique muito pequenininho, cheia de
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veques estarres tossindo e morrendo a toda a
volta, pra fazer a gente querer ficar bom e em
forma de novo. Tinha sido difteria que eu
tinha tido naquela época, ó meus irmãos.
Agora, era assim como se eu não conseguisse
ficar consciente lá por muito tempo,
porque já estava dormindo de novo quase
que imediatamente, muito escorre, mas em
uma minuta ou duas eu tinha certeza de que
a ptitsa enfermeira tinha voltado e tinha
trazido tcheloveques de avental branco com
ela e eles estavam me videando de testa enrugada
e fazendo hum hum hum para o
Vosso Humilde Narrador. E, com eles, eu
tinha a certeza de que estava o velho charles
da Prisesta govoritando: - Ah, meu filho,
meu filho - exalando um vone muito fermentado
de uísque em cima de mim e depois
dizendo: - Mas eu não quis ficar ah, não. Eu
não podia endossar o que aqueles brétchenes
vão fazer com outros pobres prestúpniques.
Então eu sai e estou agora pregando sermões
356/412
sobre essa coisa toda, meu amado irmãozinho
em J. C.
Eu acordei de novo mais tarde e quem é
que eu iria videar ali em volta senão os três
de cujo apartamento eu tinha pulado fora, os
chamados D. B. da Silva, Não-sei-quê de
Não-sei-quê Rubinstem e Z. Dolin. - Amigo -
estava dizendo um daqueles veques, mas eu
não podia videar nem esluchar horrorshow
qual deles -, amigo, amiguinho - aquela golosse
estava dizendo -, o povo está inflamado
de indignação. Você liquidou as chances de
reeleição desses horrendos celerados
gabolas. Eles vão-se embora e vão-se embora
para todo o sempre.
Você serviu muito bem à causa da
Liberdade.
Eu tentei dizer:
- Se eu tivesse morrido, teria sido melhor
ainda pra vocês, não teria, seus políticos
brétchenes, drugues fingidos e traiçoeiros
que vocês são. - Mas tudo o que saiu foi eh eh
357/412
eh. Então um daqueles três parecia estar estendendo
um monte de recortes de gazetas e
tudo o que eu conseguia ver era uma horrível
fotografia minha todo crovento, numa maca,
sendo carregado, e eu parecia me lembrar de
uma espécie de espocar de luzes que devia
ter sido os veques fotógrafos. Com um dos
glazes eu conseguia ler assim as manchetes
que estavam meio tremendo no rúquer do
tcheloveque que as estava segurando, como
JOVEM VÍTIMA DE PLANO DE
RECUPERAÇÃO DE CRIMINOSOS e
GOVERNO ASSASSINO, e ai tinha assim
uma fotografia de um veque que me parecia
conhecido e dizia FORA FORA FORA, e era o
Ministro do Inferior ou do Interior.
Então a ptitsa enfermeira falou:
- Os senhores não deviam estar excitando
ele assim. Não deviam estar fazendo nada
que o faça ficar agitado.
Agora vamos, os senhores vão lá pra fora.
- Eu tentei dizer:
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- Fora fora fora - mas saiu eh eh eh de
novo. Seja como for, os três veques políticos
se foram. E eu fui também, só que de volta ao
barato, de volta à escuridão total, iluminada
assim por sonhos estranhos, que eu não
sabia se eram sonhos ou não. Como, por exemplo,
eu tive aquela idéia do meu plote ou
corpo estar sendo esvaziado do que poderia
ser água suja e depois enchido de novo com
limpa. Depois tive sonhos realmente lindos e
horrorshow, como estar no carro de um
veque qualquer, que eu tinha crastado, e
guiando pra cima e pra baixo pelo mundo
afora, completamente no meu odinoque, atropelando
líudes e ouvindo elas critchar que
estavam morrendo e, em mim, nada de dor
nem enjôo. E também tive sonhos fazendo
entra-sai-entra-sai com devótchecas, assim
jogando elas no chão e forçando a fazer, e todo
mundo de pé em volta aplaudindo que
nem bezúmines. E aí eu acordei de novo e
eram meu pê e eme que tinham vindo videar
359/412
o filho doente, minha eme fazendo buuuuu
muito horrorshow. Eu já podia govoritar
muito melhor agora e consegui dizer:
- Ora, ora, ora, ora, ora, como é que é?
Por que é que vocês pensam que são bemvindos?
- Meu papapá disse, com um jeito
encabulado:
- Você estava nos jornais, meu filho. Dizia
que tinham feito muito mal a você. Contava
como o Governo levou você a tentar acabar
com você mesmo. E foi nossa culpa também,
de uma certa forma, meu filho. Sua casa é
sua, quando tudo isso tiver passado, meu
filho. - E minha mãe continuava fazendo
buuuuu, e de cara feia que nem os meus
cherres. Então eu disse:
- E como está o vosso novo filho Joe?
Bem e com saúde e próspero. Espero em
Deus. - Minha mãe disse:
- Oh, Alex, Alex. Buuuuu. - Meu papapá
disse:
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- Uma coisa absurda, meu filho. Ele teve
uma encrencazinha com a polícia e a polícia
bateu nele.
- É mesmo? - disse eu. - É mesmo? Um
tcheloveque tão bom e tudo. Eu estou realmente
abismado, no duro.
- Cuidando da vida dele, é o que ele estava
- disse o meu pê -, e a polícia disse a ele
pra ir rodando. Ele estava esperando na esquina,
meu filho, uma garota com quem ele
ia se encontrar. E eles disseram a ele pra ele
ir rodando e ele disse que tinha direitos,
como todo mundo, e eles caíram em cima
dele e bateram nele com a maior crueldade.
- Terrível - disse eu. - Realmente terrível.
E onde é que o coitado do rapaz está agora?
- Ahhhhh - buuuuuuuou minha mãe. -
Foi embora pra caaaaasa!
- É - disse o pai.
- Ele voltou pra terrinha dele pra se curar.
Tiveram que dar o emprego dele aqui a
outro.
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- Então agora - disse eu - vocês estão querendo
que eu me mude de volta pra lá, e as
coisas vão ser como eram antes.
- É, meu filho - disse o meu papapá. - Por
favor, meu filho.
- Vou pensar no assunto - disse eu. - Vou
pensar no assunto com toda a atenção.
- Ahhhh - fazia minha mãe.
- Ah, cala a boca - disse eu - ou eu lhe dou
uma boa razão pra ganir e critchar à vontade.
Eu lhe chuto os zubes pra dentro, ah, chuto. -
E, ó meus irmãos, dizer isso me fez sentir um
malenquezinho melhor, como se assim crove
fresco e vermelho vermelho estivesse correndo
pelo meu plote todo. Isso era uma
coisa em que eu tinha que pensar. Era como
se, pra melhorar, eu tivesse tido que ficar
pior.
- Isso não é maneira de falar com sua
mãe, meu filho. - disse o meu papapá. - Afinal,
foi ela quem trouxe você ao mundo.
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- É - disse eu -, é um mundo muito grejinento
e vonento. - Eu apertei os glazes assim
sentindo dor e disse: -
Vão embora agora. Eu vou pensar em voltar
pra lá. Mas agora as coisas vão ser
diferentes.
- Sim, meu filho - disse meu pê. - Como
você quiser.
- Vocês têm que resolver - disse eu -
quem é que vai mandar.
- Ahhhhh - continuava minha mãe.
- Está bom, meu filho - disse meu
papapá. - Seja como você quiser. Mas fique
bom.
Depois que eles foram embora, eu fiquei
deitado e pensei um bocado sobre uma
porção de véssiches, assim como uma porção
de quadros passando pelo meu gúliver, e
quando a ptitsa enfermeira entrou de volta e
assim endireitou os lençóis da cama, eu disse
pra ela:
- Há quanto tempo eu estou aqui?
363/412
- Uma semana, mais ou menos - disse ela.
- E o que foi que andaram fazendo
comigo?
- Bem - disse ela -, você estava todo
quebrado e todo machucado, tinha sofrido
séria concussão e tinha perdido muito
sangue. Tiveram que consertar tudo isso, não
é?
- Mas - disse eu -, andaram fazendo alguma
coisa com o meu gúliver? O que eu
quero dizer é se andaram brincando assim lá
dentro com o meu cérebro.
- O que quer que tenham feito - disse ela -
foi para o seu bem.
Mas, um par de dias depois, entrou assim
um par de doutores, ambos veques ainda
jovens, com uns sorrisos muito esládiques, e
traziam assim um livro de figuras. Um deles
disse: - Nós queremos que você dê uma olhada
nisso aqui e depois nos diga o que acha.
Está bem?
364/412
- Qual é, ó druguinhos? - disse eu. - Que
nova idéia bezúmine em mente tendes? -
Então ambos deram um esmeque meio embaraçado
com essa e ai sentaram um de cada
lado da cama e abriram o tal livro. Na
primeira página tinha assim uma fotografia
de um ninho de passarinho, cheio de ovos.
- Então? - disse um dos tais veques
doutores.
- Um ninho de passarinho - disse eu - assim
cheio de ovos. Muito bonitinho.
- E o que é que você gostaria de fazer com
eles? -disse o outro.
- Ah - disse eu -, quebrar. Pegar tudo e
jogar assim de encontro a uma parede ou
uma pedra, ou alguma coisa, e aí videar tudo
se espatifar, muito horrorshow.
- Ótimo, ótimo - disseram ambos, e ai viraram
a página. Era assim a fotografia de um
daqueles pássaros bolches chamados pavões,
com a cauda de tudo quanto era cor aberta,
com um jeito assim muito prosa.
365/412
- Então? - disse um dos tais veques.
- Eu queria - disse eu - arrancar assim todas
essas penas do rabo dele e esluchar ele
critchar tão me matando.
Pra deixar de ser prosa.
- Ótimo - disseram ambos -, ótimo,
ótimo, ótimo.
- E continuaram virando as páginas.
Tinha assim fotografias de devótchecas realmente
horrorshow e eu disse que gostaria de
fazer entra-sai-entra-sai com montes de ultraviolência.
Tinha assim fotografias de tcheloveques
levando botinada bem no meio do
litso e crove vermelho vermelho por todo
lado, e eu disse que gostaria de estar
naquela. E tinha o desenho do velho drugue
nagói do carlitos da prisão carregando a sua
cruz ladeira acima e eu disse que gostaria de
ter o martelo e os cravos. Ótimo, ótimo,
ótimo. Eu disse:
- Mas o que que é isso?
366/412
- Hipnopedia profunda - ou qualquer eslovo
assim
- disse um daqueles dois veques. - Parece
que você está curado.
- Curado? - disse eu. - Eu preso nessa
cama desse jeito e você diz que eu estou
curado? Lambe meus cherres, digo eu.
- Espere - disse o outro. - Agora não vai
demorar.
Então eu esperei e, ó meus irmãos, melhorei
muito, mastigando ovinhos e lontiques
de torrada e pitando bolches canecos de
tchai com leite, e aí, um dia, me disseram
que eu ia receber uma visita muito, muito
especial.
- Quem? - disse eu enquanto arrumavam
a cama e penteavam meu cabelo, que eu estava
sem atadura agora e com o cabelo já
crescendo.
- Você vai ver, você vai ver - disseram. E
videei mesmo. As duas e meia da tarde tinha
assim tudo quanto era fotógrafo e homem de
367/412
gazeta, com caderninhos e lápis e aquela quel
toda. E, irmãos, eles quase que tocaram fanfarra
de trombeta pro tal veque grande e importante
que estava vindo videar o Vosso
Humilde Narrador. E ele veio e, naturalmente,
não era outro senão o Ministro do Interior
ou Inferior, vestido no rigor da moda e
com a sua golosse muito de classe alta, hou,
hou, hou. As câmaras fizeram flash flash
bum quando ele esticou o rúquer pra eu
apertar. Eu falei:
- Ora, ora, ora, ora, ora. Como é que é,
druguinho velho? - Ninguém pareceu poniar
isso lá muito bem, mas alguém disse com
uma voz assim áspera:
- Mais respeito, rapaz, quando falar com
o senhor Ministro!
- Os iarbos - disse eu assim rosnando que
nem um cachorrinho. - Bolches iarbóes pra
vós e vós outros.
368/412
- Deixa, deixa - disse o do Interior Inferior
muito escorre. - Ele fala como amigo, não
é, meu filho?
- Sou amigo de todo mundo - disse eu -,
menos dos meus inimigos.
- E quem são os seus inimigos? - disse o
Ministro, enquanto os veques das gazetas
iam de escreve escreve escreve. - Diga-nos
isso, meu rapaz.
- Todos os que me fazem mal - disse eu -
são meus inimigos.
- Bem - disse o Min Int Inf, sentando
perto da minha cama. - Eu e o Governo do
qual sou membro queremos que você nos
veja como amigos. Sim, amigos. Nós
deixamos você bem, não deixamos? Você está
tendo o melhor tratamento. Nós nunca lhe
desejamos mal, mas alguns o fizeram e
fazem. E acho que você sabe quem são.
- Todos os que me fazem mal - disse eu -
são meus inimigos.
369/412
- Sim, sim, sim - disse ele. - Há certos homens
que querem usar você, sim, usar para
fins políticos. Teriam ficado contentes, sim,
contentes, se você tivesse morrido, porque
pensaram que então poderiam pôr a culpa de
tudo no Governo. Eu acho que você sabe
quem são esses homens.
- Há um homem - disse o Min int inf -
chamado F. Alexander, escritor de literatura
subversiva, que tem andado uivando pelo
seu sangue. Tem andado louco de desejo de
lhe enfiar uma faca. Mas você está a salvo
dele, agora. Nós o afastamos.
- Ele era pra ser assim um druguinho -
disse eu. - Que nem uma mãe pra mim, isso é
que ele foi.
- Ele descobriu que você tinha lhe feito
mal. Pelo menos - disse o Min. muito escorre
-, ele acreditava que você tivesse feito mal.
Ele formou essa idéia dentro da cabeça dele,
de que você tinha sido responsável pela
370/412
morte de uma pessoa que lhe era muito
próxima e muito querida.
- O que você quer dizer - disse eu - é que
contaram isso a ele.
- Ele tinha essa idéia - disse o Min. - Ele
era uma ameaça. Nós o afastamos para a
própria proteção dele. E
também - disse ele - para a sua.
- Bondade - disse eu -, muita bondade
vossa.
- Quando você sair daqui - disse o Min. -,
você não vai ter preocupações. Nós vamos
cuidar de tudo. Um bom emprego, com um
bom salário. Porque você está nos ajudando.
- Estou? - disse eu.
- Nós sempre ajudamos nossos amigos,
não ajudamos? - E aí, ele pegou no meu
rúquer e um veque qualquer critchou:
"Sorri!" E eu sorri que nem bezúmine, sem
pensar, e aí, flash traque bum, estavam tirando
fotografias de mim e do Min int inf
muito drugues juntos. - Bom rapaz - disse o
371/412
tcheloveque graúdo. - Muito bom rapaz. E
agora olhe, um presente.
O que estava sendo trazido agora, irmãos,
era uma caixa grande e polida e eu videei
logo que espécie de véssiches era. Era um estéreo
Foi posta no chão, perto da cama e
aberta, e um veque qualquer ligou o pino na
tomada da parede. - O que é que vai ser? -
perguntou um veque com ótcheques em cima
do nariz, e ele tinha nos rúqueres lindas capas
de discos, brilhantes, cheias de música. -
Mozart? Beethoven? Schoenberg? Carl Orff?
- A Nona - disse eu. - A gloriosa Nona.
E foi a Nona, ó meus irmãos. Todo
mundo começou a sair muito em silêncio enquanto
eu ficava lá, deitado, de glazes fechados,
esluchando a linda música. O Mm.
falou: - Muito bom rapaz - batendo no meu
pletcho, depois itou pra fora. Só ficou um
veque dizendo: - Assine aqui, por favor.
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- Eu abri as glazes pra assinar, sem saber
o que estava assinando, ó meus irmãos, e
pouco me incomodando.
Depois, me deixou sozinho com a gloriosa
Nona do Ludwig van.
Ah, era beleza e iamiamiam. Quando
chegou ao Scherzo, eu podia me videar claramente
correndo e cortando o mundo inteiro
que critchava, com a minha britva de degolar.
E ainda faltava o movimento e o lindo
último movimento coral. Eu estava curado
mesmo.
373/412
Capítulo 7
- Qual vai ser o programa, hein?
Estava eu, o Vosso Humilde Narrador, e
meus três drugues, quer dizer, Len, Rick e o
Vitelão, sendo Vitelão por causa do seu
pescoção bolche e da golosse muito gronque,
que era que nem um bolche vitelão berrando
auuuuh. Nós estávamos sentados no Leitebar
Korova rassudocando o que fazer de
noite, numa noite de inverno agitado, filho
da puta de frio, se bem que seco. A toda à
volta tinha tcheloveques muito noutra, de
leite com velocete e sintemesque e drencrom
e outras véssiches que levavam a gente pra
muito longe deste mundo malvado e cruel,
pruma viagem, pra videar Bog e Todos os
Seus Bem-Aventurados Anjos e Santos no
sabogue esquerdo, com luzes espocando e
crepitando dentro do mosgue. O que a gente
estava pitando era o velho moloco com facas,
como a gente costumava dizer, pra deixar a
gente afiado e pronto pra uma sacanagem de
vinte contra uma, mas eu já contei isso tudo
a vocês antes.
A gente estava vestido no rigor da moda,
que naquela época eram aquelas calças
muito largas, e assim, um gibão de couro
brilhante muito folgado, sobre uma camisa
de colarinho aberto, com assim um lenço
enfiado.
Naquela época também estava no rigor
da moda usar a britva no gúliver, de modo
que a maior parte do gúliver estava assim
careca e tinha cabelo só dos lados. Mas era
sempre a mesma coisa nos nogas - bolches
botinões pra chutar litsos.
- Qual vai ser o programa, hein?
Eu era assim o mais velho dos quatro, e
eles me encaravam como o chefe, mas às
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vezes eu tinha a impressão de que o Vitelão
tinha a idéia, no gúliver dele, de que ele
gostaria de assumir o comando, isso por
causa do seu tamanho e assim da golosse
gronque que saía berrando de dentro dele
quando ele estava na senda do combate. Mas
todas as idéias partiram do Vosso Humilde, ó
meus irmãos, e tinha também aquela véssiche
de que eu tinha ficado famoso e tinha
tido meu retrato e artigos e aquela quel toda
nas gazetas. E, também, eu tinha de longe o
melhor emprego de nós quatro, que eu estava
nos Arquivos Nacionais Gramodisco, no
setor de música, com o cárman horrorshow,
cheio de tutu no fim da semana e uma
porção de ótimos discos de graça por fora, só
para o meu euzinho malenque.
Naquela noite no Korova tinha uma boa
quantidade de veques e ptitsas e devótchecas
e maltchiques, esmecando e pitando, e, cortando
o govorite deles e o engrolado dos baratinados
fazendo "Sanguesang catadup e o
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verme borrifa plenóficas mortalbolas" e
aquela quel toda, ouvia-se um disco pop no
estéreo, e era Ned Achimota cantando
Naquele dia, é, Naquele dia. No balcão estavam
três devótchecas vestidas no rigor da
moda nadsat, quer dizer, cabelo comprido
despenteado tingido de branco, grudes falsos
espichados de um metro ou mais e saias curtas
muito apertadas, todas assim com espuma
branca por baixo, e o Vitelão dizia: -
Ei, a gente bem que podia entrar ali dentro,
três de nós. O Len não está interessado.
Deixa o Len sozinho com o Deus dele. - E o
Len dizia: - larbos, iarbos. Cadê o clima de
um por todos e todos por um, hein, garoto? -
Eu estava me sentindo ao mesmo tempo
muito, muito cansado e cheio de energia formigando,
e falei:
- Fora, fora, fora, fora.
- Pra onde? - disse o Rick, que tinha cara
de sapo.
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- Ah, só pra ver o que é que está havendo
no vasto mundo - disse eu. Mas, de um certo
modo, meus irmãos, eu estava muito
chateado e um pouco desanimado, e andava
me sentindo muito assim naquela época.
Então, me virei pro tcheloveque que estava
mais perto de mim no longo banco de pelúcia
que dava a volta ao méssito inteiro, um
tcheloveque, quero dizer, que estava borborejando
todo baratinado, e punhei ele
muito escorre, teque teque teque na barriga.
Mas ele não sentiu, irmãos, só borborejando
o seu "Caraquilate virtude, em que rabaltos
quedam as popopipocas?" Então nos mandamos
pela grande nótchi de inverno.
Descemos o Marghanita Boulevard e não
tinha milicentes patrulhando por aquelas
bandas, portanto, quando a gente encontrou
um veque estarre vindo de uma banca de
revistas onde tinha comprado uma gazeta, eu
disse pro Vitelão: "Muito bem, Vitelão, podeis
se assim desejais." Cada vez mais, naquela
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época, eu estava dando as ordens e ficando à
parte pra videar elas sendo executadas.
Então o Vitelão rachou por dentro dele eh eh
eh, e os outros dois pisotearam e chutaram
ele, esmecando quando ele já estava caído, e
depois deixaram ele rastejar pra onde ele
morava, assim choramingando pra ele
mesmo. O Vitelão falou:
- Que tal um copo gostoso de alguma
coisa pra espantar o frio, Alex? - Porque a
gente não estava muito longe do Duke of
New York. Os outros dois concordaram é é é,
mas olharam todos pra mim pra videar se
podiam.
Eu concordei também e, portanto, lá itamos
nós. Dentro, no aconchego, estavam
aquelas estarres ptitsas ou babúchecas de
que vocês se lembram do começo e elas
começaram com os "Boa noite, rapazes, Deus
abençoe vocês, meninos, os melhores
rapazes que ainda estão com vida, é isso o
que vocês são", esperando que a gente
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falasse: "O que é que vai ser, garotas?" O
Vitelão tocou o colócol e veio um garçom esfregando
os rúqueres no avental gredzento.
- Cortador na mesa, druguinhos - disse o
Vitelão puxando a sua pilhazinha de dengue
tilintante e chacoalhante. - Escoceses pra nós
e a mesma coisa pras babúchecas velhas, tá?
- E aí eu falei:
- Ah, que se danem. Elas que paguem o
delas. - Eu não sabia o que era, mas naqueles
últimos dias eu tinha ficado assim sovina.
Tinha entrado no meu gúliver assim um
desejo de guardar todo o meu tutu pra mim,
de assim amealhar ele todo, por algum
motivo. O Vitelão falou:
- Qual é, brete? O que é que há com o
velho Alex?
- Ah, que se danem - disse eu. - Não sei,
não sei. O que há é que eu não gosto de jogar
fora o meu tutu ganho no sacrifício, é isso o
que há.
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- Ganho? - disse Rick. - Ganho? Não precisa
ser ganho, como bem sabeis, drugue
velho. Pego, só assim, pego.
- E esmecou muito gronque e eu videei
que um ou dois zubes dele não estavam assim
tão horrorshow.
- Ah - disse eu -, eu preciso pensar um
pouco. - Mas, videando aquelas babúchecas,
parecendo todas muito assim ávidas por um
álcool grátis, eu dei de pletchos e puxei o
meu cortador do cárman das calças, notas e
moedas tudo misturado, e despejei tlinque
craque na mesa.
- Escoceses pra todo mundo, certo - disse
o garçom. Mas, por alguma razão eu falei:
- Não, rapaz, pra mim traz uma cerveja
pequena, certo? - Len falou:
- Dessa eu não gostei - e começou a botar
o rúquer no meu gúliver, assim brincando
como se eu estivesse com febre, mas eu rosnei
que nem um cachorrinho pra ele parar
escorre.
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- Tá bom, tá bom, drugue - disse ele. -
Assim como dizeis. - Mas o Vitelão estava
dando um esmote de rote aberta pra alguma
coisa que tinha saído do meu cárman junto
com o tutu que eu tinha posto na mesa. Ele
falou:
- Ora, ora, ora. E a gente nunca soube.
- Me dá isso - rosnei e agarrei o troço
rápido. Eu não sabia explicar como é que
tinha ido parar ali, irmãos, mas era uma fotografia
que eu tinha cortado a tesoura de
uma gazeta velha, e era de um bebê. Era de
um bebê gorgorejando gu gu gu todo cheio
assim de moloco escorrendo da rote e olhando
pra cima e esmecando pra todo
mundo; estava todo nagói e a carne estava
assim toda cheia de dobras, que era um bebê
muito gordo.
Então teve assim um pouco de luta ho ho
ho pra arrancar o papelzinho de mim, e aí eu
tive de rosnar de novo pra eles e agarrei a
foto e rasguei em pedacinhos pequetitinhos e
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deixei cair como neve no chão. Aí chegou o
uísque e as babúchecas estarres disseram:
"'Saúde, rapazes, Deus abençoe vocês, meninos,
os melhores rapazes que ainda estão
com vida, isso éo que vocês são", e aquela
quel toda. E uma delas, que era só rugas e
vincos e sem zubes na rote velha encolhida,
disse: - Não rasgue dinheiro, meu filho. Se
você não precisa, dá pra quem precisa - o que
era muito atrevimento e petulância da parte
dela. Mas Rick falou:
- Dinheiro não era, ó babúcheca. Era o retrato
de um bebezinho muito pequermchinho.
- Eu falei:
- Eu estou ficando um pouco cansado, lá
isso estou. Vocês é que são os bebês, cambada.
Zombando e se abrindo, e tudo o que
vocês fazem é esmecar e dar nas pessoas bolches
toltchoques na covardia, quando elas
não podem reagir. - O Vitelão falou:
- Ora essa, a gente sempre pensou que
você é que era o rei disso e também o
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professor. Você não está bom, é isso o que há
com você, drugue velho.
Eu videei aquele copo de cerveja choca
que estava em cima da mesa na minha frente
e me senti todo cheio de vômito por dentro,
por isso eu fiz "aaaaaa" e entornei toda a quel
espumenta e vonenta no chão. Uma das ptitsas
estarres disse:
- Se não quer, não desperdiça. - Eu falei:
- Olhem, drugues. Escutem. Essa noite eu
não estou lá com muita disposição. Não sei
como nem por quê, mas o negócio é esse.
Vocês três sigam o seu caminho por essa
noite e me deixem de fora. Amanhã a gente
se encontra mesma hora mesmo lugar, eu esperando
já estar muito melhor.
- Ah - disse o Vitelão -, isso me dá muita
pena. - Mas podia-se videar assim um fulgor
nos glazinhos dele, porque então ele podia
assumir o comando por aquela nótchi.
Poder, poder, todo mundo quer assim o
poder. - A gente pode adiar até amanhã -
384/412
disse o Vitelão - o que em mente tinha. Ou
seja, aquele crastezinho de loja na Rua
Gagárin. Renda horrorshow muito bacana lá,
drugue, pra se apanhar.
- Não - disse eu. - Não adiem nada. Executem,
no estilo assim de vocês. Agora, vou
itar fora. - E me levantei da cadeira.
- E vai pra onde? - perguntou Rick.
- Isso não sei eu - disse eu. - Só ficar assim
na minha e botar as coisas em ordem. -
Videava-se que as babúchecas estavam
muito espantadas de eu sair assim e todo assim
taciturno, e não o maltchique esperto e
esmecante de que vocês se lembram. Mas eu
falei: - Ah, que se danem, que se danem - e
me mandei pra rua muito no meu odinóque.
Estava escuro e estava baixando um
vento cortante que nem uma noje, e tinha
muito poucas Iíudes em volta.
Tinha aqueles carros de patrulha com
rodzes brutais dentro assim patrulhando, e
de vez em quando, na esquina, videava-se
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um par de milicentes muito jovens batendo
com os pés pra espantar o frio puto e
soltando hálito de vapor no ar de inverno, ó
meus irmãos. Acho que, na realidade, muito
da velha ultraviolência e do craste estava
morrendo então, os rodzes estando tão brutais
com quem pegavam, se bem que tivesse
virado uma luta, entre os nadsats perversos e
os rodzes, de quem era mais escorre com a
noje, a britva e o bastão, e mesmo o revólver.
Mas o que acontecia comigo naqueles dias é
que eu não estava ligando muito. Era como
que alguma coisa mole entrando dentro de
mim e eu não conseguia poniar por quê. O
que é que eu queria, naquele tempo, eu não
sabia. Até a música que eu gostava de esluchar
no meu quartinho malenque era
aquela de que eu teria esmecado antes,
irmãos. Eu estava esluchando mais assim
canções românticas, o que chamavam de
Lieder, só uma golosse e um piano, muito
tranqúilo e anelante, diferente de quando
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eram bolches orquestras e eu deitado na
cama entre os violinos e os trombones e os
tímpanos. Tinha alguma coisa acontecendo
dentro de mim e eu imaginava se era assim
alguma doença ou se era o que eles tinham
feito comigo daquela vez, perturbando o meu
gúliver, e que talvez estivesse me fazendo
ficar realmente bezúmine.
Portanto, pensando assim com o gúliver
curvado e meus rúqueres enfiados nos cármans
das calças, eu andei pela cidade,
irmãos, e finalmente comecei a ficar muito
cansado e também com muita precisão de
uma gostosa bolche tchacha de tchai com
leite. Pensando nesse tchai eu tive a visão
súbita de mim sentado diante de uma bolche
lareira, numa cadeira de braços, pitando
aquele tchai, e o que era engraçado e muito
estranho era que eu parecia ter virado um
tcheloveque muito estarre, com uns setenta
anos de idade, porque eu podia ver o meu
próprio volosse, que era muito grisalho, e
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também tinha suíças, igualmente muito grisalhas.
Eu me videava um velho, sentado
perto de uma lareira, e aí a visão como que
sumiu. Mas era assim muito estranho.
Eu cheguei a um desses méssitos de chá e
café, irmãos, e podia videar, através da vitrina
comprida, que estava cheio de líudes
chatas, assim comuns, que tinham aqueles
litsos muito pacientes e sem expressão e que
não fariam mal a ninguém, todos sentados lá
e govoritando assim tranqüilamente e pitando
os seus agradáveis e inofensivos tchais
e cafés. Eu itei dentro e fui até o balcão e
paguei um bom tchai quente com muito moloco,
depois itei até uma das mesas e sentei
pra pitar. Tinha assim um casal jovem
naquela mesa pitando e fumando cânceres
com ponta de filtro e govoritando e esmecando
muito baixinho entre eles, mas eu
não prestei atenção a eles e continuei pitando
e assim sonhando e imaginando o que é
que estava mudando dentro de mim e o que
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ia me acontecer. Mas eu videei que a
devótcheca que estava na mesa com o tal tcheloveque
era muito horrorshow, não do tipo
que a gente gostaria de jogar no chão e dar o
velho entra-sai-entra-sai, mas com um plote
e um litso muito horrorshow e uma rote sorridente
e um volosse muito, muito bonito e
aquela quel toda.
E aí, o veque que estava com ela, de
chapéu no gúliver e com o litso escondido à
minha visão, se voltou pra olhar o bolche
relógio que tinha na parede do méssito e aí
eu videei quem era ele e ele videou quem eu
era.
Era Pete, um dos meus três drugues
daquele tempo quando era Georgie e o
Tapado e ele e eu. Era Pete assim parecendo
muito mais velho, se bem que não pudesse
estar agora com mais de dezenove e pouco, e
estava de bigodinho e uma roupa diurna
comum e com aquele chapéu. Eu disse:
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- Ora ora ora, druguinho, como é que é?
Há muito tempo que a gente não se videia. -
Ele falou:
- É o Alexinho, não é?
- Não é outro - disse eu. - Faz muito,
muito, muito tempo desde aquela época
morta e esquecida. E agora, pelo que me disseram,
o coitado do Georgie está debaixo da
terra, e o velho Tapado é um milicente brutal,
e aqui está tu, e aqui estou eu, e que notícias
tens, druguinho velho?
- Ele fala gozado, não fala? - disse a tal
devótcheca assim dando risadinha.
- Este - disse Pete à devótcheca - é um
velho amigo. O nome dele é Alex. Permitame
- disse ele pra mim - apresentar-lhe a
minha mulher.
Aí, a minha rote desabou. - Mulher? - Eu
estava assim boquiaberto. - Mulher mulher
mulher? - Ah, não, não pode ser. Muito
jovem és tu para estar casado, drugue velho.
Impossível, impossível.
390/412
A devótcheca que era assim a mulher de
Pete (impossível, impossível) deu de novo
uma risadinha e disse a Pete:
- Você costumava falar assim também?
- Bem - disse Pete e assim sorriu. - Eu já
estou com quase vinte. Idade bastante pra
ser amarrado e já faz dois meses. Você era
muito jovem e muito atirado, lembra-se?
- Bem - eu ainda estava assim
boquiaberto. - Desta, me recobrar não posso,
drugue velho. Pete casado. Ora ora ora.
- Nós temos um apartamentinho - disse
Pete. - Eu estou ganhando muito pouco na
Seguradora Marítima Estatal, mas as coisas
vão melhorar, isso eu sei. E aqui a
Georgina...
- Como é que é mesmo o nome? - disse
eu, de boca aberta que nem bezúmine. A
mulher de Pete (mulher, irmãos) deu novamente
assim uns risinhos.
391/412
- Georgina - disse Pete. -- Georgina também
trabalha. Datilógrafa, sabe? Agente se
arranja, a gente se arranja.
- Eu não podia, irmãos, tirar meus glazes
de cima dele, realmente. Ele estava assim
adulto, agora, com golosse de adulto e tudo. -
Você precisa - disse Pete - vir nos visitar uma
hora dessas. Você - disse ele - ainda parece
muito jovem, apesar das suas tremendas
provações. E, é, é, nós lemos tudo a respeito.
Mas, naturalmente, você ainda é muito
jovem.
- Dezoito - disse eu - já completos.
- Dezoito, hein? - disse Pete. - Tanto assim.
Ora, ora, ora. Bom - disse ele -, nós
temos que ir. - E deu pra tal Georgina dele
assim um olhar amoroso e apertou um dos
rúqueres dela entre os dele e ela devolveulhe
um dos tais olhares, ó meus irmãos. - É -
disse Pete, - nós estamos de saída pra uma
festinha na casa do Greg.
- Greg? - disse eu.
392/412
- Ah, claro - disse Pete -, você não deve
conhecer o Greg, não é? Greg foi depois do
seu tempo. Enquanto você estava afastado,
apareceu o Greg na jogada. Ele dá festinhas,
sabe? Principalmente na base do copinho de
vinho e jogos de palavras, sabe. Inofensivo,
se é que você está percebendo.
- Sei - disse eu. - Inofensivo, sei, sei, estou
videando muito horrorshow. - E a tal
devótcheca Georgina novamente deu risinhos
com os meus eslovos. E aí aqueles dois
itaram fora pros seus jogos de palavras vonentos
na casa do tal Greg, fosse lá quem
fosse. Eu fui deixado no meu odinoque, com
o meu tchai com leite que agora já estava ficando
frio, assim pensando e meditando.
Talvez fosse isso, fiquei eu pensando.
Talvez eu estivesse ficando velho demais pro
gênero de djísene que eu tinha andado levando,
irmãos. Eu estava com dezoito agora,
já completos. Dezoito já não era mocidade.
Com dezoito o velho Wolfgang Amadeus
393/412
tinha escrito concertos e sinfonias e óperas e
oratórios e aquela quel toda, não, quel não,
música celestial. E tinha também o velho
Félix M. com a sua Ouverture para o Sonho
de uma Noite de Verão. E tinha outros. E
tinha assim aquele poeta francês musicado
pelo velho Benjy Britt, que tinha feito toda a
sua melhor poesia aos quinze, ó meus
irmãos. Arthur era o primeiro nome.
Dezoito, portanto, não era tão mocidade assim.
Mas, o que é que eu ia fazer?
Caminhando pelas ruas de inverno filhas
da puta de escuras e frias, itando fora do
méssito de café e tchai, eu continuava
videando assim visões, que nem aqueles cartuns
nas gazetas. Lá estava o Vosso Humilde
Narrador Alex chegando em casa do trabalho
prum bom prato quente de jantar, e tinha
aquela ptitsa toda hospitaleira e me
saudando assim amorosa. Mas eu não podia
videar ela assim tão horrorshow, irmãos, eu
não podia imaginar quem poderia ser. Mas
394/412
eu tinha aquela idéia súbita, muito forte, de
que se eu entrasse no quarto pegado àquele
quarto onde a lareira estava ardendo e o meu
jantar posto na mesa, eu iria encontrar o que
eu realmente desejava, e agora tudo se ligava,
aquela fotografia recortada a tesoura da
gazeta e encontrar o velho Pete daquele jeito.
Porque naquele outro quarto, num berço, estava
deitado gorgolejando gu gu gu meu
filho.
E agora eu sentia aquele grande bolche
vazio dentro do meu plote, me sentindo também
muito surpreendido comigo mesmo. Eu
sabia o que estava acontecendo, ó meus
irmãos. Eu estava crescendo.
Sim sim sim, era isso. A mocidade tem
que passar, ah é. Mas a mocidade é apenas
ser de um certo modo, como, digamos, um
animal. Não, não é somente ser assim como
um animal, mas também ser como um
daqueles brinquedinhos malenques que a
gente videia vender na rua, assim
395/412
tchelovequezinhos de lata com uma mola
dentro e uma borboleta do lado de fora e
quando se dá corda, grr grr grr, ele ita, assim
andando, ó meus irmãos. Mas ele ita em
linha reta e bate direto nas coisas, ploque
ploque, e não pode evitar o que está fazendo.
Ser jovem é como ser assim uma dessas maquininhas
malenques.
Meu filho, meu filho. Quando eu tivesse
meu filho eu ia explicar tudo isso pra ele
quando ele fosse estarre bastante assim pra
entender. Mas aí eu sabia que ele não ia entender
nada e ia fazer todas as véssiches que
eu tinha feito, talvez até matar alguma coitada
duma forela estarre cercada de cotes e
cótchecas miando, e eu não ia ser capaz de
realmente impedi-lo. E nem ele seria capaz
de impedir o próprio filho dele, irmãos. E assim
ia itar até o fim do mundo, rodando,
rodando e rodando, assim como um bolche
tcheloveque gigantesco, assim o velho Bog
em Pessoa (por cortesia do Leite-bar Korova)
396/412
girando e girando e girando uma laranja
vonenta e gréjine nos seus rúqueres
gigantescos.
Mas, primeiro que tudo, irmãos, tinha
essa véssiche de encontrar uma devótcheca
qualquer que quisesse ser mãe daquele filho.
Eu ia ter que começar a fazer isso amanhã,
pensava eu. Era alguma coisa nova pra fazer.
Era alguma coisa que eu tinha que me
pôr a fazer, assim um novo capítulo
começando.
Então, esse é que vai ser o programa,
irmãos, enquanto eu chego assim ao fim
dessa história. Vocês estiveram em toda
parte com o seu druguinho Alex, sofrendo
com ele, e videaram alguns dos mais gréjines
brétchenes que o velho Bog já fez, todos em
cima do seu drugue Alex. E tudo o que foi
que eu era jovem. Mas agora, quando eu termino
esta história, irmãos, eu não sou jovem,
não mais, ah, não. Alex assim cresce, ah é.
397/412
Mas, pra onde eu estou itando agora, ó
meus irmãos, é tudo no meu odinoque,
aonde vocês não podem ir.
Amanhã é tudo assim meigas flores e a
vonenta da terra que roda e as estrelas e a
velha Luna lá em cima e o vosso velho
drugue Alex muito no seu odinoque procurando
assim uma companheira. E essa quel
toda. Um mundo terrível, gréjine e vonento,
realmente, ó meus irmãos. E, portanto, o adeus
do vosso druginho. E para todos os outros
dessa história, chumentas trombetadas
labiais, brrr. E eles que lambam os meus
cherres. Mas vós, ó meus irmãos, lembremse
de vez em quando do vosso Alexinho como
era. Amém. E essa quel toda.
398/412
Glossário
B
babúcheca - Mulher velha
banda - Bando
barcaça - "coroa", velha
bezúmine - louco, doido
bíblio - biblioteca
bitva - briga, conflito
Bog - Deus
bôgate - rico/a
bolche - grande, enorme
bolnói - enjoado, nauseado
brétchene - filho-da-puta, bastardo
brete- irmão
britva - navalha
brosar., brosatar - jogar atirar
bruco - barriga
C
cabo-de-panela - ereção, "pau-duro"
câncer - cigarro
cantora - escritório, gabinete
carlitos, charles - capelão
cárman - bolso
cartófel - batata
chaica - bando, quadrilha
cherres- nádegas, bunda
cheste - barreira (de fronteira)
chiieque - pescoço
chilaga - bastão, porrete
chilapa - chapéu
chilarne - preocupação, interesse
chileme - capacete
chudésime - maravilhoso
chume - barulho, ruído
chute - bobo, tolo
clebe - pão
400/412
clopar - bater
cliuve - bico (pássaro)
clutche - chave
cócheca - gato; também no sentido de cat,
intérprete com bossa
colócol - campainha
copetar - entender, "manjar"
cortador - dinheiro
cote - gatão, gato grande
cracar - ganir
critchar - gritar, berrar
crove - sangue
cupetar - comprar, pagar
D
dabliucê - W.C., banheiro
dama - dama, senhora dar
a pitada - morrer
decrepes - decrépitos
dede - homem velho
dengue - dinheiro
401/412
devótcheca - moça, garota
djísene - vida
dobe - bom
dome - casa
dorogói - caro, valioso dratsa -
briga, luta, porrada drencrom -
droga, tóxico
druge - amigo, "faixa", "chapa"
dva - dois
E
entra-sai-entra-sai - trepada
escoliuo - escola, colégio
escorre- rápido, depressa
escotina -"vaca", pejorativo
esládique -doce
eslovo - palavra, termo
esluchar, eslochar - escutar, ouvir
eslutchatar - acontecer
esmeque; esmecar - riso, rir
esmotar - olhar
402/412
esnite - sonho
espatar - dormir
espátcheca - sono, dormida
esploche - mergulho
esquezetar - dizer esquivatar -agarrar
estarre - velho, antigo
estreque - horror
estrumar -defecar, cagar
esvonoque - cordão campainha
esvuque - som
F
forela - otário, babaca
G
gargalha - gargalhada debochada
gazeta - jornal
glaze - olho
glupe - burro
golhe - a unidade monetária
golosse - voz
403/412
gorlo - goela
govorite - conversa, discurso
gréjine - sujo, escroto
gredze - sujo, não limpo
gronque - alto, barulhento
grude - seio, peito
grupa - grupo
H
horrorshow - bom, bem , gostoso, legal
I
iama - buraco (ânus, no caso)
iarbos - testículos, colhões
iázique - língua
iequetar - ir, dirigir. dirigir-se
igra - jogo, brincadeira
ímia - nome
interessovotar - interessas
itar, itiar - ir, ir para
404/412
J
jina - mulher (esposa)
L
lapa - pata (de animal)
litso - rosto
líudes - pessoas, gente
lontique - pedaço
lovetar - apanhar, pegar
lubilúbi - trepar, sexo
M
malenque - pequeno
maltchique - rapaz, garoto
maslo - manteiga
mersque - sujo, imundo
méssel - pensamento
méssito - lugar, local
milicente - policial
405/412
minuta- minuto
moloco - leite
molodói - jovem (adjetivo)
mórder - focinho
mosque - cerébro
mudge - homem
N
nadmenhe - arrogante
nadsate - adolescente
nagói - nu
natchinatar - começar
naze - bobo, tolo
níjenes- calecinhas
niucar - cheirar, recender
noga - pé; perna
noje - faca
nopca - botão (de eletricidade)
nótchi - noite
O
406/412
ocno - janela
ôdin - um
odinoque - só, sozinho
osuchar - limpar
ótcheque - óculos
ouro-em-brasa - bebida, trago
P
pê e eme - pai e mãe
piânitsa - bêbedo
píchetcha- comida, bóia pitar - beber
platchar - chorar
plene - preso, prisioneiro
plesque - mergulho
pletcho- ombro
pletes - roupas
ploche - mergulho
plote - corpo
podúcheca - travesseiro
pol - sexo
polésine - útil
407/412
policlefe - chave mestra
poniar - entender, compreender
prestúpnique - criminoso prisesta -
prisão estatal privodiar - conduzir a algum
lugar
prodar - produzir, fabricar
ptisa - guria, garota
púcheca- canhão, arma
pugle -assustado
punhar - socar
Q
quel - fezes, merda quíchecas -
tripas, entranhas R
rábite - trabalho, emprego
rascadze - história
radoste - alegria rasdraz
- transtornado
rassudocar - pensar, imaginar
rassudoque - mente
raze - vez rasrezar
408/412
- rasgar rodze -
policial rote - boca
rúquer, ruque - braço, mão
rúsqui - russo
S
sabogue - sapato
sácar - açúcar sâmie
- generoso sarcar -
sarcástico
sintemesque - droga, tóxico
soboritar - apanhar, pegar
soviete - conselho, ordem
sunca - puta velha
T
tachetuque - lenço
tchacha - xícara
tchai - chá
tchasso - guarda, carcereiro
409/412
tcheloveque - pessoa, homem
tchina - mulher
tchipuca - absurdo
tchistar - lavar
toltchocar - bater, dar panacada,
golpear, porrada...
tri - três
tuflas - chinelos, pantufas
gúber - lábio, beiço gulhar
- andar, caminhar gúliver -
cabeça
U
ubivatar -matar
ucaditar - sair, partir, deixar
uco - orelha, ouvido ujássine -
terrível, péssimo úmine - que
tem cérebro,
"crânio"
uze - corrente (de metal)
410/412
V
varitar - tramar
velocete - droga, tóxico
veque - (v. tcheloveque)
véssiche - coisa
videar - ver, olhar
volosse - cabelo
vone - cheiro, odor
vredar - danificar, causar dano
Z
zamechate - notável
zasnutar - dormir
zubes - dentes
411/412














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A ARTE DA GOETIA

Dos 72 espíritos infernais, CONFORME EVOCADOS E CONSTRITOS PELO REI SHLOMO
Traduzido e Produzido por:
IAIDA6667

MORBITVS VIVIDVS.
ASTHAROTH COGNATUS
“Se desejas fazer contato com o Inferno,
escolha um lugar onde a conjuração
pode acontecer sem interrupção.
Velhos castelos em ruínas são excelentes,
porque espíritos e prédios em decadência
são semelhantes; um quarto isolado ou um
porão de sua casa pode servir perfeitamente.”
SANCTVM REGNVM

Índice
I - Introdução por IAIDA6667
II - Entendendo Goetia por Morbitvs Vividvs
Parte I - Os 72 Espíritos
• Bael
• Agares
• Vassago
• Samigina
• Marbas
• Valefor
• Amon
• Barbatos
• Paimon
• Buer
• Gusion
• Sitri
• Beleth
• Leraie
• Aligos
• Zepar
• Botis
• Bathin
• Saleos
• Purson
• Marax
• Ipos
• Aim
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• Neberius
• Glasya-Labolas
• Bune
• Ronove
• Berith
• Astaroth
• Forneus
• Foras
• Asmoday
• Gaap
• Furtur
• Marchosias
• Stolas
• Phenex
• Halphas
• Malphas
• Raum
• Focalor
• Vepar
• Sabnock
• Shax
• Vine
• Bifrons
• Vual
• Hagenti
• Crocell
• Furcas
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• Balam
• Alloces
• Camio
• Murmur
• Orobas
• Gremory
• Ose
• Amy
• Orias
• Vapula
• Zagan
• Valac
• Andras
• Haures
• Andrealphus
• Cimeies
• Amdusias
• Belial
• Decarabia
• Seere
• Dantalion
• Andromalius
Observações
Parte II - Os Materiais
Parte III - Orações e Conjuros Goéticos
Anexo - Ritual do Pentagrama
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INTRODUÇÃO
Por: IAIDA6667
A divisão destes livros em três tomos ou partes foi alternativa. Na primeira
encontraremos os 72 espíritos goeticos descritos em detalhes. As edições
cotejadas para esta primeira parte corresponde a uma união de livros como o
Pseudo-Monarchia Demonorum (1577), de Joannes Wierus e da primeira parte de
Lemegeton (século 17) de Kevin Wilby. Os selos são da edição de Aleister
Crowley do Goétia traduzido por S. L. MacGregor Mathers (1904, facsimile
reimpressa em 1976) e os desenhos ilustrativos de alguns dos espíritos são
provenientes do Dictionnaire Infernal de J. Collin de Plancy (Paris 1863, 7th
edition.)
Como o leitor poderá observar, os 72 espíritos vem acompanhados de seus
respectivos selos, que devem ser confeccionados estabelecendo como referencia
as tabelas dadas ao final da primeira parte do primeiro tomo.
Já a segunda parte deste volume é consagrada à parafernália cerimonial utilizada
no culto goético tais como encontradas em várias a edições. Existem algumas
ilustrações sobre os diversos instrumentos desta ritualista e liturgia. Cabe ressaltar
a principio que pouco ou quase nada do que está aqui descrito como necessário
ao trabalho goético deve ser imprescindível ou levado em conta ao pé da letra.
Como é bem sabido de alguns entendidos neste tipo de trabalho, vários elementos
podem ser livremente permutados ou mesmo eliminados. o trabalho goético não
deveria parecer tão ritualistico assim como se presenta, mas esse ritual pode ser
simplificado se ficar claro na mente do Magista que este santuário é tão somente
evocatório, ou seja, as coisas e fatos importantes se dão nos planos sutis e
astrais, o que não estabelece necessariamente a obrigatoriedade de todo o
aparato descrito. Todavia é necessário também que se diga que embora o
material seja de difícil obtenção nos dias de hoje, a experiência para quem dispõe
de recursos será igualmente recompensadora.
Entendendo Goétia
Por: Morbitvs Vividvs
Existe muita mitificação sobre o sistema Goétia. Muitas pessoas falam sem
autoridade alguma, e muitas autoridades no assunto preferem se manter caladas.
Sem grandes mistérios, basicamente trata-se de um sistema de invocação multipropósito.
O presente livro foi dividido em três partes, a saber: A descrição dos 72 Espíritos e
seus respectivos selos, uma descrição dos principais materiais usados na
invocação e por fim as conjurações a serem usadas para chamar-se o espírito.
Para maior entendimento do sistema, daremos aqui um breve resumo de seu
funcionamento.
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A primeira coisa a se fazer é escolher com qual espírito irá se trabalhar. Este
momento é de suma importância e dele dependerá o sucesso ou não da
invocação – uma forte motivação e um grande envolvimento emocional são de
grande ajuda neste momento. Para uma escolha sensata, o melhor a se fazer é ler
a descrição de cada um dos 72 espíritos para encontrar o que melhor se encaixa
(em personalidade e poder) com suas necessidades.
O sistema de invocação em si não guarda grandes segredos. Seus elementos
poderiam ser reduzidos a um mínimo composto por:
Baqueta – Ferramenta da vontade manifesta do magista
Circulo – Onde ficará o adepto protegido de qualquer influência externa.
Triângulo – É o local destinado a manifestação do espírito invocado, que lá estará
contido e sob as ordens do mago.
Selo do Espírito – Cada um dos 72 espíritos possui seu próprio selo, que será
disposto no triângulo para a conjuração.
Hexagrama e Pentagrama – Usados na proteção do mago.
A segunda parte do livro contém descrições mais detalhadas sobre cada uma
estas ferramentas, bem como a de acessórios opcionais que em sua maioria
trarão maior eficiência ao rito.
Inicia-se então os preparativos para a evocação. Certifique-se de que não será
interrompido, tire o telefone do gancho, desligue a campainha. . Comece
colocando o Selo do espírito no triângulo e entrando no círculo.
O próximo passo é a realização de um ritual de banimento (como o Ritual menor
do pentagrama que é dado como anexo neste livro) seguido da Conjuração
Preliminar do Não Nascido.
Chega-se a hora das Conjurações, começando pela Conjuração Preliminar do
Não-Nascido. O uso das invocações tais como seguem na terceira parte do livro é
geralmente usada simplesmente pela força que causa na psique do mago e pelo
seu sucesso já provado em diversas ocasiões. No entanto, mais importante do
que seguir um roteiro é envolver-se mental e emocionalmente com o texto.
Algumas pessoas gostam de reescrever as conjurações de modo a torná-las mais
pessoais.
As Conjurações devem ser feitas até que se sinta a presença do espírito invocado,
isto pode ser notado por uma sensação visual do quarto encher-se de neblina,
queda súbita de temperatura, sensação de formigamento no corpo, simples
premonição, etc...
Com a chegada do espírito às ordens podem ser então dadas à eles. Se for de
seu desejo ver o espírito, na maioria das vezes terá que ordenar que ele apareça.
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Quando digo “ver” quero dizer as diversas formas de manifestação sensória de um
espírito: ele pode realmente se tornar visível, pode tremular em uma imagem,
surgir e desaparecer como um vulto na área do triangulo, pode manifestar-se
psiquicamente, aparecendo com detalhes na “tela mental”, entre outros...
Os comandos para o espírito conjurado devem ser obrigatoriamente expressos
nas próprias palavras do adepto. As ordens ao espírito deveriam ser claras, e
talvez algumas restrições deveriam ser impostas, como não ferir amigos e
familiares, e quem sabe um prazo para que seus pedidos sejam compridos.
Existem duas formas basicamente de se barganhar com um espírito de Goétia.
Pedindo, ameaçando-o ou recompensando-o. Na maioria das vezes o espírito
pode aceitar ou negar um pedido seu e não exigir nada em troca. Alguns deles no
entanto parecem ter uma certa tendência para a negociação.
Se for necessário ameaçasse um espírito dizendo que seu selo será destruído.
Recompensa-os com a criação de uma nova cópia do sigilo (seja ela um trabalho
artístico, um grafite ou o que quer que seja.), embora em casos mais complicados
sacrifícios mais ousados sejam pedidos. Será comum você “ouvir” o espírito lhe
oferecer mais do que você realmente pediu tentando persuadi-lo a desejar outras
coisas. Permaneça firme em sua vontade inicial ou acabará fechando contratos
dos quais vai se arrepender depois. Na negociação não é necessário ser estúpido
como os magos medievais, muitos dos espíritos são razoáveis e amigáveis, seja
flexível, mas mantenha-se sempre no controle.
Feito isso pode se dar a licença para o espírito partir. Use a versão fornecida pelo
livro ou reescreva-a em uma forma mais pessoal. A licença deverá ser declarada
até não se sentir mais a presença do espírito.
Finalmente execute novamente o ritual de banimento. Recolha todos os
acessórios e o selo que agora está “ativado”, deverá ser guardado em um lugar
seguro, longe de mãos e olhos profanos.
Agora simplesmente aguarde o espírito cumprir sua missão. Durante este período
esteja pronto para manifestações como o aparecimento dos espíritos em sonhos,
a visão de vultos, ouvir o seu próprio nome falado alto em uma hora perdida do
dia, sensações de arrepio e formigamento e inclusive a sensação do toque além
de casos raros de poltergaist.
O sucesso é uma pratica freqüente neste sistema, mas em caso de falha temos
duas alternativas. Podemos simplesmente esquecer o ocorrido e continuar nossas
vidas, ou podemos dar um ultimato ao espírito. Para isso conjure o espírito mais
uma vez e ordene que complete sua missão em um numero certo de dias sob a
pena de ter seu selo torturado e/ou destruído. Na maioria das vezes isso bastará
para fazer-lo cumprir seu dever.
Esta é a base da prática Goetica. O sistema se revelará especialmente eficiente
para aqueles que buscam poder, hedonismo e prazeres materiais. Na verdade as
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conseqüências podem ser similares a que se tem com o jogo ou com certas
drogas no tocante de que tenderá cada vez com mais freqüências buscar poder e
prazer com os espíritos. Se você acredita que corre o risco de perder o controle
com a sensação de poder, este sistema não é para você.
Parte I – Os 72 Espíritos
Os 72 espíritos que serão apresentados a seguir não são aqueles apontados no
Pentateuco, nos famosos três versículos de onde provem os 72 nomes de IHVH.
Estes são espíritos Goéticos, de uma outra ordem; são entidades muitíssimo
primitivas, e que foram adoradas durante os primórdios da humanidade. São
deuses esquecidos que se tornaram demônios após a influencia cristã; mas isto é
uma hipótese; a experiência demonstrará a verdade. Coincidentemente 72 pode
ser o resultado da soma 66+6.
De qualquer forma estes são os 72 reis e príncipes poderosos que, conforme
conta o mito, o rei Shlomo encerrou em uma arca do bronze junto com suas
respectivas legiões. Dentre eles BELIAL, BILETH, ASMODAY e GAAP[1] eram os
principais. Devemos notar que Shlomo parace ter feito isso por puro orgulho, uma
vez que nunca declarou as razões de ser impelido a agir assim.
Tendo-os aprisionado selou a sua Arca, que através da potencia divina foi
encerrada numa gruta ou poço na antiga Babilônia. Passado algum tempo alguns
babilônicos desavisados encontraram a Arca e quiseram abri-la, imaginando que
esta estivesse repleta de tesouros. Quando conseguiram os espíritos principais
imediatamente fugiram com suas respectivas legiões, exceto BELIAL, que entrou
em uma imagem e proferiu oráculos, sendo a partir de então adorado com ritos e
sacrifícios sangrentos, como uma divindade.
Notas
1- Estes quarto grandes reis são geralmente chamados de Oriens, ou Uriens,
Paymon ou Paymonia, Ariton ou Egyn e Amaymon ou Amaimon. Pelos rabinos
são conhecidos sob os nomes de: Samael, Azazel, Azael, e Mahazael.
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Bael
O primeiro espírito é o de um rei que governa no leste, senhor da tempestade e da
fecundidade, chamado Bael, ou Baal. Seu nome vem da palavra ba’l e significa
“dono”, “senhor”. Este espírito fala atropeladamente e guarda o poder de torná-lo
invisível. Ele reina sobre 66 legiões de espíritos infernais e manifesta-se sob
variadas formas, às vezes como um homem, e às vezes de todas as formas
possíveis de uma vez.
Este é seu selo que deve ser costurado como um Lamen antes de chamá-lo a
manifestação, caso contrário ele não obedecerá.
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Agares
O segundo espírito é um duque chamado Agreas, Agaros, ou Agares. Está sob a
potência do leste e aparece na forma de um homem velho, montando em cima de
um crocodilo e carregando um pássaro em cima de seu punho, no entanto revelase
suave na aparência. Ele tem o poder de percorrer rapidamente grandes
distancias e retornar quando requisitado. Ensina todas as línguas ou dialetos
presentemente. Ele também destrói dignidades temporais e espirituais, e causa
tremores sísmicos. Era da ordem das Virtudes e comanda 31 legiões de espíritos.
E este é seu selo que se gravará como um lamen antes de invocá-lo.
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Vassago
O terceiro espírito é um príncipe poderoso, sendo da mesma natureza que Agares.
É chamado Vassago. Possui uma boa natureza e sua função é declarar coisas
passadas e futuras e descobrir todas as coisas escondidas ou perdidas. Comanda
26 legiões de espíritos, e este é seu selo.
Samigina
O quarto espírito é Samigina, ou Gamigin, um Grande Marques. Aparece na forma
de um cavalo ou de um burro pequeno, e toma ao pedido do mestre a aparência
humana. Ele fala com uma voz rouca. Ele governa sobre 30 legiões inferiores.
Ensina todas as ciências liberais, e transmite conhecimento sobre as Almas que
morreram no esquecimento. Seu selo é este, que deve ser preparado antes do
mágico invoca-lo, etc. [uma outra grafia é Gamygn].
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Marbas
O quinto espírito é Marbas, ou Barbas. É um grande Presidente grande, que se
manifesta primeiramente sob a forma de um grande leão, mas mais tarde, no
pedido do mestre, ele toma forma humana. Ele responde corretamente todas as
perguntas sobre coisas escon7didas ou secretas. Ele cura e causa doenças. Por
outro lado, concede grande sabedoria e conhecimento em Artes Mecânicas; e
pode mudar a forma dos homens. Ele governa 36 legiões dos espíritos. E seu selo
é este, que deve ser preparado como foi dito acima.
Valefor
O sexto espírito é Valefor, Valefar, ou Malephar. É um duque poderoso, e aparece
na forma de um leão com cabeça de burro, gritando. É um espírito familiar bom,
mas eventualmente rouba. Ele governa 10 legiões de espíritos. Seu selo é este,
que deve ser preparado, sendo o espírito familiar ou não.
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Amon
O sétimo espírito é Amon. É um Marques de grande potência. Aparece como de
um lobo com a cauda de uma serpente, vomitando flamas de fogo; mas no
comando do mágico toma na forma de um homem com traços caninos e cabeça
de um corvo; e também como um homem com uma cabeça de corvo ou coruja.
Ele mostrará todas as coisas passadas e futuras. Ele reconcilia amizades entre
amigos. Ele governa 40 legiões de espíritos. Seu selo é este que deve ser
preparado como acima dito.
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Barbatos
O oitavo espírito é Barbatos. É um grande duque; aparece quando o sol está em
Sagitário, com quatro reis nobres e as suas companhias de tropas. Ele da
compreensão da língua do canto dos pássaros, e das vozes de outras criaturas,
tais como o ladrar dos cães. Ele quebra encantamentos que os magistas arrogam
sobre tesouros escondidos. É da ordem das Virtudes, onde misteriosamente ele
ainda permanece; e ele conhece todas as coisas passadas, e por vir, e concede
amizades poderosas. Ele comanda 30 legiões de espíritos. Seu selo de
Obediência é este, que será preparado antes, como acima foi dito.
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Paimon
O nono espírito nesta ordem é Paimon, um grande Rei, muito obediente a
LUCIFER. Ele aparece na forma de um homem sentado em cima de um
dromedário com uma coroa a mais gloriosa sobre a sua cabeça. É precedido por
um séqüito de espíritos, como homens com trombetas e címbalos, e toda sorte de
instrumentos musicais. Ele possui uma poderosa voz, e fala jorrando palavras em
tal numero que o mágico não pode compreende a menos que o puder compelir a
obedecer.
Este espírito pode ensinar todas as artes e ciências, além de coisas secretas.
Descobre qualquer coisa que esteja sobre a terra ou sob as águas; e o que a
mente é, e onde ela se encontra; ou algum outro desejo que o magista queira
saber. Ele concede títulos e confirma os mesmos. Ele concede bons Familiares
tanto como pode ensinar quaisquer artes. Deve ser esperado pelo oeste. É da
ordem das Dominações. Chefia 200 legiões de espíritos, sendo parte deles da
ordem dos anjos, e da outra das Potestades. Agora se quiseres chamar Paimon
sozinho, deverá lhe fazer alguma oferenda; e atende por meio de dois reis
chamados LABAL e ABALIM, e também por outros espíritos que sejam da ordem
de Potestades, junto com 25 legiões. E aqueles espíritos que lhe são sujeitos não
estão sempre com ele a menos que o magista os obrigue a isto. Seu selo é este
que deve ser preparado como um selo antes do chamá-lo, etc.
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Buer
O décimo espírito é Buer, um grande presidente. Aparece como um Sagitário,
quando o sol está passando pela constelação respectiva. Ensina a filosofia, moral
e natural, e a arte da lógica, e também as virtudes de todas as ervas e plantas. Ele
remedia os destemperos no homem, e lhe concede bons espíritos familiares.
Governa 50 legiões de espíritos, e seu selo de obediência é este, que deve ser
preparado para que ele apareça.
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Gusion
O décimo primeiro espírito em ordem é um grande e forte duque, chamado
Gusion, Gusoin, ou Gusayn. Aparece como um Xenopilus [Cyaenophallus][1].
Mostra todas as coisas, passadas, presentes, e futuras, e demonstra e responde
quaisquer questões que o magista venha a formular. Ele concilia e reconcilia
amizades, e honras e títulos. Governa sobre 40 legiões de espíritos. Seu selo é
este, que será preparado como acima foi dito.
Notas
1- O que o texto intenta passar com a palavra Xenopilus, Xenophilus, or
Cyaenophallus não é algo que esteja totalmente esclarecido. "Aleister Crowley's
Illustrated Goetia" nos dá uma definição de Xenophilus como "uma estranha e
triste criatura". Outra possível referência à "Cyaenophallus" pode ser
"cynocephalus" – a criatura alada que ilustra a carta Roda da Fortuna do Tarot e
que talvez remeta á sabedoria de maneira similar a Thoth. Lisa Pekarski escreve:
Cynoceplalus repousa no fundo da Roda da Fortuna em contrapartida a esfinge
que está em seu topo. Trevas e Luz, só mais dois signos da dualidade universal.
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Um ótimo texto que explica o que são os cynocephalus é O Grande Segredo
Lupino, disponível na área Estranhos Andarilhos, na sessão Lobisomem. [nota
MSInc.]
Sitri
O décimo segundo espírito é Sitri ou Bitru. É um príncipe e manifesta-se no início
com asas de Grifo e cabeça de leopardo, mas após o comando do mestre e do
Exorcismo ele toma forma humana, até mesmo agradável. Ele inflama homens e
mulheres em amor; e os obriga a mostrarem-se despidos se assim for desejado.
Ele comanda 60 legiões de espíritos. Seu selo é este, para ser preparado como
um selo, etc.
Beleth
O décimo terceiro espírito é chamado Beleth, Bileth, Bilet, ou Byleth. É um rei
poderoso e terrível. Ele parece um cavalo pálido cercado de trombetas e outros
tipos dos instrumentos musicais. Tem no principio uma aparência furiosa; para
muda-lo deve-se tomar de um bastão de avelã em sua mão, golpeando para os
quartos sul e leste, traçando um triângulo, sem o Circulo, e comanda-lo então o
obrigando pelo laço e cargo de espíritos que daqui por diante o acompanharão. E
se ele não adentrar no triângulo, pelas ameaças, nem pelo recitar das ligações e
os encantos, então se deve rende-lo em obediência e obriga-lo a vir, através do
que é dito no Exorcismo. Contudo deve recebê-lo gentilmente porque é um grande
rei, e homenageá-lo, como se faz diante dos os reis e dos príncipes. E com um
anel de prata no dedo médio da mão esquerda mantida de encontro ao seu rosto,
como eles fazem diante de AMAYMON. Beleth causa todo tipo de amor que pode
haver entre homens e mulheres. É da ordem das potências, e governa 85 legiões
de espíritos. Seu selo nobre é este, que deve ser preparado antes de trabalhar
com o espírito.
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Leraie
O décimo quarto espírito é chamado Leraje, Leraye ou Leraie. É um Marques de
grande potência, mostrando-se qual um Arqueiro de manto verde, e carregando
uma funda e uma aljava. Ele causa grandes batalhas e disputas; e traz a
putrefação pelo ferimento que é feito com as setas por Arqueiros. Está sob os
auspícios de Sagitário. Governa 30 legiões de espíritos, e este é seu selo, etc.
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Eligos
O décimo quinto espírito em ordem é Eligos, Eligor, ou Abigor, um grande duque,
e se manifesta sob a forma de um cavaleiro gentil, carregando um lança, uma
Insígnia, e uma serpente. Ele conhece coisas escondidas, e coisas que ainda não
chegaram a acontecer; e sobre as guerras, e como os soldados se organizam. Ele
causa o amor dos senhores e de pessoas de posição. Ele governa 60 legiões. Seu
selo é este, etc.
Zepar
O décimo sexto espírito é Zepar. É um grande duque, e aparece. Aparelhado com
armas antigas, como um Soldado. Seu encargo é fazer com que as mulheres
amem os homens e fiquem junto destes por amor. Ele também pode faze-las
estéril. Governa 26 legiões de espíritos inferiores, e seu selo é este etc.
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Botis
O décimo sétimo espírito é Botis, um grande presidente, e um Conde. Ele aparece
primeiramente sob a forma de uma terrível víbora, e sob o comando do magista
ele toma forma humana, tendo, contudo dentes enormes, chifres e portando uma
espada afiada nas mãos. Ele revela todas as coisas passadas e futuras e
reconcilia amigos e adversários. Comanda 60 legiões, e este é seu selo, etc.
Bathin
O décimo oitavo espírito é Bathin, Bathym, Mathim, ou Marthim. É um duque
poderoso e forte, e aparece como um homem alentado com a cauda de uma
serpente, sentado em cima de um cavalo pardo. Conhece as virtudes das ervas e
pedras preciosas, e pode transportar homens rapidamente de um país a outro. Ele
chefia 30 legiões de espíritos. Seu selo é este que deve ser preparado como
acima foi dito.
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Saleos
O décimo nono espírito é Sallos, Saleos, ou Zaleos. É um duque grande e
poderoso, e surge na forma de um galante equitador sobre um crocodilo, com uma
coroa ducal em sua cabeça, e com um ar pacífico. Ele causa o amor das mulheres
aos homens, e dos homens às mulheres; governa 30 legiões de espíritos. Seu
selo é este:
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Saleos
O vigésimo espírito é Purson, um grande Rei. Sua aparência é comumente a de
um homem com a cara de um leão, carregando uma víbora cruel em sua mão, e
montando em cima de um urso. Vem acompanhado ao som de trombetas.
Conhece todas as coisas escondidas, e pode descobrir tesouros, e diz todas as
coisas do passado, presente e futuro. Pode fazer exame de um corpo humano ou
aéreo, e responder corretamente todas as coisas terrenas e divinas, e referentes à
Criação. Outorga bons espíritos familiares, e sob seu governo estão 22 legiões
dos espíritos, em parte da ordem das virtudes e em parte da ordem dos tronos.
Seu selo é este, e será preparado e constrito até que apareça.
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Marax
O vigésimo primeiro espírito é Marax, ou Morax. É um Conde e um Grande
Presidente. Aparece como um Búfalo enorme com cabeça humana. Seu trabalho
é instruir os sábios em astronomia, e todas ciências liberais restantes; também
pode fornecer bons familiares, conhece as virtudes das ervas e das pedras
preciosas. Comanda 30 legiões de espíritos, e seu selo é este, que deve ser feito
e preparado como acima dito, etc.
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Ipos
O vigésimo segundo espírito é Ipos, Ipes, Aypeos, ou Ayporor. É um Conde, e um
príncipe poderoso, e surge na forma de um anjo com cabeça do leão, com pé de
ganso e cauda de lebre. Ele conhece todas as coisas que se dão em qualquer
espaço de tempo. Ele torna os homens espirituosos e audazes. Comanda 36
legiões de espíritos, e seu selo é este, que deve ser feito e preparado como acima
dito, etc.
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Aim
O vigésimo terceiro espírito é Aym, Ain, ou Aini. É um duque de grande poder. Ele
aparece na forma de um homem de porte notável, mas com três cabeças; a
primeira de uma serpente, a segunda como de um homem que tem duas estrelas
em sua testa, e a terceira como uma vitela. Ele viaja em uma víbora, carregando
um ferrete em sua mão. Ele faz o homem espirituoso de todas as maneiras, e dá
respostas verdadeiras sobre assuntos confidenciais. Comanda 26 legiões de
espíritos, e seu selo é este, que deve ser feito e preparado como acima dito, etc.
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Naberius
O vigésimo quarto espírito é Naberius, Cerberus, Cerebus, ou Kereberus. É um
marques valoroso, e se mostra na forma de um enorme cão preto de três cabeças
e com pés de pássaro. Agitado sobre o círculo, ele fala sobre todas as artes e
ciências mas especialmente da arte retórica. Ele restaura títulos e honrarias
perdidas. Comanda 19 legiões de espíritos. Seu selo é este, devendo ser
preparado como se deve saber.
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Glasya-Labolas
O vigésimo quinto espírito é Glasya-Labolas, Glacia-Labolas, Glaysa, Caacrinolas,
ou Cassimolar. É um presidente e um Conde poderoso, e revela-se na forma de
um cão com asas como um Grifo. Ministrando todas as artes e ciências em um
instante, e causa derramamentos de sangue e insanidade. Ele ensina todas as
coisas passadas e futuras. Se desejado ele causa afeição. Tem o poder da
invisibilidade. Comanda 36 legiões de espíritos.
Bune
O vigésimo sexto espírito é Bune, Bime, ou Bim. É um forte duque, grande e
poderoso. Ele aparece na forma de um dragão com três cabeças, uma como um
cão, uma como um Grifo, e uma como um homem. Ele fala com uma voz elevada
e comedida. Ele altera o lugar onde estão os mortos, e faz os espíritos que
estejam sob seu comendo ascender acima dos sepulcros. Ele torna o homem rico,
e o faz sábio e eloqüente. Ele responde corretamente qualquer coisa que lhe for
requisitado. Governa 30 legiões de espíritos.
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Ronove
O vigésimo sétimo espírito é Ronove, ou Ronobe. Aparece como um monstro. Ele
ensina a arte da retórica e concede bons servidores, e da o conhecimento dos
dialetos, e favores de amigos ou inimigos. É um Marques e um grande Conde;
comanda 19 legiões.
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Berith
O vigésimo oitavo espírito em ordem, como Shlomo aponta, é nomeado Berith,
Bolfry ou Bofi. É um duque poderoso, grande, e terrível. Ele possui outros dois
nomes que lhe foram dados em outras eras mais primitivas: BEALE, ou BEAL, e
BOFRY ou BOLFRY. Aparece na forma de um cavaleiro com roupa vermelha,
montado um cavalo vermelho, e ter uma coroa do ouro na cabeça. Conhece o
presente e o futuro. Tu empregaras uma jóia para chamá-lo adiante, um anel,
como foi dito a respeito de Beleth. Tem o poder de tornar todos os metais em
ouro. Pode conceder dignidades e honras, e pode confirmá-los ao homem
segundo seu desejo. Ele fala fluente e sutilmente. Comanda 26 legiões de
espíritos.
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Astaroth
O vigésimo nono espírito é Astaroth. Ele é um duque poderosíssimo, e aparece na
forma de um anjo medonho, montado sobre a besta-dragão do inferno, com uma
víbora na mão direita. É sábio não se aproximar muito dele a fim de evitar o fedor
deletério que ele exala. O magista deve apontar-lhe com o anel ao que estará
protegido. Conhece todos os segredos da Criação e responde questões sobre o
passado, presente e futuro. Declarará prontamente a queda dos espíritos, se
desejado, e a razão dela. Pode fazer os homens sábios em todas as ciências
liberais. Reina sobre 40 legiões de espíritos.
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Forneus
O trigésimo espírito é Forneus, também chamado de Eureur. Um grande e
poderoso Marques, e aparece no formulário de uma besta marinha gigantesca. Ele
ministra e torna os homens sábios em retórica. Ele torna os homens sábios e lhes
ensina todas as línguas e dialetos. Ele torna os inimigos amáveis como amigos.
Governa sobre 29 legiões constituídas em parte pelos Tronos e em parte pelos
Anjos.
Foras
O trigésimo primeiro espírito é Foras. É um presidente poderoso, e manifesta-se
na forma de um homem forte. Pode dar ao conhecimento dos homens as virtudes
das jóias e ervas. Ele ensina as artes da lógica e todas as partes da ética. Se
desejado ele torna os homens invisíveis, concede longevidade e eloqüência. Pode
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descobrir tesouros e recuperar as coisas perdidas. Reina sobre 29 legiões dos
espíritos.
Asmoday
O trigésimo segundo espírito é Asmoday[1] , ou Asmodai. É um grande, forte e
poderoso rei. Aparece com três cabeças, eventualmente a primeira é a de um
Búfalo, a segunda como um homem, e a terceira de um bode; ele possui também
a cauda de uma serpente, e de sua boca jorram flamas de fogo. Seus pés são
como de um ganso. Ele senta-se sobre um dragão infernal, e trás uma bandeira
em sua mão. É o preferido de AMAYMON, e acima dele não existe nenhum outro.
Quando for convocá-lo deve-se proceder com muito cuidado, pois AMAYMON
tentará iludi-lo. Asmoday concede o anel das Virtudes e ensina as artes
aritméticas, astronomia, geometria e todos os ofícios manuais. Responde
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corretamente o que lhe seja requisitado. Torna também o magista invisível e
revela os lugares onde existem tesouros ocultos os quais ele guarda.
Como AMAYMON ele governa 72 legiões de espíritos inferiores. Este é seu selo,
que deve ser usado para a evocação :
Notas
1- AShMah-Devah ou Asmoday, ou Asmodeus foi o “Arquiteto”, segundo a
Qaballah, do famoso templo de Shlomo, ou Salomão. Esta lenda nos afirma que
ASMODEUS foi aprisionado em correntes mágicas por Shlomo e impelido, talvez
ameaçado por este sábio a revelar um segredo desconhecido até então; a
existência e fonte de um mineral que permitia riscar a madeira como o diamante
risca o vidro. É por isso que está escrito que no Templo de Shlomo não foi usado
nenhum metal como pregos, serras etc e ele teria sido feito unicamente através de
um engenhoso jogo de peças encaixadas e firmadas umas nas outras.
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Gaap
O trigésimo terceiro espírito é Gaap ou Goap. É um grande presidente grande e
um poderoso príncipe. Ele aparece quando o sol estiver nos signos do sul, em
uma forma humana, seguida de quatro grandes e poderosos reis, como se um
guia para os conduzir. Seu trabalho é tornar os homens sensíveis ou ignorantes;
como também fazê-los sábios em filosofia e ciências liberais. Pode causar o amor
ou o ódio, também pode ensinar os ritos de consagração daquilo que esta sob o
poder de seu soberano AMAYMON. Pode entregar familiares ao magista, e
perfeitamente das coisas do passado, presente e futuro. Pode transportar homens
de um reino a outro rapidamente, ao simples desejo do magista. Governa 66
legiões da ordem das potestades.
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Furfur
O trigésimo quarto espírito é Furfur, ou Furtur. É um grande Conde, muito
poderoso, aparecendo na forma de um cervo com uma cauda impetuosa. Nunca
dirá a verdade senão compelido pelo triangulo. Assim sendo, ele tomara a forma
angelical. Sua fala é potente. Também incitará o amor entre o homem e a mulher.
Pode suscitar relâmpagos e trovoes, explosões, e grandes tempestades. E
responde todas as perguntas referentes ao segredo das coisas divinas caso seja
comandado a faze-lo. Governa 26 legiões de espíritos.
Marchosias
g
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O trigésimo quinto espírito é Marchosias. É um grande Marques, muito poderoso,
aparecendo primeiramente sob a forma de um lobo que tem as asas de Gryphon,
e de uma serpente, regurgitando fogo de sua boca. Mas após um momento, ao
comando do Magista toma a forma de um poderoso batedor. Era da ordem das
Dominações. Ele governa 30 legiões dos espíritos. Segundo Shlomo, após 1.200
anos teve esperanças retornar até o Sétimo Trono.
Stolas
O trigésimo sexto espírito é Stolas, ou Stolos. Sendo um grande e poderoso
príncipe, aparece na forma um poderoso Corvo ante o magista; posteriormente ele
toma a aparência de um homem. Ensina astronomia, a virtude das ervas e gemas
preciosas. Governa 26 legiões.
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Phenex
O Trigésimo sétimo espírito é o Marques Phenex, Pheynix, ou Fênix. Aparece na
forma de um pássaro de fogo com voz de criança, cantando amavelmente diante
do Magista, que não deve considerar isso, mas obrigá-lo a tomar forma humana.
Então ele falará e ensinará todas as maravilhas das ciências. É um inexcedível
poeta. E estará disposto a executar seus desejos. Também teve chances de
regressar ao Sétimo Trono há 1.200 anos, segundo o sábio Shlomo. Governa 20
legiões de espíritos.
Halphas
O trigésimo oitavo espírito é Halphas, ou Halpas. É um grandioso Conde, e
aparece na forma de um pombo selvagem. Ele fala com voz potente. Seu oficio é
construir torres, e fornecer guerreiros. Comanda 26 legiões de espíritos.
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Malphas
O trigésimo nono espírito é Malphas, Malpas, Malthas, ou Malthous. Aparece
primeiro como um corvo, mas depois tomará a forma humana ao pedido do
Magista, e fala com uma voz rouca. É um presidente perigoso e poderoso. Pode
construir casas e torres elevadas, e pode trazer ao conhecimento do magista os
pensamentos dos inimigos. Pode fornecer bons familiares. Ele atende
prontamente se houver algum sacrifício, mas deve-se ter cautela por que este é
um espírito bastante traiçoeiro. Governa 40 legiões.
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Raum
O quadragésimo espírito é o Conde Raum, Raim, ou Raym; aparece
primeiramente na forma de um corvo, mas após o Comando do Magista ele toma
a forma humana. Sua função é roubar tesouros, destruir cidades e honrarias dos
homens, e dizer todas as coisas, do passado, presente e futuro; pode causar
afeição entre amigos e inimigos. Governa 30 legiões.
Focalor
O quadragésimo primeiro espírito é Focalor, Forcalor, ou Furcalor. É um duque
poderoso e forte. Aparece na forma de um homem com cabeça de Griphon. Seu
oficio é assassinar homens, e afogá-los nas águas, e naufragar navios da guerra,
tem poder sobre os humores do mar; mas não ferirá nenhum homem ou coisa se
for assim comandado pelo Magista. Também espera retornar ao sétimo trono após
1.000 anos. Governa 30 legiões.
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Vepar
O quadragésimo segundo espírito é Vepar, Vephar, ou Separ. É um grande duque
e aparece na forma de uma sereia. Seu oficio é governar as águas, e guiar navios
de guerra; ao pedido do magista torna o mar tempestuoso ocultando os navios.
Também aflige os homens com varíola e bexigas putrefatas causando fim à raça
deles. Governa 29 legiões.
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Sabnock
O quadragésimo terceiro espírito, como o rei Shlomo os comandou na arca de
bronze, é chamado Sabnock, Savnok, Sabnach, Saburac, ou Salmac. É um
Marques, poderoso, grande e forte, aparecendo na forma de um centurião
armado, com cabeça de um leão, montando em um cavalo malhado. Seu oficio é
construir torres, castelos e cidades elevadas, e equipá-los com Armas de guerra,
etc. pode afligir os homens com a varíola. Ele empresta bons espíritos familiares
ap Magista e comanda 50 legiões.
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Shax
O quadragésimo quarto espírito é Shax, Scox, Chax, Shaz, ou Shass. É um
Marques que aparece na forma de uma grande pomba de fogo, falando com uma
voz potente, contudo sutil. Seu oficio é esvair o entendimento ou inteligência de
homens ou mulheres; e entrar em recintos fechados. Se comandado concede
cavalos ao pedido do Magista, ou qualquer outra coisa, mas deve primeiramente
ser comandado sob o triângulo, ou outro espírito haverá de iludir o magista lhe
narrando mentiras. Pode descobrir todas as coisas ocultas, desconhecidas aos
maus espíritos. Eventualmente concede bons familiares. Governa 30 legiões.
Vine
O Quadragésimo quinto espírito é Vinea. É um rei Conde; e aparece na forma de
um leão, montado em cima de um cavalo preto, enrodilhando uma víbora em sua
mão. Sua função é descobrir coisas ocultas, bruxas, magos, e os segredos do
presente, passado e futuro. Ao comando do magista construirá torres, erguerá
paredes de pedra. Comanda 30 legiões.
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Bifrons
O quadragésimo sexto espírito é chamado Bifrons, Bifrous, ou Bifrovs. É um
Conde, e aparece na forma de um monstro; após um comando ele toma aparência
humana. Seu oficio é instruir os homens em geometria, astronomia e toas as
ciências e artes, além de conhecimento sobre as pedras preciosas e as ervas e
madeiras. Ele tem o poder de transportar coisas inanimadas de um lugar para
outro; também manifesta luzes de velas em cima das sepulturas. Comanda 6
legiões.
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Vual
O quadragésimo sétimo espírito Vual, Uvuall, ou Voval. É um duque, grande,
poderoso e potente; e aparece primeiro na forma de um poderoso dromedário,
mas após o comando do Magista ele toma forma humana, ele fala a língua
egípcia, mas não perfeitamente. Seu escritório deve obter o amor das mulheres, e
os segredos do passado, presente e futuro. Ele também busca favores entre
amigos e inimigos. Era da ordem das Potestades. Governa 37 legiões.
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Haagenti
O quadragésimo oitavo espírito é Haagenti, Hagenti, Hegenit, ou Hagenith. É um
presidente aparecendo na forma de búfalo alado e tomando forma humana ao
comando do Magista. Sua função é fazer homens sábios, e instrui-los em coisas
sobre os mares e oceanos; também Transmuta todos os metais ordinários em
ouro e o vinho em água e vice versa. Governa 33 legiões de espíritos.
Crocell
O 49º espírito é Crocell, Procel, Crokel, ou Pucel. Ele aparece na forma de um
anjo. É um duque Grande e forte, falando misticamente sobre coisas ocultas.
Ensina geometria e ciências liberais. Ao comando do Magista, produzirá grande
Tormenta grande como o Rumor de muitas águas, embora não haja nada.
Conhece termas e banhos quentes. Estava da ordem de Potestades, ou de
potências, antes que da queda, como declarou ao rei Shlomo. Governa 48 legiões.
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Furcas
O 50º espírito é Furcas. É um cavaleiro, e aparece na forma de um homem velho
sádico com barbas longas e chifres, montando um cavalo pardo malhado, com
uma arma afiada em sua mão. Ensina as artes da filosofia, da astrologia, retórica,
lógica, Aromancia, e da Piromancia[1] , em todas as suas partes, perfeitamente.
Comanda 20 legiões de espíritos.
Notas
11- Adivinhação por meio do fogo; consiste em contemplar uma Pira ou fogareiro
ou mesmo uma vela até que se atinja o transe.
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Balan
O 51º espírito é Balam, Balaam, ou Balan. É um rei terrível, grande e poderoso.
Ele aparece com três cabeças: a primeira é de um Búfalo; a segunda é como
aquele de um homem; a terceira é um bode. Ele possui a cauda de uma serpente,
e olhos flamejantes. Ele viaja em cima de um urso furioso, e carrega um falcão em
seu punho. Ele fala com voz rouca e adivinha o passado etc. ele pode tornar os
homens invisíveis e também amáveis. Governa 40 legiões.
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Alloces
O 52º espírito é Alloces, Allocer, Allocen, Aloces, ou Alloien. Ele um duque,
grande, poderoso, e forte, aparecendo montado sobre um grande cavalo, qual um
cavaleiro. Tem a aparência de um leão vermelho com olhos flamejantes. Seu
discurso é rouco e muito extenso. Ensina astronomia e ciências liberais. Ele
concede bons familiares; governa 36 legiões.
Camio
O 53º espírito é Caim, ou Camio. É um grande presidente, e aparece na forma de
uma ave, mas mais tarde toma forma de um homem que carrega em sua a mão
uma espada afiada. Ele demonstra suas respostas através de cinzas ardentes, ou
carvões acesos em meio ao fogo. É um ótimo Argumentador. Seu oficio é dar aos
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homens a compreensão do canto de todos os pássaros, do mugido dos bois, do
ladrar dos cães, e todas criaturas restantes; e também da voz das águas.
Conhece e fala sobre o futuro. Era da ordem dos Anjos, mas agora governa 30
legiões infernais.
Murmur
O 54º espírito é chamado Murmur, Murmus, ou Murmux. É um grande Conde-
Duque, se manifesta como um guerreiro em cima de um Gryphon, com uma coroa
ducal sobre sua cabeça. Seus ministros o precedem sob o som de trombetas. Seu
oficio é ensinar perfeitamente a filosofia, e confinar almas falecidas para vir até o
Magista para responder duas perguntas quaisquer conforme o desejo. Era parte
da ordem dos Tronos, e em parte dos Anjos. Governa 30 legiões.
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Orobas
O 55º espírito é Orobas. É um príncipe grande e poderoso, aparecendo no início
como um cavalo, mas depois assume forma humana. Seu oficio é mostrar o
passado o presente e o futuro. Também distribui e confirma muitas honrarias e o
favor dos amigos e dos inimigos. Responde corretamente acerca da Criação e da
Divindade. Sendo bastante fiel ao Magista, este não sofrerá nenhum mal de
espírito algum. Governa 20 legiões.
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Gremory
O 56º espírito é Gremory, Gomory, Gemory, ou Gamori. É um duque Forte e
poderoso, e aparece na forma de uma mulher muito bonita, com a Coroa de uma
duquesa amarrada sobre sua cintura, e montada sobre um grande camelo. Obtém
o amor das mulheres novas e velhas e conhece o presente, o passado e o futuro.
Comanda 26 legiões.
Ose
O 57º espírito é Ose, Oso, ou Vosa. É um presidente, e aparece como um
leopardo, mas depois toma forma humana. Ensina ciências liberais, e conhece os
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segredos Divinos; pode também mudar a forma do Magista segundo a sua
vontade. Governa 30 legiões de espíritos.
Amy
O 58º espírito é Amy, ou Avnas. É um presidente, e aparece primeiramente na
forma de uma chama flamejante e posteriormente assumindo forma humana,
ensina astrologia e todas as ciências liberais; concede bons espíritos familiares e
descobre tesouros. Governa 36 legiões.
Orias
O 59º espírito é Orias, ou Oriax. É um grande Marques, e aparece na forma de um
leão, montando um belígero ginete, com cauda de uma serpente; e ele segura na
mão direita um feixe de serpentes. Seu trabalho é ensinar as Virtudes das
estrelas, e sobre as casas dos planetas, e como compreender seus virtudes. Ele
também transforma homens, e ele concede honrarias e dignidades, Prelaturas, e
confirma-as; também traz o favor dos amigos e inimigos. Governa 30 legiões.
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Vapula
O 60º espírito é Vapula, ou Naphula. É um grandioso Duque, poderoso e forte;
aparece na forma de um leão com asas de Gryphon. Seu oficio é tornar os
homens exímios em quaisquer ofícios manuais, também na filosofia, e outras
ciências. Governa 36 legiões de espíritos.
Zagan
O 61º espírito é Zagan, ou Zagam. É um rei e um grande presidente, aparecendo
como um Touro alado e depois, se requisitado, sob a forma humana. Torna os
homens amáveis. Pode tornar o vinho na água, e o sangue no vinho, e vice versa.
Pode transmutar todos os metais em moeda corrente. Pode mesmo fazer tolos os
sábios. Governa 33 legiões.
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Valac
O 62º espírito é Valac, Volac, Valak, Ualac. É um presidente Poderoso e grande, e
aparece como uma criança com as asas do anjo, montando em um dragão de
duas cabeças. Sua função é descobrir tesouros ocultos e revelar víboras e
esconderijos de ofídios que trará até o Magista se desejado. Governa 38 legiões.
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Andras
O 63º espírito é Andras. É um Marques que aparece na forma de um anjo com a
cabeça de um mocho extremamente negro, montando em cima de um lobo preto,
e tem uma espada afiada e brilhante sobre os ombros. Sua função é semear
discórdias. Caso o Magista não tenha cautela será imolado junto com seus
companheiros ou assistentes. Comanda 30 legiões.
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Haures
O 64º espírito é Haures, Flauros, Hauras, ou Havres. É um grande Duque, e
aparece no início como um leopardo, poderoso, terrível e possante, mas após o
comando do Magista, ele toma a forma humana, com olhos flamejantes e
impetuosos, e uma terrível fisionomia. Ele responde corretamente todas as coisas
presentes, passadas e futuras. Mas se não for comandado no triângulo, enganará
o magista fazendo-o confundir as marcas do tempo; também versa sobre o plano
da criação do mundo, e da Divindade, e de como os outros espíritos caíram.
Queima e destrói os inimigos do Magista se este assim desejar. Também não será
afligido por nenhum outro espírito de maneira alguma; governa 36 legioes.
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Andrealphus
O 65º espírito é Andrealphus ou Andreafos. É um Marques poderoso aparecendo
primeiramente dentro na forma de um Pavão, e fazendo muito barulho. Mas após
um momento ele toma na forma humana. Pode ensinar a geometria perfeitamente.
Ele torna os homens muito sutis nisso, e também em todas as coisas que
pertencem a Mensuração ou Astronomia. Pode tornar um homem semelhante a
um pássaro. Governa 30 legiões.
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Cimeies
O 66º espírito é Cimeies, Cimeries, Cimejes, ou Kimaris. É um Marques, poderoso,
grande, forte e prestigioso, aparecendo sobre um fogoso Corcel negro, qual um
valoroso guerreiro. Ele comanda todos os espíritos nas partes de África. Pode
ensinar perfeitamente a gramática, lógica, Retórica, e descobrir as coisas perdidas
ou tesouros ocultos. Governa 20 legiões infernais.
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Amduscias
O 67º espírito é Amduscias, Amdusias, ou Amdukias. É um duque Grande e forte,
aparecendo no início como um Unicórnio, mas ao pedido do Magista ele muda na
forma humana, soando trombetas, e toda a maneira dos instrumentos musicais
logo começam a ser ouvidos. Também pode inclinar e curvar arvores de acordo
com o desejo do Magista. Fornece ótimos familiares e governa 29 legiões.
Belial
O Sexagésimo oitavo espírito é BELIAL. É um rei poderoso e foi criado em
seguida após LUCIFER. Ele aparece na forma de dois anjos formosos que se
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sentam em uma Carruagem do fogo. Ele fala com uma voz graciosa, e logo
declara que caiu indignamente, e que ocupava o posto que pertencia a Michael(?),
e outros anjos do Éden. Sua função é distribuir cargos elevados e causar o favor
dos amigos e inimigos. Ele concede espíritos familiares excelentes e reina sobre
50 legiões. Só responde corretamente as perguntas se o Magista lhe oferecer
algum sacrifício ou similar. Mas então ele tentará ludibria-lo, a menos que seja
obrigado por alguma Potencia Divina. E seu selo é este, que deve ser desgastado
como acima foi dito, etc.
Decarabia
O sexagésimo nono espírito é o Marques Decarabia. Ele aparece na forma de
uma estrela em um Pentáculo no início; mas depois, ao comando do Magista,
toma a feições humanas. Pode descobrir as virtudes dos pássaros e gemas
preciosas e pode fazer as moscas se tornarem semelhante a pássaros, cantando
e bebendo água como pássaros verdadeiros. Governa 30 legiões.
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Seere
O heptagésimo espírito é Seere, Sear, ou Seir. É um príncipe poderoso sob a
potencia de AMAYMON, rei do leste. Ele aparece na forma de um homem bonito,
montando em cima de um cavalo alado. Sua função é ir e vir a fim de trazer
abundância de coisas rapidamente. Percorre a terra num piscar de olhos. Relata
sobre coisas perdidas, escondidas, tesouros etc... É de natureza boa e indiferente,
sempre disposto a executar qualquer coisa que o Magista deseje. Governa 26
legiões de espíritos.
........
Dantalion
O heptagésimo primeiro espírito é Dantalion, ou Dantalian. É um duque grande e
poderoso, aparecendo na forma de homem com fisionomias conhecidas, de vários
homens e mulheres; ele traz um livro em sua mão direita. Sua tarefa é ensinar
todas as artes e algumas ciências; e declarar alguns conselhos secretos; transmitir
o conhecimento dos pensamentos de todos os homens e mulheres e também
como mudá-los. Pode causar o amor, e mostra o Similitude de toda pessoa,
revelando por meio de uma visão, ainda que esteja em qualquer parte do mundo.
Ele governa 36 legiões.
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Andromalius
O heptagésimo segundo espírito em ordem é nomeado Andromalius. É um Conde,
grande e poderoso, aparecendo na forma de um homem que prende uma
serpente grande em sua mão. Sua tarefa consiste trazer os ladrões de volta assim
como o produto dos furtos que este executou; assim como descobrir todos os
indivíduos violentos e os traidores e puni-los e descobrir os tesouros ocultos. Ele
governa 36 legiões dos espíritos.
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Observações
• Sobre as estações
Sua arte observará as fazes da Lua[1]. Os melhores são o 2º, 4º, 6º, 8º, 10º, 12º ou
14º dias da Lua, a partir do primeiro dia da Lua Nova, como disse Shlomo.
• Sobre os Sigilos
Os selos dos 72 espíritos devem ser feitos nos respectivos metais.
.Hierarquia .Metal .Símbolo Alquímico
..Reis ..Ouro
..Marqueses ..Prata
..Duques e Condes ..Cobre
..Prelados ..Estanho
..Cavaleiros ..Chumbo
..Presidentes ..Mercúrio
Estes 72 reis estão sob a potência de AMAYMON, CORSON, ZIMIMAY ou
ZIMINAIR, e GOAP, os quatro grandes reis grandes que governam os quadrantes
ou pontos cardinais, respectivamente leste, oeste, norte, e sul, e não serão
chamados exceto em ocasiões especiais; mas serão Invocados e Comandados
para emitir tais, ou tais espírito que está sob suas regias potências, como será
demonstrado a seguir nas invocações ou Conjuros.
• Sobres os Horários
Os Espíritos devem também ser chamado segundo o horário de sua hierarquia:
Hierarquia Horário
..Reis Principais Das 9 até 12 horas, e das 15 até o por
do sol.
..Marqueses Das 15 até as 21, e daí até o
amanhecer.
..Duques Livremente chamados do amanhecer
até o anoitecer.
..Prelados Livremente chamados a qualquer hora
do dia.
..Cavaleiros Do crepúsculo até o alvorecer, ou das
16 até o por do sol.
..Presidentes A qualquer hora do dia com exceção
do crepúsculo, e da noite, a menos
que os reis, a que estão submetidos,
sejam Invocados.
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..Condes A qualquer hora do dia, em florestas
ou quaisquer outros lugares aonde o
homem não vá e nem exista ruído.
Notas
11- Alguns textos atribuem cada um dos 72 espíritos ao 72 graus ou semi decanos
do Zodíaco. Crowley arranjou-os por decanos, divididos em dez graus, dando um
espírito para o dia e outro para a noite.
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Parte II – Materiais
A Baqueta
A baqueta ( ou cajado), se comparada com os outros instrumentos da ARTE, pode
ser considerada, sem sombra de duvida, o mais importante entre eles. Sendo
essencialmente um símbolo fálico, o bastão representa a presença e o poder do
eu criador e da vontade manifesta do magista. O bastão deve assim ser reto e
poderoso, uma figura digna de sua força divina. (Note "E ele regerá as nações
com a vara de ferro" Apc 2,27).
A baqueta representa por extensão o equilíbrio mágico pois corresponde, na
arvore da vida ao pilar do meio, cuja soma é 463 -- consulte para isso o SEPHER
SEPHIROT de A. Crowley. Portanto ela é o caminho que conduz diretamente do
reino a coroa e vice versa. Ou seja através dela é que a energia descerá do céu
até a terra, pelo fio condutor de cobre que a varinha deveria ter segundo a
tradição, como é exposto em algumas clavículas de salomão; o cobre aqui
representaria o amor que une os dois pólos imantados e conduz a energia, pois é
um metal correspondente a Vênus: a amante. além disto, seria desnecessário
dizer que a baqueta é essencialmente dupla assim, tal como a eletricidade tem
nos circuitos seu veiculo de atuação a baqueta seria então este veiculo que
corresponde ao transmissor da ordem do agente para o objeto
Diversos autores poderão lhe dar descrições detalhadas sobre a confecção deste
artefato, se por exemplo, as orientações de Lévi sobre a aquisição da baqueta
forem seguidas, então “esse instrumento deveria confeccionado de um galho
perfeitamente reto da amendoeira ou aveleira, galho este cortado da árvore sem
entalhamento e sem hesitação de um só golpe com uma faca afiada. Isso deve ser
feito antes do nascer do sol e na estação em que a árvore estiver prestes a
florescer. O galho deverá ser submetido a um meticuloso procedimento de
preparação, sendo despojado de suas folhas e brotos, as ascas removidas e as
extremidades aparadas cuidadosamente e os nós aplainados” Segue-se daí mais
diversas instruções que podem ser lidas em Dogma e Ritual de Alta Magia.
Esta forma de aquisição da baqueta, não é a única, mas guarda algo em comum
com todas as outras. É demorada, complicada e desafiadora. No final de contas, o
mais importante é o exercício e desenvolvimento da vontade submetido a uma
forte prova. Nas palavras de Israel Regardie, em A Árvore da Vida:
"O mago que se incomodou a ponto de se levantar duas ou três vezes á meianoite
por seu bastão, negando-se o repouso e sono, terá pelo próprio fato de ter
assim agido, se beneficiado consideravelmente no que diz respeito à vontade".
Ou como Eliphas Leví completou em Dogma e ritual da Alta magia:
“O camponês que cada manhã se levanta às duas ou três horas e caminha para
longe do conforto de sua cama para colher um ramo da mesma planta antes do
nascer do sol, pode realizar inúmeros prodígios simplesmente portando a plana”.
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É por isso que uma baqueta comprada ou ganhada de presente não têm qualquer
valor para o adepto. Sendo conquistado a duras penas a baqueta passa a
representar a palavra, o verbo ativo da vontade direcionada. Só tendo a própria
vontade sob controle tem-se controle sobre as vontades alheias e o magista fará
isso através da sua baqueta.
Não é a baqueta que deve controlar o mago, mas o contrário. Também não é
aconselhável que se perca tempo com brincadeiras inúteis ou com fantasias estilo
ocus pocus porque a baqueta, assim como a vontade do operador deve ser
considerada no mais absoluto respeito uma vez que é um instrumento de criação,
fruto de sua mais forte vontade. Tal como um homem castrado, o magus sem a
baqueta nada pode fazer senão destruir.
Por sua importância e valor a tradição sempre defendeu que a baqueta deveria ser
a medida de todo o templo. Como está escrito: “Foi me dada uma vara como
régua com as palavras: "Eleva-te e mede o templo de Deus, o altar e aqueles que
nele adoram.” [Apc 11,1]. Ela deveria, portanto, ser do tamanho do antebraço, do
palmo ou da pegada do magista e a partir desta medida básica seriam feitos o
altar e dispostos os demais instrumentos ao redor do mesmo.
Mas todos estes detalhes técnicos só estão aqui colocados com o fito único de
expor de maneira sucinta a proporção da importância deste instrumento e o poder
que ele representa dentro do circulo. E assim o magista poderá conhecer a arte da
baqueta com a qual fará as invocações e comandará os espíritos conforme o
maestro rege sua orquestra.
O Círculo Mágico
O LEMEGETON nos trás O circulo em sua forma tradicional como utilizado na
Teurgia Qabalistica desde os primórdios do velho aeon. (ver figura no início do
tomo já com as cores corretas). Este é rodeado de quatro pentagramas (contendo
o tetragramaton), nos quais em cada um uma vela irá arder durante o ritual.
Embora seja dito que o circulo deva ter o diâmetro de 9 pés [2,97m], a verdade é
que muitas pessoas simplesmente não dispõem de um espaço grande os
suficiente para seus rituais. O tamanho só é importante no tocante de ter-se
liberdade o suficiente de movimentação.
A serpente enroscada só é mostrada em alguns casos, os nomes hebraicos na
maioria das vezes são simplesmente escritos em forma espiralada entre os dois
círculos. Devemos lembrar que, ao contrario do português, o Hebraico e sempre
da direita para esquerda. Estes nomes são os nomes divinos ou de Anjos e
Arcanjos identificados pelos cabalistas como pertencentes a cada uma das nove
primeiras Sephiroth ou emanações divinas. As pequenas cruzes de Malta são
usadas para marcar separação. A Tradução para o português corrente começando
da cabeça da serpente é:
• Ehyeh Kether Metatron Chaioth Ha-Qadehs Rashith Ha-Galgalim
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• lah Chokmah Ratziel Auphanim Masloth
• Iehovah Eolhim Binah Tzaphquiel Aralim Shabbathai
• El Chesed Tzadquiel Chaschmalim Tzedeq
• Elohim Gibor Geburah Kamael Seraphim Madim
• Iehovah Eloah Va-Daath Tiphereth Raphael Malakim Shemesh
• Iehovah Tzabaoth Netzach Haniel Elohim Nogah
• Elohim Tzabaoth Hod Michael Beni Elohim Kokav
• Shaddai El Chai lesod Gabriel Cherubim Levanah
Que fique claro ara o adepto que estes mesmos nomes não constituem um dogma
imutável. pode-se escolher livremente um ou vários nomes com os quais o
Magista tenha especial afeição, desde que as cores respectivas e o simbolismo
básico no que se refere à distribuição destes nomes no circulo sejam
convenientemente respeitados. É de se esperar que os Magistas percebam logo
que os nomes divinos na invocação, aqueles utilizados para submeter as
entidades não é outro senão o próprio Magista. "Não há deus senão o homem"
Liber AL.
De fato, dentro do circulo o magista é Deus Absoluto e único é o espírito que
ordena os quatro elementos designados em cada quadratura. O circulo é usado
para afirmar e caracterizar a natureza da obra a ser executada e é por excelência
o campo de atuação da vontade do magista.
Ora, se o mago é o elemento principal, o espírito, nada mais adequado que ele
seja identificado com o principio, e portanto o portador do verbo. Sem o espírito
toda a matéria seria um caos desordenado e estéril, posto que é o espírito que
dirige e organiza os elementos no ato de creação (ou criação, com o queira).
O circulo é portanto apenas uma representação simbólica do universo, ao traçar o
circulo, o adepto traça o seu espaço infinito, dentro do próprio infinito, o todo
dentro de tudo em sua manifestação mais obvia. Sendo infinito fica claro o porque
da figura ser um circulo e não um triângulo ou um quadrado; afinal, muito embora
o circulo se identifique de modo bastante explicito com estes polígonos como é do
conhecimento dos Adeptos mais avançados e experientes, “No circulo de
atuação”, como nos lembra Eliphas Lévi, “o Mago cria aquilo que afirma.”
O que ele afirma nos limites do seu circulo esta automaticamente manifesto. O
Magista é aquele que diz e é feito. A palavra ABRAHADABRA [eu crio enquanto
eu falo] é um exemplo tanto desta doutrina como do que é feito em qualquer
trabalho mágico.
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O Triângulo
Esta é a forma do triangulo usado para comandar os espíritos goéticos. Deve ser
feito com 2 pés [66cm] de distância do círculo mágico e tem 99cm de diâmetro
(ver figura acima). Da mesma forma que o circulo, o triangulo pode ser feito com
giz ou fita adesiva. Alguns magistas se acostumaram a usar uma folha grande de
papel cartão preto com os nomes em dourado. O triangulo deveria estar sempre
apontado para a direção a qual pertence o espírito invocado e a base do triângulo
fica de qualquer forma sempre para o lado do circulo.
O triângulo é, em si mesmo um símbolo filosófico perfeito de manifestação.
Representando as primeiras manifestações cósmicas ou as três Sephiroth maiores
dos mundos superiores, o tangível daquilo que anteriormente era pensamento,
invisível e metafísico. Tal como a primeira tríade representa a primeira
manifestação completa do círculo de Ain Sofh, do mesmo modo em Goétia, o
triangulo é responsável pelo manifestar-se dos poderes que estavam até então
ocultos para os olhos vulgares. Do círculo da consciência, que é o universo do
mago, uma idéia partitiva e especial é convocada à manifestação no interior do
triângulo.
Hexagrama de Shlomo
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Eis o Hexagrama Salomônico, o qual deve ser confeccionado com pergaminho
preparado com a pele de uma vitela e usado sobre a saia de vosso robe branco e
coberto com o pano de linho branco e será mostrado ao espírito quando este se
manifestar, compelindo-o a tomar forma real e tornar-se dócil.
Um Hexagrama é uma estrela de seis pontas. Formada por dois triângulos
sobrepostos. A interpretação tradicional vê nele um triângulo feminino, “aquoso” (
orientado para baixo ) e um masculino “ígneo” (orientado para cima). Representam
o universo dualístico em perfeita harmonia. Basicamente o sistema Goétia
estabelece que quando o Hexagrama é mostrado para o espírito este irá obedecer
seu possuidor. O Hexagrama deve ser mantido coberto até o espírito ser
invocado. A Tradição diz que o hexagrama deverá ser mantido sob as vestes
cerimoniais até o momento de comandar o espírito, mas pode alternativamente ser
colocado de frente para o triangulo e coberto com um pano. Obviamente ele não
tem que ser feito necessariamente de pergaminho, podendo ser desenhado
inclusive em sulfite e papel cartão.
Pentagrama de Shlomo
Esta é a forma do Pentagrama de Shlomo, usado para proteger o conjurador e dar
poder sobre o espírito. Os magos medievais o construíam de uma liga de ouro e
prata, e o carregavam sobre o peito. Mas o medalhão pode se feito sem
problemas com os discos de metal que podem ser comprados em ateliês e lojas
de arte. O comum é ter-se um novo pentagrama a cada evocação uma vez que o
selo do espírito deverá ser gravado nas costas do medalhão.
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O Disco de Shlomo
Esta é a forma do anel ou disco de Shlomo. Deve ser de prata ou ouro e usado
diante da face do magista para preservá-lo das emanações sulforosas
provenientes da respiração fétida flamejante dos espíritos infernais. Em termos
práticos é um artefato de proteção usado somente em situações emergenciais. Se
por algum motivo a situação sair fora de controle, possuir o anel ou o disco de
shlomo será uma garantia de sua segurança. Raramente usado o disco é mais
mantido com o conjurador durante o ritual por motives de precaução. A maioria
das joalherias de hoje possuem serviços de gravação que poderá ser útil na
criação tanto deste como de outros acessórios.
O Selo Secreto de Shlomo
Este é o selo secreto com o qual Shlomo selou a Arca de Bronze na qual confinou
os espíritos e suas legiões. Aquele que for criá-lo deve purificar-se interna e
externamente, não ter intercurso sexual no espaço de um mês e entregar-se em
orações e preces para que Deus perdoe seus pecados.
Deve de ser feito no dia Marte ou Saturno (Terça ou Sábado) a meia noite, e ser
escrita num pergaminho virgem com o sangue de um galo preto virgem. A lua
deve estar exaltada (de nova para cheia)na casa zodiacal de Virgem. E quando o
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selo estiver pronto deve ser incensado com alumen e pedaços secos de aloés
secos ao sol, e também de tâmaras e liga ou seiva de cedro.
Além de selar a Arca de Bronze com este selo, este possui também virtudes de
atrair a simpatia de toda sorte de pessoas e livrar dos perigos do fogo, da água e
domínio em todas as batalhas.
A Arca de Bronze de Shlomo
Este é o modelo da Arca Brônzea de Shlomo. Algumas versões mais complexas
trazem nomes divinos gravados em hebraico. (Podemos encontrar paralelo a esta
arca se retomarmos a história do Gênio e do Pescador, no clássico árabe Mil e
uma Noites. Neste conto entretanto havia apenas um gênio que se dizia chamar
Sakhr, or Sacar.)
Como já foi dito a Arca pode ser usada da mesma forma que o triangulo para se
conjurar um espírito e o Selo Secreto de Shlomo servirá como selagem da arca.
Os Selos do Espírito
Os Selos de cada um dos Espíritos, como foram revelados na primeira parte do
livro, deverá ser desenhado em um circulo no metal correspondente a sua
hierarquia. Mas muitos praticantes de hoje optam por gravá-los em papel ou
cartão grande o suficiente para preencher o centro do triângulo. Tal conversão não
diminuiu em nada a eficácia do sistema. O Selo é um instrumento de focalização
para a mente do mago e um sigilo em si mesmo que permite a chegada do espírito
após invocação.
O Diário de Registros
Durante o trabalho das invocações seria bastante vantajoso que o adepto fizesse
uso de uma espécie de diário onde ele lançaria livremente sus impressões acerca
dos experimentos empreendidos. Este diário facilitaria a consulta ou mesmo
alguma revisão que o magista porventura viesse a necessitar.
Nele estariam todos os experimentos registrados, e este registro deveria ser o
mais completo possível, em todos os detalhes. Não só as impressões rituais
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devem ser registradas, mas também qualquer sentimentos ou experiência não
usual que venha ocorrer no período de ação do espírito evocado, na preparação
da câmara ritual ou mesmo em sonhos significativos.
Outros Materiais
Um punhal pode ser usado com a mesma função da em casos de banimentos.
Algumas pessoas defendem que a fumaça do incenso pode ser usada como meio
de materializarão do espírito e que por isso deveria ser posta dentro do triangulo.
Seja isso verdade ou não a fumaça e o aroma são certamente estímulos sensórios
que poderiam ajudar no trabalho. Se o uso de incenso for feito. Uma mistura de
artemísia e absinto poderia ser considerada, por suas qualidades indutoras de
visualizações. Completando o ambiente ritual, talvez seja interessante colocar
alguma música de fundo que ajude a manter e criar uma atmosfera adequada.
Pode ser útil também decorar a câmara ritual no estilo do espírito que será
invocado. Usando por exemplo artefatos e decoração egípcias para os espíritos
desta procedência.
Alguns outros acessórios talvez sejam úteis de se usar, mas a maioria deles
depende mais de um gosto pessoal do que uma real necessidade. Uma mitra,
uma capa, uma veste branca longa do linho e outros trajes similares, perfumes e
quem sabe um fogareiro com carvão de madeira doce para incensar o ambiente
das operações. Alguns adeptos utilizam óleos para ungir o templo e seus corpos e
água benta para as abluções rituais também é com certa freqüência utilizada -
como foi dito por Davi: "purifica-me e eu serei mais branco que a neve."[1]
Notas
1- Salmo 51
Parte III – Orações e Conjuros Goéticos
Oração Sobre as Vestimentas Sagradas
"Pelo mistério figurativo destes trajes santos (ou desta vestimenta)
eu vestir-me-ei com os paramentos da Salvação na força do mais
elevado, AMIDOS THEODINIAS ANITOR de ANCOR AMACOR; que
meus desejos possam ser cumpridos pela vossa mão ó ADONAI! A
quem pertencem o louvor e a glória para sempre e sempre mais!
Amen!”
Após esta benção, faça um período de constrição e preces a fim de que Ele seja
favorável ao seu trabalho.
Invocação Preliminar
Eu invoco a ti, oh não nascido.
Tu que criaste os Céus e a Terra.
Tu que criaste a Noite e o Dia..
Tu que criaste as Trevas e a Luz.
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Tua arte Osorronophris: Cujo nenhum homem jamais viu.
Tua arte Jäbas
Tua arte Jäpos:
Tu que distinguiste o Justo do Injusto.
Tu que criaste a diferença entre Homem e Mulher..
Tu que produziste a semente e o fruto.
Tu que criaste os homens para amarem uns aos outros e odiarem
uns aos outros.
Eu sou Mosheh, teu profeta, a quem podes revelar os teus mistérios,
a Cerimônia de Ishrael:
Tu que produziste o seco e o úmido no qual deu origem a toda a vida
existente. Ouça me, pois eis que sou o anjo de Paphro
Osorronophris: que é teu verdadeiro nome, tal qual transmitido aos
profetas de Ishrael.
Ouça me.- Ar: Thiao: Rheibet: Atheleberseth: A: Blatha: Abeu: Ebeu:
Phi: Thitasoe: Ib: Thiao.
Ouça me e faça os espíritos sujeitarem-se a mim até que cada o
Espírito no firmamento e no Éter, sob a terra e sobre a terra, nas
águas ou em terra seca, no reino do ar e no reino do fogo estejam
obedientes prontos ao meu comando.
Eu invoco a tí, Terrível e Invisivel Deus: que está presente e todo o
lugar ocupado e todo espaço vazio.
Arogogorobrao: Sothou: Modorio: Phalarthao: Doo: Ape,
Não Nascido, ouça-me!
Ouça-me :-Roubriao: Mariodam: Balbnabaoth: Assalonai: Aphniao: I:
Thoteth: Abrasar: Aeoou: Ischure, Poderoso Não Nascido! Ouça-me!.
Eu te invoco: -- Ma: Barraio: Joel: Kotha: Athoribalo: Abraoth:
Ouça-me! Aoth: Abaoth: Basum: Isak: Sabaoth: Iao:
Tu és o Senhor dos Deus.
Tu, és o Senhor do Universo
Tu és aquele que os ventos temem.
Tú é aquele que criou o Verbo por sua vontade, Senhor de todas as
coisas.
Tu és aquele que rege, que governa e que ajuda. Ouça-me!
Ieou: Pur: Iou: Pur: Iaot: Iaeo: Ioou: Abrasar: Sabriam: Do: Uu:
Adonaie: Ede: Edu: Angelos ton Theon: Aniaia Lai: Gaia: Ape:
Diathanna Thorun.
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Eu sou Ele! O Espírito Não nascido! Forte fogo immortal!
Eu sou a Verdade!!
Eu sou Ele de onde se origina todo o bem e todo o mal!
Eu sou Ele, relâmpago e trovão.
Eu sou Ele, de quem brota a vida na terra::
Eu sou Ele, de cuja a boca saem labaredas
Eu sou Ele! Sou a maior manifestação da Luz e das Trevas!
Eu sou Ele! A Graça do mundo!
Estou onde está o coração com uma serpente enroscada.
Que todos os espíritos sujeitem-se a mim até que cada o Espírito no
firmamento e no Éter, sob a terra e sobre a terra, nas águas ou em
terra seca, no reino do ar e no reino do fogo estejam obedientes
prontos ao meu comando.
Iao: Sabao:
Estas são as Palavras!
A Conjuração ou Chamada dos Espíritos
Eu executei o que foi decretado para conjurá-lo, oh espírito de N. e
estou armado com MAJESTADE SUPREMA, e eu voz comando em
força, por BERALANENSIS, por BALDACHIENSIS, por
PAUMACHIA, e por APOLOGIAE SEDES; pelos príncipes, pelos
gênios, pelos linches e pelos poderosos ministros da câmara do
Tártaro; e pelo príncipe maior que se assenta no torno de Apologia
da nona legião, eu vos invoco, e conjuro. E sendo armado com a
potência da MAJESTADE SUPREMA, eu vos comando em força, por
Aquele que decreta e está feito, e que esta acima de todas as
criaturas e de mim mesmo, sendo feito à imagem de DEUS,
assumindo a potencia de Deus e sendo feito conforme a Sua
Vontade, eu voz exorcizo pelo nome mais poderoso de Deus, EL,
forte e esplendoroso; Oh espírito N. eu comando-o até mim no nome
Dele cuja palavra é FIAT e por todos os nomes de Deus: ADONAI*
EL* ELOHIM* ELOHI* EHYEH* INCINERATOR* EHYEH*
ZABAOTH* ELION* IAH* TETRAGRAMMATON* SHADDAY*
SENHOR DEUS ALTISSIMO, que N. venha até mim, diante deste
circulo e apareça manifestando-se em forma humana, isento de
deformidade ou malícia. E pelo Nome Inefável,
TETRAGRAMMATON IEHOVAH, supremo senhor dos elementos,
cuja pronuncia agita o Ar e enfurece os Mares, extingue o Fogo e
treme a terra e todos os anfitriões celestiais, terrestres e infernais
são afligidos e confundidos. Portanto vinde, oh espírito ( Nome do
Espírito), prontamente e sem atraso, de qualquer parte da terra onde
estejas ou onde se encontre vosso reino, e trazei respostas
inteligíveis as minhas duvidas. Apareça, afável e visivelmente, agora
e sem atraso, conforme a minha vontade. Conjurado pelo nome do
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DEUS VIVO e VERDADEIRO, HELIOREN, portanto cumpre tu os
meus comandos, e persiste neles, aparecendo visivelmente e
afavelmente falando com voz livre e inteligível, sem nenhuma
ambigüidade.
Recite isso varias vezes se for necessário. Se o espírito não se manifestar então
diga o seguinte:
A Segunda Conjuração
Eu conjuro invoco e comando, oh tu espírito de N., a manifestar-vos
visivelmente e mostrar-vos a mim diante deste circulo amavelmente
sem nenhuma deformidade ou malícia; pelo nome e no nome IAH e
VAU, que Adam ouviu e falou; e pelo nome do DEUS, AGLA, Lot
ouviu e foi Salvo, ele e sua família; e pelo nome IOTH, que Jacob
ouvido do Anjo com o qual lutou, e foi entregue em segurança na
mão de Esaú seu irmão; e pelo nome ANAPHAXETON que Aarão
ouviu e foi feito sábio; e pelo nome ZABAOTH, que Moises proferiu e
todo os rios foram mudados em sangue; e pelo INCINERATOR
chamado EHYEH ORISTON, que Moisés nomeou, e todos os rios
regurgitaram rãs, que entraram pelas casas e destruíram tudo; e pelo
nome ELION, que Moisés nomeou, e se fez um saraiva tão grande
como jamais havia sido visto desde o começo do mundo; e pelo
nome ADONAI, que Moisés proferiu, e veio a nuvem de gafanhotos,
que se espalharam pela terra, e devoraram tudo de que a saraiva
havia deixado; e pelo SCHEMA conhecido AMATHIA que Ioshua
proferiu, e o sol permaneceu em seu curso; e por ALFA e por
OMEGA, que Daniel nomeou, e destruiu Bel, o pântano e o Dragão;
pelo nome EMMANUEL, que as três crianças, Shadrach, Meshach, e
Abed-nego cantaram no meio da fornalha impetuosa, e foram salvos;
e pelo nome HAGIOS; e pelo SELO de ADONI; e por ISCHYROS,
por ATHANATOS, por PARACLETOS; e por O THEOS, por ICTROS,
por ATHANATOS; e por estes nomes secretos, AGLA, SOBRE,
TETRAGRAMMATON, eu adjuro e confino-vos oh espírito de N.. E
por este nome, e por todos os outros nomes de DEUS VIVO e
VERDADEIRO, o SENHOR ONIPOTENTE, eu vos exorcizo e
comando, oh espírito N., unicamente por ele que decreta e é feito, e
a quem todas as criaturas são obedientes; e pelos julgamentos
terríveis de DEUS; e pelo sombrio mar vidro, que esta diante da
MAGESTADE DIVINA, Grandioso e poderoso; pelas quatro bestas
ante o trono, cheias de olhos; pela chama eterna do Seu Trono;
pelos santos anjos do paraíso; e pelo sabedora do poderoso DEUS;
Eu voz exorcizo em poderio afim de manifesta-lo ante este círculo
para cumprir minha vontade em todas as coisas que te forem
solicitadas; pelo selo de BASDATHEA BALDACHIA; e por
PRIMEUMATON, que Moisés pronunciou, e a terra se abriu, e
engoliu Kora, Dathan, e Abiram. Vinde, portanto, oh espírito N.,
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executar todos os meus desejos conforme vossa função e
capacidade. Portanto, vinde visivelmente, pacificamente e
afavelmente, imediatamente, para manifestar meus desejos, falando
com a voz desobstruída e perfeita, inteligível e compreensível.
Se o espírito ainda não vier diga então o seguinte:
A Terceira Conjuração
Eu voz confino e conjuro oh espírito N., por todos os nomes mais
gloriosos e mais potentes do SENHOR EXALTADO E INEFAVEL
DEUS ANFITRIÃO, que voz dirija até aqui desde os confins da terra
onde teu império se encontra, responder corretamente as minhas
demandas, visível e amigável, falando com voz inteligível. Eu voz
conjuro e confino, oh espírito N., por todos os nomes até agora
pronunciados; e pelo poder destes sete nomes que Shlomo utilizou
para aprisiona-lo, junto com vossos companheiros na Arca de
Bronze, os quais são ADONAI* PREYAI* ou de PRERAI*
TETRAGRAMMATON* ANAPHAXETON* ou de ANEPHENETON*
INESSENFATOAL* ou de INESSENFATALI* do PATHTUMON* ou
do PATHATUMON* e de ITEMON* a comparecer ante este círculo
para cumprir minha vontade em todas as coisas que me parecerem
adequadas. E caso ainda se mostre desobediente e resista ao
encantamento, pela vontade onipotente e poderosa do nome
SUPREMO E ONIPRESENTE do SENHOR DEUS OMS criou a tudo
o que existe no mundo em seis dias, e tudo o que esta nele contido,
EIE SARAYE, e pelo poder do nome PRIMEUMATON que reina
sozinho nos jardins do Paraíso, eu vos constrinjo e vos privo de suas
funções, da alegria e de seu lugar, ligando-os a profundidade do
poço sem findo ou Abismo, para que lá permaneça até o dia do
julgamento. E eu vos ligarei ao fogo eterno, e no lago de fogo e
enxofre, a menos que venha sem demora e apareça diante deste
circulo para fazer minha vontade. Vinde, pois, pelo SAGRADO
NOME de ADONAI ZABAOTH, ADONAI AMIORAN. Vinde, pois ele é
ADONAY, que voz tem comandado.
Caso seja isto dito e o espírito não aparecer, você pode estar certo
que esta em algum outro lugar por cumprindo ordens do seu rei, e
não pode comparecer presentemente. Se isto for assim, a seguir
evoque o rei, como segue, para contatá-lo. Mas se o espírito não vier
mesmo assim então você pode estar certo que está limitado nas
correntes do inferno e não está sob a custódia do seu rei. Se você
desejar ainda o chamar então você deve quebrar a corrente que está
prendendo o espírito.
Caso seja isto dito e o espírito não aparecer, você pode estar certo que esta em
algum outro lugar por cumprindo ordens do seu rei, e não pode comparecer
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presentemente. Se isto for assim, a seguir evoque o rei, como segue, para
contatá-lo. Mas se o espírito não vier mesmo assim então você pode estar certo
que está limitado nas correntes do inferno e não está sob a custódia do seu rei. Se
você desejar ainda o chamar então você deve quebrar a corrente que está
prendendo o espírito.
A evocação do REI
Oh grande, potente, e poderoso AMAIMON vos que sois Rei, cingido
pela potência do SUPREMO DEUS EL* sobre todos os espíritos
superiores e inferiores das ordens infernais nos domínios do leste;
Eu Invoco-te pelo poder e comando do nome do VERDADEIRO
DEUS; por esse deus que Vós Adorais; e pelo selo da vossa criação;
e pelo nome mais poderoso e potente de Deus, IEHOVAH*
TETRAGRAMMATON* que vos deu forma ainda antes da criação do
paraíso, junto com vossos irmãos; e por todos os nomes mais
poderosos e mais exaltados do DEUS que criou o paraíso, e terra, e
inferno, e todas as coisas neles contidos; e por seus potências e
virtudes; e pelo nome PRIMEUMATON que comanda sozinho no
paraíso; pela vossa majestade, obriga e compele o espírito N. para
vir até mim, diante deste círculo em uma forma adequada e
amigável, sem dano a mim e toda e qualquer outra criatura, e que
corresponda fiel e verdadeiramente a todos os meus pedidos; de
modo que eu possa realizar minha vontade e saber o que desejo de
todas as coisas, pela função e conhecimento que lhe seja apropriado
executar ou realizar, pela potência de DEUS, EL, OMS criador e
fonte de todas as coisas celestiais, aéreas, terrestres, e infernais.
Após evocar o Rei duas vezes e o espírito mais uma vez pelos conjuros
precedentes, repetindo os mesmos diversas vezes, o espírito virá sem dúvida
alguma. Entretanto, se não vier ao fim da conjuração e estiver forçado a
comparecer – mesmo preso às correstes infernais, estas se partirão.
A Imprecação Geral de Chamada dos Espíritos Rebeldes
para quebrar as correntes infernais
Oh N., espírito mau e desobediente, porque tiveste te demonstrado
rebelado, desobedecendo e desconsiderando as palavras do
encantamento, elas que são os Nomes gloriosos e inefáveis do
verdadeiro DEUS, fonte de criação tanto minha quanto vossa, e do
resto do mundo; Eu DECRETO pela potência destes nomes ao qual
nenhuma criatura pode resistir, tua sentença desde as profundezas
do Abismo Insondável, para permanecer lá até o dia da destruição
das correntes, e no lago de fogo e enxofre inextinguíveis, a menos
que compareças prontamente ante este círculo, dentro do triângulo
para satisfazer minha vontade rápida e pacificamente pelos nomes
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de DEUS: ADONAI ZABAOTH, ADONAI AMIORAN; Vinde! Vinde!
Pelo Rei dos reis, ADONAI que vos comanda.
Se até aqui o espírito ainda não apareceu então escreva seu selo em um
pergaminho e coloca-o em uma caixa preta bastante resistente, com enxofre e
assa-fétida e outras coisas que têm um cheiro forte e desagradável. Ligue a caixa
com fio de cobre e pendure-a na ponta da sua espada e sobre o carvão
incandescente diga o seguinte, ao fogo primeiramente:
A Conjuração do Fogo
Eu voz conjuro, oh fogo, por ele que fez a vos e todas as criaturas
restantes para o bem do mundo, que traga tormento, queime e
consuma o espírito N., incessantemente.
Para o Espírito
Eu vos condeno, espírito N. porque foste desobediente e rebelde ao
meu comando, a não mais receber as bênçãos do SENHOR VOSSO
DEUS, pois desobedecestes a mim e as minhas invocações; Eu,
servo do SENHOR DEUS, O MAIS EXALTADO E IMPERIOSO
IEHOVAH*, Eu, que estou cingido e fortificado por Suas potências e
avais celestiais, porque te mostraste avesso me desacatando, vos
culpo de desobediência e grande revolta e, portanto, Eu vos
excomungo pelo fogo que destruirá teu nome e teu selo, que incluí
nesta caixa; e vos queimará no fogo imortal, e vos fará sucumbir no
esquecimento eterno, a menos que venhas de imediato e apareça
visível e afavelmente, amigável e cortês diante de mim, à frente
deste circulo, neste triângulo, em uma forma agradável e amigável,
sem causar dano ou doença a mim ou a qualquer outra criatura
sobre a face da terra e responda de forma razoável as perguntas e
desejos que eu vos farei.
Se não vier então diga o seguinte:
A Imprecação
AGORA, oh espírito N., ainda pernicioso e desobediente, recusandose
a aparecer e responder minhas invocações satisfazendo-me; Eu
ordeno pelo nome e pela potência e pela dignidade do Onipresente e
senhor imortal, Deus dos anfitriões IEHOVAH*
TETRAGRAMMATON*, uno criador do paraíso, terra e inferno, e
tudo o que neles existe, que é o arquiteto maravilhoso de todas as
coisas visíveis e invisíveis, vos amaldiçôo e privo-te de sua função,
alegria e situação e eu ligo te nas profundidades do abismo
insondável para lá permanecer até o dia do julgamento, dentro do
lago de fogo e enxofre que nunca se apaga, reservado aos espíritos
rebeldes, desobedientes, obstinados e perniciosos. Que toda a
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companhia dos anjos do paraíso possa maldize-lo! Deixe que o sol,
lua, e todas as estrelas do firmamento possam esquece-lo; Deixe
que a luz de todos os vossos príncipes amaldiçoem-no desde o
paraíso até o fogo inextinguível, entre os tormentos inomináveis. E
como o vosso nome e o vosso sigilo contido nesta caixa acorrentada
e hermeticamente fechado, seja tu também sufocado em substâncias
sulfurosas e queimado neste fogo material; assim no nome de
IEHIVAH* e pela potência e pela dignidade destes três nomes,
TETRAGRAMMATON* ANAPHAXETON* e PRIMEUMATON* eu
jogo o teu espírito mau e desobediente, oh N., no lago do fogo que é
preparado para os espíritos execrados e malditos, lá permanecendo
até o dia da destruição, e de ser la esquecido para sempre pela face
de DEUS, que virá rapidamente julgar os mortos e o mundo pelo
fogo.
Então o Magista põe a caixa no fogo, e logo o espírito virá; entretanto, assim eu
aparecer deve-se extinguir o fogo e retirar a caixa, dando as boas vindas ao
espírito e tratando-lhe amavelmente; é necessário mostrar o pentáculo de Shlomo
que está em abaixo do robe, coberto com pano de linho, dizendo:
Contemplai teu infortúnio se recusar-se a me obedecer! Vede o
Pentáculo de Shlomo que eu trouxe diante de voz! Vede o Magista
em seu exorcismo, o qual é destemido, cingido com as armas de
DEUS, que tem poderio sobre voz e voz invoca manifestando-vos,
esse mesmo, vosso mestre, que é chamado OCTINIMOS. Traze,
portanto, respostas razoáveis as minhas demandas, e prepara-te
para ser obediente ante o vosso mestre pelo nome do Senhor:
BATHAL APRESSA-TE POR ABRAC!
ABEOR VENHA ATÉ ABERER!
E seja obediente em resolver minhas duvidas, porque és sujeitado
por Deus para cumprir nossos desejos e demandas.
E quando aparecer e se mostrar com humildade e mansidão, diga o seguinte:
As Boas Vindas
Eu vos saúdo Espírito N., ó nobres [ou reis] pelo Nome d’Aquele que
criou o céu e a terra e o inferno e tudo o que neles está contido e
subordinado Aquele Nome. Pela mesma potência que eu vos chamei
a manifestação eu vos ligo e convido a vos colocar amável e
afavelmente diante deste circulo e deste triangulo porque eu dou
ocasião para a vossa presença e manifestação; afim de não partir
sem minha devida licença e sem que meus desejos estejam
verdadeiramente satisfeitos, sem qualquer ardil.
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Então o magista indicará seu pedido, e quando terminar a evocação dará a licença
ao espírito para partir:
A Licença para Partir
Oh Espírito N., porque respondeste diligentemente minhas
demandas, provando pronto anseio em vir atender-me, concedo-lhe
licença para volver aos ermos de onde surgiste, sem trazer o agravo
ou o perigo a homem ou besta. Parta, então, eu digo, devidamente
exorcizado e consagrado pelos ritos da Santa Magia e seja pronto
para atender meus desejos. Eu convido-o a se retirar pacifica e
tranqüilamente, e que a paz do DEUS seja mantida entre tu e mim!
AMEN!
Após a partida do espírito sairás do circulo e louvará ao Altíssimo pelas bênçãos e
graças que tiveres alcançado. Note que você pode também comandar espíritos
pela Arca de Bronze na mesma maneira que pelo triângulo
Anexo
Ritual do Pentagrama
Um dos mais antigos e poderosos rituais de magia ocidental. De procedência
medieval é usado há séculos tanto por ordens esotéricas como por magistas
solitários e ganhou com o tempo diversas versões. Outros rituais de banimento
poderão ser usados de acordo com a preferência de cada adepto, o que temos
aqui somente um exemplo e um ponto de partida para os que não sabem como
começar.
• Mentalize uma luz branca ao traçar os pentagramas.
• Os nomes mágicos devem ser vibrados com intensidade.
• Use roupas claras, preferencialmente da cor branca.
O Ritual
A - Cruz Cabalística
1 - Tocando a testa, diga: "ATEH" (A TI.)
2 - Tocando o peito, diga: “"Malkuth" (O REINO.)
3 - Tocando o ombro direito, diga: “ve-Geburah” (O PODER.)
4 - Tocando o ombro esquerdo, diga: “ve-Gedulah” (E A GLÓRIA.)
5 - Entrelaçando os dedos sobre o peito, diga: "Le-Olahm, Amen" (PARA TODO O
SEMPRE AMÉM.)
B – Traçar do Pentagrama
- Trace o Pentagrama com a arma própria (Bastão para invocar, Punhal para
banir). Visualize a luza branca que forma ao fazer isso.
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6 - Volte-se para o Oriente, trace o pentagrama, vibrando: IEHO-VAU.
7 - Volte-se para o Sul, trace o pentagrama e vibre: ADONAI.
8 - Volte-se para o Ocidente, trace o pentagrama e vibre: EHEIEH.
9 - Volte-se para o Norte, trace o pentagrama e vibre: AGLA.
10 - Estendendo os braços em forma de cruz, diga:
- Diante de mim, Rafael
- Atrás de mim, Gabriel
- À minha direita, Michael
- À minha esquerda, Uriel
- À minha volta ardem os pentagramas
- E na coluna brilha a estrela de seis pontas.
11 - Repita a Cruz Cabalística – (itens 1 a 5)

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